sábado

Reflexos côncavos

Publicado a 05-07-08
Quando a noite cai, o silêncio pode dominar. Quando o silêncio domina, o obscuro pode revelar-se. E se o campo de visão é anulado, a imaginação toma conta da racionalidade. E tudo deixa de fazer sentido. E os maiores receios misturam-se com os desejos prementes. Os impulsos dominam o controlo. O impensável transforma-se numa mera realidade. E se amanhecer, aquilo que parece um sonho excitante torna-se um pesado fantasma.
Tania aceitou o convite. Morar numa casa onde a tensão se sobrepunha à harmonia passou a ser arrasador. Sem discussões, sem palavras, sem acções. Numa manhã, ela fez a mala e colocou-a à porta do apartamento. Havia muita coisa para levar, mas a melhor opção seria apenas e só levar roupa e alguns objectos pessoais. Havia uma despedida para fazer, mas nem Tania, nem a sua amiga e colega de casa tiveram coragem de o fazer. Porque para todos os efeitos, aquela porta estará sempre aberta. Por agora, é melhor guardar uma distância. Distância, não esquecimento. Nem muito longe, nem muito perto. Até porque há coisas que pertencem para sempre a Tania naquela casa, as quais já não podem de lá sair. Sem olhar para trás, porque tudo se infiltra na sua mente. Respirando fundo, porque há ainda muita coisa a pensar. Sem aviso oficial à outra inquilina, porque pode custar demasiado. Ela fecha a porta e bate à porta do apartamento em frente. E quando a porta do 2º direito se abre, Tania é uma pessoa ainda mais perdida.
Já se contam dois dias que ela colocou a mala no quarto que Laura e Afonso reservaram para a sua amiga. Uma espécie de quarto de hóspedes, quarto dos brinquedos da filha da sua colega de trabalho, quarto que servia para imensas coisas menos para dormir. Ao seu dispor uma cama de solteiro, da qual Tania já não estava acostumada a dormir. Um pequeno armário onde cabe perfeitamente toda a roupa que trouxe. Tudo o resto, pode ficar no outro apartamento. Tania prestou-se a pagar ao casal a mesma renda que paga no lar do lado esquerdo. Laura recusa de uma forma veemente. Tania insiste. Laura nem quer ouvir falar de dinheiro. Tania aceita uma rendição, mas apenas no acordo de pagar despesas extra. O pacto é aceite. Ao mesmo tempo, Tania confessa o compromisso já verbalizado de continuar a pagar a renda que está contratualizada com a sua amiga e ex-amante.
Ao terceiro jantar com a família do 2º direito, Tania sente-se um pouco mais confortável. Já não há nada a combinar e todos se adaptaram à presença de um quarto elemento. Até a filha de Laura que ganhou um carinho ainda mais especial pela jovem, lhe custa separar a sua mais recente parceira de brincadeiras de criança e segredos infantis, quando depois da refeição o seu pai a vier buscar. Há um conforto renovado que reside no coração de Tania. Ainda assim, a noite traz sempre os seus piores tormentos.
- O que se passa, Tania? - pergunta Laura.
- Nada...é só estas noites...
- O que tem?...A cama não é confortável...
- É...é...eu acho que é...não é grande mas até se dorme bem ali.
- Se quiseres podemos trocar...
- Não tenho conseguido adormecer facilmente...
- Eu sei que não deve ser fácil...
- Também é um peso para mim saber que vos estou a incomodar e....
- Não estás! Já te disse isso... Claro que não é tão fácil dar as fodas que queremos, mas até chega a ser um desafio. Vir-me sem gritar...
- Não brinques.
- Tens ouvido alguma coisa? - troça Laura.
- Mesmo que ouça, não me incomoda. Eu abstraio-me...
- Queres dormir connosco, é isso? - continua a namorada de Afonso a troçar - A minha filha já não vem para a nossa cama, mas não nos importamos que sejas a nossa menina.
- Laura! Pára!
- Estou na brincadeira... Sabes que te temos aqui como amiga e que podes ficar o tempo que quiseres... Ou tens medo que nós vamos invadir o teu quarto?
- Tenho medo de estar sozinha... é só isso.
- Só isso?!
Tania respira fundo e desvia o olhar de Laura. Afonso ainda sorri da conversa trocista da sua namorada. Afinal, mesmo com uma boa dose de brincadeira, Laura faz questão de vincar o objectivo de Tania estar naquela casa. Existe um desejo por parte do casal de se envolver com a jovem. Mas existe também o respeito pela decisão já há muito afirmada por Tania. Ela não pretende estar no meio de uma relação que por mais liberal que possa ser, não se encaixa na confiança que Tania quer depositar numa envolvência sexual. A colega de trabalho de Laura nunca escondeu a excitação que quer ele, quer ela lhe provocam nos seus desejos mais íntimos. Mas uma fantasia não implica uma concretização. Sempre pareceu um passo demasiado grande para a jovem e o casal quis demonstrar que respeita isso. Desde o primeiro passo de Tania como moradora nesta casa.
Quando a noite cai, os fantasmas tornam-se concretos. O silêncio acomoda-se em todas as divisões da casa. O quarto da menina está vazio. As luzes estão todas apagadas e apenas uma luz ténue, vinda do candeeiro da rua, entra pelas brechas do estore do quarto onde o casal repousa. Laura está deitada na sua posição habitual, que lhe permite penetrar no seu sono profundo. Afonso está inquieto. Movimenta o seu corpo sem conseguir encontrar uma posição adequada. A única forma de conseguir pacificar é estender o corpo de barriga para cima. Com os olhos abertos a incidirem para o tecto, ele mantém os sentidos despertos.
- Estás a ouvir?!... - sussurra ele.
- Uhm?...
- Não ouves?
- Ouço o quê?!...Afonso, deixa-me dormir...
- Shiuu!...Cala-te e escuta!....
Laura vê-se obrigada a adiar o seu sono e mudar de posição. Ergue ligeiramente a cabeça e procura encontrar um som no meio de tanto silêncio. Após três segundos de suspensão, Laura franze o olhar. Ela ouve algo. Gira a cabeça, olhando para o namorado em silêncio. Seguidamente procura continuar a perceber o que ouve e dilata os lábios.
- É a Tania. - sussurra ela calmamente.
- A Tania o quê?
- Nunca o fizeste?!...Nunca estiveste sozinho num quarto e apeteceu-te...
- Apeteceu o quê?... Ela está a....
- Sim...
No quarto um pouco mais ao lado, a escuridão toma posse do espaço. Na cama que Laura e Afonso cederam à amiga, está uma jovem acordada. Absorvida na intensidade do seu pensamento e apoderada da tensão da sua mão. Tania masturba-se no segredo do seu quarto. Sozinha, sem um abraço envolvente, sem uma caricia tranquilizante, sem a certeza de estar tranquila, sem pudor de libertar a sua imaginação. Tania procura trazer luz ao seu campo de visão, de modo a que se possa embalar até adormecer. Mas tal não sucede. Os dedos manuseiam gestos excitantes nos seus lábios vaginais, ao mesmo tempo que a pressão que as pernas exercem reflecte-se na palpitação do seu clitóris. Talvez uma recordação da ansiedade que se gerava em si quando Lúcia chegava a casa. Possivelmente uma revisitação ao prazer que o sexo do seu ex-namorado lhe provoca, exactamente naquela posição. Quase de certeza uma fantasia, onde Afonso toma conta do seu desejo e Laura assiste de uma forma atrevida. Em todo o caso, Tania perde-se no deleite da masturbação. E mesmo tentando ser discreta, não consegue evitar que o ruído se liberte da sua garganta, espalhando-se pelas paredes do quarto escuro.
Laura e Afonso mantém-se acordados. Nenhum deles consegue negar a excitação que a caricia manual da amiga provocou neles. Ainda assim, mantêm-se expectantes sobre o que ainda pode acontecer, até porque a porta do quarto de Tania abre-se. Ansiosos, eles procuram perceber o que ela faz. A jovem vai à casa de banho. Demora dois minutos. Volta a abrir a porta da casa de banho. Ouvem-se passos indicadores de aproximação. Por entre a escuridão, Tania dirige-se à cozinha. Abre a porta do frigorífico e pega na água para refrescar a sua garganta. Respira fundo e com o corpo mais fresco, tenta ganhar coragem para voltar ao quarto. Ao passar de novo pelo quarto do casal, Tania não resiste a lançar o olhar. Tem uma postura taciturna e confusa. Os pequenos pontos luminosos que entram ali deixam perceber que Laura está acordada. Tania congela o passo.
- Vem cá... - diz Laura.
- Não consigo dormir... - confessa Tania.
- Eu sei...Vem até aqui.
Descalça, a jovem entra no quarto e cola-se à cama. A mão de Laura chama por ela e o toque suave da amiga tranquiliza o corpo de Tania. Elas trocam o olhar e por uns momentos há algo que paira. A indecisão, a confusão, a incerteza. Mulher madura, ponderada e meiga, Laura decide-se.
- Deita-te aqui...
Como um chamamento. Um hipnotismo racional. Uma acção provocada. Tania coloca primeiro um joelho descoberto na cama e depois movimenta o seu corpo para se deitar junto à margem do colchão, próxima de Laura. A mulher envolve o braço no corpo da colega de trabalho, incorporando um papel maternal. Segura o tronco dela, apertando-a contra o seu peito. Laura está coberto por um vestido de noite com alças. Tania tem uma camisola e uns calções de algodão apertados. Apesar da jovem conseguir acalmar ali, Laura realiza que a amiga treme ligeiramente. A mão que acaricia os cabelos da jovem é um conselho fraterno, pedindo-lhe carinhosamente que se deixe envolver no sono que teima em não chegar. Minutos depois, na incredulidade de Laura e Afonso perante a fraqueza da nova inquilina, Tania adormece ao lado do casal. Como uma menina que viveu um pesadelo.
Quando a noite cai, a imaginação dramatiza as nossas surrealidades. A madrugada trouxe movimentações na cama. Afonso já mudou de posição uma dúzia de vezes. Laura já se levantou da cama para ir à casa de banho e quando voltou tinha o corpo de Tania no meio da cama. Sem coragem de a acordar, a mulher deitou-se na ponta do colchão. Cobriu o corpo do namorado e da amiga e procurou novamente o sono. Assim que sentiu o leve dormir da colega, Tania muda de posição e coloca-se de barriga para cima. Abre os olhos e mantém-se tranquila com a breve luz que ilumina o quarto. Apesar de estanhar a situação, ao estar envolta pelo casal amigo na mesma cama, Tania sente-se calma. Apesar de não entender o real motivo porque aceitou partilhar a cama, ela considera-se lúcida. Apesar de perceber que nas fantasias mais intimas Laura e Afonso a desejam, ela entende que o propósito de estar ali, entre os dois foi inocente. E assim, ela mantém-se serena. Novamente sem sono, mas absorvida numa introspecção pacífica. No obscuro daquele espaço, protegida pelas pequenas partículas laranjas que o candeeiro da rua lhe oferece, Tania reflecte sobre o seu estado. Acerca do seu papel neste apartamento. Aquilo que, neste instante, o casal representa para si. Do seu lado esquerdo está a representação de um homem apaixonado, liberal sexualmente, amante dedicado, pessoa envolvente. Claro que isto é exactamente uma reprodução do que a amiga lhe conta. Ainda assim, ela crê nessa ideia. Do seu lado direito está o reflexo que ela gostaria de ter. Uma mulher aberta a novas experiências, sedenta de ser amada, com gula de partilhas racionais mas excitantes, ponderada, responsável e com um cariz sensual enigmático. Obviamente isto é uma imagem que a própria Tania espelha na sua mente. Mais uma vez, não deve fugir da realidade. O olhar dela esbate-se no tecto. A noite é longa e nem ela tem a plena certeza dos seus sentimentos e da sua racionalidade. Mas no ocaso desta quase escuridão, Tania vê um espelho no alto do quarto. Um espelho imaginário, é certo. Mas reflecte exactamente o que ela quer ver. Um espelho côncavo, onde a sua figura é predominante. Mas em que lateralmente a si, está o reflexo dos seus desejos, uma extensão dela mesmo. Como um espelho cilíndrico côncavo. O seu reflexo é nítido e concreto, mas na extensão do espelho surgem as imagens ligeiramente distorcidas de Laura e Afonso. Nesta percepção surreal, Tania volta a adormecer.
Quando a noite cai, os desejos envolvem os receios mais profundos. Um sonho forte, extremo e demasiado próximo da realidade explode na mente de Tania e obriga-a a acordar. O corpo dela está numa posição fetal, virada para o namorado de Laura. O rabo está a tocar nas ancas de Laura. As mãos estendem-se no lençol e chegam a tocar o ombro de Afonso. Quando ela abre os olhos, entende o quão próximo está dele. O quanto a sua respiração acelerada esbate no pescoço dele. O quanto toda a sua face está diante do seu olhar, diante da sua boca, diante da sua pele húmida. O sonho de Tania foi intenso. Ela esta a suar ligeiramente e a alça do top escorregou, fazendo descobrir o seu seio. E no momento em que ela toma esta percepção, os olhos de Afonso abrem. Ele não se mexe, mas poe entre alguma escuridão, avalia a proximidade da jovem com naturalidade. Os seus lábios sorriem ligeiramente. Tania prende a respiração e procura reagir. Afastar-se pode ser demasiado brusco. Mover o corpo também. E dentro de todas as opções que ela pode tomar, Tania acaba por agir conforme o sonho lhe indicou. Instintivamente, a sua mão descola do lençol e toca na face de Afonso. A sua boca carnuda aproxima-se do olhar dele e os seus pés tocam levemente nos joelhos dele. Suavemente, gera-se uma aproximação entre os dois. Laura dorme. É a boca de Tania que invade a testa dele, entregando um gesto de carinho. É a mão direita dela que segura os cabelos de Afonso. É a mão esquerda da jovem que agarra a mão do amigo e a traz para junto do seu peito. Afonso percebe que o volumoso seio dela está descoberto e fixa o seu olhar no mamilo redondo, iluminado por um pequeno traço de luz e ligeiramente entesado. A palma da sua mão acaba por sentir que ele está rijo. Os lábios fofos de Tania envolvem a face dele com beijos. Em cada canto, menos na boca. Talvez o medo, talvez o receio, talvez a ansiedade. Mas os lábios dele não foram tocados quando a sua boca já prossegue caminho para o pescoço. Afonso veste apenas uns boxers. Ela avança pelo peito dele, movimentando o seu corpo. Os seus tornozelos roçam agora nos joelhos de Laura. Curto e breve é o caminho que a leva até à cintura do jovem. Em silêncio, sem qualquer pedido, sem qualquer gesto brusco ou atitude que indiciasse algo, Afonso percebe que é Tania que se rende aos desejos do casal. E no instante em que a mão da jovem segura o sexo estimulado do inquilino e a boca envolve a ponta do mesmo, Afonso estende os braços. Sente-se arrebatado pelos lábios carnudos a acariciarem o seu pénis. Tania ousa chupar o amigo, mesmo nas barbas da namorada dele. Ele fecha os olhos e coloca a mão na nuca dela, acarinhando os cabelos da amiga. Ao mesmo tempo, o braço direito dele pousa em cima do corpo de Laura. A mulher desperta. A boca de Tania a roçar no sexo masculino emite um som lascivo. Juntamente com a língua que procura conhecer o sabor do órgão, a mão encarrega-se de estimular progressivamente o objecto de desejo do jovem. Laura sente a mão do namorado percorrer o seu tronco. É apalpada nos seios e pressente a ponta dos dedos roçar a sua barriga, até alcançar o ventre. Aí, nessa sua zona sensível, ela sente dois dedos a irromperem por entre os seus lábios vaginais. A noite é escura, misturada entre desejos e receios. Mas a cama do 2º direito é iluminada com a energia de Afonso, que para além de ser chupado pela amiga, masturba a sua namorada.
O broche de Tania é suave, calmo, mas progressivo. Ele está verdadeiramente excitado e entusiasmado. Laura está finalmente acordada. Quando julgava que o seu namorado se excedia em tocá-la diante da amiga taciturna, ela levanta a cabeça e realiza o que ocorre à sua volta. A sua colega de trabalho, com insistência renitente em envolver-se a três, está agora a dar prazer oral ao homem que lhe pertence. Após alguns segundos de estupefacção, Laura pressente a realidade e sorri. Finalmente, a aproximação à jovem deu fruto. E o seu clitóris, até aqui adormecido e acariciado por Afonso, acaba por brotar e entesar-se. O olhar da mulher quer assistir, deixar as coisas correrem. Ainda assim, ela não resiste e coloca uma mão na cabeça de Tania. Acaricia os cabelos e incita-a a prosseguir. Sem uma explicação interior lógica, a jovem sente-se estimulada a continuar.
Quando a noite cai, os impulsos corporais dominam o controlo mental. Laura está entesada. O trabalho manual do namorado na sua rata surte efeitos assim que ela sente uma célere excitação na sua rata. Tania lambeu por uma derradeira vez o pénis do amigo, deixando-o húmido, tenso e firme. A mão da colega de Laura segura a picha pela base, apertando os testículos dele e depois movimenta-se. Tania está agora de joelhos fincados no colchão, com o tronco erguido. Tania está preparada para deixar o impulso controlá-la. Tania sente-se capaz de receber o pénis de Afonso dentro de si. Assim que a ponta do sexo expande ligeiramente os seus lábios vaginais algo molhados, ela liberta a mão e coloca-a na barriga dele. A sua cintura, que até aqui aguardava impacientemente pelo alinhamento de todos os gestos necessários, deixa-se cair sobre o corpo do homem. Vagarosamente, o pénis de Afonso penetra cuidadosamente por entre as pernas de Tania. Laura assiste. Excita-se com a sequência de acontecimentos e aguarda ansiosamente pelo que ainda está para surgir. A sua respiração está ofegante, as suas pernas estão abertas e o seu peito está tenso. Com o olhar preso no semblante de Afonso, a nova inquilina deste apartamento sente cada pedaço carnal a entrar dentro de si. Inspira e expira com uma boa dose de nervosismo. Ela nem quer acreditar que existe um homem para além do seu ex-namorado a entrar dentro de si. Ela nem quer acreditar que isso sabe tão bem. Ela nem quer acreditar que a presença de Laura a excita descontroladamente. Ela nem quer acreditar que o seu clitóris possa estar tão rijo. Ela não pode acreditar que a sua colega de trabalho está a vir-se diante de si e que os dedos de Afonso ainda a penetram vigorosamente. Ela recusa-se a crer que o sexo dele incha a um ritmo alucinante de cada vez que ela cavalga sobre ele. Ela tem dificuldade em entender que é possível as mãos dele repartirem-se entre a rata da namorada e as mamas dela que pulam para fora do top. Após alguns minutos intensos e inesgotáveis, Tania quer acreditar que o seu orgasmo vai surgir e que aquilo não será deveras um sonho. Ela olha para Afonso. Sabe que ele também chegou ao seu auge. Ela olha para a amiga. Entende que ela está a tirar satisfação de tudo isto. Ela retorna o olhar para ele. Pressente a tensão na face dele, ansioso para lhe proporcionar prazer. Ela retorna os olhos para Laura. A amiga entende a tesão dela e aguarda também pelo orgasmo da jovem. O olhar acaba por fixar-se no novo amante. Quando perde o controlo sobre si mesma, Tania cerra levemente os olhos e sente um calor húmido a explodir dentro de si. Ao mesmo tempo, a sua rata lateja, o seu ventre fervilha, os seus mamilos incham e os seus lábios palpitam. A jovem morena vem-se e sente Afonso a vir-se dentro de si.
Quando a noite cai, aquilo que se teve medo de imaginar torna-se uma realidade natural. Tania libertou as mãos e deixou pender o seu corpo para diante. Mas ao contrário do que o amante poderia julgar, ela não se deitou sobre o seu peito. Sem libertar o pénis dentro da sua rata, Tania alterou o rumo do seu corpo e deitou-se sobre o colo de Laura. Procurou o seu conforto meigo, as mãos que entendem, o carinho que a conforta, os gestos que a devolvem à sua racionalidade. Agora já não há retorno. Tania entregou-se à virilidade apaixonante de Afonso, tão propalada pela namorada. Tania aceitou a presença excitante e voyeurista de Laura, em conformidade com as práticas ousadas que o casal experimenta. Numa noite longa, em que os pensamentos desenrolaram, as fantasias proprocionaram prazer pessoal e os receios reformularam-se em desejos concretos, o casal e a sua amiga espelham uma imagem partilhada. Os três fazem parte da mesma acção. E dentro do 2º direito há um novo conceito de intimidade.
Quando a noite cai, o sonho excitante amanhece. A escuridão dá lugar à luz matinal e algo pesa na mente de Tania. Ela não se sente arrependida. Ela sabe o que fez, porque fez e de que forma aconteceu. Ela não ousa pensar que foi um erro. Mas assim que a manhã lhe traz uma nova lucidez, parece ser dificil acreditar que o sonho que o seu espelho reflecte no ocaso da escuridão se tornou uma realidade consequente. Ainda assim, perdida numa apartamento que não é seu, perdida de outro lar que já deixou de ser seu, Tania procura encaixar-se no concreto que ela vai aceitar. Aninhada no colo de Laura, a jovem fecha os olhos, dando tempo a si própria para aceitar o presente. Afonso e a sua namorada sentem-se concretizados. No momento em que deram espaço à jovem para não se sentir pressionada a aceitar o convite deles, uma noite obscura traz mais do que um pesado fantasma. Quando os olhares deles se trocam, sabem que o parceiro experimenta satisfação, prazer, animosidade, paixão e um reflexo mútuo do que sentem.

sexta-feira

Sobreposição inversa

Publicado a 04-07-08
A noite pertence à intimidade. Entrega-se ao desejo. Chama a paixão. Esconde a traição. A cama do casal do 1º esquerdo pinta-se de um ambiente intenso, desenhado ao pormenor para carregar uma aura apaixonante. As cortinas estão corridas, o abat-jour espalha uma luz creme sóbria, os filhos não estão em casa e não existem amantes que possam ligar a qualquer um dos inquilinos a esta hora. A mão de Helena segura o sexo entesado do seu marido. Deitada na cama nua, com os pés virados para o topo da cama, ela mantém o olhar fixo no objecto de desejo que lhe pertence, percebendo a ansiedade do homem. Rodrigo coloca um ar de entusiasmo pelos gestos que a mulher lhe oferece. Já passou por beijos meigos na sala, pela mão carinhosa a envolver-lhe o corpo, pelo convite ousado que ela lhe propôs. Depois de olhar para o corpo despido da esposa, com curvas sedutoras, com a pele hidratada, com os seios firmes, Rodrigo atinge o auge da sua tesão, ao sentir o seu pénis crescer entre os dedos de Helena. Deitado com a parte superior das costas sobre a sua almofada, ele tem os pés virados para o fundo da cama.
- Estou preparado.
- Eu também...
- Não páras até eu parar...
- Veremos se aguentas...
Com a mão fixa no sexo do marido, Helena arrasta o corpo para cima dele. Sempre a agarrar o pénis, ela abre as pernas e coloca os joelhos colaterais ao tronco do homem. Os dedos esfregam suavemente a picha de Rodrigo e o rabo da mulher está defronte da face dele. A palma da mão absorve o calor do pau entesado do inquilino e as mamas de Helena roçam junto ao umbigo dele. O homem aprecia o que surge diante do seu olhar. Faz algum tempo que a rata da sua mulher não fica tão próxima da sua boca. Parece uma redescoberta. Parece um assombramento que se evidencia no entusiasmo que a sua face agora revela. Um sexo bonito, com os lábios vaginais rosados, ligeiramente carnudos e salientes. O clitóris está escondido, mas o sorriso dele demonstra que ainda sabe como o descobrir. As mãos dele apertam as nádegas de Helena, redondas, suaves, maduras. Os polegares tocam nas virilhas, os dedo médios fincam-se com mais força na carne do rabo feminino, os mindinhos quase rasgam a pele dela e a força dos dez dedos puxam o traseiro da mulher um pouco mais para cima. Mesmo colado à boca dele. Rodrigo está numa posição entre estar deitado e estar sentado. O corpo de Helena fica assim mais levantado. Ao sentir a ponta do nariz dela roçar nos lábios vaginais, ela inspira fundo e entende que a excitação só começou realmente agora. A posição é sublime. Os dois corpos envolvem-se mutuamente, numa posição inversa. Helena gesticula a sua mão para cima e para baixo, com uma ligeira pressão, no ponto que ela entende ser o certo. O polegar toca no dedo médio e a palma dão mão roça em grande parte do membro teso e palpitante. Ela esfrega o sexo do seu marido e toca agora com a língua na ponta do órgão. As unhas das mãos dele cerram um pouco mais na carne das nádegas da mulher. Tanto o buraco anal, como a vagina de Helena dilatam um pouco mais. Tornam-se vulneráveis à sede dele. A boca de Rodrigo absorve parte da rata da mulher e enterra-se por entre os lábios vaginais. Ele sabe onde encontrar o clitóris, mas prefere enterrar a sua língua um pouco mais profundamente. Os lábios de Helena latejam. Incorporam o desejo de querer roçar a sua pele ligeiramente seca na volúpia do pénis do seu marido. Os seus dedos assumem agora um papel diferente. Tanto o polegar como o indicador e o médio em conjunto procuram empurrar o sexo para dentro da sua boca. Ligeiramente, carinhosamente, suavemente. A sua lingua encarrega-se de receber a tesão carnuda no seu interior e agraciá-la com caricias molhadas. Rodrigo saboreia o denso conforto vaginal, assim que a sua lingua efectua movimentos dinâmicos. Ele sente no imediato o aroma exalado pelos lábios vaginais que esfregam em toda a envolvência da sua boca. Porque o sexo da sua esposa começa a estar frenético, processando acções instintivas que demonstram excitação. Até os músculos das nádegas acusam o toque preciso da boca do amante. Helena chupa suavemente, ainda que aumentando progressivamente o ritmo dos movimentos. A boca que se torna um êmbolo, umas vezes cheia, outras vezes vazia. Os lábios carnudos que sugam vertiginosamente a energia do sexo. O polegar que faz um pouco mais força nos testículos dele. Os outros dedos que progridem a velocidade gesticular. E tudo isto é uma actividade onde os vários elementos em funcionamento transformam actos isolados como um broche e um minete numa singular e poderosa sobreposição de desejo oral em posições inversas.
Fellatio. Na forma como ela devora o pénis. Como morde com os lábios toda a excitação da carne do amante. No jeito com que a sua língua brinca dentro da boca com o orifício de onde se libertará o prazer que ela também anseia. Na atitude progressiva que determina a paixão com que ela chupa. A sua cabeça movimenta-se em círculos, procurando obter mais deleite para o parceiro. Os cabelos roça junto às coxas masculinas. E a mão que apoia todo o peso corporal dela tem ciúmes da mão que aperta e esfrega com vigor as bolas do homem. É um broche, sim senhora.
Cunnilingus. Quando ele perverte a sua língua por toda a extensão da racha erógena. De cada vez que os lábios chupam os papos latejantes por entre as pernas. Assim que os dedos indicadores roçam nas margens anais, adicionando uma dose extravagante de excitação à mulher. É nesse instante que ele começa a alcançar o seu objectivo. O pequeno apêndice nervoso, molhado e ruborizado, palpitante e sensível, irrompe agora dos lábios vaginais e apresenta-se ao exterior na ânsia de também ele conhecer o poder do toque dos lábios, da língua e no final, se possível dos dentes que farão explodir o prazer que ele irá transmitir. É um minete, sim senhor.
Dar e receber. Porque tudo isto não é mais do que uma partilha. Tem pequenos detalhes que acrescentam algo mais ao que se concebe aqui. Tem desejo a percorrer as veias que por sua vez alimentam o calor exalado pelos corpos. Tem paixão tatuada nas mãos que ditam o ritmo imposto. Tem sede e fome na gula com que as bocas comem. Tem fervor, quando se vê o corpo dela movimentar, o ventre a mexer-se para a frente e para trás, incitando ele a lamber mais e ela a chupar com mais força. Tem tesão sublime, quando as mamas dela roçam na barriga dele provocando um curto circuito no controle de ambos. Mas partindo do principio que todos estes detalhes são inerentes a uma envolvência desta magnitude, Helena e Rodrigo limitam-se a partilhar-se mutuamente. Como se necessitassem de entregar ao parceiro o desejo que constantemente transborda para parceiros adúlteros. Como um pacto que a noite trouxe para que eles se redimissem em silêncio. Helena e Rodrigo têm uma vida sexual activa, algumas vezes irreverente. Mas há a tendência de faltar sempre algo excêntrico que alimente o vulcão que vive dentro de cada um deles. Há uma visível falta de espontaneidade e prioridade em certos momentos na entrega de prazer magnânimo à pessoa que um dia juraram amar para sempre. E este pacto é uma atitude instintiva de ambos em não afastar o desejo sexual que é necessário haver num casamento. Esta partilha é a imagem que eles querem espelhar numa única sobreposição.
O prazer que se reflecte. Aquilo que Rodrigo entrega à rata de Helena, é aquilo que a sua esposa recebe e lhe retribui de forma mais intensa. O clitóris incha e a língua de Rodrigo encharca-se com a fonte que brota dela. Se ele saboreia os fluídos dela, a sua boca quer mais, pede mais. Se ela delira com o prazer que se incendeia, a sua boca dá mais, exige mais. Ao chupar com vigor a picha do marido, apertando os testículos com intensidade, Helena pressente o sexo dele a jorrar. Agora, que ambos alcançaram em uníssono o reflexo do desejo, a dupla imagem que eles espelham torna-se mais incisiva. Atinge um foco que só é possível porque ambas as imagens se sobrepuseram. Numa forma invertida, numa prática de sexo oral soberba, Helena e Rodrigo conseguem focar o prazer. E nenhum deles desperdiça uma gota do néctar que deleita derradeiramente a sua sede. Porque eles querem entregar-se, demonstrá-lo e recebê-lo. Assim que a energia de um esgota as forças do outro, há uma rendição. Podem chamar a isso um orgasmo simultâneo. No caso de Helena e Rodrigo é uma conquista vingativa. O prazer que podem oferecer a qualquer outro amante jamais poderá ser tão genuíno como o que eles entregam ao cônjuge. E este é o sentimento de pertença que ambos escondem dentro de si. Abraça-se. Os membros superiores de Helena envolvem as coxas do seu marido e os braços de Rodrigo rodeiam a cintura da mulher. O pénis vai perdendo vigor, encostado ao ombro suave dela. A rata exala um odor ainda excitante e deixa cair dois pingos sobre o pescoço dele. Ao respirar fundo, eles fazem uma introspecção sobre o que os une.
- Ainda consegues aguentar... - solta Helena.
- É só porque o consegues fazer tão bem.
- Ainda gostas que eu te chupe?
- Tanto como gosto de comer a tua flor.
- Eu notei... Foi tão bom... É sempre bom, Rodrigo. Como a primeira vez que o fizeste.
- A tua ratinha também ainda tem o mesmo sabor...
- A sério?....Amor, já não tenho o corpo de uma menina...
- Ainda bem...senão irias pedir que também tivesse o mesmo sexo imponente do que quando me conheceste.
- E ainda tens...
- Somos uns velhos à procura do que já não temos.
- Talvez...mas eu gosto que ainda gostes de mim.
- Eu amo-te, Helena.
- Vou fingir que acredito...
- E adormeces comigo?
- Para sempre...
Hipocrisia. Na mente sobreposta de cada um dos dois, há uma enorme sensação de hipocrisia e falsas confissões à solta. Ainda assim, há uma enorme vontade de manter uma relação, quer física, quer sentimental, na base de um desejo que de facto ainda existe. Não é exclusivo, mas ainda existe. Reflecte-se em pequenos gestos de paixão que nunca são descurados nem pelo marido nem pela esposa. Incide sobre o amor que procuram sentir pelos filhos, não obstante os erros cruéis que se misturam. Transparece na sensação de uma relação sólida, frutífera e rentável. Talvez os vizinhos até saibam que cada um deles é infiel. Mas nenhum inquilino do Edifício pode negar o sorriso que os quatro membros da família solta quando sai do 1º esquerdo.
Há um ruído que vem de fora do quarto. O filho mais novo acaba de chegar a casa e sabendo que os pais estão no quarto, aproveita para ligar a televisão e pegar no comando da consola de jogos. Perante as circunstâncias, Helena e Rodrigo concluem a sua noite. Irão adormecer num abraço fraterno e entrar conjuntamente num sonho tranquilizante. Mas no final de tudo isto, a pergunta irónica que se coloca é: Se é tudo tão intenso e perfeito, que razão existe para trair um casamento?

quinta-feira

Retratos de água

Publicado a 02-07-08
A luz que entra no jacuzzi é brilhante. Cintilante e transcendente. Surreal e definida. Define as acções que dentro dele decorrem. Testemunha o que aqui dentro acontece. Deixa acontecer aquilo que não aconteceria noutro local. O espaço do jacuzzi do Edifício Magnólia tem vida e a sua energia é a luz natural que entra pela enorme janela em cima da piscina. São as dezenas de reflexos que percorrem cada canto, cada parede, cada pedaço de vidro que incide a luz para tantos pontos.
- Que olhar é esse? - pergunta Paulo.
- Uhm?!...Porque perguntas? - responde Maria José.
- Parece que não estás aqui...
- Mas eu estou aqui..contigo...tenho a tarde toda para ti.
- Parece que tens um véu a cobrir esses olhos...Fantásticos...Os teus olhos são poderosos...
- É esta luz que te está a ofuscar.
- Achas?...
- ...Tenho a certeza.
A professora está sentada na piscina com a água calma. Ela não ligou o sistema de hidro massagens, que tanto tem deliciado os moradores do Edifício. A inquilina do 1º direito chamou o seu namorado e pela primeira vez, fez questão de se dedicar ao equipamento mais recente do empreendimento. As mãos dela navegam na linha de água, criando pequenas ondas que estremecem o reflexo da sua face. Paulo, o carteiro, assiste aos gestos misteriosos da sua amada. Na verdade, Maria José tem um ar apático. Não esconde o sorriso ligeiro que se mantém na sua face, mas as maçãs do rosto escondem a tensão dos seus músculos. Os seus lábios estão secos, mesmo com tanta humidade. E os seus olhos absorvem toda a luz que brinca no jacuzzi. De tal forma que o jovem sente-se assombrado pelo ar estranho da sua namorada. Após alguns minutos de resistência, ele consegue libertar a frase de desbloqueio, a senha inevitável, a expressão que quebra o gelo.
- Quero fazer amor contigo...
Maria José ergue o queixo. Dilata os lábios e franze o olhar, protegendo momentaneamente a luz que teima em espelhar-se em si. E Paulo sabe que o coração dela palpita. E Paulo sente o caminho livre para avançar. Ele afasta-se da parede do tanque, de onde estava encostado e aproxima-se da mulher madura que arrebatou a sua paixão. Neste curto espaço físico e temporal, ela teve tempo de abrir as pernas e estender os braços. Paulo procura os lábios dela, mas Maria José apenas entrega o seu pescoço. As mãos dele acariciam as costas, procurando arrepiar-lhe a pele, mas ela expande o peito, comunicando o desejo de sentir as mãos dele nas suas mamas. Paulo acede. Ela move as ancas e roça o seu ventre nos calções do namorado.
- Consegues fazer-me vir? - sussurra ela.
- Quero levar-te ao céu...
- Só preciso que me ponhas louca e que me faças explodir...
Paulo inspira fundo. As palavras da sua amante são cruas mas excitantes. A água mantém-se calma e nas pequenas ondas existem pequenas estrelas que a luz esbate. A mão dele puxa uma alça do fato de banho preto da mulher, que apesar de cobrir uma parte considerável do seu corpo, carrega Maria José de uma sensualidade genuína. O seio esquerdo descobre-se, apesar de não ser novidade os bicos espetados no tecido. A mão do carteiro prossegue o seu trabalho. Enche-se por uns segundos com as mamas amadurecidas dela, para depois agarrar entre o polegar e o indicador, o mamilo rosado. Maria José suspira. Vagueando pelo corpo, por cima do tecido negro, Paulo maneja a anca da mulher, para de seguida acariciar as nádegas femininas. Quando ela decide abrir as pálpebras para olhar directamente para Paulo, ela faz um movimento precipitado nos olhos. Dois dedos dele avançam excitantemente por entre as duas nádegas para pressionar o buraco anal e imediatamente o papo vaginal, um pouco mais à frente. Maria José sente-se arrebatada. Cerra os olhos com força e abre a boca, de onde um leve gemido identifica a sua tesão perante os gestos. O peito dela aperta-se contra o tronco do jovem amante. E a boca dele a chupar o pescoço junto à orelha é apenas o remate decisivo.
- Já imagino os teus dedos dentro de mim...
- Queres?
- Vê como tenho o clitóris quente...
E depois de desviar o tecido que lhe cobria o sexo, depois de acariciar as virilhas e depois de penetrar vigorosamente os dois dedos, Paulo confirmou que a mulher estava de facto entesada. Há uma excitação sinistra a envolver Maria José. Ela magnetiza-se aos gestos cadentes do seu namorado, mas algo na sua mente a coloca algo distante da paixão habitual com que ela costuma entregar-se. Porque apesar dos gemidos que solta, apesar de sentir cada movimento dos dedos de Paulo, ela não está a fazer amor. Maria José está apenas a entregar-se carnalmente. Apesar de Paulo não o percepcionar, ele sente que a mulher liberta uns gemidos muito próprios. A mulher volta a levantar o queixo, procura respirar fundo. O rabo dela está empinado e o corpo balançado para a frente. A água está morna. Não borbulha. Faz apenas pequenas ondinhas que batem no ventre dela como se as suas coxas fossem rochas. E apesar de sentir os dedos bem fundos e de cada pedaço intimo de si vibrar com o toque da pele dele, Maria José não encontra o caminho.
- Uhm...Paulo..oohhh...Deixa-me provar-te.
- Maria..ohohh..Maria José...só mais um pouco..uhmmm..gostas?
- Sim!...Mas...deixa-me chupar-te...
Com alguma evidência, Paulo apercebe-se que algo está a falhar na passagem ao patamar derradeiro do prazer da namorada. Ainda assim, o pedido ansioso de Maria José parece demonstrar que ela está envolvida no momento. As mãos da mulher descolam do tronco despido do carteiro e dirigem-se para as ancas dele. Com a ponta dos dedos, ela procura baixar os calções de banho do namorado. Com a peça de roupa algo apertada, ela introduz a mão com algum custo dentro dos calções e segura com firmeza o sexo entesado do seu parceiro. Ergue o olhar para ele, com um tom sério. No olhar verde de Maria José está o brilho de todo este espaço. Um brilho ofuscante, imperceptível de entender. Paulo ainda tenta descodificar, mas a mão terna e madura da professora deixa-o atordoado. Sabe-lhe bem. Ela começa a esfregar a carne vigorosa, enquanto desaperta o cordel da peça de roupa do jovem. Um pouco mais solta, a mão direita de Maria José tem agora possibilidade de masturbar veemente o pénis que ela decidiu domar.
- Quero saborear-te todo...Ouviste?
- Ohhh...sim...uhmm.. Sim, amor!...
- Quero comer o teu pau teso....Até não aguentares mais...
Paulo estranha as reacções da sua namorada. O ar sério. Os gestos incisivos e algo bruscos. A apatia na sua face misturada com as palavras fortes, imbuída na tesão que os seus mamilos rijos demonstram. O seu sexo é uma haste. O leve toque da água a ondular junto aos seus testículos não impede que o seu órgão de prazer esteja viçoso. Maria José ajoelha-se, puxa os calções para baixo e sem qualquer preliminar, coloca o pénis do carteiro na sua boca. A mão da mulher continua a esfregar o sexo, mas desta vez um pouco mais próximo dos testículos. Os gestos dela demonstram que Maria José chupa com entusiasmo, mas não com paixão. Puxa a carne genital do jovem para dentro da sua boca e prova cada pedaço. Estica a língua de forma a deleitar o namorado da melhor forma possível. A ponta da picha de Paula entra profundamente na boca da mulher e ele sente. Apesar de gemer de satisfação, ele baixa o olhar para a mulher e procura perceber o que a leva a estar tão furiosa na forma como o come.
- Maria...uhmmm... Maria José...oohhh...sim...uhmm...estás bem?
- Vais-te vir, não vais?...Quero que te venhas... Onde quiseres..uhm???
Ele acena um sim resignado, estupefacto. Maria José prende o olhar luminoso na face do amante, sem nunca parar de chupar. Envolvida pela água agradável, com as ondinhas a encher os seus ombros, Maria José tem a cabeça de fora e desenvolve um broche que não se recorda de praticar desta forma tão intensa há já algum tempo. Na sua cabeça, nos dilemas interiores que dominam o seu pensamento, a professora não tem o direito de saborear e degustar o seu namorado no jeito que sempre lhe quis dar. Não consegue. Não acontece. Não se proporciona. A mente da loira barra-lhe o alcance de um prazer sublime, apaixonante e intimo. Ao invés, Maria José age como uma mulher que acede ao pedido de um homem sedento de uma boca debochada. E o papel intensifica-se quando a mão esquerda da inquilina puxa a mão do parceiro até à sua face. Paulo acaricia os cabelos e pressente a intenção da amante. A excitação do jovem está ao rubro e Maria José ainda quer que ele a force a chupar mais. Ele não nega. Ele segura um grande pedaço de cabelo loiro na nuca dela e movimenta ligeiramente a cabeça. Talvez ele ainda não tenha percebido, mas algo se dissipou na relação amorosa entre Maria José e Paulo.
- Amor..oohohoohhh...é tão bom..ohohhhh! Sente-me...vou-me vir...oohhh! Não! Ahhhh!!!
O amor. A paixão entre dois elementos de gerações distintas, de mundos diferentes mas unidos pela procura em entender o espaço em que se vive de forma diferente. A envolvência de um corpo masculino e outro feminino, um viçoso, o outro maduro. A troca de experiências, a troca de sentimentos, a troca de pequenos pedaços de resistência. A troca de fluídos ocorre num momento de transição. Maria José está agora ajoelhada no chão do tanque. O seu peito molhado cobre-se de gotas fervilhantes. O seu pescoço salpica-se do fruto masculino de desejo. E os seus lábios ficam cremosos. A professora quer sorrir. Mas algo a impede de dilatar os rasgos finos da sua boca.
- Ohh...Maria José...eu amo-te!
Ela ainda segura o sexo continuamente teso. Ao ouvir aquelas palavras, o seu semblante modifica-se. Com o apoio do pé direito, ela ergue-se, trazendo consigo um enorme arrastão de água. Não borbulha, mas mantém uma calma surreal. Não massaja, mas reflecte uma estranha e novel sensação. Maria José sai da piscina, agarrando a toalha que está pendurada na borda do tanque. Com os pés descalços, a mulher enxagua o corpo e encosta-se à parede da piscina.
- Não estás a gostar...Amor?... O que se passa? Sou eu?
- Eu estou a gostar...Adoro ter o teu sabor na minha língua.
O jovem carteiro fica sem resposta. É difícil encontrar algo para compensar as palavras fogosas da mulher madura, que parece afastar-se da sua faceta apaixonada. Ela gostou. Efectivamente, o broche parece ter-lhe sabido bem. O simples facto de proporcionar prazer ao seu amante deixou a sua rata a latejar um pouco mais. A masturbação original, pelas suas costas, iniciou aquilo que ela pretendia ser um momento de liberdade e paixão. Mas falta algo. Ou está a haver algo que limita o usufruito total do tempo no jacuzzi. Curiosamente, ela tem conseguido adiar a indignação de Paulo perante a sua apatia.
- Não me queres vir comer?
- Maria José.....
- Ainda estou a arder... Nem consigo fechar as..... Vem.... Quero que me fodas aqui...
Há uma espécie de resignação por parte do homem, no facto de não conseguir desvendar o estado de espírito assertivo de Maria José. Todavia, ele sai também da piscina e sem sequer enxaguar o corpo, aproxima-se da namorada. A professora olha para ele, desta vez com um ar pensativo. Mais do que o prazer já partilhado, mais do que a ansiedade pelo que ainda pode acontecer entre os dois corpos, mais do que tudo. Maria José tem uma corrente de pensamentos por detrás do seu olhar cintilante. A sua graciosidade apenas se explica na forma como as duas pérolas verdes absorvem toda a luz solar que atravessa agora a janela superior e se espelha por toda a sala do jacuzzi. Paulo abraça-se a ela, mais uma vez procurando um beijo. Os lábios da loira fazem um movimento concludente. Afinal, ela ainda anseia por beijar o seu namorado. Paulo pousa as mãos nos ombros húmidos da mulher quarentona e encosta a sua cintura à barriga dela. No tecido do fato de banho dela, roça o pénis molhado. E a troca de fluidos salivares ganha uma conotação excitante. As línguas procuram-se mutuamente e a carne labial consome-se a si própria. Com a palma das mãos, ele puxa a outra alça da peça de roupa negra da mulher e descobre-lhe todo o peito. As ideias continuam a vaguear na mente de Maria José. Ao procurar concentrar-se no carinho que o namorado se esforça por entregar, a professora envolve os braços no corpo do jovem e abraça-se devotamente a ele. Confuso, ele entende o gesto como a ansiedade fulminante da loira em querer que a possua. Desconfiado, Paulo acaba por pegar no corpo da namorada e vira-o. Maria José está agora encostada à parede do tanque, de costas para o amante, virada para a água da piscina, novamente calma.
- Paulo...uhmmm...tu sabes que me fazes bem, não sabes?
- Sim...mmm, preciso de ti...nós precisamos disto...
Com a palma das mãos nas ancas femininas, ele volta a querer afastar o tecido que se cola teimosamente ao corpo de Maria José. Entre as suas pernas, a sua rata volta a ser descoberta. Paulo chega a cintura dela mais para si e as mãos da mulher apoiam-se na borda do tanque. A ponta do seu pénis roça pelas nádegas macias da amante e coloca-a no rego do rabo. Afincadamente, sem qualquer outro apoio, ele move a cintura para aprofundar a sua carne erógena por entre as pernas da mulher divorciada. Assim que pressente a volúpia da picha de Paulo a abrir os seus lábios vaginais, Maria José liberta um gemido e fixa o olhar no seu reflexo. A luz brilha com cada vez mais intensidade. É um jogo de raios quase invisíveis, que se cruzam entre si, paralelos ou perpendiculares. Tudo dentro daquele espaço tem que espelhar e acaba por reflectir-se na água do jacuzzi e em última instância no olhar da moradora do 1º direito. Com tanta luz, tanto vislumbre, tanta definição, a Maria José acaba por sentir-se vigiada por si mesma. O seu reflexo é demasiado preciso. Mas ao mesmo tempo, o reflexo atormenta-a. O seu namorado investe os seus movimentos contra o seu corpo, contra o seu rabo. O sexo masculino invade a rata cada vez mais estimulada. A professora geme, sente o seu corpo a vibrar com todas as entradas e saídas voluptuosas, mas algo a prende de novo. As suas mãos fincam na borda da piscina e os seus seios balançam freneticamente. Mas o seu olhar evade-se. Mesmo que as águas do jacuzzi estejam calmas, ela distorce o que vê no espelho de água. A sua imagem modifica-se. É a sua mente que a altera. Maria José sente que não é assim. Ela quer amar. Ela quer sentir-se amada. Ela quer sentir prazer numa relação e dar o melhor de si constantemente. Quando Paulo a fode de uma forma apaixonada, com a mão nas mamas dela, com a devoção a penetrar nela, Maria José sabe que isto não é o melhor que se pode reflectir. Ela é infiel. Ao prolongar um segredo. Ao adiar a revelação inevitável. Ao manter duas paixões distintas. Ao fingir que é possível conciliar dois sentimentos. Maria José reflecte para si mesma um retrato infiel. E tudo parece ténue. Paulo esforça-se por proporcionar o prazer absoluto à mulher, mas a explosão ainda está longe de acontecer. Os gemidos da professora são excitantes, o corpo dela continua a entregar-se à tesão do homem. Mas ainda assim, Maria José congelou no seu reflexo. Os seus olhos cerram por breves instantes. Por uns momentos, ela não quer ver nada, ela não quer sentir nada mais com o seu olhar. Apenas pressentir as mãos do amante, o peito dele a encostar-se nas suas costas, a boca dele a absorver a pele do seu pescoço, o sexo do amante que continua na procura incansável de partilhar o que flui dentro de si. Uma penetração mais forte obriga Maria José a gritar e a abrir os olhos. O reflexo volta a surgir. É forte. Algo cruel. Ao seu lado, é espelhada a imagem de quem a fode, de quem lhe quer dar prazer. Mas não é Paulo que transparece. A indefinição do que a imaginação lhe quer transmitir, confronta-a com a realidade que ela queria evitar com algum custo.
- Oh...Paulo...pára...ooh...sim...por favor...uhmmm..ooohh...Só um bocadinho...pára....
No instante em que o corpo de Maria José vibra com uma sensação assombrosa, o carteiro volta a vir-se. O entusiasmo do jovem extravasou e a percepção interior da realidade da mulher é ainda mais sinistra. O prazer de Paulo é expelido na tensão de Maria José. Ouve-se os gritos ligeiros dele. Ouve-se a respiração descontrolada da professora. Ela pende o corpo ligeiramente para a frente. Ele não retira o sexo dentro da vagina da amante. Eles estão seguros a um momento incaracterístico. Maria José respira fundo, reflecte durante uns segundos, com o olhar preso na água e depois molha os lábios.
- Paulo...eu preciso...nós....nós precisamos de falar...
E daqui em diante, dentro do jacuzzi, só a verdade consolará a mente dos presentes.

quarta-feira

Espelho mágico

Publicado a 30-06-08
Respira-se um vazio. Sente-se um vazio. Ela sente sempre um vazio, assim que entra em casa e Tania não está. Está demasiado vazio. Lúcia abre a porta da casa e faz questão de confirmar em todas as divisões que a sua colega de casa não está de facto presente. No seu coração, reside a incerteza de quere-la ali ou realmente achar que é melhor não ter. Na confusão da sua mente, Lúcia perde-se. Evade-se daquilo que sempre achou coerente. Afasta-se daquilo que dentro de si a chama. Numa estranha atitude, Lúcia chama com um gesto a sua convidada. Beatriz entra. Menina. Jovem. Ingénua quanto baste. Atrevida o suficiente. Ela entra no 2º esquerdo com uma boa dose de ansiedade. Bonita. Meiga. Com um olhar profundo mas misterioso. Com umas maçãs do rosto rechonchudas e fofinhas. Ela procura sentir-se à vontade no espaço que pertence à sua amiga. Lúcia fixa a sua postura junto à entrada da sala e solta um sorriso, como que a pedir uma confirmação da satisfação de Beatriz. A rapariga de 18 anos dá dois passos em frente, cola-se ao corpo da anfitriã, coloca uma mão no pescoço da morena e entrega-lhe um beijo terno.
Conheceram-se em Outubro, nas praxes da faculdade. Lúcia assistia às festividades do absurdo, à folia da irreverência, à parada da prepotência. Pelo menos era assim que ela via - com alguma distância - desde a esplanada do bar da universidade, as tão chamadas tradições académicas, que pretendem com alguma suposição integrar os caloiros no ambiente universitário. Beatriz é uma dessas caloiras do curso da inquilina do Edifício. Tinha a cara cheia de pinturas e a cabeça enrolada de papel higiénico. Um balde na mão e os pés descalços completavam a figura apalhaçada. Quando um grupo de estudantes do primeiro ano entrava na esplanada e procuravam um lugar para se sentar, Beatriz estendeu-se numa cadeira. Suada e exausta, a jovem lança imediatamente o olhar em Lúcia. Se a aluna morena não tivesse colocado a vista na rapariga, talvez nada tivesse existido. Mas Lúcia virou a cabeça.
Lúcia aceita o beijo. Retribui o beijo. Segura a face suave da amiga e envolve-se no gesto apaixonante. Os olhos de Beatriz cerram como um toque de fantasia. Ela vem vestida de uma forma adolescente. Uma camisola verde, com um ligeiro decote inocente e uns calções curtos. As sapatilhas de pano e as pulseiras de tecido coladas ao pulso entregam-lhe um ar de menina que quase coloca em causa a maioridade dela. Ainda assim, Beatriz é uma jovem lúcida. Com uma atitude sensata, uma postura tranquila mas brincalhona e um ar constante de sonhadora devolvem naturalmente o seu amadurecimento como mulher. A tarde ainda não caiu. Reflecte uma luz tépida que entra pela janela da sala. O ambiente morno que invade aquela divisão convida a sentar no sofá. Lúcia não resiste a colocar a mão em cima da coxa descoberta da amiga. Suave, intensamente meiga, ansiosamente excitante. Beatriz gosta. Coloca as suas pernas junto à anfitriã e procura descontrair. Um sorriso na face, um toque nas calças de ganga da outra jovem e uma atitude que demonstra desejo. Mas Lúcia está dividida. Definitivamente, ela quer a rapariga. É esse o motivo pelo qual a convidou para ir a sua casa. É algo que sempre lhe pareceu inevitável. Mesmo que este não seja o momento certo. A sua mente está confusa. Sente-se desnorteada. Sem convicção. Sem um rumo a dar no que toca à decisão da sua paixão. Mas Beatriz sempre foi algo que desde o primeiro instante seria inevitável.
A face da caloira obrigava-a a sorrir. Misteriosa, divertida, penetrante. Os olhos grandes e redondos de Beatriz fixaram-na. E numa altura em que Lúcia pressentia um ano académico longo e complexo a chegar, uma jovem caloira, ingénua e inesperada, seria sempre uma paixão engraçada para se ter. Por isso, ela abriu o sorriso e permitia que a rapariga se aproximasse. Trocar sorrisos foi simples. Partilhar palavras parecia natural. Revelar o endereço do messenger era apenas um pormenor de tudo o que tinha que acontecer. Beatriz voltou à procissão das praxes. Lúcia guardou o endereço do messenger, saiu do bar e foi para casa com a convicção de que uma doce caloira lésbica se tinha enfeitiçado por si.
Beatriz está quase deitada sobre o peito de Lúcia. É a mão da anfitriã que a guia. Num jeito instintivo, Lúcia pede com um gesto incisivo para sentir os lábios fofinhos da amiga na pele do seu peito. Com um pouco de receio, Beatriz coloca os dedos no tecido do top da jovem e lentamente puxa-o para baixo. Lúcia respira fundo e procura ter a certeza que tal entrega vale a pena. Acaricia os cabelos castanhos e longos da rapariga e deixa que o entusiasmo dela se apodere de si. No momento em que o enorme seio esquerdo de Lúcia é descoberto, Beatriz liberta o seu sorriso fofinho e límpido, ao mesmo tempo que coloca a boca no mamilo redondo.
Nessa mesma noite de Outubro, ela nem ligou o computador. Mas na manhã seguinte, bem cedo, o canto superior do monitor do seu computador informou-a de que a Doce Bia a pretendia adicionar no messenger. Talvez infantil. Talvez distante da sua maturidade. Ainda assim, às oito da manhã, a suposição de algo sexual excitou-a. Após adicionar o contacto, uma janela de conversação abriu-se.
Lúcia está deliciada com os beijos, as carícias e com a forma como a língua da amiga se envolve com as suas mamas. Beatriz encanta-se com o vale dos seios apertado, húmido e escaldante. As mãos macias e ternurentas da rapariga enchem-se com a carne do peito da amante. É uma entrega peculiar a de Lúcia, assim que se pressente que a sua respiração está descontrolada. Ela não sabe se procura receber algo ou se tenta dar uma experiência inolvidável à caloira. Mas é certo que algo a descontrola, quando ela segura a cabeça de Beatriz e exige um beijo intenso na boca dela.
A manhã tinha sido longa. Milhares de teclas tinham sido batidas, páginas e páginas de diálogos já se tinham desenrolado e de cada vez que uma das jovens pressionava o Enter, uma ansiedade prendia-se ao coração. A conversa era deveras interessante. Lúcia quis muito cedo desviar-se da conversa de circunstância sobre a faculdade, o curso e os colegas. Atalhou por pequenos mas importantes pormenores da sua vida, procurando chegar mais facilmente ao que Beatriz na verdade poderia ser. Rapariga de conversa madura, eloquente, ainda que irreverente. Jovem activa, enérgica, confessava não conseguir viver sem noitadas e alguns copos, mas ao mesmo tempo jogava na equipa de andebol feminino da escola secundária que frequentava. Menina da cidade, foi para a universidade porque queria manter os mesmos amigos e essencialmente estar próxima da sua paixão platónica. As horas, os minutos e os segundos que Lúcia perdia à frente do monitor estavam a ser recompensadas pela criação de um perfil fantástico sobre a nova amiga.
Parece não haver tempo a perder. Ou é a ansiedade de algum hipotético acontecimento inesperado, ou é pura e simplesmente o desejo frenético a falar mais alto. Beatriz já não tem a camisola vestida. Despida num impulso pela sua amante, que também tem o peito ligeiramente descoberto, a rapariga sente as mãos rechonchudas de Lúcia a segurarem o seu tronco. Sentada no sofá, de costas para a amiga, ela é envolvida pelo corpo de Lúcia. As pernas da anfitriã estão abertas, já sem as calças, colaterais às pernas frágeis de Beatriz. E o abraço desenhado é apenas um gesto carinhoso para assumir a paixão sexual. O corpo de Beatriz parece vulnerável. Pouco amadurecido. Doce mas ténue. Meigo mas ainda assim escaldante. A pele dela parece seda acabada de fabricar. Os seus membros parecem volúveis, tal é a suavidade com que se movem. O seu tronco demonstra essa fragilidade que parece querer colar-se a ela. Mas Beatriz, apesar dos pequenos seios, sabe que o seu corpo pode dar mais do que aparenta. E Lúcia apercebe-se disso. Na palma das suas mãos sente os bicos dos seios rijos e escaldantes. De tal modo que quando o desejo da anfitriã pretende mais, não são as duas mãos que viajam. A mão esquerda mantém-se num dos seios e a outro arrasta-se até ao ventre de Beatriz.
Antes mesmo de serem horas de almoço, Lúcia confirmou numa veloz conversação de que Beatriz era lésbica. Paixões fugazes com rapazes nunca trouxeram mais do que curtes em cantos de discotecas. Beatriz confessou serem as raparigas que fazem o seu coração pular, a sua pele vibrar e o seu sexo humedecer. Procurou colegas mais velhas, desconfiou de aproximações mais ousadas de miúdas mais novas, até chegou a fantasiar com professoras atraentes. Mas ninguém mexeu mais na alma de Beatriz do que a parceira de jogo, na equipa de andebol. Sensual, apetecível, amiga, confidente, mas irremediavelmente heterossexual.
São calções macios, com um elástico leve, pouco tenso. Entregam-lhe um ar inocente, mas ao mesmo tempo muito atrevido. A olho nu, é uma peça de roupa apertada. Na imaginação de quem se prende à cintura da rapariga, antevê-se um âmago escondido mas fervilhante. Mas na mão de quem entra lá dentro, há a descoberta de um sexo desprotegido, ansioso, sem roupa interior. A mão de Lúcia mergulha por entre as pernas de Beatriz. Agora são os dedos dela que dão ordens à mente da caloira. São os dedos maduros da inquilina que transmitem sentimentos ao desejo trépido da jovem. É a ponta dos dedos que regula as reacções de Beatriz e que a deixam distante de um auto controlo. E a masturbação no seu sexo confronta-a com uma realidade da qual não tem reflexo. E o gozo que Lúcia pretende oferecer lança-a numa fantasia opaca à crueldade dos seus dias. Beatriz fecha suavemente os olhos e encosta ligeiramente a cabeça no tronco da nova amante. No seu rabo, a rapariga sente o calor húmido da rata de Lúcia. Nas suas mamas, sente o carinho de alguém que inexplicavelmente, entende os contornos do seu peito. No seu sexo, Beatriz renasce. Descobre uma sensação imaginária. Os seus lábios vaginais são barro e os dedos de Lúcia são instrumentos que desvendam novas formas e originais texturas no intimo que ela sempre conheceu. E ela inspira fundo. Lúcia amacia os seus seios. E ela expira. Lúcia penetra com dois dedos na sua profundeza húmida e progressivamente encharcada. A respiração marca o ritmo e Lúcia baila na excitação da amiga.
Antes de sair da escola secundária, antes mesmo de seguir para a faculdade, Beatriz prometeu a si mesma jamais deixar cair no esquecimento, ou fingir diante de tudo, de todos, até de si mesma, que gostava teimosamente de uma pessoa do mesmo sexo. Admitir para si que é uma mulher que a faz desejar sexualmente parece tarefa simples. Mas transmitir isso a alguém que exibe . Beatriz confessou a Lúcia - nas conversas de messenger - que a jogadora de andebol lhe prendia o raciocínio, transformava os seus sonhos e fazia acreditar que tudo é possível. E ao longo do ano lectivo, não foi Lúcia que tentou trazer a caloira à realidade. Ao contrário disso, incentivou-a a acreditar naquilo que mais ninguém acredita. Desbravou novos caminhos para alcançar o objectivo. Demonstrou-lhe que ser homossexual não é uma bolha, impeditiva de envolver heterossexuais. E Beatriz acreditou nela. E Beatriz fixou-se nela. Quanto mais partilhavam ideias sobre paixões platónicas, mais as duas jovens estudantes se reflectiam mutuamente.
A boca de Lúcia absorve o ombro meigo da amiga. Os cabelos da rapariga misturam-se nos lábios da amante, tapando-lhe parte da face. Os dedos da anfitriã continuam a brindar os bicos das mamas de Beatriz com caricias tensas. Dentro dos calções, a caloira vem-se. Explode estilhaços que fragmentam em todo o seu corpo. Há uma fervilhação que assola a pele da rapariga e que Lúcia entende. A anfitriã sente os seios a escaldar e o pescoço a suar. Mas ainda assim, não pára. Os dedos vagueiam veemente por toda a vagina de Beatriz. Os gemidos dão lugar aos gritos. Os gritos dão lugar a pequenos espasmos, onde cada pedaço do corpo converge energicamente as energias para o âmago de todo o prazer da caloira. A testa longa da jovem deixa escorrer pingos de suor libertados no couro cabeludo. E as maçãs do rosto ruborizam. Beatriz vem-se e Lúcia consegue entender melhor do que ninguém o que ocorre.
Uma coisa é assumir uma paixão quase impossível de se concretizar. Lutar por ela, encarar todas as perspectivas que tal concretização poderia assumir. Outra coisa é atingir o objectivo. Uma coisa é viver uma opção, encarar a escolha sexual que se tomou, sentir-se até preparada para dar um passo. Outra coisa é dar dois passos. Beatriz escusou-se a confessar atempadamente à sua grande amiga virtual e no entanto mera conhecida na faculdade, que era virgem. Na verdadeira assumpção da definição. Virgem. Sem qualquer envolvimento com homens, sem qualquer espécie de partilha carnal com mulheres. Se em todas as conversas via internet houve espaço para tanta confissão, tanta partilha de segredos e imensas revelações fantasiosas, houve apenas uma única oportunidade para Lúcia saber que a sua amiga jamais tinha sido arrebatada por uma emoção carnal. Seis da manhã de uma madrugada de Domingo. Com o sol a querer revelar-se, Beatriz é confrontada com a pergunta que sabia que iria surgir inevitavelmente. A resposta nem foi sim, nem foi não. Foi evasiva. Quase de certeza sim, com alguma possibilidade não. Lúcia terminou a conversa abruptamente, salientando que necessitava de descansar. Mas ao adormecer, a jovem estudante encaixava a ideia de que a sua caloira era virgem.
Começa por um abraço. É uma forma imediata de segurar a intensidade desse orgasmo especial. Continua em beijos carinhosos no pescoço, que apesar de húmido, transpira uma forte sensação de paixão. Estende-se por uma caricia aos cabelos encharcados, confirmando o conforto de quem sabe o que ocorreu. Beatriz fecha as pernas, ainda com a rata a latejar. Sabe que está molhada. Não sendo uma sensação nova, gera alguma estranheza por ter vindo de umas mãos alheias. O corpo dela ainda vibra. E Lúcia entende tudo o que está a acontecer à sua amante, que ainda há pouco mais de sete minutos era virgem. Beatriz sorri, quando percebe que a sua colega de faculdade sabe que de uma forma mágica a tornou um pouco mais mulher. Também Lúcia já se reflectiu nesta sensação.
Para Lúcia, durante boa parte do 1º período do ano lectivo, a caloira tornou-se mais do que uma paixão. Tornou-se mais do que uma mera troca de caricias e fluidos. Na sua mente, a visão e fantasia que ela transformava sobre Beatriz exigia mais do que um mero envolvimento sexual. Para Lúcia, a sua caloira era agora uma exploração da qual ela sonhava em ser pioneira. No momento em que os primeiros encontros, as primeiras saídas, os leves beijos na casa de banho da faculdade começavam a ocorrer, um turbilhão de acontecimentos eclodiu na sua vida. Primeiro Tania, depois Joana, também Filipe e depois os três juntos. Beatriz passava a ser apenas e só uma fantasia solitária para adormecer.
Deslumbrada com a recepção de tamanha onda apaixonante, Beatriz sente o seu corpo sucumbir. ela já experimentou sensações semelhantes, mas afirmar-se descontrolada perante a primeira amante, deixa a rapariga ainda mais frágil. O seu rabo não consegue manter-se sentado na ponta da almofada do sofá e o seu corpo escorrega. As suas pernas dobram, as suas costas deslizam pelo tecido e as suas nádegas batem no tapete. As mãos de Lúcia mantém-se nos cabelos suados da rapariga. Beatriz deixa cair a nuca na almofada, ao mesmo tempo que fecha os olhos. Neste instante, a anfitrião realiza os contornos da face da amante. A pele suave, os lábios fofinhos, os olhos redondos, a testa molhada. A sua caloira é simplesmente um sonho. Um reflexo de si há poucos anos. E só um sorriso pode ser libertado da face de Lúcia, assim que se levanta do sofá, com os pés assentes, ao lado das ancas da amiga.
A rapariga que ainda procurava o seu espaço na faculdade e num mundo diferente do secundário, procurou entender o distanciamento que Lúcia vinha a provocar. As conversas no messenger até continuavam. Os lanches na faculdade aconteciam ocasionalmente. Mas os beijos diminuíam e as propostas imaginárias de um momento diferente dissipavam-se. Beatriz percebeu que a mente da amiga já não tinha mais espaço para as suas fantasias. Inscreveu-se na equipa de andebol da faculdade e até procurou novas amigas.
As cuecas escorregam pelas pernas de Lúcia até aos joelhos. As mãos de Beatriz trilhavam a pele das coxas da amiga, como trepadeiras. E Lúcia nem sequer recusou qualquer gesto até sentir a respiração forte de Beatriz colada às suas virilhas. Porque a estudante está de pé, sobre a cabeça da convidada. A caloira abre os olhos grandes e deslumbra-se com a visão que tem do sexo húmido da sua amante lésbica. Os seus lábios abrem-se, deixando um breve sopro soltar-se da boca. Ela está estupefacta com os lábios vaginais que se lhe apresentam a dez centímetros do seu nariz. Lúcia pensava em levantar-se, sair do sofá, sair da sala, ir buscar algo para beberem. Mas precipitadamente, é Beatriz quem acaba por querer beber de si. A boca cremosa da rapariga ataca gentilmente a vagina da anfitriã e quando Lúcia consegue respirar fundo, já os lábios chupam o que podem da sua rata. Um gemido ecoa. Uma vibração percorre a espinha de Lúcia. E uma mão regressa ao interior dos calções de Beatriz. A sua própria mão direita.
Quando entrava nos balneários do pavilhão da sua faculdade, a sua mente não sabia o que pensar. era difícil saber o que procurar ali. Era escusado entender se aquilo fazia sentido. A sua vida tenta fazer sentido mas acaba por se reflectir num enorme vazio. Por isso, no momento em que ela própria se deixou conceder autorizada a entrar no balneário feminino, apenas o instinto a movia. Os olhos grandes de Beatriz brilhavam, assim que a entrada inusitada da sua colega de curso se fez notar em todas as jovens presentes. Todos os desencontros, todas as saídas ocultas no messenger, todos os beijos evitados, pareciam agora ser esquecidos. Os lábios de Beatriz abriram-se, assim que Lúcia soltou um sorriso apaziguador. No meio de tantas raparigas suadas, em equipamentos amarelos e colados ao corpo, Beatriz sabia que tinha sido escolhida. E desta vez, não haveria rodeios. Não haveria conversas virtuais, nem cafés escusados. Lúcia faria o convite e a sua caloira nem hesitaria em recusar.
É a sua sala. Sem mais ninguém. Sem pedidos para manter a intimidade. Sem ansiedades asfixiantes, na incerteza de se abrir a porta de entrada. Lúcia está de pé na sua sala e é lambida por uma caloira, até há bem pouco tempo virgem. Beatriz descobre o clitóris da amante. Percebe que é diferente do seu. Bem mais inchado, bem mais palpitante. Deveras mais excitante. Intensamente mais saboroso. Divinamente cremoso. Entusiasticamente sublime. Ela chupa e pressente os sucos vaginais de Lúcia a escorrerem progressivamente. A sua língua já penetrou vezes sem conta por entre os lábios vaginais. E para Beatriz, é como um brinquedo que não se esgota. É como um jogo que só acaba quando deixar de dar prazer. Mas Beatriz tem uma tesão infindável e uma vontade acumulada de exprimir desejos. E nem nas suas maiores perspectivas, Lúcia julgava que o seu intimo pudesse palpitar assim, neste final de tarde. A mão esquerda da caloira apalpa o rabo teso da amante. A mão direita faz questão de proprcionar uma sensação semelhante na sua rata. Mas nada se pode comprar àquilo que Lúcia pode receber e consegue dar. Estava longe das suas melhores perspectivas, mas os lábios, a lingua, a pele e os soporos leves das narinas de Beatriz fazem a inquilina vir-se por completo de pé.
A porta do Edificio Magnólia abriu-se como um condão que despertava na vida de Beatriz. Lúcia sabia como agir, como trazer a sua caloira, como deixá-la entrar no seu apartamento. Afinal, ela já passou pelo mesmo. Já foi a Beatriz ansiosa. Já temeu não aceitar o primeiro beijo. Dentro das quatro paredes do elevador, Lúcia reflectia mais do que a sua imagem e a da sua amiga. Reflectia as suas certezas no que toca a paixões e momentos sexuais. isso era uma garantia instintiva que ela detinha. Mas enquanto subia pelo elevador do empreendimento, Lúcia não tinha uma certeza. O 2º direito pertencia-lhe. E isso jamais a poderá deixar tranquila.
Os joelhos de Lúcia movimentam-se. Transportam a sua cintura para a frente e para trás, num movimento harmonioso de todo o corpo. Tudo isto, para o que resta do seu prazer roçar no queixo de Beatriz e pingar pelo pescoço. A caloira está extasiada. A sua rata ainda lateja e a sua boca tem um sabor que dificilmente irá desaparecer dos seus lábios. Na sensibilidade das peles a tocarem-se mutuamente. Na infinidade da sensação dos membros a envolverem-se em caricias e abraços. Na plenitude dos sorrisos que transmitem mais do que beijos. Na incerteza do que um momento genuino e espontâneo pode ser fugaz. As duas jovens saboreiam aquele instante. O instante em que Beatriz se volta a sentar no sofá e em que Lúcia se mantém de pé. O instante em que Beatriz sabe que aquela casa não lhe pertence. No instante em que Lúcia deseja que a sua caloira percebe que não vale a pena prolongar o que aconteceu. Foi encantador. Talvez perfeito. Mas esta casa parece vazia demais para deixar derramar mais tinta num lar fragmentado. Tania pode surgir. Beatriz tem conhecimento disso. Lúcia só quer manter a dor a alguma distância. Afastá-la para sempre seria fatal. A caloira veste-se, entrega um beijo na boca de Lúcia, recebendo a confirmação de que nem tudo tem que acabar aqui.

terça-feira

Espelhos d'alma

Publicado a 24-06-08
É noite. Mas ela usa a sua máscara diurna. Ela está em casa. Mas não recebe nenhum cliente. Não é uma noite de folga. Não houve sequer uma escassez de clientes para preencher o serão da jovem acompanhante. Ana cancelou antecipadamente um jantar que tinha combinado com um cliente habitual e vestiu o pijama. Calções e um top de seda fazem transparecer nela um ar tranquilo, sereno e casual. Sentada no sofá, onde dezenas de homens já experimentaram o desejo carnal da mulher sensual, ela procura sentir-se desejada. Volátil. Acarinhada. Ela está em cima do colo de Rafael. Os seus braços envolvem o pescoço do seu vizinho. O seu rabo aperta as coxas do seu amante que não é cliente. E todo o seu corpo roça no tronco do homem que a obriga a despir a máscara nocturna. Porque Ana deseja-o. Necessita da presença dele. Mesmo que Rafael demonstre uma presença fria. Mesmo que o único homem que é capaz de desarmar o carácter confiante e altivo da jovem, não ceda à entrega. O compromisso parece inevitável. Ainda assim, Rafael é um bloco de gelo. Ele acaricia as coxas descobertas de Ana com a mão direita e com a mão esquerda enche o seio dela. A troca de sorrisos é o flash luminoso que faz os dois amantes comunicar em silêncio, até que alguém solte palavras coerentes.
- Sabe bem estar aqui contigo... - confessa Ana.
- E tem sido sempre assim?
- O que queres dizer com isso?
- Tens-me evitado...
- Se te disser que tenho trabalho, talvez soe foleiro...Mas a verdade é que tenho estado ocupada...
Festas privadas, clientes atenciosos e uma panóplia de situações que Rafael não vê e Ana não mostra.
- Passei os últimos dias em casa dos meus pais...Só voltei hoje à tarde e...
- Posso fazer-te uma pergunta?
- As que quiseres.
- Os teus pais sabem?
- De ti?... Queres assumir um compromisso?
- Não fujas ao assunto...
- Eles não sabem que eu sou acompanhante... É a melhor resposta que te posso dar.
- E vives bem com isso?
- Porque não haveria de viver?
- Estás a enganá-los...
- Não os estou a enganar! Sei o que faço. Já sou adulta e sei tratar de mim. Para além disso, é a minha vida, não é a deles.
- És filha deles! Recebes dinheiro por estar com homens que só estão interessados em aproveitar-se de ti.
- Neves! Não vamos voltar ao mesmo. Já te disse o que penso. Eu entendo isto como algo que quero fazer. Não tenho esse direito?
- Não de o esconderes às pessoas que gostam de ti!
- Nunca escondeste um segredo da tua família?!... Aliás, nunca ouvi uma palavra tua sobre família. Não me lembro de te ouvir dizer o meu pai, a minha mãe, irmã, tio, sobrinha....
- Não interessa...
- Como assim, não interessa?! És assim tão frio que não consigas sequer falar da tua família?!
- Sim. Sou. É a melhor resposta que te posso dar.
Ana amua. Ana prometeu a si mesma que iria receber mais de Rafael do que um distanciamento egoísta. Ana procura aproximar-se sem querer precipitar a sua vida. Ana pressente que quanto mais procura chegar à verdadeira alma do instrutor, mais ele se fecha. Ana aproxima-se da face dele e entrega-lhe um beijo seco, para depois sair do colo dele.
- Vou à casa de banho...
É na divisão branca que Ana se evade. Até Rafael já entendeu essa reacção. Assim que algum assunto a incomoda. Logo no instante em que não há mais razão para conversa. No preciso momento em que deixa de sentir um reflexo que a apoie e proteja. Ana evade-se. Pinta um beijo seco na boca do amante e assim que entra, encosta a porta da casa de banho. Rafael sabe como agiu, porque agiu e até entende as consequências. O andar vagaroso, mas sensual de Ana deixa o homem entesado. Entrar na vida privada dele é como querer abrir uma caixa de Pandora. É como querer partir o espelho da sua alma.Quando alguém tenta entrar no oculto de Rafael, acaba por ser atacado ou confrontado com a inutilidade de penetrar naquilo que ele jamais quis contar a alguém. A sua vida, o seu intimo, os seus segredos. Porque Ana sabe melhor do que ninguém. Toda a gente tem segredos. E o instrutor também têm a certeza de que Ana se sente impotente quando não consegue alcançar a verdade do que pretende. Após vários segundos de hesitação, compenetrado nos seus pensamentos, Rafael acaba por levantar-se. Coloca um sorriso na face, aceitando que foi brusco na resposta que deu a Ana. A acompanhante, afinal, é a mulher que mais tentou conhecê-lo nos últimos tempos. Estudá-lo. Criar-lhe um perfil. Adaptar-se a ele. E não se considerando um cliente, ele entende o esforço que foi feito pela jovem. É um relacionamento que precipita o carácter frio de Rafael. É uma amante que desvirtua algo que ele parece prometer a si próprio. Afrontá-la exageradamente, como um jogo de gato e rato, será sempre um erro. Por isso, ele empurra com ligeireza a porta, onde Ana já se aprofunda no seu refúgio. A jovem está sentada em cima do mármore do lavatório da sua casa de banho. É um sitio requintado. Diferente. Escolhido a pormenor. Para começar, não é um lavatório. São dois. Um duplo armário, colocado num dos cantos desta divisão branca. Com porcelana luxuosa, design inovador e uma limpeza extrema, há um confronto de dualidades neste espaço singular. Como se estivesse pensado para um casal. Como se estivesse pensado para duas pessoas gozarem da sua intimidade e higiene, sabendo que ao seu lado está a cara metade a partilhar o espaço com toda a comodidade. Colocado em cima dos armários, junto ao mármore claro, estão dois espelhos enormes. Largos e compridos. Puros e definidos. Confrontam-se lado a lado, num ângulo de noventa graus. Com todo o jogo de luzes no topo, com todo o brilho que todo o espaço transluz, o jogo de imagens que os vidros dos lavatórios provocam são fascinantes. Neste preciso momento, Ana está entre estes dois espelhos. Está sentada na enorme peça de mármore que une os dois armários, os dois lavatórios, os dois espelhos. Nos vidros iluminados, estão espelhadas as costas dela, vistas de dois ângulos precisos. Com a apatia dos lábios de Ana, ao mesmo tempo que guarda um reserva de desejo no olhar, Rafael vislumbra a dupla personalidade de Ana na sua máxima força. A máscara diurna espelhada de um lado, a máscara nocturna reflectida no outro. E neste instante, em que os seus passos vagueiam a medo pelo ladrilho da casa de banho, Rafael procura escolher o lado certo. Quando percebe que a amante já optou por uma faceta, ao erguer as pernas, ele volta a congelar o passo. Antes de mais, ele precisa retractar-se.
- Não tenho relacionamento com a minha família... Zanguei-me com o meu irmão há uns anos e desde então não lhes falo. Soa melhor?...
- Vem cá...
Ana despe os calções e coloca um pé em cada lado. De pernas abertas, o seu sexo está perfeitamente dilatado, visível e apelativo. Os lábios vaginais estão inchados e o clitóris parece querer espreitar. Ela exibe um olhar presunçoso, ciente da sensualidade que ousa transmitir. Coloca os cotovelos em cima dos joelhos e pende o peito ligeiramente para a frente. A jovem pretende pôr de lado a intransigência da frieza de Rafael. Mesmo que ele até esteja disposto a revelar-se gradualmente. Ainda assim, ela prefere diferente. Ela pede diferente. Ela age diferente. O homem não esconde a excitação que tal visão provoca. Aproxima-se dos lavatórios e à medida que se cola ao corpo dela, encaixa-se por entre os dois armários. Os braços de Ana tocam no peito dele. Abrem os botões da camisa e puxam-na, para depois descobrir os ombros largos do amante. Rafael encosta-se a ela, deixando que tome conta de si. As mãos dela aventuram-se. Abrem toda a camisa e depois desapertam as calças do homem. A face dela encosta-se ao pescoço de Rafael. Roça com os lábios na pele húmida do seu vizinho. O instrutor decide-se por encostar o queixo no topo da cabeça dela, olhando ao mesmo tempo para o reflexo das costas de Ana. A jovem continua a desbravar o pescoço com a boca até chegar junto ao ouvido. Algo murmura na alma dele, enquanto o seu corpo é apertado contra o amante.
- Entra em mim....
O sexo dele pende para fora. Toca ao de leve na margem do mármore. Ana está completamente aberta. Molhada. Excitada. Necessitada da intensidade que ele teimou em deixar rasto no seu corpo. Porque Ana sente falta do toque dele. Até mesmo quando veste a sua máscara nocturna. Até mesmo quando a despe. Não obstante o jogo cínico que ambos praticam, ela não nega a evidência de necessitar da presença de Rafael. Entesado e taciturno, o instrutor acaba de penetrar por entre as pernas de Ana. Poderoso. Extenuante. Supremo. Os pés dela parecem colar-se à base de mármore. A jovem não se move. Finca os dedos nos ombros dele, liberta um pequeno sustenido na voz, mas de resto, tudo em si está incólume. Porque ela deixa-se levar. Deixa-se incorporar nele. Permite que ele assuma o controla de si mesma. O pénis de Rafael está entesado e parece ganhar vigor dentro da rata da sua vizinha. Ele detém-na. Possui a necessidade de Ana. Segura o seu corpo, mas também a sua alma. Ainda assim, Rafael mantém o olhar em ambos os reflexos. E subitamente, ele está enfeitiçado com o jogo de espelhos. Entra e sai por duas vezes do intimo dela. Abraça-se às costas dela e faz força com o queixo na cabeça feminina. Mas ele parece evadir-se. Talvez até consiga levar Ana consigo. Mas certamente, Ana não consegue ver o que Rafael vê. Ela geme. Sente o sexo masculino dilatar a sua rata. Sente uma força intensa apoderar-se dos seus reflexos e dos seus sentidos. Quando ele a penetra de uma forma mais vigorosa, Ana solta uma das pernas. Deixa-a, pura e simplesmente cair. Assim, um dos calcanhares continua a segurar-se ao mármore. O outro bate levemente numa das portas do armário. As pernas mantém-se abertas.
- És tão linda!...
E ele só vê as costas dela. E ele sacode as mãos até alcançar as nádegas formosas da jovem. E ele mantém o olhar preso nos dois espelhos. Ele evade-se para um mundo distinto. Fixa o seu olhar e parece conseguir penetrar na sua própria alma. Ana está lá, mas ela não sabe. No espelho direito, ele vê-se a si mesmo tranquilo. Sereno. Apaga aquilo que nem a memória consegue fazer. Visualiza a máscara diurna de Ana. O seu lado doce, leve, carinhoso, meigo. Percepciona em segundo plano, no reflexo de um reflexo, o outro lado de Ana. Aquele que ela não consegue esconder. Nem mesmo com a máscara que a torna uma jovem apaixonada e subtil. As profundezas dos nossos segredos serão sempre como um icebergue. E ele encaixa-se nesta faceta. Neste perfil de costas. Naquilo que Ana não quer admitir e personificar a tempo inteiro. Mas que ele deseja. No espelho esquerdo, assim que Rafael gira a cabeça, ele vê-se a si mesmo presunçoso. Superficial, calculista, frio. Talvez seja a sombra da sua face que se reflecte no vidro. Talvez seja a percepção do outro lado de Ana mais a descoberto. A máscara nocturna dela, mais sombria, mais distante, mais perigosa. As costas dela carregam o peso de uma vida dupla, de uma personalidade escondida de muitos, desejada por imensos, possuída por aqueles que a contratam. E ele exalta-se com isso. Enfurece-se com o facto de gostar de alguém que vende a sua própria alma a clientes desconhecidos. E no seu corpo vibra a febre de provocação, de distância, de pudor, de revolta por algo que nunca deixará de ser uma faceta de Ana. Ainda que, reflexo de um reflexo, ainda seja visível o lado doce e fraterno de uma jovem perfeitamente normal. Naquilo que Ana já não consegue viver por inteiro.
- Neves...oohhh.... sentes-me??...Ohhh... consegues sentir-me... oohhh...sabes bem! Sinto-te todo em mim!....
Ele sente. Sente o corpo dela quando lhe agarra as nádegas. Sente a alma dela quando fixa os reflexos. Sente até a sua alma, numa penetração transcendente. Ele fode a jovem com uma ambiguidade surreal. Sabe que faz amor com a Ana que o deseja e que precisa do abraço que ele lhe entrega. Sabe que fornica, com uma carga selvagem, a Ana que tirou folga a um qualquer cliente e que decidiu entregar-se a ele, pressionando os braços dela contra as suas costas. O abraço é sublime. Os corpos fundem-se e conhecem-se. Ana apenas sente o vigor do sexo dele a prazentear o seu interior. Talvez possa pressentir a vibração que tilinta no tronco dele. Mas ainda assim, ela não vê o mesmo mundo em que Rafael viaja. Tudo muda. Tudo se transforma. Tudo se torna translúcido. A carne do rabo dela arrasta-se ligeiramente para a frente e para trás, tal é o ritmo frenético e cadente das penetrações dele. Ela geme. Ela grita. Ela pede por mais. E quanto mais ele lhe dá, mais a sua alma se expande. Torna-se vulnerável. Reflecte-se em si mesma e atinge-o. Enquanto se delicia com o corpo da amante, Rafael procura escolher um lado, uma faceta. Rafael quer escolher o lado das costas de Ana com que mais se sente inserido. É cruel. É incompreensível. É mordaz. Imensamente doloroso. Mas enquanto o homem se vem, ele prende o olhar no reflexo da máscara nocturna de Ana. Ela pressente o fervor que se espalha na sua rata e o aperto que todo o corpo dele exerce sobre si. A jovem finca os dedos na carne dos ombros do instrutor, cerra os olhos e liberta o seu prazer. Nestes instantes, em que o corpo dela flutua nas mãos dele, em que as suas pernas estão em lados opostos, em que o prazer se confunde com uma vertiginosa sensação de envolvência, os dois adultos quebram-se. Rafael pára progressivamente a penetração. Ana relaxa o seu corpo e acaricia os cabelos dele, assim que o homem pousa a cabeça no seu ombro. A cópula terminou, mas as posições mantém-se. As faces estão em lados opostos. Ouve-se as respirações, ouve-se o bater dos corações. Ouve-se um enorme arrepio das almas. Rafael tem um nó na garganta e Ana abre os olhos.
- O que se passou com o teu irmão? - diz Ana, ainda com a respiração ofegante.
- Se te contasse.... não ias acreditar.
- Eu ouço sempre histórias mirabolantes...Mais um dos motivos pelo qual adoro o que faço...
- Porque é que haveria de te contar? Nunca contei a ninguém...
- Ok, não contes...faz como quiseres...
- Espera!....Está bem..... O meu irmão...ele....uhm...ele...
- O quê? Casou com a mulher da tua vida?... - pergunta Ana ironicamente.
- Sim. - responde Rafael convictamente.
- Porra....... Desculpa... A sério, Rafael, desculpa...
Ela descola a maçã do rosto da orelha dele. Segura na cabeça do amante e chega-se ligeiramente para trás. Ana quer olhá-lo de frente. Confirmar se a afirmação dele é verdadeira. Certificar que finalmente, o seu amante está pronto a revelar os seus segredos mais profundos. Rafael olha uma vez para Ana. Depois baixa o olhar. Ele diz a verdade. Ele está pronto.
- Há coisa de seis anos, antes vir morar para aqui, namorava com a.... Se te disser que não me lembro do nome dela...podes fingir que acreditas?...
- Sim....
Agora o semblante de Ana modifica. Agora ele fixa o olhar dele e sente-se a mergulhar dentro dele. Agora Ana pressente que algo se transforma. Agora Ana ouve mais atentamente do que nunca.
- Ela era linda. Inteligente. A pessoa mais madura que tinha conhecido até então. Pretensiosa talvez...Dona de si, possivelmente... Namorávamos há sete meses e ninguém sabia disso. Envolver-me com colegas de trabalho na escola agrária poderia ser prejudicial. Ela era como uma amiga oculta na minha vida.....
- Até que ponto gostavas dela?
- Amava-a! Pronto, já disse... O Neves que conheces já amou perdidamente alguém... Comprei o terceiro esquerdo para vir morar com ela, talvez um dia assumir o compromisso, mudar de trabalho, mudar de vida, assentar...
- Onde é que moravas?
- Em casa dos meus pais. Sou o filho mais velho. O meu irmão sempre foi uma espécie de protegido e... Apesar de tudo, eu achava que era feliz...entendes?
Ana acena afirmativamente com a cabeça. Ela entende. Quer entender. Quer imaginar que Rafael já foi efectivamente feliz com uma mulher e que a faceta fria dele, afinal, é apenas uma máscara.
- Num Domingo de manhã, a casa estava preparada. Os meus pais prepararam-se. Pediram-me para estar preparado para receber em casa a nova namorada dele. Os meus pais morriam de ansiedade de saber que o filho mais novo estava terrivelmente apaixonado e que ainda por cima já pensava em casar-se.
- Era ela?!!
- Com a maior naturalidade da história, ela entra em casa agarrada à mão do meu irmão... Apaixonados... Ela não esperava ver-me. Ficou mais estupefacta do que eu.... Provavelmente não contava que o seu futuro cunhado, era afinal de contas, o seu outro namorado.... Nem percebi se o meu irmão sabia ou não... Pelo menos fingiu que não sabia... Aquilo durava há um mês. Ela tinha uma vida dupla e eu nunca percebi. Dizia que nunca tinha tido alguém como o meu irmão. Os meus pais adoraram-na. Inteligente, bonita, dissimulada, a nora perfeita para o filho perfeito.
- Meu Deus!...E ela?
- Como se nunca me tivesse visto...
- Não é possível... Como é que isso é possível?
- Passei-me.... Chamei-a todos os nomes que consigas imaginar. A ela e ao meu irmão. Ela negou. O meu irmão também..... Os meus pais recusavam-se a acreditar no que eu contava. Para eles, eu estava a dar falsas acusações. Para eles, eu procurava lixar o meu irmão. Não conseguiam acreditar que eu tinha escondido que namorava com alguém há tanto tempo... Chamaram-me mimado. O meu irmão chamou-me de aldrabão... E ela...ela...foda-se...ela não disse uma palavra!...
- O que fizeste?
- Desapareci... Não consegui enfrentar a ideia de que fui enganado e que passei por mentiroso à frente de toda a minha família... Ninguém acreditou em mim e nem sequer tinha provas de nada... As poucas coisas que tinha para comprovar...ninguém acreditou....Durante dois dias pensei em matar-me, pensei em matar o meu irmão...pensei em matá-la... Depois esqueci. Esqueci tudo. Esqueci quem era...esqueci quem era a minha família...vim viver para aqui.... Depois de um vicio estúpido em álcool e de meia dúzia de experiências patéticas com prostitutas...acordei.... Acho que acordei...
- É dificil de imaginar...
As palavras de Rafael têm uma tendência progressiva a soluçar. Custam a ser libertadas. Mas ele já não volta atrás. A sua respiração está ofegante. Ana olha incrédula para o seu amante e procura de alguma maneira confortá-lo. No preciso instante em que ela acaricia a face dele, existem duas lágrimas prestes a brotar do olhos de Rafael. Sim, o instrutor tem capacidade de chorar. Mesmo sendo difícl de acreditar, Ana tenta reagir. Mas algo já se libertou da alma de Rafael.
- É?! Achas que é?!...Sabes o que é ainda mais dificil de imaginar?! Sabes?? Imagina que eles se conheceram numa apresentação equestre que eu tive!....À minha frente!...Imaginas?! Eu fui cornudo e nem sequer me apercebi.... Consegues imaginar?!!!
- Neves....
Ele chora. Confirma todas as lágrimas que estavam presas dentro de si. Confirma a mágoa que ele sabia aprisionada dentro de si e que aprendeu a esconder. Confirma que Ana seria a única pessoa capaz de libertar o ódio que se acostumou a viver na sua alma. Ele chora e entende que após tanto tempo, ela é o melhor ombro para soltar o fantasma que sempre o tornou frio, calculista, distante de sentimentos, cruel de paixão. Ele chora e Ana vive uma dualidade de sentimentos.
- Neves, tem calma...
- Eles comeram-se no primeiro momento que puderam... Eles... eles enganaram-me!!
Ele berra. Grita toda a fúria que surpreendentemente vivia no seu âmago e que jamais alguma mulher conseguiu desvendar. A astúcia de Ana, na sua capacidade de ouvir, no seu envolvimento com quem partilha o corpo consigo, acaba por conquistar o oculto de Rafael. Como se fosse um cliente que procurasse a sua máscara nocturna para desabafar. Mas Ana veste a máscara diurna. Entrega-se a Rafael numa prova de paixão, numa entrega verosimil e sincera. Nem nas melhores fantasias, Ana se sentiu capaz de conseguir arrancar a dor do homem que daqui em diante lhe pertence.
- Vem para a cama comigo. Por favor...vem...
Como um menino a quem partiram o seu brinquedo predilecto. Como um adolescente que foi rejeitado pela rapariga dos seus sonhos. Como um homem que tem o coração despedaçado e nunca o conseguiu enfrentar. Rafael é um frágil rapaz entregue a um choro convulsivo. Ana é o ombro amigo. É a pele terna. É a ebulição de um sentimento. É a respiração tranquila. É a mão serena. Ana é o elemento que segura todas as lágrimas que o seu vizinho quiser chorar. Ele vai para a cama com ela. Não haverá sexo. Quente, explosivo, intenso, sem compromisso. Não haverão palavras. Cheias de mágoa, carregadas de dor, hipnotizadas por sentimentos incoerentes. Na cama de Ana, testemunha de noites ocultas com tantos clientes, o homem vai deitar-se e esperar pela tranquilidade que só as mãos dela lhe poderão dar. Surpreendente. Ousado. Incompreensível. Tudo o que se viveu esta noite no 3º direito terá lugar numa memória transcendente. Mas Ana vai guardá-la. Rafael vai vivê-la e seguir em frente. Mas tudo o que esta conversa significou, transmitiu, deu a entender, não terá certamente uma conclusão objectiva. E tudo o que acontecer na vida dos dois daqui em diante, nem um espelho irá conseguir reflectir.