segunda-feira

Desviando para Sudeste

Está fresco. A brisa que invade a casa de Maria José assemelha-se a uma lufada de ar fresco que se ambienta ao espaço. O apartamento é alugado, mas a mulher vai tornando cada vez mais o seu habitat. Como se fosse totalmente construido com as suas mãos. Henrique percebeu essa mudança. No tempo da antiga arrendatária, tudo era diferente. Um espaço escuro, taciturno e descaracterizado. Agora, é pura e simplesmente, uma casa graciosa. É assim que ele vê a mulher. É este o motivo que o faz sentir-se bem ali. Isso e a atracção pela sua cunhada. Não existe um convite para almoço. Não existe um motivo extraordinário para ele se apresentar ali. Maria José não o procurou, mas ele tocou à campainha. Ela abriu a porta. Ele subiu. Ela sorri e recebe-o como um pedaço da sua nova vida.
- Estás diferente. - diz ele.
- Achas?
- Pareces diferente....
- É impressão tua. Só vou ao cabeleireiro à tarde.
- Algum motivo em especial?
- Nada.....Uma mulher não pode pôr-se bonita?
- Tu és bonita, Maria José....
- Já não te ficam bem esses elogios de algibeira.
- O que se passa?
- Nada!
Ela mantém um sorriso resplandecente na sua face. Desde que se divorciou, desde que se mudou para o 1º direito do Edificio Magnolia, desde que assumiu a si mesma que a vida pode ser diferente aos 40 anos, a professora renasceu. Mas melhor do que ninguém, Henrique consegue perceber que a mulher acordou diferente.
- Posso pedir-te um favor? - pede ela.
- Sabes que quando venho aqui, podes pedir qualquer favor. Eu sou o teu homem dos favores.
- Não te peço assim tantos favores..Bem, talvez peça...Mas hoje precisava que...tu sabes...aquilo que tu sabes fazer tão bem.
Henrique liberta um sorriso ambicioso. Ele percebe exactamente o que a sua amante fala. Imediatamente, pega na mão de Maria José e leva-a para a casa de banho. É uma rotina, é um hábito que se gerou entre os dois adultos. Ligados para sempre por uma união que não pertenceu à professora mas que Maria José abençoou, unidos por um desaparecimento brutal e inesperado e viciados numa separação vertiginosa e intensa, os dois amantes, cunhados e essencialmente cúmplices de vidas mútuas, conhecem-se.
- Não está muito quente? A água....
- Está boa...
- Abre um pouco mais...Procura relaxar....Com esta lâmina não sei se não vai arder.
Maria José inspira fundo e depois liberta o ar dos seus pulmões. Segura as mãos ao banco de madeira e procura deixar o corpo descontraido. A mulher está sentada num banco especial, colocado em cima do bidé da casa de banho. Ela está nua. A pele ruboriza-se. O pescoço está húmido e a sua face emana um sorriso. Tem as pernas abertas e o sexo coberto com creme de depilação. Henrique está ajoelhado no mosaico da casa de banho, por entre os joelhos da amante, só com uma t-shirt vestida, e inicia o delicado processo de rapar os pêlos púbicos da professora.
- Posso convidar-te para jantar?
- Hoje não...
- Há um restaurante que te quero mostrar. Muito calmo, bom peixe, óptimo vinho....
- Desculpa, Henrique....Hoje não...
O homem é um curioso especialista em depilação da zona erógena feminina. A sua mulher de longos anos habituou-se a tal prática estimulante e intima. Maria José descobriu-o na primeira noite carnal entre os dois cunhados. E desde então, o engenho do homem para executar a tarefa apaixonou a sua amante. Não é preciso uma esteticista especializada. Não é preciso o esforço pessoal para fazer um trabalho que requer delicadeza. Henrique sabe fazê-lo.
- Gostava então de passar a noite contigo. Já há algum tempo que não passamos tempo juntos e...
- Não vai dar mesmo, Henrique.
- Porquê? Tens planos para hoje?
- Somos amigos, Henrique.... Somos amantes. És um homem extraordinário. És o pedaço que guardo da minha irmã. Mas não tenho que te dar satisfações da minha vida.
- Uau!...Só te perguntei se tens planos. Não costumas sair à noite, não tens marido, não tens namorado.....Tens amante?!...É isso?
- Hoje não vai dar mesmo.....
Vagarosamente, os pêlos são retirados. A lâmina passa frequentemente por uma água quente e traça um percurso delicado na pele de Maria José. A acção é tão vibrante e tão intensa que a professora não teme libertar alguns gemidos. Provocante, até escaldante.
- Tens direito a ter amantes, Maria José. És uma mulher descomprometida e claro que podes ter os teus homens. Não sou ninguém para dizer se fazes bem ou se fazes mal. Mas sou teu amigo...e gostava de saber....
- Não é um amante...
- Se não é um amante....vais sair com alguma colega de trabalho? Ou...
- Apaixonei-me....
O trabalho está quase feito. Já sobra muito pouco creme barrado na pele da mulher. Henrique vai cortando os pêlos que teimam em não cortar. Ainda assim, a sua mão já não exerce o mesmo movimento suave.
- Podes contar-me quem é?
- Se te contar, irias achar que estou louca...
- Aquele teu colega?
- Não...
- É alguém aqui do prédio?
- Não.
- Apaixonaste-te por um homem casado....Por um velho rico? Uma mulher?....
- O carteiro.
Concluido. Uma pequena toalha é ensopada em água morna e com um movimento circular limpa toda a zona erógena.
- Não acredito!...Aquele carteiro?...O rapaz? Aquele que veio cá da...
- Sim....E antes que digas alguma coisa...Sim, estou apaixonada...Não, não é para casar....Sim, preciso dele. Não, não estou louca....Sim, ele faz-me sentir bem....
- Mas porquê?....Maria José, eu pensava que querias ter a tua liberdade...Pensava que querias ter noites...
- E sim, ele é fantástico na cama....

O creme hidratante é apenas um complemento ao fantástico trabalho que mais uma vez a mão de Henrique exerceu sobre a rata da professora. Se não fosse o facto de ser uma tarefa excitante, carregada de desejo e consequentemente aplicado a mulheres que ele quer, o homem poderia tornar-se um profissional esteticista.

- A vida é tua, Maria José...Não sou eu que te vou dizer que estás certa ou errada, mas.... Acabaste de sair de um casamento complicado. Meteres-te agora numa aventura em que te comprometes com alguém que....Não sei...tenho medo que te magoes.

- Não me vou magoar, Henrique. Apenas tenho saudades de me sentir amada...

- Será ele que te vai dar isso? Achas que é o único homem que o pode fazer?

- É...Neste momento, é.

O homem atira a toalha para cima da sanita e acaricia as pernas da amante. Maria José inspira fundo e por breves segundos cerra os olhos. Ele beija as coxas dela e percorre-as, até chegar à vulva. Chupa ligeiramente os lábios vaginais e num gesto incisivo, coloca a lingua dentro da rata húmida da sua cunhada.

- Pára!

Ela segura com os dedos os cabelos dele e retira a cabeça dele do seu intimo. Henrique desiste de lamber, de começar um minete que sabe que lhe iria dar imenso prazer. Mas percebe. Ergue a cabeça e olha para a mulher.

- E eu? Vais esquecer-me?

- Tive casada e sempre tivemos as nossas fodas....Carnais, amigas, descomprometidas. Apesar de estar apaixonada...não quero que isso mude. Pelo menos para já....

- Ena...isso faz-me sentir muito melhor....

- Hoje não, Henrique....É só isso que te peço....Hoje não...

Henrique levanta-se. Agarra as pernas dela e aproxima-se. Senta-se também ele no bidé e aperta o corpo da mulher contra o seu. Os sexos roçam e ele sente a suavidade da vagina dela, depois de a ter depilado. Os braços dele envolvem o corpo da professora e Maria José agarra-se ao rabo dele.

- Um dia...não sei em que circustâncias, talvez iremos perceber que isto não nos satisfaz. Um dia deixaremos de ser amantes. Um dia, esta casa deixará de ser o teu apartamento alugado....Um dia vamos perceber que só estamos bem juntos.

- Um dia, Henrique....Não hoje...

Ela dá um beijo terno nos lábios dele e sorri. Depois lança um olhar, de como quem pede ao homem para não avançar mais.

- E o meu prémio? Não tenho direito ao meu prémio? Tu dás-me sempre um prémio.

Uma foda naquele mesmo sitio. Um broche dedicado como recompensa de um trabalho que muitas esteticistas não têm coragem de o fazer. Efectivamente, Maria José retribuiu tamanha dedicação. Mas hoje é diferente. Henrique levanta-se. A mulher segura o sexo e olhar para ele seriamente. Coloca a ponta do pénis ligeiramente excitado do homem e abocanha-o. Apenas aquele pedaço. Os dentes seguram a ponta e os lábios chupam a carne que tantas vezes a satisfaz. Henrique estimula-se. Estranha que ela não avance. Percebe que ela vai chupar a ponta até ele não aguentar mais. Mas é exactamente isto que ela oferece. Nada mais.

- E amanhã? Ainda vais gostar dele?

- Talvez....

- Posso vir cá amanhã?

- Telefono-te....

- Estás a mandar-me à fava.

- Henrique!...Vamos fazer assim. Amanhã telefono-te...Se for possivel, prepara um jantar....em tua casa....Digo-te se ainda gosto dele. E se me quiseres ouvir...como amigo, como confidente....pode ser que as coisas acabem na tua cama....O que achas?

- Tenho outro remédio?

- Irás sempre ser importante para mim. Não importa o quê.

- Não me trates como o teu novo amante, namorado, paixão ou lá o que ele é...

- Henrique...

- Vais ter a tua noite, vais ter a tua foda...a depilação está feita.

- Por favor, Henrique.

- Eu estou feliz por ti....a sério.

Convincente ou não. Resignado ou não. Henrique é adulto e sabe que aquela mulher não lhe pertence. Mora no que é seu. É um pedaço da vida dela. Mas chegar ao coração de Maria José não é tão simples como parece. Alcançar o verdadeiro significado do amor no corração da professora é uma conquista. É fazer a mulher resnascer. É fazê-la nascer, como se fosse a primeira vez. Para que Maria José volte a acreditar no amor, é preciso alguém ensinar-lhe uma nova definição. Paulo é um novo passo. Jovem, inseguro, ambicioso, irreverente, diferente. Paulo é a primeira palavra para o novo significado de Maria José. Será dele a última palavra?

2 comentários:

luafeiticeira disse...

Estranho este texto... Maria josé encontrou Paulo, um jovem antagónico ao seu marido, confessa-o ao cunhado, amigo e amante, torna-se uma personagem estranha... como já disse, deixou de ser redonda.
beijos

Sexhaler disse...

Estive sem net bastante tempo o que me impediu de fazer as visitas habituais, infelizmente.
Mas juro-te que demorei a actualizar-me aqui no Magnólia!!! Chiça mulher, que tu escreves!!!!!
;)

Beijo