terça-feira

Sem Norte

O sol escondeu-se. A noite acordou. As luzes da cidade acenderam. O escuro invade os pequenos vazios do prédio. E um silêncio perturbador enche os corredores do Edificio Magnolia. É um anoitecer extraordinário neste lugar. Ainda há clientes no Espaço. Ao entrar pela porta principal percebe-se que o elevador já iniciou mais uma viagem. No primeiro andar reina alguma calma. Entende-se que a família perfeita goza a sua felicidade. Do lado direito está escuro, sinal de que não está ninguém em casa, sinal de que há planos melhores fora do prédio. No segundo andar existem pequenos ruídos que indiciam um inicio de noite tranquilo. E quando se chega ao terceiro andar, é perceptível que esta noite o edifício respira um ambiente diferente. Ana abre a porta do seu apartamento. Nenhum cliente tocou à campainha, ela não vai sair. Nem sequer parece ter a máscara nocturna vestida. A um lance de escadas do topo do Edificio, ela aproveita a pacatez dos seus vizinhos para sair do 3º direito em trajes inusitados. O biquini vermelho seco e as sandálias a lembrar o Verão não se adequam à noite amena que cai lá fora. A toalha pendurada ao ombro e uma mala segura à sua mão direita demonstram claramente que a jovem quer usufruir do espaço de lazer disponibilizado aos moradores do Edificio Magnolia. Apesar de perceber que não faz muito sentido não trazer um robe a envolver o seu corpo, ela arrisca em sair rapidamente da sua casa. Fecha a porta suavemente, olha em redor e prepara-se para subir as escadas em direcção ao jacuzzi. A porta do elevador abre-se diante de si e um olhar fixa-se na jovem.
- ....Olá.... - diz ele.
Rafael só queria chegar a casa e relaxar. Um dia carregado de trabalho misturado em noites mal dormidas dão ao instrutor um ar exausto. Ao sair repentinamente do elevador, ele depara-se com Ana. Sensual, ousada e desadequada ao momento. Os pedaços de tecido que envolvem o seu sexo, parte do seu rabo e os seios redondos não conseguem esconder a pele galinha que o corpo dela deixa transparecer. E Rafael não evita sequer olhar. Ela não lhe responde. Um silêncio acomoda-se entre ambos. Uma estranha sensação invade o olhar dos vizinhos.
- Estás sozinha?
- Estás a querer saber se tenho algum cliente? Porquê? Tomaste o gosto por prostitutas ou....
- Ei, ei, ei! Ana...Ana! Foi só uma pergunta. Porquê essa agressividade toda?
- .....Desculpa...Tens razão.....Não é da tua conta, mas estou sozinha...
- E vais experimentar o jacuzzi a esta hora?
- É permitido, não é? Então, qual é o mal?...
- Por favor, Ana. Não te fiz mal nenhum...Se o teu dia correu mal, o meu não foi melhor...
A jovem respira fundo e baixa o olhar. Percebe que efectivamente carrega em si alguma má disposição. Levanta uma perna, colocando-a em cima do degrau. A sua vontade seria esquecer este instante e continuar o seu plano. Relaxar solitariamente no jacuzzi. Deixar o seu corpo receber os jactos de água morna, respirar um ar tépido e submergir em pensamentos leves e banais. É o seu dia. Aquele lugar está reservado unicamente para si. Assim será todas as semanas. Mas aquele homem e a sua inesperada chegada sobressalta a sua mente e o seu ego. Mais do que alguma vez ela ousou sonhar.
- Queres subir? - pergunta ela.
- Onde?!
- À Lua, queres ver? O que é que há aqui em cima onde se possa estar nestes trajes?
- Belos trajes....
- Queres subir ou não?
- É o teu dia...É o dia reservado ao teu apartamento....Ontem foi o meu e nem sequer lá fui e....
- Podes aproveitar hoje....
- Não me leves a mal, mas hoje não pareces ser boa companhia. E não me refiro aos teus serviços.
- Eu sei.....Eu sei que hoje estou mal disposta, mas.....Serias boa companhia. Conversávamos, bebíamos qualquer coisa....Vá lá Neves, não me digas que não...
- Teria que ir procurar o meu fato de banho...
- Não arranjes mais desculpas...Sobes ou não sobes?
A noite é intensa. Arrefece mas deixa o corpo morno com a fervilhação da intimidade que cada um procura nestas horas. O Edificio Magnolia vai repousando. Quase que adormece. Mas no topo, o ar é quente, as emoções encandeiam a lua que se vai descobrindo através de algumas nuvens que viajam pela cidade. O reflexo do Sol, na outra face do globo, torna aquele lado lunar cheio, imenso, luminoso.
- Não te consigo imaginar a desabafar com alguém.... - diz Rafael.
- É verdade que sou melhor ouvinte....
- Conta-me, então.... Sou a pessoa mais improvável para ouvir os desabafos de uma acompanhante, mas eu estou aqui....
É a luz da Lua que maioritariamente ilumina aquele espaço, através da janela diagonal, mesmo por cima do tanque redondo. Uma luz ambiente, colocada junto à porta da casa, transforma o espaço num mistura de ambiente intimo e misterioso. Ana está sentada dentro da piscina. A água borbulha pelo seu corpo. Humidifica os seus ombros, os seus cabelos lisos castanhos, o seu pescoço, os seus lábios. As suas mamas parecem flutuar à tona da água, mas é o biquini apertado que lhe dá um ar ainda mais voluptuoso, do qual Rafael é incapaz de não olhar. O instrutor está sentado numa das espreguiçadeiras, a três metros do jacuzzi onde está a sua vizinha. Ainda está vestido, com a roupa suada e colada à pele. E dentro dele, ainda é possível esconder a excitação que aquele momento lhe provoca.
- Então.... - continua ele - Estás cansada de ser a mulher das horas vagas para qualquer estranho.
- Não é isso.... Ando só aborrecida. Talvez seja só isso...
- Aborrecida? Pareces tudo menos uma mulher aborrecida. Se assim fosse, já terias experimentado outra coisa.
- E quero experimentar algo diferente. Não sei...Talvez seja só esta semana que pareço que os escolho a dedo e só me saem duques....
Ela volta a baixar o olhar. Rafael mantém um sorriso ligeiro, mas com a sua dose de presunção. Ele não esconde que o deixa entusiasmado o facto de estar ali a ouvir a sua vizinha excêntrica. Mas ele olha atentamente para Ana.
- Bolas, nem acredito que estou aqui a falar isto contigo....
- Está-te a saber bem?....
- Na verdade, está.....
- Bom, é sempre algo diferente....É um começo.
Mais uma vez, o silêncio impera. Só que desta vez, Ana fixa a figura do seu vizinho. Esquecendo a sua máscara nocturna, ela respira o seu ar natural, mas ainda assim confiante. Rafael apercebe-se do clima intenso que agora se vive na nova casa do Edifício. Sozinhos, num local que não pertence a nenhum deles, algo os faz despir a máscara que sempre os distanciou. O instrutor levanta-se da cadeira e retira do seu corpo a camisola branca. Imediatamente, solta de si as sapatilhas, as calças e a roupa interior. Em pé, agora a dois metros do tanque, Rafael está completamente nu. Com o pénis entesado e o corpo húmido do suor quotidiano, ele não teme a reacção da vizinha. E após alguns segundos, Ana cede e liberta um sorriso. Pé ante pé, ele aproxima-se da piscina e entra. A temperatura da água não lhe faz confusão. A intromissão de um espaço que não lhe pertence não o faz pestanejar. Ele cola-se ao corpo de Ana, que entretanto já se colocou também de pé. Ela também anseia. Por debaixo da tanga ela está molhada. Por entre o tecido preso pelas alças finas, o vale do seu peito está a arder e os bicos das suas mamas estão rijos. De uma forma que ela não planeava. Ana vibra como o momento. Aquilo que a sua mente queria resistir abraça-a e apodera-se do desejo corporal da jovem.
- Isto não vai resultar.... - solta ela.
Um desabafo, um suspiro, os braços a rodear as costas dele, um beijo. Um beijo intenso, fogoso, incontrolável. Num lugar neutro, despidos do ego desmesurado que os caracteriza, Ana e Rafael unem-se num beijo ansiado. E só a violência do choque entre os dois corpos consegue revelar a fome que assola nos dois adultos. Mais do que uma foda rápida no elevador, mais do que a negação a um desejo, eles finalmente pretendem entregar-se mutuamente.
- Não me vais exigir dinheiro.... - pede ele.
- Não.
- Não vais fugir...
- Não.
- Nem vais fingir que não gostaste.
- Nunca finjo.
Ana já saltou para o colo dele, para o corpo intenso do instrutor, presa às mãos do homem, entregue ao desejo sexual de Rafael. Por mais surreal que pareça, os dois vizinhos unem-se e não parecem querer ceder. As pernas de Ana envolvem-se nas cintura dele. Os calcanhares da jovem fincam-se no rabo do homem e as suas mãos seguram-se aos ombros do seu amante. O beijo não cessa. As línguas provam-se, os lábios colam um no outro e as respirações chocam entre si. E quando ele abre os olhos, consegue perceber na face da acompanhante o quanto ela desejava este instante. Com as mãos nas nádegas firmes dela, Rafael segura o corpo da mulher sensual, para depois a pousar na borda do jacuzzi, feita de pedra. Ana abre os olhos e lança o olhar a todo o corpo do homem. A sua respiração descontrola-se. Inspira um ar tépido e expira-o ardentemente. Os seus dedos escorregam pelo peito dele, ao mesmo tempo que sente as mãos do vizinho a invadirem as suas pernas. Rafael retira-lhe a tanga e atira-a para a água. As pernas dela voltam a abrir, mas desta vez sabe exactamente o que vai acontecer. Os lábios vaginais já palpitam. O clitóris vibra só de pensar no toque pujante do sexo macio de Rafael. Ela tem consciência da constância sexual do amante que acolhe neste espaço. Não nega a si mesma a rotina apaixonante do homem e de todas as mulheres que já o experimentaram. Ainda assim, ciente de que ambos dispõe de um coração rebelde, Ana vive a entrada do pénis do professor como se fosse único. Para ele e para ela. E o gemido que ela solta é especial. É genuíno. É espontâneo. É surreal. E ele volta a beijá-a. Penetra-a. Cola as mãos nas costas macias da mulher. Desaperta o fio do biquini. Aperta o peito contra o dela. Penetra-a novamente. As pernas dela levantam-se um pouco mais. Ele tira a parte superior do biquini e desnuda o peito dela. Penetra-a com vigor. Penetra-a com intensidade. Penetra-a profundamente. Ela sente. Ana liberta dos seus pulmões cada sentimento que o seu intimo transforma. Ele não pára de a penetrar. A lua ilumino o brilho das gotas de água que escorrem pelos corpos deles. Rafael entra na rata dela com entusiasmo. A piscina é o lugar ideal para eles consumirem um desejo que jamais se tinha concretizado com tanta paixão. Ele entra e sai. Ela geme e inspira. Ouve-se o o borbulhar da água. A humidade consome o lugar e ele não pára de a penetrar.
- Diz-me que estás a gostar...uhmmm....Diz-me, Neves...Eu preciso de te ouvir dizer....
- Sim...estou a gostar....ohhh...
- Gostas de me foder?
- Oh...tu sabes que sim...oohhh...
- Gostas de mim?...Ahhh...eu quero que gostes de mim...uhmmm...Gostas??!
Ele fode-a. Entra na rata dela como uma necessidade ansiada há imenso tempo. Abre as pernas da jovem e convida-a a levantar os pés. É ele que segura o tronco dela pelas costas. E a sua boca não consegue esperar mais. Sem dar uma resposta objectiva ao pedido louco de Ana, Rafael inclina a cabeça e come as mamas da sua vizinha. Redondas, saltam por entre a sua face. Macias, com os bicos a roçarem na sua pele. Ana segura-se ao rabo do homem que a fode e grita. Pede mais. Exige mais. É fervilhante. É magnânimo. É único. Talvez demasiado único. Talvez irrepetivel. Mas a cópula que os inquilinos partilham é o consumar de algo que tinha que acontecer. Ana mantém os olhos bem abertos. Ela pretende viver cada instante, cada pedaço saboroso do corpo que a possui. A humidade torna a visão turva, torna o ar pesado, torna a força dos corpos decadente. O clitóris dela palpita e sente-se pronto a explodir. Eles estão quase a deitar-se, tal é o impacto da sede que vai sendo saciada. Quem quer dizer que eles são feitos um para o outro, está enganado. Quem pensa que esta situação era demasiado inevitável, equivoca-se. A frieza de Rafael e o distanciamento de sentimentos que o façam iludir-se em paixões continua lá. A confiança exacerbada de Ana e o seu jeito fascinante de dominar um homem não se esgotaram. Por um pedaço de tempo que agora parece inesgotável, eles são fracos. E o facto de morarem lado a lado, num andar cimeiro, apenas justifica a mais que provável rendição a uma paixão surreal. Não era o destino. Não era inevitável. A foda que agora explode num orgasmo brutal é a revelação de uma entrega redentora. Ana e Rafael precisavam de se despir por completo e exigirem a eles mesmos um desfecho diferente às suas aparências.
- Quero-te...oohhh....Quero-te tanto!
- És minha!....Oh, eu sabia que eras minha!!...Ohhhh, Anaaaahhh!!....
E só eles sabem o quanto já não são eles. Por quanto tempo, nem eles sabem. Mas esta sensação parece saber tão bem que é preferível deixar o mundo correr. A lua ainda guia a noite genuína. E ainda assim, algo se transformou. Tal como as paredes da casa, os vidros das janelas e do chuveiro, o chão e as pedras terracota que envolvem o tanque, os corpos de Ana e Rafael pingam. Extasiados com uma foda intensa e reveladora das mais profundas e inibidas paixões, o casal de amantes solta do corpo uma entrega que se torna impossível de negar. Agora é o toque das mãos que os une. Agora é o olhar possessivo que os estimula. Agora é a respiração que os acalma. Agora, mais do que nunca, é um abraço que se vai tatuar nas memórias do casal de amantes demasiado provável. Ana segura-se a ele com força. Rafael guarda-a nos seus braços com fervor. A cabeça dela pousa no ombro do amante. A boca dele enche o pescoço de Ana com beijos. A água fervilha. Os corpos derretem-se. O intimo dela ainda está preenchido com o inchaço carnal dele.
- Neves...achas que conseguimos fazer isto?
- Sabes quem eu sou, não sabes, Ana? Estou apaixonado por ti....mas continuo a ser um homem frio.
- Eras capaz de me aturar?
- Não sei, terei de descobrir....Posso tentar...
- Neves...não vou desistir de ser acompanhante....
E o silêncio instala-se. E nada os traz à realidade das suas máscaras. E o abraço pode durar a noite toda. Mas daqui em diante, aconteça o que acontecer, não importa que opções se tomem... Nada mais será o mesmo.

3 comentários:

Francisco del Mundo disse...

Gosto destes dois...:D São..reais!:D
Beijo e abraço

luafeiticeira disse...

Realmente, o Neves deve ser bem dotado, pois deixa as mulheres malucas apenas com a penetração, nunca o vemos em preliminares...
beijos

Magnolia disse...

FRANCISCO DEL MUNDO, bem... às vezes a Ana e o Neves parecem surreais. Mas efectivamente, a historia deles so contada. Ainda bem que gostas :)
LUA FEITICEIRA, interessava-te ver o Neves em preliminares? Quem sabe se um dia o Neves não te traz uma surpresa só para ti? :)