domingo

E se tudo pudesse tomar outro rumo

"Às vezes, as coisas que não conseguimos mudar....acabam por nos mudar a nós"

Tagline do filme The air i breathe, de 2007, com Andy Garcia, Kevin Bacon, Forest Whitaker, Sarah Michelle Gellar, Brendan Fraser e Julie Delpy http://www.imdb.com/title/tt0485851/

Será que nos apercebemos? Será que é possível tomarmos consciência imediata de tudo o que nos rodeia, no momento em que tudo explode? Será que conseguimos ser neutros, frios, distantes o suficiente, para percebermos que algo está a mudar? Será que temos lucidez suficiente para tomarmos a melhor opção? Será que temos alternativa? Será que o nosso destino não somos nós e as nossas duas mãos, os nossos dois olhos, a nossa dupla e ambígua personalidade?

Será que o bom e o mau, o certo e o errado, não têm um intermédio?Porque tudo o que fazemos, decidimos ou pensamos, é puro instinto. Sem espaço para recuar, apenas para arrepender. Porque o intermédio dos extremos é apenas e só o momento em que tudo já é passado. E o passado não se sonha, não se tenta mudar. Está escrito. E dentro de todos os pontos de vista que cada um pode ter sobre o passado, o nosso é sempre o mais coerente. Porque é a nossa decisão que prevaleceu. Não se deve questionar a forma como o poderíamos ter feito. Devemos apenas consciencializar que está feito. A melhor opção é sempre aquela que foi tomada. Viver é a única forma de apreciar o passado.

O casamento de Helena e Rodrigo parece imune a tanta traição. E aquilo que já foi feito é um encorajamento a fazer mais. Sem olhar para trás, apenas para a frente. A tentação é apenas um sabor instantâneo que cedo desvanecerá com o êxtase do prazer.

Maria José não percebe como se apaixonou. Acontece. Mesmo que o passado lhe tente ensinar a fugir de um futuro inevitável. Não é amor, é fascínio. Uma mistura apaixonante de redescoberta intima e partilha de prazer.

Lúcia está num beco sem saída. Não consegue corrigir os acontecimentos do passado. Não consegue transformar o fervilhar do coração. E um passo em frente pode ser sempre o último. E o último passo pode ser sempre o ponto de partida de um novo inicio.

Laura e Afonso procuram mais. Algo que o passado já não lhe satisfaz. Algo que as memórias e fantasias já não conseguem saciar. Só a perspectiva de algo mais intenso redescobre a paixão. E mesmo que a força do amor os faça navegar por águas calmas, a tentação só pode trazer novas fantasias, novas ideias, novas pessoas.

Rafael sabe quem é. Frio e calculista. O presente é apenas uma cópia do passado. Uma repetição de um desejo que se torna vazio e necessitado de um novo fôlego. Ele tem mais a contar do que a vista alcança. Mas só uma facada no coração lhe vai abrir o peito e acordá-lo do passado.

Ana anseia por experimentar um atalho. Uma viagem diferente daquilo que a torna única. Uma tentação irresistível mas perigosa. Por um caminho difícil de percorrer, que certamente lhe pode abrir uma porta que ela não quer abrir. A sua máscara nocturna preenche-a mais do que ela pode imaginar. Não é tudo. Não é o futuro. Mas é o instante. É o seu papel que lhe traz confiança, segurança e felicidade. Mesmo que ilusória. E esse atalho só a pode tornar insegura.

E se tudo parece vago ou surreal, se é arriscado prever o futuro de cada um destes inquilinos, é porque nem a própria pessoa sabe que decisão tomar. Porque nada parece claro. Nada consegue convencer o instinto a esboçar uma reacção. No Edificio Magnolia, esperar não é uma opção. Agir é uma consequência do tempo que já não retorna. O bom e o mau. O certo e o errado. O meio termo de tudo isto é apenas avançar. Só o tempo irá determinar as consequências da acção, a aceitação ou o arrependimento. A glória ou a decepção. A este instante, tudo o que se passar neste espaço é fruto da vivência que não se esgota em cada um dos inquilinos.

E acredite, se não mudar a sua vida, se não lhe fizer ver a vida com outros olhos, irá certamente mudar toda a vida do inquilino que você for espreitar. Porque o ponto de vista desse morador foi a decisão que ele tomou. E isso você já não pode mudar. Mas pode assistir a essa revelação.

2 comentários:

luafeiticeira disse...

Sempre a comunicação social, sempre o livro, o jornal, a T.V; deixas-nos aqui pregados na cadeira a assistir à noveda do prédio de paredes de vidro e atiras-nos com um concurso para escolhermos um apartamento... não queres que partecipemos, que façamos mudar o destino das personagens redondas que criste e que vais tornando, aos poucos, planas. Deixa-nos participar! estou a brincar, esta é aúnica novela que sigo e com prazer.
Beijos de "Cristo"

Magnolia disse...

LUA FEITICEIRA, claro que quero que participem. Só o facto de comentarem, de virem visitar, é uma participação. Mais importante do que podes julgar. E acredita, a vida dos inquilinos muda de cada vez que alguém visita ou comenta no Edificio. De uma forma que nem consegues imaginar :)
beijinhos