sábado

Bom porto em Noroeste

Ainda há pouco tempo a casa do jacuzzi privado do Edifício Magnolia foi dada a conhecer e já os seus moradores fazem questão de a tornar sua. Experimentam-na, usufruem de todo o equipamento disponível, relaxam, descontraem, divertem-se, apaixonam-se. Esta sala pertence aos inquilinos e, no dia especificado no mapa de utilização do condominio, eles fazem questão de se sentirem no topo do mundo. Como se fosse possivel abstrair de tudo neste espaço. Como se fosse possivel fazer uma viagem com um rumo que cada um define à sua maneira. E se cada apartamento é surreal, a piscina coberta é um lugar transcendente. Tania e Lúcia ainda não tinham até hoje gozado o jacuzzi. Obviamente que já tinham entrado na sala. Até já experimentaram a água morna a borbulhar e conseguiram entender que o chuveiro pode trazer fantásticas sensações. No entanto, ainda não houve oportunidade de gozar totalmente do espaço. Não existiu ainda tempo suficiente para sentir que vale a pena perder ali uma tarde, uma manhã, até uma noite. E neste final de tarde, o sol entra pela janela diagonal de uma forma tão acolhedora que parece uma casa junto ao mar, em que se vê o céu desfazer-se em centenas de tons. É isto que Lúcia confessa à sua amiga, assim que entram no novo espaço do Edificio.
- O que queres experimentar primeiro? O duche ou a piscina? - pergunta Tania.
A jovem morena silencia-se. Apesar de querer experimentar toda a sala, há algo que a parceiro do 2º esquerdo ainda não referiu. Liberta um sorriso, começa a despir o fato de treino e dirige-se ao chuveiro. De biquini modesto, onde as parte erógenas se escondem a custo, Lúcia passa debaixo de água. Tania é que já não aguenta esperar mais. Despe o vestido laranja de verão e salta para o tanque envolto em pedra terracota. Como uma criança excitada, ela sente a água que aquece a encharcar o seu corpo. Ri-se e estica os braços, remexendo a água. Enquanto molha o cabelo, a pele e o tecido do biquini, Lúcia repara na irreverência da sua amiga. Ao mesmo tempo que liberta um sorriso, tatua na mente a pose sensual de Tania. Ela continua a desejá-la e a impossibilidade de tal sentimento se tornar real, é um tortura estonteante pensar nela com excitação. Pensar no sorriso dela, no olhar penetrante da jovem, no corpo voluptuoso da colega, no peito que parece pular diante da sua face, do sexo que ela um dia tentou conquistar com a sua mão. Diante de si, ela tem uma menina contente, iludida na relação que mantém. Tania apercebe-se que a amiga se demora no chuveiro. Sorri para ela e com um gesto chama-a. A estudante fecha a torneira e com o corpo encharcado dirige-se ao tanque. A temperatura da água é formidável. A sensação de estar envolta num borbulhar relaxante é fantástica. E imediatamente, Lúcia é transportada para o mesmo local onde está a sua amiga. Para uma tranquila sensação de bem-estar e de leveza, que a faz esquecer de todo o quotidiano e de todo o espaço que existe para além daquela casa.
- Ahhh.....Não sentes que isto é mesmo bom? - pergunta Tania deliciada.
- Há coisas melhores....
- Há?! Quais?
- Oh, tu sabes....
- Uhm....Não é nada má ideia!.....Levavas a mal se um dia trouxesse aqui o Filipe?
- O Filipe?....Ah...Não...Porque haveria de levar a mal?...Por falar nisso...não ias ter com ele?
- Ele vem cá ter. Deve estar a chegar. Espero bem que ele tenha trazido a chave e não me obrigue a sair daqui tão cedo.
- Nem sequer sabia que o Filipe tinha uma chave da nossa casa.
- Ele também raramente a usa. É mesmo só para situações...tipo esta...Mas...levas a mal?
- Não!....Não....se tu tens confiança nele....
Lúcia não aparenta um ar tranquilo. Tania ainda procura perceber a reacção dela, mas a amiga disfarça. Desvia o olhar e desliza a mão na água que irrompe nos seus dedos. Há um silêncio estranho entre as duas jovens. Como se algo as estivesse a separar, a bloquear, a prender a empatia que as duas se habituaram a gerar. Talvez o ambiente, talvez a água morna, talvez os fatos de banho reduzidos e os corpos húmidos. Talvez uma sensação surreal esteja a vaguear na mente delas. E ao mesmo tempo, elas sabem que o gelo tem que ser quebrado. Lúcia levanta o olhar e encontra-se com os olhos de Tania que fixam as suas mãos há meio minuto. O sorriso da namorada de Filipe custa a soltar-se. Mas acontece. E o gelo quebra. E a água entusiasma-se. A mão de Lúcia que até agora flutuava na linha de água, empurra uma onda que se espalha até ao corpo da amiga. O gele derrete. A água aquece. O gesto incitou Tania e ela responde com outra mão. Subitamente, uma terna guerra aquática é despoletada. As águas exaltam-se, as mãos disparam na direcção contrário e cedo as mãos das duas inquilinas do 2º esquerdo.
- Pára!...Pára....Estás a pôr a água....Ai! Pára, o chão está todo encharcado....
E com uma naturalidade que parece deixar adivinhar o que se segue, Lucia e Tania estão coladas uma à outra. As mãos delas seguram os braços da parceira, na esperança de travar o ímpeto furioso que as aproxima. Os olhares cruzam-se e já não descolam. Ouvem-se as respirações ofegantes. Os ombros das duas jovens estão exaltados e os seios delas estão praticamente colados.
- Relembra-me porque é que me convidaste a subir contigo.... - pergunta Tania.
Só o beijo pode responder à dúvida da namorada de Filipe. Só a precipitação dos lábios que se unem pode justificar a sede que invade as duas amigas. Só essa sede consegue manter um beijo improvável, mas aguardado. A água borbulha à tona, junto às ancas delas. A humidade mistura-se no calor da pele delas. O segredo que ambas pretendiam esconder há demasiado tempo de si mesmas, acaba por se revelar num beijo intenso, profundo, apaixonado. Demasiado apaixonado. Lúcia aprecia cada instante. Mas ainda não consegue entender se Tania deseja mesmo aquela troca de paixão. Mas vai deixando o tempo flutuar calmamente. Porque Tania deixa-se levar. Aceita as mãos da amiga nos seus seios volumosos. Aceita o toque gentil dela nos seus ombros. Aceita que o desejo dos dedos de Lúcia se espalhem nas suas costas. E enquanto o beijo não pára, Tania sente-se arrebatada. Não. Aquilo não é apenas um beijo para provar. O corpo de Tania está encostado à parede do tanque. As suas pernas abrem-se ligeiramente e ela permite que o ventre de Lúcia aperte o seu sexo. Os dedos da morena puxam delicadamente o fio do soutien de Tania. O beijo não pára. Não. É mais do que uma abordagem inocente. O pedaço de tecido que se colava ao peito da jovem está agora a boiar, mesmo por cima das bolhas de água. E as mãos de Lúcia não hesitam em encher-se com as mamas da sua perdição. O beijo cessa. Não. Não parece ser apenas um capricho. Os lábios descolam-se como gelatina. O ar liberta-se das bocas delas. E nenhuma delas parece saber para onde quer fixar o olhar. Nem Tania, nem tão pouco Lúcia sabe como agir, o que fazer, o que pensar. O próximo passo será apenas um instinto mútuo que teve o feliz ocaso de ser correspondido.
- Tania?....Tu...Não sei...Tens consciência que isto não é uma experiência, não tens?....
Enquanto segura nos braços da amiga, faz girar o corpo dela e a encosta de novo à parede, Lúcia entende o ar meigo e ingenuamente submisso, quando a sua colega de casa lhe acena afirmativamente. Não. Tania sabe que não é uma experiência e que este instante é completamente surreal, comparado a tudo o que ela já sentiu anteriormente. As mãos de Lúcia passeiam pelas costas macias de Tania. As unhas dela arrepiam os ombros da nova amante. O dedos dela percorrem o peito, acariciando as mamas de uma forma intensa. A palma das mãos de Lúcia estimulam os mamilos quentes da jovem com um carinho poderoso. E Tania sente o toque. Como se jamais alguém tivesse sentido aqueles seios assim. Nem as mãos do seu namorado. Nem os olhos de qualquer homem. Nem as suas mãos conseguiram aflorar a magnificência do peito que sempre lhe pertenceu. Porque aquilo que Lúcia lhe entrega é um profundo deleite em todo o seu corpo. E agora, o tempo é confuso. Não tem ritmo, não tem nexo, não tem orientação. O tempo evade-se das vidas delas. O tempo desfaz-se na descoberta de Lúcia e Tania.
Ao lado do soutien, flutua agora a tanga do biquini de Tania. Nua e subjugada com a paixão da colega de apartamento. Ela geme. É tudo novo. Nada se compara ao que aconteceu na banheira do 2º esquerdo. Os dedos de Lúcia dentro do sexo da jovem criam uma erupção de prazer no intimo de Tania. A boca da jovem bissexual consome o pescoço da amiga. E com uma certeza sinistra, Lúcia pressente o desejo, a sede, a fome da parceira em ser possuida por uma mulher. Com uma entrega desmesurada, Tania sabe que este momento tinha que acontecer. O seu clitóris é estimulado por dedos experientes, por dedos ternos, por dedos sensiveis. Com o peito a pular, com a boca frenética, com as mamas de Lúcia a apertarem-lhe as costas, com os mamilos mais rijos do que nunca, Tania liberta-se. O seu sexo explode, o seu pescoço cede e a sua boca pede mais. A ânsia de mais um beijo leva Tania a rodopiar sobre si mesma e procurar os lábios de Lúcia. As linguas envolvem-se, as bocas engolem-se, as almas iludem-se. Porque elas não estão ali. Elas não podem estar naquele mundo real, onde a água ferve, onde o tanque intensifica o prazer que elas comandam. Desta vez, são as mãos de Tania que despem a amiga. Os peitos chocam um no outro, roçam os mamilos na pele sensivel da parceira. O rabo de Tania é acariciada pelas mãos insanes da mulher que sempre a desejou. Todos os desejos, todos os sonhos, todas as fantasias, no banho, na cama, de pé, sentada, imaginando uma cena possivel ou algo demasiado surreal. Nada do que a mente de Lúcia procurou para satisfazer um prazer pessoal se assemelha a esta concretização. Tania é concretamente sua. E isto já não é um deleite pessoal.
A temperatura mantém-se. A piscina é um elemento provocador na vida dos inquilinos. Algo se transforma na mente de quem aqui mora quando sente o toque desta água. A luz natural que penetra no espaço faz incorporar nos corpos que se despem uma volupta carga de desejo. E nem mesmo quando o borbulhar da água faz relaxar apenas e só os pés, é possível abstrair da hipnose que o jacuzzi provoca. Lúcia está sentada na borda do tanque. Olha para Tania enquanto ela lhe acaricia as coxas. A namorada de Filipe não consegue retirar o olhar dos seios redondos, firmes e inesperadamente sensuais da colega. E os dedos de Lúcia experimentam a sensação de poder tocar nos cabelos da amante de uma forma inexplicavelmente meiga.
- Só quero que percebas porque é que isto está acontecer...Consegues perceber, Tania?
- Não sei....Lúcia, não sei....eu quero-te e não consigo explicar a mim mesma porque é que tenho tanta vontade em beijar-te e em...e em provar-te....
- Queres?....
E como que por instinto, como que por um desejo que só precisava de um chamamento, as pernas de Lúcia abrem-se num gesto repentino, mas vagaroso. E é como se uma porta se abrisse diante do olhar de Tania. É um mundo novo, uma sensação diferente, um desejo descoberto. A rata de Lúcia, molhada, inchada, palpitante, chama pela boca de Tania. As mãos da jovem percorrem a pele das coxas de Lúcia até alcançarem as virilhas e por consequente a vagina da estudante. E enquanto durou esta viagem das mãos de Tania, a jovem bisssexual transportou-se a si mesma para um lugar desconhecido. Lúcia já provou várias vezes o prazer feminino. O toque das mãos suaves dela. Os seios quentes de mulheres. O jeito peculiar de muitas parceiras que experimentaram a cama dela. Mas ali está algo de novo. Em todas as suas fantasias, em todas as vezes que ela se deixou levar pelo prazer, ela nunca entrou por aqueles trilhos. Em cada instante que ela procura reconhecer o lugar que a sua imaginação transforma, a sua amante avança. Os dedos de Tania abrem os lábios vaginais. Lúcia nem sequer percebe como acontece. A boca da namorada de Filipe invade a rata da jovem. Talvez seja por nunca o ter feito. Talvez seja por procurar aquilo que nenhuma outra mulher quis procurar. Mas Lúcia desorienta-se pela forma como a sua paixão a lambe. Mesmo que ela consiga voltar a recordar todas as sensações provocadas pelas bocas femininas que a provaram, Lúcia sabe que nunca a tinham lambido assim. Estranho. Impossivel de ser real. Inexplicável. Mas a verdade é que uma mulher que nunca foi, nunca ambicionou e nunca provou a tentação lésbica, consegue criar um vulcão no intimo de Lúcia. E agora, ela já não está ali. Já subiu demasiados niveis e eleva-se num mundo que a deixa zonza. Ela não consegue sequer abrir os olhos. Num sitio que se assemelha a uma cascata sem fim, misturado numa liberdade que só um pássaro místico consegue ter. Lúcia transformou-se. Talvez seja a perplexidade pela entrega de Tania. Talvez seja o facto de nem ela conseguir acreditar que foi possivel isto acontecer. Mas Lúcia vem-se de uma forma genuina. E faltam-lhe forças para conseguir suportar tamanho prazer. Para guardá-lo, saboreá-lo, fixá-lo dentro de si para nunca mais desaparecer. Mas acontece. Tudo isto é real. Tania, a namorada de Filipe, lambe a rata de Lúcia e proporciona um orgasmo memorável. Acontece. E isto tem que marcar indelevelmente a consciência das duas jovens.
É um abraço. É uma estranha forma de ternura. É uma curiosa demonstração de desejo. É a única forma de guardar o que acaba de acontecer no jacuzzi do Edificio Magnolia. A cabeça de Tania pousa no colo da amiga. Os seus lábios estão doces e ela ainda saboreia o sumo inusitado libertado pela sua colega. O corpo de Lúcia pende para a frente e ao mesmo tempo que segura a face dela com as mãos que ainda vibram, embrulha a cabeça da parceira. Algo precisa de ser entendido.
- Posso amar-te?
- Não sei como fazer isto, Lúcia...
Porque Tania tem um namorado e ainda não conseguiu imaginar a vida sentimental e sexual sem ele. Porque Lúcia respeita isso e sente-se incapaz de revelar segredos. Porque nada parece normal e é demasiado complexo encontrar uma solução para o que se sente neste instante. Porque dentro daquele jacuzzi transcendente, Lúcia e Tania sentem-se verdadeiramente amantes.
A temperatura da água vai arrefecendo. A luz que entra pela janela vai cessando, até porque o sol quer-se esconder por detrás dos outros edificios da rua do Edificio Magnolia. As duas jovens conseguiram finalmente assentar os pés em chão firme. Ainda dentro do tanque, com a água a borbulhar, elas encostam-se à parede e olham-se mutuamente, com um sorriso tranquilo.
- Acho que para me sentir totalmente satisfeita.....Só faltava mesmo um...estás a ver?
- Só se fores tu...Eu estou extasiada de ti....
- Não queres? Como queiras...Eu vou ter com o Filipe. Ele já deve estar lá em baixo.
Tania sai da piscina. Procura a toalha e enxuga-se. Põe no seu corpo a roupa que trouxe desde o segundo andar. Procura secar o cabelo o melhor possivel. Lança o olhar para Lúcia. E nem ela consegue desvendar qual a melhor forma de reagir a tudo o que aconteceu. O seu namorado está no 2º esquerdo a ver televisão, aguardando por si. É possivel que ele não desconfie do que aconteceu nesta piscina. Mas daqui em diante, terá que viver, sentir e tocar numa namorada diferente. Uma amante que se entregou a um prazer inevitável. Ao prazer de uma mulher que desde o primeiro instante lhe parecia estar destinada.
- Não estás arrependida? - pergunta Lúcia.
- Olha para mim...Vês-me com cara de quem não quer repetir?
- Não....Só não quero que te arrependas.
Tania liberta um sorriso. Um gesto de entrega a uma mulher que é agora sua mas à qual não se pode entregar. Ninguém pede mais. Ninguém pode pedir mais. Nem Lúcia, que precisava de a ter todas as noites na sua cama. Mas ela não pede mais. Porque Tania acaba agora de sair, em direcção ao homem que lhe dá a felicidade e o prazer sexual que a preenche. É dificil perceber o que daqui em diante se vai passar. Mas Lúcia concretizou algo. Concretizou um sentimento demasiado poderoso, desejado há demasiado tempo.

sexta-feira

Ainda se ruma a Sul

Laura sai do banho nua e dirige-se ao quarto. A toalha ainda limpa o seu corpo e ela retira do saco duas peças vermelhas. No instante em que ela veste a roupa interior, o seu namorado chega a casa. Afonso pousa as suas coisas no móvel junto à porta de entrada e dirige-se imediatamente ao quarto.
- Uau! O que se passa para estares assim tão sensual?
A mulher tem uma lingerie vermelha, transparente quanto baste, excitante o suficiente para despertar a atenção de um homem como Afonso. Laura aproxima-se do corpo do namorado e abraça-o. Fixa o olhar nele, com algum atrevimento. Ele sorri.
- Não posso?...Não gostas? Uhmmm?....Se quiseres posso devolver....
- Nem penses...Quer dizer que foste às compras?
- Fui....Mais a Sofia....
As lojas estavam cheias. A baixa da cidade era um pandemónio. Pessoas a sair do trabalho. Pessoas que procuravam chegar ao outro canto da cidade. Pessoas que apreciavam as novas colecções, algumas promoções primaveris e enchiam todos os cantos das ruas comerciais. Sofia convidou Laura para um final de tarde de compras. De outra forma, Laura até podia achar aborrecido e cansativo. Mas o pedido da sua amiga e amante loira motivou-a a atrasar o seu regresso a casa. Apesar de entrarem em todas as lojas de roupa feminina, masculina e para criança, pequenas casas de acessórios para mulher, lojas de decoração e até uma livraria, o intuito de Sofia era levar a sua amiga a uma loja fantástica de roupa interior feminina. A segunda parte, a segunda vaga de uma romaria incansável. O sorriso ansioso da namorada de Diogo dilatou. Como uma criança que entra numa loja de brinquedos. Ainda assim, o que mais custou foi pegar na primeira peça exposta. E era para isso que Laura lá estava.
- Vai lá experimentar esta....Vê lá se o creme combina contigo. - diz Laura.
- Vem comigo.
Sofia pegou na mão da amiga e levou-a até aos provadores. Entrou e puxou a cortina. Do lado de fora, Laura aguardava para que a loira se despisse e pusesse o soutien e as cuecas a jeito no seu corpo.
- Laura?
- Sim?
- Diz-me....Gostaste do Gustavo?
- Sim, gostei....É um homem muito educado, muito divertido.
- Não te faças de desentendida.
A namorada de Diogo abre a cortina e apresenta a sua figura à amiga, com um sorriso matreiro. Laura olha-a de cima a baixo e depois volta a subir com o olhar. O corpo de Sofia é encantador, suave, terno e sensual. Mas a cara de Laura não parecia aprovar a lingerie que a mulher tinha vestido. Efectivamente, tapava-lhe demasiado aquilo que há para ver.
- Achas que é um bom amante? - insistiu Sofia.
- Sim, acho. Adorei chupá-lo....Estava-me a pôr louca. Isso ou a picha do teu homem....
- Trocavas?
Laura aproximou-se da amiga e ficou a estudar os pormenores do soutien no peito, nos ombros e nas costas de Sofia. Deslizou os dedos pelas alças e puxou ligeiramente as copas, fazendo os seios afundarem um pouco. Ao mesmo tempo, a namorada de Afonso recordava a primeira sensação que o seu corpo experimentou com o convidado que inesperadamente surgiu na noite escaldante dos dois casais, a duzentos quilómetros dali. Laura aqueceu, vibrou, sentiu o seu corpo a pedir cada pedaço de carne de Gustavo. Naquele quarto, a perversidade tomou conta da mulher, mesmo tendo o seu namorado ao seu lado. Ela inspirou fundo e voltou a olhar com um ar sério para Sofia.
- Com o quê? Com o Afonso? Não!...Eu quero alguém que ame, não uma máquina sexual. Mas porque perguntas? Tu trocavas?
- Não te deixa nem a pensar?
- Sofia! Estás a pensar trocar?
- Não! Tu sabes que não......Mas já pensei....
- Quando?!.....
- ....O que achas? O creme fica-me bem?
- Nada mesmo, Sofia....Dá-te um ar murcho...De quem passa fome. Espera um instante....
Laura saiu do provador e regressou ao centro da loja, onde ainda continuava o rebuliço de pegar em peças, ver o preço, abandoná-la e repetir o processo dezenas de vezes. Num minuto, Laura pega em cinco cabides e volta à cabine de provas. Volta abrir a cortina, desta vez com algum cuidado, procurando não mostrar para o exterior o que se passa diante do espelho. Sofia acaba de desapertar o soutien. Pendura os cabides e a loira percebe quais são as peças que tem que experimentar. A amiga é ousada e trouxe peças curtas, transparentes e sensuais.
- Estás à espera do quê para me contar? - pergunta Laura.
- Contar o quê?
Sofia despiu-se diante da amante. Em gestos rápidos mas incisivos, ela nunca chegou a ficar completamente nua. Tirou o soutien, pôs um novo. Tirou as cuecas, pôs uma tanga. Ao mesmo tempo, contava exactamente o que se passou entre ela e Gustavo. Namoro aos dezassete anos, mais amigo que amante, o último passo de Sofia antes de entrar na faculdade. Passeios românticos junto à marginal, saídas à noite nos bares da cidade, viagens a praias no sul. Tudo aquilo que os jovens vivem. Tudo com as ilusões de uma idade própria, mas com desejos nunca consumados.
- Espera....E queres-me convencer de que nunca aconteceu mais nada do que beijos?
- ...Laura...por favor, entra logo de uma vez....
E depois de as duas mulheres se fecharem na cabine, ela contou. Relata em palavras curtas a única passagem de ano da sua relação. Num parque de campismo numa vila do interior, juntamente com amigos da mesma turma. A noite em que podiam dormir juntos sem o receio de surgirem os pais. A noite em que algo poderia acontecer. Aconteceu. A língua dele provou o intimo virgem de Sofia.
- Quer dizer....não te posso dizer que tenha sido realmente prazer. Sim, gostei, mas não me cheguei a...Tu sabes...Não sei...Naquela idade tudo é demasiado relativo. Mas acho que até na altura deveria ter percebido a sua tendência....
- Tendência??? O Gustavo é gay?
- Bi....
- Eu sabia!!...Eu bem que tinha desconfiado.....O Diogo sabe?
- Do quê?
- De tudo!
- Não, sim e não. Não sabe que ele me tentou comer a rata....Também, nem deu em nada. Sim, sabe que ele é bissexual. Não, não sabe que ele não se importava de ser comido por ele.
- Desculpa??
- O Gustavo confessou-me que não importava de que o Diogo o....
- Fo...?? Oh, Meu Deus.... E ele nem sequer percebeu?
Laura estava surpreendida. Nitidamente. Ao mesmo tempo que ajeitava a tanga lilás que a sua amiga vestiu, ela procurava imaginar a noite na estalagem. Recordava o momento em que cavalgava sobre o colo de Gustavo. Procurava voltar a sentir no seu intimo o sexo dele inchado e esconder a si mesma o quanto aquilo a deixou louca. E não esquecia. Não afastava a ideia de que o homem a podia comer a noite toda. Quer o seu namorado quisesse ou não. Não importa se estivesse ali mais alguém. Por uma noite, ela enlouqueceu. E naquele instante, em que as suas mãos já torneavam o tronco de Sofia, diante do espelho, Laura imagina o que poderia ter sido se a troca se proporcionasse entre os homens.
- E este?...Já está melhor, não está? - pergunta Sofia.
- Sim...muito sensual....Excitante...Fica-te mesmo bem...Acho que o Diogo vai adorar...Isto se ele já não decidiu ser gay....
- Não sejas parva....Mas e tu? Gostas de me ver com ele?
A amiga de Sofia sorri. Por trás das suas costas, quase colada ao corpo dela, Laura olhava para o reflexo delas ao espelho. As suas mãos ainda vibravam com a sensação do homem que pertence à loira a vir-se na sua boca. E só ela é que sabe que a gota que transbordou o copo do seu prazer naquela cama, foi a imagem de Sofia a vir-se. Quando a loira cavalgava em cima do seu namorado, um terramoto de pensamentos e excitações percorriam a sua mente. E tudo aquilo só a podia excitar. Diante do espelho, as suas mãos estavam cheias das mamas de Sofia, cobertas do tecido leve do soutien.
- Eu comia-te toda, esta noite.... - desabafa Laura.
E naquele instante, Sofia só conseguiu ter a sua mente concentrada numa coisa. A madrugada na estalagem. A noite longa. Mesmo depois de tanta troca. Mesmo depois de tantos orgasmos, gemidos, gritos, palavras estonteantes na cama de toda a partilha. Mesmo quando o quarto adormecia. Mesmo depois de Gustavo fumar um cigarro e se deitar ao lado de Sofia até adormecer, algo mais aconteceu. E isso, Sofia não conseguia esquecer. E isso, a loira sabia que a amiga não iria esquecer. E isso, era visível nos gestos que elas trocavam, ali mesmo. As mulheres continuavam na sessão de provas. Agora, era Laura que se despia. Ela trouxe também para si uma peça para experimentar. Uma lingerie vermelha, com os contornos adequados ao seu corpo, com as linhas a salientarem as suas formas eróticas. Sofia vestia um soutien preto, rendado, também ele muito curto. Os seus seios estavam claramente à vista. O relevo dos mamilos excitados também eram visíveis. De roupa interior escaldante, as duas mulheres olharam-se mutuamente. Sem auxilio do espelho. Um silêncio foi gerado durante alguns segundos. Na mente delas ia aquele toque. Deitadas na cama da estalagem ao lado de Diogo, Laura acordou a loira. A noite já ia longa. Três, quatro da manhã, já não será possível descobrir. Depois de roçar pelo corpo do homem, a mão de Laura alcançou o corpo de Sofia, que se recolhia nos braços do namorado. Os dedos deslizaram pelo peito da mulher, navegaram pela sua barriga e chegaram ao ventre da amiga. Foi aqui que Sofia despertou do seu sono tranquilo. O seu corpo vibrou. As suas coxas desviaram-se. E a mão de Laura afundou-se por entre as pernas da amante. E os dedos da namorada de Afonso despertaram-lhe os sentidos. Em segredo, num sonho dentro da surrealidade de toda a noite. Em harmonia, como um desejo há muito ansiado. Laura estava masturbar a sua amante, num jeito que mais ninguém poderia percepcionar, muito menos entender. Os dedos de Laura tornaram-se divinos na rata de Sofia. Ouvia-se a respiração dela. Pressentia-se nos lençóis o movimento vagaroso da mão de Laura. E após alguns momentos, a ponta dos dedos de Laura molharam-se. Assim que sentiu Sofia entusiasmada. Assim que sentiu um movimento de Afonso nas suas costas. Assim que foi possivel transformar aquele desejo em realidade, a mão de Laura rendeu-se. Afastou-se do corpo da amante e guardou-se. E nem sequer ao amanhecer. Nem sequer ao pequeno-almoço. Nenhum dos homens desconfiou minimamente do que a madrugada na estalagem ainda proporcionou. Dentro do provador, a mão de Sofia segurou-se ao pescoço descoberto e húmido da amiga. Laura tinha mão, essa mesma mão que deliciou a rata da amante num momento intenso, ajeita a tanga negra da loira e sobre a seda, roça sobre os lábios vaginais entusiasmados.
- Pára com isso, Laura...Peço-te...Senão as coisas podem acabar mal. - diz Sofia com um sorriso ansioso.
Laura riu-se. Percebeu a excitação da amiga. Percebeu a linha ténue que as separava de um beijo fogoso, por detrás da cortina do provador. Paixão. Paixão partilhada. Acabar mal seria a concretização de um momento perverso naquele local tão inusitado. E mesmo que elas o quisessem, há regras a cumprir neste jogo de desejo e partilha. Elas separaram-se. Elas despiram-se. Elas voltaram a vestir-se. Elas pegaram na lingerie preferida, saíram do provador e dirigiram-se à caixa de pagamento.
- Mas ainda não me respondeste...Trocavas? O Diogo pelo Gustavo? - diz Laura.
- Se alguma vez achasse que poderia trocar, nem sequer lhe tinha feito o convite pessoalmente para vir ter connosco.
- Sim ou não? Trocavas?
- Não! Amo a foda que tenho em casa.
Ouviu-se o apito da máquina registadora. Sofia pagou as peças de roupa escolhidas e sorriu para a funcionária da loja. Com um riso cúmplice, as duas mulheres saíram satisfeitas da loja onde partilharam segredos. Cedo a noite começava a chegar. Era tempo de separar a surrealidade do quotidiano das suas vidas. Cada uma para seu caminho, ansiosas por apresentar as suas aquisições aos seus namorados.
Na cama do quarto de Afonso e Laura, tudo estava preparado para uma noite intima. A menina está em casa do pai, o 2º direito tem um aroma romântico e a indumentária de Laura adorna o seu corpo de uma sensualidade irresistivel.
- Foi a Sofia que escolheu?
- Não, fui eu que a experimentei....
Na perversa ambiguidade do significado das palavras da Língua Portuguesa, paira no ar a sensação de uma noite quente, misturada em fantasias surreais com o seu casal swinger.

quinta-feira

Rumo ao Sul

O Espaço Magnólia é especial. Tem uma maneira surreal de captar as pessoas e adaptar-se às variadas necessidades dos clientes. O estabelecimento transforma-se constantemente. À hora matinal não se respira o mesmo ambiente que ao final da tarde. Aqui dentro, as onze horas são completamente distintas das catorze. A atmosfera depois da hora de almoço é o oposto do que se vive depois da hora de jantar. Um dia de fim-de-semana não se compara a um dia de semana. Uma noite de jogo de futebol no Espaço Magnolia converte todo o lugar num recinto explosivo. Num ambiente cordial, entusiasta e de convivio, é certo. Mas as emoções estão sempre à flor da pele. Hoje é noite de jogo. Competições europeias, equipas portuguesas contra equipas estrangeiras, todos a torcer pelo mesmo, cerveja a rodos, imperial, minis, petiscos e a cabeça levantada. O jogo já começou há alguns minutos. Ouve-se o relato, ouvem-se comentários distintos de adeptos de diferente clubes, ouve-se o tilintar dos copos, das garrafas, dos pratos e da ansiedade que se vive. De pé, junto ao balcão. De pé, próximos do plasma que difunde a emissão. De pé, até da rua, para curiosos que não ousam conhecer este ambiente. Sentados, nos sofás, sozinhos ou acompanhados. Sentados nas cadeiras que se espalham pela área do estabelecimento. Sentados, numa mesa afastada. Afonso e Diogo estão com a atenção no jogo, na cerveja, mas também na conversa que iniciou antes do jogo.
- Então mas afinal....ainda não me disseste quem é ele. - diz Afonso.
- Ele quem? O Gustavo?
- Sim...fiquei a noite toda sem entender de onde é que vocês o conheciam.
- Nós dissemos...é nosso vizinho e compra ao mesmo fornecedor que eu.
- Vá lá....não me convences com isso...
Gustavo é o elemento que representa um passo adiante na relação entre os dois casais. Laura e Afonso. Sofia e Diogo. E muitas das trocas daí consequentes. Gustavo foi o convidado especial e inesperado na noite que os quatro adultos quiseram partilhar. Na noite passada, Laura, Sofia, Diogo e Afonso tinham marcado o ponto de encontro num restaurante distante, numa cidade a duzentos quilómetros de distância. Exagero? Um local para jantar pacato mas requintado. Boa comida e bebida à descrição. Vista para o mar e estalagem no andar superior. Mas ao contrário das expectativas de Laura e Afonso, o seu casal swinger predilecto não vinha sozinho. Traziam como companhia um homem na casa dos trinta e três anos, vestido de uma forma elegante, com um sorriso amistoso a todas as pessoas. Olhava para todos os pormenores e parecia decorá-los com o próprio olhar. Diogo e Sofia apresentaram-no como um amigo pessoal. Daí a estarem todos no mesmo rumo, não tardou muito. Gustavo iria subir para o quarto da estalagem como o quinto elemento no menage intenso preparado pelos dois casais.
- Diz-me, o Gustavo é o vosso terceiro elemento habitual?
- Não....O Gustavo é um ex-namorado da Sofia.
- Da Sofia?! Mas afinal....eles então já tinham tido relações?
- Não necessariamente. Digamos que ele foi o último namorado antes dela....Tu sabes....A Sofia tinha dezassete ou dezoito anos. Andavam na escola juntos e quando ela foi para a faculdade tornaram-se bons amigos. Há coisa de uns dois anos, ele voltou de Paris e pediu ajuda à Sofia para encontrar casa aqui na cidade.
- E nunca aconteceu mesmo nada?
- Ele tem os casos dele e sempre pareceu respeitar a nossa relação.
- Mas tens confiança nela...e nele?
- Não tenho confiança em ti?
Diogo deposita toda a confiança em Afonso. Mesmo que vejam um jogo de futebol do clube dos corações deles. Mesmo que partilhem em noites quentes e surreais as mesmas mulheres. Mesmo que tenham conversas frontais por entre cerveja e petiscos, os namorados de Sofia e Laura não se consideram camaradas inseparáveis. Não são os melhores amigos. Mas desde que se conheceram, desde a noite em que tudo se despoletou entre os quatro, que guardam uma enorme confiança um no outro. Amor é amor. Sexo é sexo. E não há a mínima mistura entre estes dois elementos. Um pacto tão forte como qualquer amizade de irmãos.
- O que fazia ele em Paris? - continua Afonso curioso.
- Fotógrafo...free-lancer, não tenho a certeza....
- O que o trouxe para Portugal outra vez?
- O namorado....
- Desculpa??
- Ele é bissexual.
- A sério?!....Ele é...Quer dizer que nós corríamos o risco de....
- Tecnicamente....Mas como te disse....e como viste, ele é de confiança.
Pela primeira vez, os dois casais decidiram avançar mais do que uma mera troca. Partilhar começava a tornar-se demasiado simples. Cada um num quarto diferente, procurando imaginar o que o parceiro faz, já não provoca o mesmo estimulo. Apesar de reservarem dois quartos, um deles não foi usado. A cama era enorme, o chuveiro também. Não obstante o facto de se conhecerem há algum tempo, de terem gerado empatias e de terem poucos segredos, levou algum tempo a quebrar o gelo. Ainda para mais, na presença de Gustavo. Ele pôs os quatro adultos à vontade. Despiu-se antes de todos os outros e sentou-se numa cadeira encostada à janela do quarto, próximo da cama. Laura sugeriu um banho rápido a Afonso. E enquanto eles se meteram debaixo do chuveiro, onde ele penetrou a namorada, Sofia foi despindo o seu namorado.
- E ele gostou da noite? - perguntou Afonso.
- Pediu para o avisarmos da próxima vez que repetirmos.
- Queres avisá-lo?
- Não sei....
- Então?
- Não sentiste que elas gostaram muito dele?
No quarto onde Sofia chupava Diogo, ouviam-se os gemidos do orgasmo de Laura. Gustavo estava entesado e assistia a tudo, como um perfeito espectador. Quando o casal que mora no 2º direito saiu da casa de banho, completamente nus, deparam-se com o momento que serviu de picador de gelo. Ajoelhada no chão, Sofia segura o sexo do seu namorado e do novo amante. O olhar da loira percepcionou a chegada do casal amante. Um silêncio instalou-se. Sofia chupava o sexo de Gustavo enquanto masturbava Diogo. De olhos abertos, de atenção presa em Afonso. A noite era surreal. E domar três pénis entesados ao mesmo tempo é algo de transcendente. Até para Laura que assistiu a tudo aquilo com uma tesão poucas vezes sentida.
- Bem, a mim excitou-me... - diz Afonso.
- O quê?
- Ver elas a chuparem-no...
- Tendo em conta as circunstâncias....
Gustavo foi o último a vir-se. Nem a boca, nem a mão de Sofia sozinha foram suficientes para levar o convidado à loucura. Só depois de Laura decidir ser desafiada a tentar, é que as duas mulheres em conjunto se deliciaram com a explosão de prazer do seu amante. Ao mesmo tempo, Diogo penetrou na rata da amiga da sua namorada. No mesmo instante, Afonso fodia o rabo da loira.
- Ainda assim, deu-me a sensação de as ver completamente loucas de serem comidas por ele. - desabafa Diogo.
- Achas?
- Viste como a Sofia aceitou logo ir para debaixo dele?
Já depois do broche a duas bocas. Um pouco depois de os dois homens se apoderarem das suas amantes e expandirem o prazer delas. No exacto momento em que Afonso se preparava para se vir nas nádegas de Sofia, ele pede a Diogo se podia entregar a sua namorada a Gustavo. Ele aceitou e o homem bissexual recebeu a mulher loira. Penetrou-a, agora na rata e levou a excitação dela até final. Enquanto Afonso libertou o seu sémen para o peito da namorada, Sofia gritava com a foda que Gustavo lhe dava. Para a namorada de Diogo, era como se o melhor amigo a fodesse pela primeira vez. Como se ela tivesse dezoito anos.
- Desculpa....eu sei que fui eu que sugeri.
- E o estranho é que foi isso que me deu tesão para toda a noite. Vê-la assim, exposta a um homem que nunca a tinha comido, mas já tinha sido dela.
- Também tive uma sensação parecida.
- Quando?
Quando Laura era uma mulher para dois homens. No momento em que ela se sentava no colo de Gustavo e cavalgava sobre ele. A namorada de Afonso soltava gemidos abafados com o pénis de Diogo na sua boca. E o olhar dela prendia-se na foda que Sofia proporcionava ao namorado da sua amiga. Afonso estava sentado no fundo da cama e recebia os saltos da loira, de costas para si. E Sofia saltava que nem uma louca. As nádegas dela tremiam ao bater nas suas coxas. As mamas dela pulavam e os olhos dela cerravam com força. Sofia pedia sempre mais. Afonso gemia, mas o seu olhar compenetrava-se na possessão do corpo da sua namorada. Sem qualquer tipo de receio, Gustavo recebeu os pingos de esporra de Diogo quando ele se veio na boca de Laura. O convidado abraçou-se à mulher, saboreou as mamas dela e fincou os dedos no rabo feminino. Suficientemente, distante de toda a paixão surreal que se desenvolvia entre os dois casais. Efectivamente, ele sabia o lugar que ocupava.
- Nunca te perguntei, Afonso...
- O quê?
- Gostas de a comer?
- Sinceramente?
- Dizer que adoro retirar o lado perverso da Laura quando ela me chupa, é ser sincero...Portanto também gostava que o fosses comigo.
- Quando a Sofia geme, quando ela se perde num mundo só dela, quando ela se vem e liberta uma enorme carga sexual, sinto que podia deixá-la assim até ela não querer mais. Comê-la até faltarem as forças.... Sim, gosto.
É esse o segredo dos dois casais. É isso que os faz sentir que têm poder sobre a pessoa que amam. Os amantes retiram algo muito intenso da partilha. Mas eles sabem que saboreiam um prazer bem mais forte, mais divino, mais intimo, mais estonteante do que o amante tentará fazer. Pelo simples facto de que conhecem demasiado bem a pessoa que aceitaram amar.
- E então?....Queres avisar o Gustavo na próxima vez?
- Não, da próxima vez quero algo diferente.
- Percebo-te.
Os dois homens deram um gole na cerveja que já terminava. O fim da primeira parte estava prestes a chegar. Na mente deles estava o jogo de futebol, mas com o aborrecido desenrolar do encontro, ambos se recordavam do momento em que a noite cessou. Em que o cansaço se apoderou dos cinco adultos. E apesar dos dois casais se terem rendido a exigência da noite, Gustavo ainda se aguentou. Nu, foi à varanda fumar um cigarro.Era impossivel para ele não deixar de ver a imagem dos quatro amantes deitados na mesma cama. O homem tinha a sensação de que proporcionou realmente algo diferente a Afonso, Sofia, Laura e Diogo.
- Goooooloooo!....
Mesmo em cima do fim da primeira parte, a equipa portuguesa introduz a bola dentro das redes, para alivio dos muitos clientes do Espaço Magnolia.

quarta-feira

O mais a Leste possivel

Ao final da tarde, a ansiedade instala-se nos três ocupantes do veiculo, assim que entram na rua do Edifício Magnólia. Helena conduz o carro, transportando o seu filho ao seu lado e no banco traseiro o amigo dele, Miguel. Mais do que ninguém, ela está nervosa. O dia já vai longo. Começou com o convite irrecusável do seu amante Alberto para um pequeno-almoço no café próximo ao escritório. Uma rapidinha nos lavabos do mesmo estabelecimento. Palavras tão intimas como fogosas, à porta da empresa do casal que mora no 1º esquerdo. Papelada interminável pela manhã e a ansiedade de receber Alberto pelo fim da tarde. Mais um convite estonteante, agora pelo seu funcionário mais estimado. Desta vez Helena recusou. Visitas a clientes preencheram o resto do dia dela. E um telefonema do filho pouco antes das seis horas, impediu a mulher de ainda passar pelo escritório para encerrar o dia. O pedido inesperado do seu herdeiro mais velho para ir buscar o amigo, pôs a mulher descontrolada. E Miguel, no instante em que ela pára o carro em segunda fila, diante da porta do Edifício, percepciona o estado da mulher quarentona.
- Bolas!...
- O que foi, mãe?
- O comando...Esqueci-me do comando da garagem....
- Outra vez, mãe?
- Não tenho cabeça para tudo, filho?...Sobes e vais buscar o comando que está à entrada?
- Não, mãe. Eu subo, dás a volta e eu abro o portão lá de cima.
- Ok...pode ser....Mas não me respondas assim. A mãe hoje já não tem cabeça para nada.
O filho de Helena suspira e após alguns segundos de hesitação, abre a porta. Apressadamente, sai do carro e nem realiza que deixa o seu amigo no carro. Helena também tem alguma pressa e põe rapidamente o veiculo em marcha. Dá a volta à rua e segue pelo caminho que dá até à garagem. Com o carro parado diante do portão, a mulher espera pela acção do filho. Por um breve instante, ela põe a vista no espelho retrovisor e percebe que Miguel olha para o reflexo dela, com um sorriso presunçoso. Helena trava a respiração, mas não olha para trás.
- Nem para uma loucura? - pergunta ele.
- Desculpa?!
- A cabeça da dona Helena ainda aguenta uma loucura?
- Estás a passar um limite, rapaz....
- Estarei?
- Nem imaginas quanto...
- Eu noto em si que você quer...Nota-se. Você hoje cheira a sexo.
- Não te mando calar novamente! Ouviste, Miguel?....
O portão da garagem abre-se. Helena conduz o automóvel pela garagem, até estacionar o carro no local reservado ao seu apartamento. Denota-se o nervosismo nas suas mãos, na forma como ela conduz. Miguel regozija-se e procura o melhor instante para voltar a provocar. Ela desliga a ignição e olha novamente para o espelho.
- És um miúdo, Miguel...
- Não sou. E você sabe disso melhor do que ninguém.
- Tens a idade do meu filho! És um garoto!
- Ok, sou um miúdo....Então e diga-me....Já conseguiu explicar a si mesma porque me olhou no jacuzzi...com tanto desejo?
Miguel abre a porta traseira do carro e sai. Encontra o caminho para as escadas de acesso ao resto do Edifício e demonstra uma confiança exacerbada. Helena não consegue ficar tranquila. Sai do carro e acelera o passo até ao amigo do seu filho.
- Quero que pares de ser presunçoso. Só porque tens corpo de atleta e julgas que todas as garotas engraçam com esse sorriso, não julgues que todas as mulheres te querem....
- Diga-me então que não me quer....
- Não te quero.
O jovem começa a rir-se. Um ligeiro sorriso entregue na cara dela. Miguel fixa o olhar da mulher e descobre os receios e as ansiedades que se resguardam por detrás do olhos brilhantes. O riso dele aumenta de tom. Helena sente-se obviamente troçada.
- Sim, és uma tentação, Miguel. Sim, é dificil não olhar para ti com desejo. Sim, eu imaginei-te no jacuzzi. Mas não quero que tenhas a mínima dúvida. Isso não vai acontecer.
- Porquê?
- Não pode acontecer, Miguel....Entendes?!...Não pode!
- Esqueça a minha idade. Esqueça a diferença de idades. Esqueça que sou amigo do seu filho. Ninguém saberia e seria mesmo só por prazer....
- Pára!...Não pode acontecer....Ponto final!
Um último olhar secreto, sedento de paixão que não se quer libertar. Helena retoma o passo e sobe as escadas até ao primeiro andar, na dianteira do jovem.
A noite começa a cair. Os tons do céu misturam-se até ao horizonte, onde o sol já se escondeu, mas dá um ar da sua graça. Rodrigo estaciona a carrinha da empresa um pouco antes da entrada do Edifício. Desliga a ignição e imediatamente o seu olhar ergue-se até à janela da sala do 1º esquerdo. O homem inspira fundo mas mantém-se dentro do carro. Segura as mãos no volante e cerra os olhos. Faz força com as costas no encosto do banco e solta um grito abafado.
"Eu sei que temos que parar de fazer isto em sítios tão suspeitos. Mas é mais forte do que eu. És irresistível, Helena. Até logo!"
A mensagem é destinada à sua esposa e não sai da cabeça de Rodrigo. Foi deixada no voice mail do telefone do escritório e ele ouviu-a. O homem conhece a voz. Sabe de quem é e isso assola a sua mente desde que saiu do escritório, há vinte minutos. A imaginação dele transforma a mensagem e dá-lhe vida. Simula-a, como se fosse mesmo Alberto a confessá-lo à sua parceira de tantos anos. Porque foi o cliente estimado da empresa do casal que cometeu o erro de deixar uma mensagem tão incriminatória no telefone da empresa. Porque é Alberto que afinal ocupa os momentos vagos de Helena. Porque Rodrigo não acredita como conseguiu ter os olhos tapados durante tanto tempo. Quanto tempo? Como começou? Estes pensamentos saltitam na mente do homem como uma tortura. "....És irresistível, Helena..." Ele volta a olhar para a janela, com a luz da sala já ligada. Onde é que eles o fazem? "...fazer isto em sítios tão suspeitos...." Cerra os olhos e imagina que eles o fazem na sua própria casa. "....Até logo!..." Será que eles estão agora juntos? É possível que a luz esteja ligado porque eles se estão a comer na sala dele? Ele larga um novo berro, desta vez já nem consegue ser abafado pelo cerrar dos lábios. Um transeunte que segue caminho no passeio ouve o berro. Rodrigo decide acalmar. Mas a sua mente continua louca. A sua mulher é-lhe infiel. Uma confrontação que nunca lhe passou pela cabeça que se pudesse concretizar. Uma realidade que ele nunca quis aceitar que poderia acontecer. Nas suas costas. A sua cabeça gira, procurando algo indefinido nos bancos traseiros. Rodrigo sente-se a alucinar. O dia já vai longo e o cansaço mistura-se com a raiva. A incompreensão e o cepticismo são apenas manifestações colaterais. Ele tem que sair do carro e entrar na sua casa. "...Temos de parar de fazer isto..." O que vai ele dizer à sua própria esposa? "...Até logo..." Estará ela com Alberto neste momento? Na verdade, foi ele mesmo que disse à esposa que ia chegar mais tarde "...fazer isto em sítios tão suspeitos..." Eles estão a foder lá em cima! Só pode. Rodrigo sente-se a enlouquecer. "...És irresistivel..." E ele sabe o quanto a sua mulher é desejável. Ele sempre o percebeu, mas nunca quis acreditar. Algo tem que ser feito. O mundo não acaba hoje. O mundo não acaba com uma traição. Talvez acabe, mas pode ser recomeçado. É possível amar, depois de se ser traído? É possível ter algum tipo de sentimento quando lhe dão uma facada nas costas? É possível voltar para ela, quando Helena nem sequer pestaneja no momento de segurar a faca? Alberto está lá em cima com ela. Só pode ser. Provavelmente começou na sala. Naquela mesma janela. Rodrigo imagina a sua mulher a ser penetrada no rabo. Supõe que a mulher geme, que ela grita, que ela pede por mais. Transforma na sua cabeça a imagem de Alberto que sorri, que lhe chama nomes, que lhe dá palmadas excitantes no rabo, que a fode até ela não aguentar mais. Só podem estar juntos, achando que ele não vai saber de nada. Provavelmente estão no quarto. Helena abre-se na cama. Dá a rata ao amante, de uma forma que nunca deu ao seu próprio marido. E ele come-a. Ele deita-se em cima dela, enche-a de beijos quentes, perversos e tórridos. Alberto come as mamas da mulher que o jurou amar eternamente. E ser-lhe fiel. Rodrigo descontrola-se. Ser fiel. Fidelidade. E tudo se desfaz na cama que eles dormem todas as noites. Aquela cama nunca mais será a mesma. A última vez que este pensamento tinha acorrido a cabeça de Rodrigo foi quando se esqueceu de tirar a tanga da namorada do seu filho, do seu quarto. Porque ele também traiu Helena. Naquela mesma cama. Rodrigo precisa de respirar fundo. Abre a porta da carrinha e sente a brisa que corre na rua. A luz continua ligada. Será que ele a está mesmo a comer, a foder, a fornicar? Porque se ele faz o mesmo com outras amantes, porque não fará Helena? Será que é isso que segura o seu casamento? O segredo.
Rodrigo sobe os últimos degraus antes de alcançar a porta do 1º esquerdo. Uma luz passa por debaixo da porta. Neste instante, Rodrigo sabe que existem duas hipóteses. Ou Helena está a acabar de preparar o jantar, esperando por ele, numa hipocrisia que só agora ele dimensiona. Ou então está a foder com Alberto. E essa imagem ele já não consegue esconder da sua mente. Assim que coloca a chave na fechadura da porta, Rodrigo não sabe muito bem para o que é que está preparado. Abre a porta e na sua mente está a procura em ter a melhor reacção. O jantar já está pronto. Helena está na mesa de jantar. Do seu lado esquerdo está o seu filho mais velho, aquele que ele próprio atraiçoa. Do lado direito dela, está Sandra, a namorada do seu filho, a sua amante intensa e perigosa. E de frente, está um rapaz, que ele não conhece, certamente amigo do seu filho e que, longe de Rodrigo saber, está a fazer-se à sua mulher. Mas contrariando as certezas alucinantes da sua mente, Alberto não está ali. Nem a foder a sua mulher, nem sequer a jantar com ela. Rodrigo não sabe o que pensar. Perdão? Talvez. Porque não? Ele é infiel. E se mesmo não sabendo, a sua mulher vive com isso, vive com uma infidelidade desconhecida diariamente, porque não há-de ele viver também. Sempre aconteceu e eles sempre gostaram um do outro. A vingança não serve a nada, apenas e só para confirmar que também ele é um cabrão infiel de primeira. Arrepender-se? Confessar? Antes mesmo de qualquer coisa, Rodrigo entra em casa, cumprimenta os presentes e dirige-se à esposa. Um beijo. O primeiro beijo do resto da vida dele.
- Eu amo-te.
- Eu também te amo, Rodrigo.
Hipocrisia. Helena nem sequer desconfia do que o seu próprio marido desconfia. Do que Rodrigo já sabe. Mas do que ele não sabe, nem mesmo que esteja atento a todo o desenrolar deste jantar, é que a sua mulher está a ser comida pelos olhares. O seu filho mais velho olha para a mãe, porque ainda não entende o seu ar ansioso. Sandra olha para a mãe do seu namorado, procurando perceber se ela notou os olhares indiscretos entre ela e o seu amante, que por acaso, está casado com Helena. Miguel olha para mulher encantadora que tem diante de si e perturba-a, com gestos tão presunçosos, confiantes de que ele a vai comer. Rodrigo fixa o olhar para a esposa, tentando distinguir o que vai na mente de Helena. Porque se ele a desmascarou, ela também o pode fazer. É por isso que ele a ama. É porque toda esta hipocrisia, afinal, pode ser posta de parte. Pode ser apenas mais um episódio, daquilo a que chama de casamento. E isto a que se apelida de casamento, acarreta possivelmente um pequeno detalhe que se chama filhos. O herdeiro mais novo do casal, depois de sair da casa de banho e entrar na sala, é o único que não olha para a mãe. Cumprimenta o pai e pergunta se pode passar a noite em casa de um amigo. Fraco, alucinado e confuso, Rodrigo aceita mesmo não sabendo que Helena já tinha recusado. O casamento também funciona assim.

terça-feira

Sem Norte

O sol escondeu-se. A noite acordou. As luzes da cidade acenderam. O escuro invade os pequenos vazios do prédio. E um silêncio perturbador enche os corredores do Edificio Magnolia. É um anoitecer extraordinário neste lugar. Ainda há clientes no Espaço. Ao entrar pela porta principal percebe-se que o elevador já iniciou mais uma viagem. No primeiro andar reina alguma calma. Entende-se que a família perfeita goza a sua felicidade. Do lado direito está escuro, sinal de que não está ninguém em casa, sinal de que há planos melhores fora do prédio. No segundo andar existem pequenos ruídos que indiciam um inicio de noite tranquilo. E quando se chega ao terceiro andar, é perceptível que esta noite o edifício respira um ambiente diferente. Ana abre a porta do seu apartamento. Nenhum cliente tocou à campainha, ela não vai sair. Nem sequer parece ter a máscara nocturna vestida. A um lance de escadas do topo do Edificio, ela aproveita a pacatez dos seus vizinhos para sair do 3º direito em trajes inusitados. O biquini vermelho seco e as sandálias a lembrar o Verão não se adequam à noite amena que cai lá fora. A toalha pendurada ao ombro e uma mala segura à sua mão direita demonstram claramente que a jovem quer usufruir do espaço de lazer disponibilizado aos moradores do Edificio Magnolia. Apesar de perceber que não faz muito sentido não trazer um robe a envolver o seu corpo, ela arrisca em sair rapidamente da sua casa. Fecha a porta suavemente, olha em redor e prepara-se para subir as escadas em direcção ao jacuzzi. A porta do elevador abre-se diante de si e um olhar fixa-se na jovem.
- ....Olá.... - diz ele.
Rafael só queria chegar a casa e relaxar. Um dia carregado de trabalho misturado em noites mal dormidas dão ao instrutor um ar exausto. Ao sair repentinamente do elevador, ele depara-se com Ana. Sensual, ousada e desadequada ao momento. Os pedaços de tecido que envolvem o seu sexo, parte do seu rabo e os seios redondos não conseguem esconder a pele galinha que o corpo dela deixa transparecer. E Rafael não evita sequer olhar. Ela não lhe responde. Um silêncio acomoda-se entre ambos. Uma estranha sensação invade o olhar dos vizinhos.
- Estás sozinha?
- Estás a querer saber se tenho algum cliente? Porquê? Tomaste o gosto por prostitutas ou....
- Ei, ei, ei! Ana...Ana! Foi só uma pergunta. Porquê essa agressividade toda?
- .....Desculpa...Tens razão.....Não é da tua conta, mas estou sozinha...
- E vais experimentar o jacuzzi a esta hora?
- É permitido, não é? Então, qual é o mal?...
- Por favor, Ana. Não te fiz mal nenhum...Se o teu dia correu mal, o meu não foi melhor...
A jovem respira fundo e baixa o olhar. Percebe que efectivamente carrega em si alguma má disposição. Levanta uma perna, colocando-a em cima do degrau. A sua vontade seria esquecer este instante e continuar o seu plano. Relaxar solitariamente no jacuzzi. Deixar o seu corpo receber os jactos de água morna, respirar um ar tépido e submergir em pensamentos leves e banais. É o seu dia. Aquele lugar está reservado unicamente para si. Assim será todas as semanas. Mas aquele homem e a sua inesperada chegada sobressalta a sua mente e o seu ego. Mais do que alguma vez ela ousou sonhar.
- Queres subir? - pergunta ela.
- Onde?!
- À Lua, queres ver? O que é que há aqui em cima onde se possa estar nestes trajes?
- Belos trajes....
- Queres subir ou não?
- É o teu dia...É o dia reservado ao teu apartamento....Ontem foi o meu e nem sequer lá fui e....
- Podes aproveitar hoje....
- Não me leves a mal, mas hoje não pareces ser boa companhia. E não me refiro aos teus serviços.
- Eu sei.....Eu sei que hoje estou mal disposta, mas.....Serias boa companhia. Conversávamos, bebíamos qualquer coisa....Vá lá Neves, não me digas que não...
- Teria que ir procurar o meu fato de banho...
- Não arranjes mais desculpas...Sobes ou não sobes?
A noite é intensa. Arrefece mas deixa o corpo morno com a fervilhação da intimidade que cada um procura nestas horas. O Edificio Magnolia vai repousando. Quase que adormece. Mas no topo, o ar é quente, as emoções encandeiam a lua que se vai descobrindo através de algumas nuvens que viajam pela cidade. O reflexo do Sol, na outra face do globo, torna aquele lado lunar cheio, imenso, luminoso.
- Não te consigo imaginar a desabafar com alguém.... - diz Rafael.
- É verdade que sou melhor ouvinte....
- Conta-me, então.... Sou a pessoa mais improvável para ouvir os desabafos de uma acompanhante, mas eu estou aqui....
É a luz da Lua que maioritariamente ilumina aquele espaço, através da janela diagonal, mesmo por cima do tanque redondo. Uma luz ambiente, colocada junto à porta da casa, transforma o espaço num mistura de ambiente intimo e misterioso. Ana está sentada dentro da piscina. A água borbulha pelo seu corpo. Humidifica os seus ombros, os seus cabelos lisos castanhos, o seu pescoço, os seus lábios. As suas mamas parecem flutuar à tona da água, mas é o biquini apertado que lhe dá um ar ainda mais voluptuoso, do qual Rafael é incapaz de não olhar. O instrutor está sentado numa das espreguiçadeiras, a três metros do jacuzzi onde está a sua vizinha. Ainda está vestido, com a roupa suada e colada à pele. E dentro dele, ainda é possível esconder a excitação que aquele momento lhe provoca.
- Então.... - continua ele - Estás cansada de ser a mulher das horas vagas para qualquer estranho.
- Não é isso.... Ando só aborrecida. Talvez seja só isso...
- Aborrecida? Pareces tudo menos uma mulher aborrecida. Se assim fosse, já terias experimentado outra coisa.
- E quero experimentar algo diferente. Não sei...Talvez seja só esta semana que pareço que os escolho a dedo e só me saem duques....
Ela volta a baixar o olhar. Rafael mantém um sorriso ligeiro, mas com a sua dose de presunção. Ele não esconde que o deixa entusiasmado o facto de estar ali a ouvir a sua vizinha excêntrica. Mas ele olha atentamente para Ana.
- Bolas, nem acredito que estou aqui a falar isto contigo....
- Está-te a saber bem?....
- Na verdade, está.....
- Bom, é sempre algo diferente....É um começo.
Mais uma vez, o silêncio impera. Só que desta vez, Ana fixa a figura do seu vizinho. Esquecendo a sua máscara nocturna, ela respira o seu ar natural, mas ainda assim confiante. Rafael apercebe-se do clima intenso que agora se vive na nova casa do Edifício. Sozinhos, num local que não pertence a nenhum deles, algo os faz despir a máscara que sempre os distanciou. O instrutor levanta-se da cadeira e retira do seu corpo a camisola branca. Imediatamente, solta de si as sapatilhas, as calças e a roupa interior. Em pé, agora a dois metros do tanque, Rafael está completamente nu. Com o pénis entesado e o corpo húmido do suor quotidiano, ele não teme a reacção da vizinha. E após alguns segundos, Ana cede e liberta um sorriso. Pé ante pé, ele aproxima-se da piscina e entra. A temperatura da água não lhe faz confusão. A intromissão de um espaço que não lhe pertence não o faz pestanejar. Ele cola-se ao corpo de Ana, que entretanto já se colocou também de pé. Ela também anseia. Por debaixo da tanga ela está molhada. Por entre o tecido preso pelas alças finas, o vale do seu peito está a arder e os bicos das suas mamas estão rijos. De uma forma que ela não planeava. Ana vibra como o momento. Aquilo que a sua mente queria resistir abraça-a e apodera-se do desejo corporal da jovem.
- Isto não vai resultar.... - solta ela.
Um desabafo, um suspiro, os braços a rodear as costas dele, um beijo. Um beijo intenso, fogoso, incontrolável. Num lugar neutro, despidos do ego desmesurado que os caracteriza, Ana e Rafael unem-se num beijo ansiado. E só a violência do choque entre os dois corpos consegue revelar a fome que assola nos dois adultos. Mais do que uma foda rápida no elevador, mais do que a negação a um desejo, eles finalmente pretendem entregar-se mutuamente.
- Não me vais exigir dinheiro.... - pede ele.
- Não.
- Não vais fugir...
- Não.
- Nem vais fingir que não gostaste.
- Nunca finjo.
Ana já saltou para o colo dele, para o corpo intenso do instrutor, presa às mãos do homem, entregue ao desejo sexual de Rafael. Por mais surreal que pareça, os dois vizinhos unem-se e não parecem querer ceder. As pernas de Ana envolvem-se nas cintura dele. Os calcanhares da jovem fincam-se no rabo do homem e as suas mãos seguram-se aos ombros do seu amante. O beijo não cessa. As línguas provam-se, os lábios colam um no outro e as respirações chocam entre si. E quando ele abre os olhos, consegue perceber na face da acompanhante o quanto ela desejava este instante. Com as mãos nas nádegas firmes dela, Rafael segura o corpo da mulher sensual, para depois a pousar na borda do jacuzzi, feita de pedra. Ana abre os olhos e lança o olhar a todo o corpo do homem. A sua respiração descontrola-se. Inspira um ar tépido e expira-o ardentemente. Os seus dedos escorregam pelo peito dele, ao mesmo tempo que sente as mãos do vizinho a invadirem as suas pernas. Rafael retira-lhe a tanga e atira-a para a água. As pernas dela voltam a abrir, mas desta vez sabe exactamente o que vai acontecer. Os lábios vaginais já palpitam. O clitóris vibra só de pensar no toque pujante do sexo macio de Rafael. Ela tem consciência da constância sexual do amante que acolhe neste espaço. Não nega a si mesma a rotina apaixonante do homem e de todas as mulheres que já o experimentaram. Ainda assim, ciente de que ambos dispõe de um coração rebelde, Ana vive a entrada do pénis do professor como se fosse único. Para ele e para ela. E o gemido que ela solta é especial. É genuíno. É espontâneo. É surreal. E ele volta a beijá-a. Penetra-a. Cola as mãos nas costas macias da mulher. Desaperta o fio do biquini. Aperta o peito contra o dela. Penetra-a novamente. As pernas dela levantam-se um pouco mais. Ele tira a parte superior do biquini e desnuda o peito dela. Penetra-a com vigor. Penetra-a com intensidade. Penetra-a profundamente. Ela sente. Ana liberta dos seus pulmões cada sentimento que o seu intimo transforma. Ele não pára de a penetrar. A lua ilumino o brilho das gotas de água que escorrem pelos corpos deles. Rafael entra na rata dela com entusiasmo. A piscina é o lugar ideal para eles consumirem um desejo que jamais se tinha concretizado com tanta paixão. Ele entra e sai. Ela geme e inspira. Ouve-se o o borbulhar da água. A humidade consome o lugar e ele não pára de a penetrar.
- Diz-me que estás a gostar...uhmmm....Diz-me, Neves...Eu preciso de te ouvir dizer....
- Sim...estou a gostar....ohhh...
- Gostas de me foder?
- Oh...tu sabes que sim...oohhh...
- Gostas de mim?...Ahhh...eu quero que gostes de mim...uhmmm...Gostas??!
Ele fode-a. Entra na rata dela como uma necessidade ansiada há imenso tempo. Abre as pernas da jovem e convida-a a levantar os pés. É ele que segura o tronco dela pelas costas. E a sua boca não consegue esperar mais. Sem dar uma resposta objectiva ao pedido louco de Ana, Rafael inclina a cabeça e come as mamas da sua vizinha. Redondas, saltam por entre a sua face. Macias, com os bicos a roçarem na sua pele. Ana segura-se ao rabo do homem que a fode e grita. Pede mais. Exige mais. É fervilhante. É magnânimo. É único. Talvez demasiado único. Talvez irrepetivel. Mas a cópula que os inquilinos partilham é o consumar de algo que tinha que acontecer. Ana mantém os olhos bem abertos. Ela pretende viver cada instante, cada pedaço saboroso do corpo que a possui. A humidade torna a visão turva, torna o ar pesado, torna a força dos corpos decadente. O clitóris dela palpita e sente-se pronto a explodir. Eles estão quase a deitar-se, tal é o impacto da sede que vai sendo saciada. Quem quer dizer que eles são feitos um para o outro, está enganado. Quem pensa que esta situação era demasiado inevitável, equivoca-se. A frieza de Rafael e o distanciamento de sentimentos que o façam iludir-se em paixões continua lá. A confiança exacerbada de Ana e o seu jeito fascinante de dominar um homem não se esgotaram. Por um pedaço de tempo que agora parece inesgotável, eles são fracos. E o facto de morarem lado a lado, num andar cimeiro, apenas justifica a mais que provável rendição a uma paixão surreal. Não era o destino. Não era inevitável. A foda que agora explode num orgasmo brutal é a revelação de uma entrega redentora. Ana e Rafael precisavam de se despir por completo e exigirem a eles mesmos um desfecho diferente às suas aparências.
- Quero-te...oohhh....Quero-te tanto!
- És minha!....Oh, eu sabia que eras minha!!...Ohhhh, Anaaaahhh!!....
E só eles sabem o quanto já não são eles. Por quanto tempo, nem eles sabem. Mas esta sensação parece saber tão bem que é preferível deixar o mundo correr. A lua ainda guia a noite genuína. E ainda assim, algo se transformou. Tal como as paredes da casa, os vidros das janelas e do chuveiro, o chão e as pedras terracota que envolvem o tanque, os corpos de Ana e Rafael pingam. Extasiados com uma foda intensa e reveladora das mais profundas e inibidas paixões, o casal de amantes solta do corpo uma entrega que se torna impossível de negar. Agora é o toque das mãos que os une. Agora é o olhar possessivo que os estimula. Agora é a respiração que os acalma. Agora, mais do que nunca, é um abraço que se vai tatuar nas memórias do casal de amantes demasiado provável. Ana segura-se a ele com força. Rafael guarda-a nos seus braços com fervor. A cabeça dela pousa no ombro do amante. A boca dele enche o pescoço de Ana com beijos. A água fervilha. Os corpos derretem-se. O intimo dela ainda está preenchido com o inchaço carnal dele.
- Neves...achas que conseguimos fazer isto?
- Sabes quem eu sou, não sabes, Ana? Estou apaixonado por ti....mas continuo a ser um homem frio.
- Eras capaz de me aturar?
- Não sei, terei de descobrir....Posso tentar...
- Neves...não vou desistir de ser acompanhante....
E o silêncio instala-se. E nada os traz à realidade das suas máscaras. E o abraço pode durar a noite toda. Mas daqui em diante, aconteça o que acontecer, não importa que opções se tomem... Nada mais será o mesmo.

segunda-feira

Desviando para Sudeste

Está fresco. A brisa que invade a casa de Maria José assemelha-se a uma lufada de ar fresco que se ambienta ao espaço. O apartamento é alugado, mas a mulher vai tornando cada vez mais o seu habitat. Como se fosse totalmente construido com as suas mãos. Henrique percebeu essa mudança. No tempo da antiga arrendatária, tudo era diferente. Um espaço escuro, taciturno e descaracterizado. Agora, é pura e simplesmente, uma casa graciosa. É assim que ele vê a mulher. É este o motivo que o faz sentir-se bem ali. Isso e a atracção pela sua cunhada. Não existe um convite para almoço. Não existe um motivo extraordinário para ele se apresentar ali. Maria José não o procurou, mas ele tocou à campainha. Ela abriu a porta. Ele subiu. Ela sorri e recebe-o como um pedaço da sua nova vida.
- Estás diferente. - diz ele.
- Achas?
- Pareces diferente....
- É impressão tua. Só vou ao cabeleireiro à tarde.
- Algum motivo em especial?
- Nada.....Uma mulher não pode pôr-se bonita?
- Tu és bonita, Maria José....
- Já não te ficam bem esses elogios de algibeira.
- O que se passa?
- Nada!
Ela mantém um sorriso resplandecente na sua face. Desde que se divorciou, desde que se mudou para o 1º direito do Edificio Magnolia, desde que assumiu a si mesma que a vida pode ser diferente aos 40 anos, a professora renasceu. Mas melhor do que ninguém, Henrique consegue perceber que a mulher acordou diferente.
- Posso pedir-te um favor? - pede ela.
- Sabes que quando venho aqui, podes pedir qualquer favor. Eu sou o teu homem dos favores.
- Não te peço assim tantos favores..Bem, talvez peça...Mas hoje precisava que...tu sabes...aquilo que tu sabes fazer tão bem.
Henrique liberta um sorriso ambicioso. Ele percebe exactamente o que a sua amante fala. Imediatamente, pega na mão de Maria José e leva-a para a casa de banho. É uma rotina, é um hábito que se gerou entre os dois adultos. Ligados para sempre por uma união que não pertenceu à professora mas que Maria José abençoou, unidos por um desaparecimento brutal e inesperado e viciados numa separação vertiginosa e intensa, os dois amantes, cunhados e essencialmente cúmplices de vidas mútuas, conhecem-se.
- Não está muito quente? A água....
- Está boa...
- Abre um pouco mais...Procura relaxar....Com esta lâmina não sei se não vai arder.
Maria José inspira fundo e depois liberta o ar dos seus pulmões. Segura as mãos ao banco de madeira e procura deixar o corpo descontraido. A mulher está sentada num banco especial, colocado em cima do bidé da casa de banho. Ela está nua. A pele ruboriza-se. O pescoço está húmido e a sua face emana um sorriso. Tem as pernas abertas e o sexo coberto com creme de depilação. Henrique está ajoelhado no mosaico da casa de banho, por entre os joelhos da amante, só com uma t-shirt vestida, e inicia o delicado processo de rapar os pêlos púbicos da professora.
- Posso convidar-te para jantar?
- Hoje não...
- Há um restaurante que te quero mostrar. Muito calmo, bom peixe, óptimo vinho....
- Desculpa, Henrique....Hoje não...
O homem é um curioso especialista em depilação da zona erógena feminina. A sua mulher de longos anos habituou-se a tal prática estimulante e intima. Maria José descobriu-o na primeira noite carnal entre os dois cunhados. E desde então, o engenho do homem para executar a tarefa apaixonou a sua amante. Não é preciso uma esteticista especializada. Não é preciso o esforço pessoal para fazer um trabalho que requer delicadeza. Henrique sabe fazê-lo.
- Gostava então de passar a noite contigo. Já há algum tempo que não passamos tempo juntos e...
- Não vai dar mesmo, Henrique.
- Porquê? Tens planos para hoje?
- Somos amigos, Henrique.... Somos amantes. És um homem extraordinário. És o pedaço que guardo da minha irmã. Mas não tenho que te dar satisfações da minha vida.
- Uau!...Só te perguntei se tens planos. Não costumas sair à noite, não tens marido, não tens namorado.....Tens amante?!...É isso?
- Hoje não vai dar mesmo.....
Vagarosamente, os pêlos são retirados. A lâmina passa frequentemente por uma água quente e traça um percurso delicado na pele de Maria José. A acção é tão vibrante e tão intensa que a professora não teme libertar alguns gemidos. Provocante, até escaldante.
- Tens direito a ter amantes, Maria José. És uma mulher descomprometida e claro que podes ter os teus homens. Não sou ninguém para dizer se fazes bem ou se fazes mal. Mas sou teu amigo...e gostava de saber....
- Não é um amante...
- Se não é um amante....vais sair com alguma colega de trabalho? Ou...
- Apaixonei-me....
O trabalho está quase feito. Já sobra muito pouco creme barrado na pele da mulher. Henrique vai cortando os pêlos que teimam em não cortar. Ainda assim, a sua mão já não exerce o mesmo movimento suave.
- Podes contar-me quem é?
- Se te contar, irias achar que estou louca...
- Aquele teu colega?
- Não...
- É alguém aqui do prédio?
- Não.
- Apaixonaste-te por um homem casado....Por um velho rico? Uma mulher?....
- O carteiro.
Concluido. Uma pequena toalha é ensopada em água morna e com um movimento circular limpa toda a zona erógena.
- Não acredito!...Aquele carteiro?...O rapaz? Aquele que veio cá da...
- Sim....E antes que digas alguma coisa...Sim, estou apaixonada...Não, não é para casar....Sim, preciso dele. Não, não estou louca....Sim, ele faz-me sentir bem....
- Mas porquê?....Maria José, eu pensava que querias ter a tua liberdade...Pensava que querias ter noites...
- E sim, ele é fantástico na cama....

O creme hidratante é apenas um complemento ao fantástico trabalho que mais uma vez a mão de Henrique exerceu sobre a rata da professora. Se não fosse o facto de ser uma tarefa excitante, carregada de desejo e consequentemente aplicado a mulheres que ele quer, o homem poderia tornar-se um profissional esteticista.

- A vida é tua, Maria José...Não sou eu que te vou dizer que estás certa ou errada, mas.... Acabaste de sair de um casamento complicado. Meteres-te agora numa aventura em que te comprometes com alguém que....Não sei...tenho medo que te magoes.

- Não me vou magoar, Henrique. Apenas tenho saudades de me sentir amada...

- Será ele que te vai dar isso? Achas que é o único homem que o pode fazer?

- É...Neste momento, é.

O homem atira a toalha para cima da sanita e acaricia as pernas da amante. Maria José inspira fundo e por breves segundos cerra os olhos. Ele beija as coxas dela e percorre-as, até chegar à vulva. Chupa ligeiramente os lábios vaginais e num gesto incisivo, coloca a lingua dentro da rata húmida da sua cunhada.

- Pára!

Ela segura com os dedos os cabelos dele e retira a cabeça dele do seu intimo. Henrique desiste de lamber, de começar um minete que sabe que lhe iria dar imenso prazer. Mas percebe. Ergue a cabeça e olha para a mulher.

- E eu? Vais esquecer-me?

- Tive casada e sempre tivemos as nossas fodas....Carnais, amigas, descomprometidas. Apesar de estar apaixonada...não quero que isso mude. Pelo menos para já....

- Ena...isso faz-me sentir muito melhor....

- Hoje não, Henrique....É só isso que te peço....Hoje não...

Henrique levanta-se. Agarra as pernas dela e aproxima-se. Senta-se também ele no bidé e aperta o corpo da mulher contra o seu. Os sexos roçam e ele sente a suavidade da vagina dela, depois de a ter depilado. Os braços dele envolvem o corpo da professora e Maria José agarra-se ao rabo dele.

- Um dia...não sei em que circustâncias, talvez iremos perceber que isto não nos satisfaz. Um dia deixaremos de ser amantes. Um dia, esta casa deixará de ser o teu apartamento alugado....Um dia vamos perceber que só estamos bem juntos.

- Um dia, Henrique....Não hoje...

Ela dá um beijo terno nos lábios dele e sorri. Depois lança um olhar, de como quem pede ao homem para não avançar mais.

- E o meu prémio? Não tenho direito ao meu prémio? Tu dás-me sempre um prémio.

Uma foda naquele mesmo sitio. Um broche dedicado como recompensa de um trabalho que muitas esteticistas não têm coragem de o fazer. Efectivamente, Maria José retribuiu tamanha dedicação. Mas hoje é diferente. Henrique levanta-se. A mulher segura o sexo e olhar para ele seriamente. Coloca a ponta do pénis ligeiramente excitado do homem e abocanha-o. Apenas aquele pedaço. Os dentes seguram a ponta e os lábios chupam a carne que tantas vezes a satisfaz. Henrique estimula-se. Estranha que ela não avance. Percebe que ela vai chupar a ponta até ele não aguentar mais. Mas é exactamente isto que ela oferece. Nada mais.

- E amanhã? Ainda vais gostar dele?

- Talvez....

- Posso vir cá amanhã?

- Telefono-te....

- Estás a mandar-me à fava.

- Henrique!...Vamos fazer assim. Amanhã telefono-te...Se for possivel, prepara um jantar....em tua casa....Digo-te se ainda gosto dele. E se me quiseres ouvir...como amigo, como confidente....pode ser que as coisas acabem na tua cama....O que achas?

- Tenho outro remédio?

- Irás sempre ser importante para mim. Não importa o quê.

- Não me trates como o teu novo amante, namorado, paixão ou lá o que ele é...

- Henrique...

- Vais ter a tua noite, vais ter a tua foda...a depilação está feita.

- Por favor, Henrique.

- Eu estou feliz por ti....a sério.

Convincente ou não. Resignado ou não. Henrique é adulto e sabe que aquela mulher não lhe pertence. Mora no que é seu. É um pedaço da vida dela. Mas chegar ao coração de Maria José não é tão simples como parece. Alcançar o verdadeiro significado do amor no corração da professora é uma conquista. É fazer a mulher resnascer. É fazê-la nascer, como se fosse a primeira vez. Para que Maria José volte a acreditar no amor, é preciso alguém ensinar-lhe uma nova definição. Paulo é um novo passo. Jovem, inseguro, ambicioso, irreverente, diferente. Paulo é a primeira palavra para o novo significado de Maria José. Será dele a última palavra?

domingo

E se tudo pudesse tomar outro rumo

"Às vezes, as coisas que não conseguimos mudar....acabam por nos mudar a nós"

Tagline do filme The air i breathe, de 2007, com Andy Garcia, Kevin Bacon, Forest Whitaker, Sarah Michelle Gellar, Brendan Fraser e Julie Delpy http://www.imdb.com/title/tt0485851/

Será que nos apercebemos? Será que é possível tomarmos consciência imediata de tudo o que nos rodeia, no momento em que tudo explode? Será que conseguimos ser neutros, frios, distantes o suficiente, para percebermos que algo está a mudar? Será que temos lucidez suficiente para tomarmos a melhor opção? Será que temos alternativa? Será que o nosso destino não somos nós e as nossas duas mãos, os nossos dois olhos, a nossa dupla e ambígua personalidade?

Será que o bom e o mau, o certo e o errado, não têm um intermédio?Porque tudo o que fazemos, decidimos ou pensamos, é puro instinto. Sem espaço para recuar, apenas para arrepender. Porque o intermédio dos extremos é apenas e só o momento em que tudo já é passado. E o passado não se sonha, não se tenta mudar. Está escrito. E dentro de todos os pontos de vista que cada um pode ter sobre o passado, o nosso é sempre o mais coerente. Porque é a nossa decisão que prevaleceu. Não se deve questionar a forma como o poderíamos ter feito. Devemos apenas consciencializar que está feito. A melhor opção é sempre aquela que foi tomada. Viver é a única forma de apreciar o passado.

O casamento de Helena e Rodrigo parece imune a tanta traição. E aquilo que já foi feito é um encorajamento a fazer mais. Sem olhar para trás, apenas para a frente. A tentação é apenas um sabor instantâneo que cedo desvanecerá com o êxtase do prazer.

Maria José não percebe como se apaixonou. Acontece. Mesmo que o passado lhe tente ensinar a fugir de um futuro inevitável. Não é amor, é fascínio. Uma mistura apaixonante de redescoberta intima e partilha de prazer.

Lúcia está num beco sem saída. Não consegue corrigir os acontecimentos do passado. Não consegue transformar o fervilhar do coração. E um passo em frente pode ser sempre o último. E o último passo pode ser sempre o ponto de partida de um novo inicio.

Laura e Afonso procuram mais. Algo que o passado já não lhe satisfaz. Algo que as memórias e fantasias já não conseguem saciar. Só a perspectiva de algo mais intenso redescobre a paixão. E mesmo que a força do amor os faça navegar por águas calmas, a tentação só pode trazer novas fantasias, novas ideias, novas pessoas.

Rafael sabe quem é. Frio e calculista. O presente é apenas uma cópia do passado. Uma repetição de um desejo que se torna vazio e necessitado de um novo fôlego. Ele tem mais a contar do que a vista alcança. Mas só uma facada no coração lhe vai abrir o peito e acordá-lo do passado.

Ana anseia por experimentar um atalho. Uma viagem diferente daquilo que a torna única. Uma tentação irresistível mas perigosa. Por um caminho difícil de percorrer, que certamente lhe pode abrir uma porta que ela não quer abrir. A sua máscara nocturna preenche-a mais do que ela pode imaginar. Não é tudo. Não é o futuro. Mas é o instante. É o seu papel que lhe traz confiança, segurança e felicidade. Mesmo que ilusória. E esse atalho só a pode tornar insegura.

E se tudo parece vago ou surreal, se é arriscado prever o futuro de cada um destes inquilinos, é porque nem a própria pessoa sabe que decisão tomar. Porque nada parece claro. Nada consegue convencer o instinto a esboçar uma reacção. No Edificio Magnolia, esperar não é uma opção. Agir é uma consequência do tempo que já não retorna. O bom e o mau. O certo e o errado. O meio termo de tudo isto é apenas avançar. Só o tempo irá determinar as consequências da acção, a aceitação ou o arrependimento. A glória ou a decepção. A este instante, tudo o que se passar neste espaço é fruto da vivência que não se esgota em cada um dos inquilinos.

E acredite, se não mudar a sua vida, se não lhe fizer ver a vida com outros olhos, irá certamente mudar toda a vida do inquilino que você for espreitar. Porque o ponto de vista desse morador foi a decisão que ele tomou. E isso você já não pode mudar. Mas pode assistir a essa revelação.