quarta-feira

Aluga-se

Publicado a 03-02-2009
Quem define o verdadeiro valor intrínseco das coisas? Porque as coisas têm obrigatoriamente que conter um valor. Material, simbólico, contratual, íntimo. A objectividade das coisas que pensamos ou detemos incorporam uma valia, um preço, um custo. E todos nós somos negociadores do que nos apropriamos. Nada nos pertence. Mesmo quando compramos algo ou conquistamos alguém, não nos pertence. Por isso, partilhamos. E a partilha é um jogo de dar e receber. Dar e receber têm implicitos a questão do valor. E o que tem valor, tem preço. E o que tem preço permite obter margens. De perca ou de ganho. Assim, o que define quanto vale o que possuímos? O nosso bom senso ou a necessidade de partilharmos o que, afinal de contas, não nos pertence? Quando uma mulher decide anunciar o aluguer de um pedaço da sua alma e um tempo delimitado do seu corpo, que valor dá ela a si mesma?
Ana sai da casa de banho apressadamente. O seu cabelo ainda está molhado e o seu corpo tem dificuldade em envolver-se na toalha branca. O telemóvel que lhe pertence está a tocar incessantemente em cima da cómoda do seu quarto. Com a água tépida a escorrer nas suas pernas despidas, com a mão esquerda a segurar a toalha com força junto ao peito, a jovem atende o aparelho com a mão direita, sem sequer verificar quem está a ligar.
- Sim?!... Ah!...Olá...como está? Não esperava que me ligasse tão cedo....Não, não está a incomodar... Eu é que não contava que ganhasse coragem tão cedo... Eu?! Receio? Não, está enganado... Este é o meu trabalho e entre nós dois eu sou a pessoa que tem menos a perder...
O tom de voz de Ana espelha a máscara nocturna que ela colocou momentaneamente para falar ao telemóvel. Calmo, quase a sussurrar, ainda assim perfeitamente compreensível. Directo e conciso. Assertivo mas sensual. No entanto, ela ainda tem a sua alma vestida com a máscara diurna. Dentro da casa de banho, a presença masculina terminou o seu banho. Com a toalha envolta na cintura, ele troca o passo avançando para o quarto da inquilina. Ao mesmo tempo, não deixa de prestar atenção às palavras soltas por ela. A alma de Rafael treme com a ideia de Ana estar ao telefone com um cliente.
- ....Como lhe disse ontem, precisamos de acertar todos os pormenores. E não tenho por hábito fazê-lo ao telefone com visitas novas...... Só depende de si... Diga-me o dia e a hora em que possa estar mais disponível e tratamos de todos os detalhes.....
Rafael assiste incrédulo à atitude da sua vizinha. Ana tem mesmo coragem de fazer uma marcação com um cliente, enquanto ele está ali. Porque Ana consegue fazer uma negociação por telefone enquanto aponta os detalhes essenciais num caderno preto pessoal, aproveitando ainda para secar a pele húmida do seu corpo, com a toalha macia. Sentado na cama, Rafael olha para Ana sobre dois pontos de vista. A perspectiva traseira, frontal, sem filtros, em que Ana está meiga, já sem a toalha, com o rabo desconcertante a mover-se gentilmente, ao sabor das acções do seu corpo. A perspectiva frontal, espelhada no vidro da cómoda que reflecte a sua postura, a sua máscara, o seu olhar concentrado, o seu peito lascivo, esbelto e acariciado pela toalha.
- Sim.... E onde quer encontrar-se?.... Não, como lhe disse...Não tenho receio de nada... Com certeza.... Fica então combinado... Fique descansado... Se teve a ousadia de me propor, saberá certamente que guardo sigilo.... Uma Boa Noite então...
Ao mesmo tempo que desliga o telefone, Ana olha para o espelho, confrontando a atenção do instrutor na sua pose. Ela questiona se o olhar dele deseja as suas nádegas mornas e redondas ou se a questiona, cara a cara. A jovem deixa cair a toalha no chão, pousa o telemóvel na cómoda e pega num creme hidratante, elemento fundamental no seu processo de mutação. Gera-se um silêncio perturbante. Ana sabe que ele a está a questionar. Rafael hesita em questioná-la. O momento passado debaixo da água quente soube-lhe demasiado bem, para agora estragar tudo numa discussão sem fundamento e sem conclusão. Ana estava a fazer uma marcação com um cliente, ao mesmo tempo que se prepara para encarnar o seu papel de acompanhante. Ele sabe que naquele mundo, ele não entra. Por isso, engole qualquer provocação da qual se iria arrepender assim que a fúria se dissipasse. Mas a sua amante entende o seu incómodo. Molda os lábios num sorriso ténue, quase trocista. As palmas das suas mãos contornam a face, o pescoço e vagamente o peito, espalhando o creme branco que lhe entrega uma nova aura. Todos aqueles movimentos com o corpo nu parecem excitar o homem.
- O que se passa, Neves?
- Nada...
- Nada?!... É só isso que vês diante de ti?
- Vejo-te linda... Vejo-te poderosa... Vejo-te a mulher mais sensual que já se despiu diante de mim... E vejo que daqui a pouco deixas de ser minha...
Ana gira o seu corpo. O elogio de Rafael ultrapassa o mero conforto das palavras no ego sedento da jovem. A afirmação do homem que está no seu quarto pretende servir de desabafo para a impossibilidade de controlar o querer da acompanhante. O seu vizinho é um cristal frágil quando exposto à voluptuosidade dela. Nem sempre foi assim. Mas hoje assim o é. Rafael é um homem insegura quando confrontado com o olhar e o desejo de Ana. Ela aproxima-se da cama, nua e formosa. Ele está sentado no fundo da cama, ansioso. A jovem abre gentilmente as pernas para as colocar ao lado das coxas dele. Quase que se senta no colo do homem. Quase que encosta o seu peito à face dele. Quase que exige um abraço tenso de Rafael. Ela acaricia os cabelos do amante e olha-o com meiguice. Ele sustém a respiração quando vê os mamilos excitados dela tão próximos dos seus lábios. Ergue a cabeça, comunicando com ela.
- Mas por agora sou tua... Não sou?
- Não... Não és minha... Só me pertences quando tens algum valor para mim...
- E agora?... Tenho algum valor para ti?
Ela não espera uma resposta. Não aguarda sequer uma reacção da alma que se esconde na incompreensão. Ana quer apenas agir. Porque o desejo iniciado há cerca de uma hora, quando a jovem abriu a porta do 3º direito ao seu vizinho e se entregou a ele sem hesitação, ainda está latejante. Aproximando um pouco mais os seios firmes e sedosos, ela obriga Rafael a envolver as suas mãos no seu rabo delicioso. As caricias são doces, atenciosas, convidativas. Um leve gemido solta-se por entre os lábios de Ana que sorriem. Os bicos dos mamilos escorregam nas maçãs do rosto masculino. E quando ele se preparava para beijar o vale do peito, Ana agarra os cabelos com os dedos da mão direita e puxa a cabeça do amante para trás. A mão esquerda dela empurra o corpo dele para o deitar na cama. A inquilina dobra os joelhos e coloca-se sobre o colchão. A sua postura é excitante. Denota-se claramente a procura em obter o domínio sobre o homem que a deseja. É evidente o jogo que Ana demonstra ao caminhar ajoelhada em direcção ao peito do negociador que lhe quer dar um valor inestimável. Nua e excitada, Ana faz escorregar levemente a sua vulva pelo tronco rígido de Rafael. Ele sente o toque. Ele apercebe-se da excitação. Ele aguarda que a valia do seu elogio lhe traga sensações imensas. No trajecto que Ana prossegue, as suas coxas e as suas nádegas são acariciadas com paixão. E não tarda, ela prende os braços esticados de Rafael, deixando que o seu corpo repouse ligeiramente.
- Isso é meu? - sussurra ele, entusiasmado.
- Isto é um pedaço daquilo que te posso dar enquanto me deres o valor que sabes que mereço.
Três segundos servem para Rafael reflectir sobre aquelas palavras docemente soltas. Ana cola as palmas das mãos na parede e sabe o que quer dar. Sabe o que quer receber. E anseia que tudo isso a recompense de um ansiado prazer. Rafael levanta ligeiramente a cabeça e esse movimento basta para que a sua boca toque nos lábios grandes da vagina da sua amante. Ela sorri, ao sentir esse toque terno. Ela deixa a cabeça cair. Apesar de saber que detém o controlo do que acontece, Ana está completamente rendida à fome do seu vizinho. O homem usa a boca com gosto. Espalha o lábio inferior em toda a largura da rata dela. Franze o lábio superior para acariciar o clítoris da jovem. E a língua é intrometida, ao querer arrepiar caminho por entre a delicia da fenda feminina. Rafael adquire agora a certeza de que realmente, naquele pedaço de tempo, naquele recanto, Ana lhe pertence autênticamente. O gemido que ela solta sem inibição demonstra que ele pode prosseguir. A sua língua é longa o suficiente para se intrometer entre os lábios vaginais. As saliências encarnadas da sua boca procuram agora focar-se em chupar o gosto e o aconchego do sexo da jovem. Ana volta a gemer. Procura controlar o seu ímpeto fervoroso, mas o preço que lhe pagam para este instante parece não ter nenhuma cláusula que obrigue à sua reserva. Por isso, Ana geme. Cerra brevemente os olhos e abre a boca. Diante do seu olhar está escuro, está um espaço perdido, do qual ela já não consegue assentar os pés. Dentro de si, está a certeza de que o seu corpo vibra com cada gesto que a língua e os lábios do amante exercem. Debaixo de si não está um cliente. Este encontro não foi marcado detalhadamente, sem margem para erro. Este momento é rebelde, é inesperado, é fruto de uma vontade que ultrapassa qualquer contratualização. Ainda assim, Rafael sabe que o tempo e o espaço contam. Sabe o preço que paga por ter a sua voluptuosa vizinha sobre a sua face. E ela sabe o quanto recebe. Não existe um envelope branco, mas há um valor guardado dentro de si. Ana guarda-o então no cofre mais apaixonante de si mesma. O coração dela palpita e aperta com o minete feito pelo seu amante. Os membros dela tremem e começam a perder força. Rafael consegue soltar os braços e invade as nádegas quentes dela com as suas mãos. Ela está a ser possuída. As ancas femininas movem-se, procurando tornar mais frenético o ritmo das lambidelas que ele pinta na sua rata. Ana move a cabeça, em sintonia com a melodia dos seus gemidos. O clítoris da inquilina torna-se rijo e molhado. A boca de Rafael já prova o verdadeiro sabor que flui dentro dela. E enquanto ele finca a ponta dos dedos na carne do rabo tenro dela, Ana apresenta o seu orgasmo.
- Neves!...Ohhh...Dá-me...Por favor...uhmmm...dá-me!... Sou tua...Sentes que sou tua?!
Ela morde o lábio inferior. Ela cerra os olhos com força. Ela pende a cabeça para frente. Ela arrasta as mãos pela parede. Porque ela acaba de sentir toda a energia que foi solta da boca dele, directamente pelo seu sexo, até alcançar as profundezas do seu deleite. E estes orgasmos, só Ana sabe o valor que têm. Rafael ainda segura ambas as nádegas redondas da amante. Também ele procura confirmar que tal gozo foi possível. Como se tentasse perceber se o seu tempo tinha acabado exactamente no instante em que proporcionou uma viagem inesquecível. Ana volta a compor-se. Senta-se levemente sobre o peito dele e abre corajosamente os olhos. Enfrenta-o, como que a querer confirmar que Rafael sentiu o mesmo que ela. Indiscutivelmente, isso aconteceu. Mas Ana não se considera uma mulher resignada ou satisfeita com tão pouco. Toda a boca de Rafael despertou a libido interior do seu corpo, que a foda no hall de entrada, que a penetração no chuveiro, e que o minete na cama, por si só, não conseguiram satisfazer. Ana sai de cima do corpo do seu vizinho. Atrás de si está um pénis erecto, inchado, indiscutivelmente sedento de voltar a ser presenteado com uma forte acção sexual.
- Fica aqui... - pede ele.
- Não vou a lado nenhum... Ainda temos tempo...
- Eu quero-te!
- Não te mexas...
Deitado na cama, Rafael obedece. O espectáculo ainda lhe está reservado e Ana ainda não sucumbiu às exigências do seu tempo. Ao invés disso, segura a carne erógena do seu amante, com firmeza e convicção, como se lhe sobrasse o tempo de uma vida para se deliciar com aquele capricho. Com o rabo empinado e virado para ele, Ana agarra o pénis e abre um sorriso de satisfação na sua face. Aquilo pertence-lhe. Tem um valor. Foi alugado pela vontade dela, misturado no desejo dele. Assim, Ana pode dar-se ao luxo de decidir o que fazer com a volúpia que segura na sua mão fechada. A picha dele está quente. Dura, escaldante e com uma sagacidade que poucas vezes a jovem teve possibilidade de assistir. Prová-lo é uma hipótese viável. Rafael sempre foi saboroso e assim ela teria a certeza que tinha dado o melhor de si para recompensar este momento. Quando Rafael deixa que a sua mão atrevida escorregue pelo rabo convidativo, Ana percebe que tem de agir. Os dedos dele fazem cócegas no seu ânus e acariciam os lábios vaginais inchados. Sim, mais do que a vontade de pôr o sexo dentro da sua boca, Ana precisa de afogar a sua sede, matar a sua fome, libertar aquela tesão continuamente palpitante.
Rafael volta a ter duas perspectivas. Deitado na cama completamente nu, com o peito ofegante e com os dedos fincados no lençol, ele envolve-se com a sua amante em dois prismas distintos. Ana está sentada em cima da cintura dele, com as costas viradas para o homem, exibindo a sua pele a suar e as costelas tensas, a moverem-se com excitação. Ela é uma mulher doce, atenciosa, apaixonada, quando sente a carne dele entrar dentro de si. Ana está a saltar sobre a picha dele freneticamente, com as suas mãos seguras às mamas que pulam a cada salto e o olhar fixo no espelho da cómoda. Ela é uma mulher selvagem, possuída e praticamente mergulhada numa máscara nocturna oculta, quando sente que a picha dele tem que explodir de prazer. E ambas as perspectivas de Rafael proporcionam um prazer alucinante. E ambos os pontos de vista fazem-no entender que de uma ou outra forma, Ana quer foder com ele até à exaustão. É amor, quando ela se entrega assim, esperando receber tanto como está a tentar dar? É paixão, quando ela sufoca o pénis dele com todo o peso do seu corpo e o aperto da sua rata? É loucura, toda a devoção que ela despeja nos seus gemidos e nos seus movimentos, assim que aumenta o ritmo dos seus pulos sobre a postura dele? É convicção, toda a certeza dela em estar a levá-lo a um prazer inquestionável e absoluto, assim que ela deixa que todo o seu sexo entesado entre profundamente na rata. Porque é forte o jeito com que ele a penetra. É intenso o deleite que ela solta quando se sente cheia. É tudo tão confuso que Rafael não sabe o papel que ocupa ali. É tudo tão incandescente que ele sabe que está prestes a vir-se, quando os dedos meigos da mão de Ana acariciam os testículos saltitantes do homem, ainda inchados. Ela está louca, excitada, imparável. E a jovem encontra nas bolas dele uma forma de descarregar a vibração que todo o seu corpo sente. Ela é meiga no gesto efectuado mas demasiado suave. Ela é carinhosa na acção que entrega mas intensamente excitante. E no exacto momento em que Ana admite o cansaço do seu corpo, ela deixa o pénis dele enterrado e sente ele a vir-se dentro de si. Os dentes trincam o lábio inferior com violência, os olhos fecham impulsivamente e ela só quer aproveitar toda a ejaculação de Rafael.
- Sim...sente-me!!!...Ohhh...És linda!!...Ohhhh...não consigo parar!...Anaaaahhh!!
A vontade dela é recolher forças do mais profundo de si, para se suster naquela posição. O seu anseio é prolongar aquela sensação quente dentro de si. Mas ela não domina o seu corpo e parece desfalecer em cima de Rafael. Ouve-se a respiração da jovem, misturada nos suspiros fortes do homem. As mãos dele envolvem o peito da acompanhante. Ela quer sentir-se acarinhada e confortada, mas o tempo vai escasseando. O casal de amantes entrelaça-se, consumado o derradeiro prazer.
- Confessa... Uhm... Confessa que te dá prazer saber que por este pedaço de tempo, eu fui só tua.
- Sim...
- E que não importa o que eu faço na minha vida...sabes que nunca ninguém te deu tanta luta... sabes que nunca ninguém te respeitou tanto como eu...
- Não sei...
- Eu não sou de ninguém, Neves... Apenas entrego um pouco de mim a quem me dá o valor certo...
Solta-se um suspiro de resignação das narinas de Rafael. Ela percebe que não consegue encontrar forma de colocar o vizinho na mesma ideologia que a sua e liberta-se dos braços e das pernas dele. Levanta-se da cama e abre o armário. Retira um vestido cinza de algodão e umas botas. De uma gaveta, retira uns collants pretos e com um pé empurra umas botas para fora do sapateiro. Senta-se novamente na cama, perante o olhar atento do homem que lhe acabou de proporcionar um fim de tarde delicioso. Coloca gentil e cuidadosamente os collants nas pernas, ainda com o seu corpo praticamente despido. Insere o vestido que lhe deixa parte do peito saliente. O banho refrescou-a, o creme hidratou-a, mas a sua pele tem agora uma tez ruborizada, viva, acesa. Ana calça as botas e já praticamente composta dirige-se à casa de banho. Com o cabelo vagamente arranjado e perfumada, a jovem regressa ao quarto. Rafael ainda está nu na cama, confuso sobre o que irá acontecer. No entanto, ele sabe que o aluguer terminou. Foi esse o tempo permitido pelo valor que ele entregou a Ana. Ela coloca um joelho em cima do colchão e pende o seu corpo para entregar um beijo meigo nos lábios do homem.
- Tenho o direito de perguntar onde vais?
- Tens...Vou ter com uma amiga minha... Uma boa amiga... Marquei encontro com ela para daqui a vinte minutos do outro lado da cidade.
- E o que vais fazer com ela?
- Desculpa?...
- Posso saber o que vão fazer?
- ....Deixo isso entregue à tua imaginação.
O carácter irónico da deixa de Ana coloca Rafael, naturalmente, numa dúvida imensa. Se de uma certa forma, ela não parece ter vestida a sua máscara nocturna, ao mesmo tempo a jovem detém uma ansiedade por ir de encontro a essa suposta amiga. Acreditando Rafael que é mesmo com uma amizade que ela tem marcação, ele não consegue deixar de ficar inquieto à ideia de que o seu tempo de aluguer terminou ali e que brevemente Ana poderá ir, nesta mesma noite, procurar valor noutra negociadora da vida da acompanhante. Informal, descontraída mas sensual, Ana leva o seu passo para fora do quarto. Irá fechar a porta do seu apartamento, descer as escadas do Edifício e apanhar o primeiro táxi que atravessar a rua, com a certeza de que Rafael ficará bem dentro do seu lar. Numa possibilidade demasiado remota concebida pela sua consciência, se ela regressar nesta mesma noite, o homem poderá ainda estar a dormir na sua cama.

terça-feira

Cede-se

Publicado a 20-01-2009
O que é possível ceder que não seja material? Pode ceder-se um espaço comercial, cobrar um valor por uma posição contratual que se mantenha num negócio, colocar um objecto à disposição para posterior dividendo. Colocam-se anúncios em jornais, na internet ou em locais estratégicos, de forma a dar a conhecer a cedência a um possível interessado. E se quisermos ceder a nossa alma? Não é algo material. Não é algo que possa deter um valor comercial. Não é algo que seja passível de negociação para a sua cedência. Se quisermos ceder a nossa alma e por inerência o corpo acarretado, de que forma o anunciamos? E a quem o queremos anunciar? Porque o amor não se cede. Partilha-se. Assim como a amizade ou até mesmo a fraternidade. Mas quando não conseguimos suportar o peso e a responsabilidade de nós mesmos, não partilhamos. Cedemos. Talvez procuremos dividendos de retorno. No entanto, acima de tudo, é o alivio e a redenção que queremos obter. E aí, cedemos. Por isso, não é de mais insistir numa ideia. Quando queremos ceder a nossa alma, a quem e de que forma o queremos anunciar?
A Tania enfrenta um peso. Que se distribui por entre a sua alma e progressivamente pelo seu corpo. Dentro da casa de banho do 2º direito, a jovem vai despindo as calças, ao mesmo tempo que a água a escaldar corre freneticamente do chuveiro. Enquanto retira a camisola, ela olha-se ao espelho e confronta-se com as formas do seu corpo, coberto apenas pela lingerie branca. Tania vive um dilema. Dentro de si, tudo se transforma e ela simplesmente não quer mudar. Tal não quer dizer que ela afaste a ideia de prosseguir a concepção criada pelo seu próprio íntimo. Tania está grávida de três meses e procura encontrar a melhor forma de aceitar um futuro já quase escrito. Encerrada num espaço que lhe é cedido e não dado, ela aproveita aqueles instantes para confirmar as transformações do seu corpo e idealizar objectivos. Entra dentro da banheira, já depois de ter solto o soutien e as cuecas que lhe parecem apertadas.
Na sala de estar do 2º direito, Laura e Afonso saboreiam o momento após o jantar. Sentados no sofá vermelho, eles olham para as últimas reportagens do bloco noticioso, percebendo que olham sem a mínima atenção para o que é exposto. O jantar terminou em algum silêncio. A filha de Laura saiu apressadamente para mergulhar nas brincadeiras constantes que o seu quarto permite. Tania mantinha um semblante carregado, algo distante, demasiado ansioso. Por um par de vezes, a namorada de Afonso procurou chegar a ela, mas sem sucesso. A encarregada de loja sabia de antemão que nem sempre era possível alcançar a alma da sua funcionária. Por isso, o casal deixou-a sair da mesa, deixando a arrumação do que sobrou do jantar para eles. Laura e Afonso percorreram o corredor entre a sala e a cozinha por um punhado de vezes e aperceberam-se dos movimentos de Tania. Ela entrou na casa de banho, encerrando a porta. A noite ainda agora tinha começado e eles preferiram ficar na expectativa, aguardando pela reacção da jovem. Encostaram-se no sofá, com os braços envoltos, com beijos meigos escondidos.
- Estive a falar com a Sofia... - solta Laura.
- E então?!
- Oh!...É o que nós dizemos. Têm andado distantes, com muito trabalho...
- Com o Gustavo...
- Diz que sim... Que têm saído quase todos os fins-de-semana...
- Era o que nós tínhamos perspectivado.
- O Diogo tem saudades das nossas noites...
- Não me vais dizer que eles vão aparecer cá hoje.
- Afonso...temos que combinar qualquer coisa...eu também tenho saudades deles.
- Deles ou do Gustavo?
- Tu sabes o que é que eu gosto, amor...
- O que é que tu gostas?
- De te ver dentro da boca dela...
- ...Da boca dele na tua rata...
- De me vir ao lado dela.
- Para depois ele te possuir?
- Eu quero, Afonso...
- Eu não disse que não!...Ou disse?! Como é que ficamos?
- Bom...eu não quero trair a Tania... Mas eu vou voltar a falar com a Sofia e...
- ...Laura!...
Ouve-se um pedido vindo do interior da casa de banho do apartamento. Tania já terminou o banho e clama pela presença da sua colega de trabalho. A mulher sorri e olha para o seu namorado com desejo. Afinal, este casal dispõe de uma amiga intensamente íntima a morar debaixo do mesmo tecto. Sim, eles respeitam a novel condição da jovem grávida. Mas acima de tudo, eles percebem que progressivamente conseguem um afecto particular por uma pessoa que até há bem pouco tempo era vizinha deles. Laura entrega um beijo veemente na boca de Afonso, suscitando alguma excitação, mas também curiosidade pelo pedido da rapariga. Ela levanta-se e segue até à casa de banho. Bate à porta levemente e aguarda que Tania a deixe entrar.
- Precisas de alguma coisa, Tania?
- Não... Não, não preciso, mas...
- O que foi?...Fala comigo...
- Não é preciso, Laura... Tu estavas com o Afonso...eu não queria interromper...
- Ele fica bem... Eu estou aqui contigo...
Laura encerra a porta da casa de banho e ao mesmo tempo invade o pescoço da amiga com a sua mão. Tania está nua. Nem sequer uma toalha envolve o seu corpo. A água do banho ainda escorre pela sua pele e o seu cabelo está completamente ensopado. Tania apresenta-se pura e limpa. Trancadas nos lavabos, as duas mulheres sentem-se protegidas. Como se precisassem daquela intimidade.
- Tenho medo, Laura...
- Do quê?!
- Disto!...Tenho medo desta barriga, tenho medo de o trazer ao mundo...Tenho receio de que não esteja preparada para ser mãe...
- Já falámos sobre isso... Nenhuma mulher está pronta quando está grávida... E tu não és diferente. Ainda falta muito tempo e até lá é só uma questão de te habituares à ideia.
- A minha barriga vai crescer. Eu vou ficar uma gorda e ninguém me vai querer.
- Eu quero-te... O Afonso também te quer... E certamente que haverá um homem à tua espera para desejar essa tua barriguinha.
As mãos de Laura são atrevidas. Depois de acariciarem o pescoço de Tania, deslizam pelos ombros molhados dela. A jovem gosta do gesto duplicado. As mãos da inquilina têm o condão de espalharem ternura e ao mesmo tempo sentimentos ocultos. Os olhares entre as duas mulheres querem tocar-se. Querem comunicar e dizer o que pensam naquele instante uma à outra. Ouvem-se as respirações. A de Laura é calma mas impulsiva. A de Tania é nervosa mas expectante. A palma das mãos da namorada de Afonso apertam a carne dos braços de Tania. A jovem deixa descair ligeiramente a cabeça para sua esquerda, demonstrando o arrebatamento pela presença da amiga.
- Nós precisamos que relaxes... Tu precisas de relaxar...
- Agora já me sinto um pouco mais calma...
- Sentes?!
- Sim...
Laura solta um sorriso. Percebe que consegue aproximar-se da amiga. Denota na forma como os ombros dela libertam a tensão que se evidencia no corpo de Tania. A água continua a escorrer pela derme até pingar no mosaico branco do chão. Os braços da jovem encolhem-se, apertando o seu peito volumoso, húmido e rijo. Num único gesto, ela consegue demonstrar a Laura que se sente confortada e ao mesmo tempo desejada. E enquanto aconchega as mamas, a rapariga cerra ligeiramente as pálpebras, procurando manter o olhar em Laura.
- O que vai acontecer amanhã não interessa, Tania.
- Não?!
- Não... Vais ter o bebé, de uma forma ou de outra... Isso eu tenho a certeza e tu também tens que ter... Mas até lá, quero que penses que fazemos parte de ti.
- Como assim?!
- Hoje...e nos próximos dias, estes seios são nossos.
A mulher gira os pulsos e move as suas mãos em direcção aos mamilos redondos de Tania. Enche os dedos com as glândulas mamárias da jovem e acaricia ternamente a zona erógena feminina. Ligeiramente surpreendida, Tania inspira ferozmente e fecha os olhos. Dilate a sua boca, deixando evidente o seu deleite por aquelas mãos apalparem as suas mamas.
- São?!!...
- Sim... Tens que nos confiar estas mamas...
- Porquê?!
- Porque nós gostamos delas... Sentimos que cuidamos delas com toda a devoção. Sentes como eu as aprecio?
- Siiim.....
- Quero que aceites entregar-nos o teu peito.
- Com que intuito?
- Vais sentir-te a mulher mais sensual que alguma vez imaginaste.
E Laura continua a deliciar-se com aquele fantástico peito. É visível a excitação da jovem ao sentir as carícias que percorrem a pele macio dos seus seios. É evidente a forma com os bicos se tornam mais rijos, quando as falanges dos dedos de Laura esfregam os mamilos. E a pressão que as mãos da mulher exerce é simplesmente arrebatadora. A namorada de Afonso aproxima-se um pouco mais da sua amante. Tania, por sua vez, recua ligeiramente, até tocar com as nádegas húmidas na cerâmica fria do lavatório.
- São vossas... Eu confio em vocês, Laura...
- Eu quero mais do que isso...
- Mais?!...
- Sim... quero que não tenhas pudor...
- Eu não tenho pudor...
- Quero que andes nua em frente ao Afonso...
- Não sei se...uhmmm... estou a engordar na barriga...
- A tua barriga está linda... Vai ficar irresistível...dia após dia...
- Laura...
- Tania... Eu quero que nos dês tesão ao mostrares o teu corpo.
Após excitar as mamas de Tania, Laura volta a prosseguir o trajecto com as mãos. Desta vez, toca ao de leve na barriga da jovem, que naturalmente se vai modificando. Nota-se uma pequena saliência, conjugada com umas ancas ligeiramente mais cheias. O contorno que as mãos de Laura desenvolvem nas curvas de Tania pretendem demonstrar exactamente isso.
- És uma grávida excitante... Eu e o Afonso queremos isso...
- Uhmmm...isso o quê?!
- A tua provocação...
- Pára com isso, Laura!.... Estás a deixar-me....
- O quê?...Estou a deixar-te molhada?
A mão direita de Laura é curiosa. Escorrega pelo ventre de Tania e perfura entre as coxas torneadas da jovem. Inicialmente, a rapariga grávida recua a cintura, cerra as pernas e abre os olhos. Mas depois, ao perceber que já não há retorno, que Laura lhe cinge um olhar de tesão e que ela própria se descontrola perante a sucessão de acções, Tania cede. A mão direita de Laura é atrevida. Os dedos penetram por entre as coxas e friccionam os lábios vaginais encharcados da jovem. O corpo de Laura está praticamente colado ao da amiga. O braço direito de Tania envolve-se no tronco da mulher e a mão esquerda segura-se ao lavatório. Os lábios grandes da rata da grávida estão inchados e escondem um clitóris rijo.
- Isto.... Isto, Tania... É tanto teu....como nosso...
- Isso é posse...oohh...
- Não... é uma cedência... Eu sei que tu precisas...eu sei que tu queres...
- Diz-me o que eu quero, Laura!!
- Tu queres que nos te possuímos....
- Ohhh...siiimmm...Quero... Laura... A minha rata é tua... A minha rata é do Afonso... Ohhh...
O polegar de Laura domina o interior da vagina da jovem. O braço de Tania já clama pelo abraço e aperta a amiga contra o seu corpo húmido. A masturbação enfeitiça-a e deixa-a completamente fora de si. Ainda assim, Tania está consciente. Ela deseja tudo aquilo. O seu corpo vibra e ela sabe porquê. A volúpia das suas formas ganha consistência e ela sabe por quem pode suar todo aquela sensualidade. E enquanto Laura segura o seu clitóris, Tania senta-se no lavatório, sabendo que quer mais. Sabendo que precisa de ceder algo mais à sua amiga, ao casal que a toma debaixo do seu tecto e a faz sentir mais completa. Porque dentro de toda a surrealidade daquela ligação, Tania sabe que precisa deles. Não lhes pode pertencer. Não pode considerar-se eternamente deles. Não pode adquirir a devoção de Afonso nem possuir o carinho de Laura. Mas pode emprestar todo o calor e carência da sua alma, pode ceder a libido do seu corpo e gozar de toda esta envolvência até a sua vida ter que seguir o próximo passo.
- És uma menina linda, Tania... E se confiares em nós, conseguirás sentir-te uma verdadeira mulher...capaz de tudo...
- Siiim...Eu acredito em ti.... - sussurra Tania - Ohhh, Laura.... acredito!!.... Estou quase...ohhh...estou quase a vir-me...Eu acredito em ti, Laura....Por favor.... eu quero mais!....
As pernas de Tania abrem-se. Por entre os seus lábios vaginais, corre um misto de líquido intimo e água tépida que insiste em brotar dos seus cabelos. Laura ajoelha-se no chão molhado. Prossegue o seu esforço em demonstrar a Tania que, mesmo grávida, o seu corpo é voluptuoso, sensual e irresistível. Acaricia as coxas, fazendo com que as pernas se dilatem um pouco mais. Acaricia as nádegas, apertadas contra a cerâmica do lavatório. E depois, assim que Tania se segura às torneiras, assim que o seu corpo está completamente volátil, assim que a rata da jovem clama por ser arrebatada, Laura molha os seus lábios e avança.
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A porta da casa de banho abre-se. O vapor que ainda se mantinha dentro da divisão evade-se para o corredor da casa. Cá fora, tudo parece manter-se tranquilo. A menina já se deixou adormecer em cima da cama e na sala a televisão já entrou no horário nobre. Laura sai da casa de banho com as roupas ligeiramente molhadas e com as maçãs do rosto ruborizadas. Atrás de si, Tania tem uma toalha envolta no corpo e corre até ao seu quarto. No sofá, Afonso parecia aguardar por aquele instante. Como se estivesse aborrecido por ter que ficar sozinho a fazer zapping. Laura aproxima-se dele com um sorriso. Por detrás do sofá, ela recosta o seu corpo e cola o seu rosto à cabeça do namorado. Ele pressente o calor da pele dela. Leva a mão aos cabelos femininos e reclama algum carinho. Laura roça a ponta do nariz na bochecha dele. A mulher ostenta um sorriso perverso. Gera-se algum silêncio. A menina já não irá acordar e Tania não ousará sair do quarto. A lição pura e simplesmente que a arrebatou. Laura solta a sua voz baixinho junto ao ouvido de Afonso.
- Não precisas de o esconder....... Eu sei...... Eu sei que estiveste o tempo todo atrás da porta da casa de banho...
E num gesto sublime, carinhoso, mas ao mesmo tempo lascivo, Laura suga os lábios dele, cedendo-lhe um beijo prolongado, misturado com a língua e em que pedia que ele devorasse os lábios meigos dela. E nesse beijo, Afonso prova a delicia pertinente da rata de Tania, antes da sua namorada lhe soltar um sorriso perverso e o chamar para a cama.

segunda-feira

Vende-se

Publicado a 14-01-2009
É sintomático. Quanto mais se tem. Quanto mais se dispõe. Quanto mais concretizada a alma se sente. Quanto maior é o pedestal que se consegue alcançar, mais aliciante se torna a perversão que desejamos. Mais intenso parece o pecado que se quer cometer. Mais vibrante parece ser o risco de se entrar no inferno. Quanto mais poder se detém nas mãos, maior parece ser a ambição de o destruir. Como Nero que quis destruir Roma, só para a ver em cinzas. Rodrigo parece desejar o inferno. Ele brinca com o perigo da infidelidade. Ele arrisca os sentimentos que ele mesmo quis construir numa espécie de jogo de roleta russa. Ele compra as emoções alheias com a riqueza da sua sensualidade e depois aparenta querer vender a sua alma ao preço mais cruel. Rodrigo sente que negoceia a paixão proibida, assim que incita a trazer para a sua própria casa um tesouro enfeitiçado.
Sandra não pertence a ninguém. Namora com o filho mais velho do seu amante maduro, mas não pertence a nenhum deles. Gosta de se sentir assim. Manipuladora de desejos, meliante de sentimentos que ela própria sabe não possuir. Aquilo que ela verdadeiramente quer ou sente, tanto Rodrigo como o seu filho, julgam saber. No entanto, só a jovem é que intrinsecamente entende a legítima convicção de possuir dois homens na mesma casa. Mas Sandra é irresistível. É um demónio mascarado de beleza feminina inocente. É um corpo flamejante, volúpio nas suas formas, febril ao toque, gélido no interior da alma. Só as roupas casuais, descontraídas mas vistosas lhe dão alguma semelhança com uma pessoa de bom carácter. Só aquele olhar compenetrante, fascinante e ilusoriamente angélico consegue evidenciar alguma compaixão por quem ela ousa desejar e por quem se atreve a observá-la. Sandra vende tudo o que a sua alma conseguir ludibriar. O retorno será sempre mais corrupto do que o que entregou.
Rodrigo está a ser chupado por Sandra. Esta acção já decorre há alguns minutos no corredor principal do 1º esquerdo. Não importa como começou. É pouco relevante ter em conta as motivações da jovem em entrar na casa do seu namorado, quando no seu interior só se encontra o pai dele. Sandra vendeu mais um pedaço da sua alma e devora o sexo inchado de Rodrigo. Os seus lábios carnudos e meigos são audazes em fazê-lo com devoção e com a ambição de levar o homem cansado a um intenso passeio de prazer. O sexo de Rodrigo entra convictamente na boca dela. É besuntado com a saliva morna que a língua da rapariga deixa desde a ponta do pénis até aos testículos. É excitado com a pressão que os músculos faciais exercem sobre a carne voluptuosa. E as mãos suaves e tenras de Sandra ocupam-se tanto da coxa despida do homem, como em segurar firmemente a haste masculina. Ele está encostado à parede do corredor, próximo à porta da arrecadação, diante da casa de banho. É notória a satisfação do inquilino, entre os gemidos que se soltam da sua garganta e o cerrar dos olhos. É visível o reconhecimento que Rodrigo elege à pessoa que lhe faz sexo oral. Sandra recebe carícias nos seus cabelos finos castanhos, percebendo que ela o incita a ir até ao fim. A jovem está ajoelhada no chão e tem o pescoço ruborizado, fruto dos beijos e chupões que recebeu do seu amante. Ela conhece aquele sexo instintivamente, Já o teve repetidamente na boca. Já o sentiu de diversas formas. Já o saboreou. Seco, molhado, húmido, inchado, satisfeito, amolecido, entesado. Por o conhecer tão bem, ela sabe o que está prestes a acontecer. Pressente a vibração que trespassa por toda aquela carne. Sente o calor que emerge da ponta da picha. Reconhece o ponto exacto com que o labor da sua boca é capaz de despoletar no órgão de Rodrigo. E quando dois dedos da mão de Rodrigo pressionam gentilmente a sua nuca, Sandra aguarda. Enche a sua boca com o pénis dele e envolve-o com a língua. No calor da sua boca, juntamente com a expiração da garganta dele, um jacto escaldante atinge o céu da boca da jovem, provocando um ligeiro pestanejar do olhar dela. Ele vem-se e quer fazê-lo dentro do orifício bocal da amante. É explosivo, assim que ela tenta suportar todo o suco. É intenso, quando ela entende que o homem tão cedo não cessa o seu deleite. É frutuoso, desde que ela repara que não irá suportar toda a ejaculação de Rodrigo dentro da sua boca. Sandra aperta a carne com o polegar e os outros dedos e procura afastar a cabeça, ligeiramente para trás. Os lábios escorregam na pele molhada e trazem o líquido com eles. A jovem abre os olhos e repara no estado do sexo que acaba de se vir. E enquanto parece admirá-lo, recebe um último rasgo de prazer do homem, espalhando-se na maçã rosada do seu rosto. Rodrigo parece ter libertado todo o seu ardor sexual, que resistia dentro de si. Ele sente-se capaz de prosseguir com a aventura, mas é nesse instante que tudo parece precipitar-se no jogo de Rodrigo com a sua própria vida.
Ouve-se um leve ruído vindo da fechadura da porta de entrada do apartamento. Quem quer que esteja no corredor do Edifício Magnólia e que demonstra querer entrar no 1º esquerdo, não aparenta estar apressado. A chave que penetra na ranhura roda e desencadeia o trinco da porta de madeira. A fechadura solta-se e a porta abre-se uns centímetros. A chave é retirada da ranhura e percepciona-se os sons de sacos de plástico a serem colhidos. Depois, um forte empurrão faz escancarar a porta. Helena entra em casa, com as costas viradas para o hall de recepção. Traz nas mãos as compras da mercearia e na face o suor que espelha a exaustão que o seu corpo flui. Ela consegue entrar em casa e encerrar a porta. Gira o corpo e toma percepção do espaço em redor. Ela encontra o seu próprio lar, enfim, vazio de alma. No imediato, Helena não consegue percepcionar que atrás da porta da arrecadação está o seu marido escondido, ainda a apertar as calças. Na dedução da mulher, não existe a ideia de que ao lado dele, está a amante do seu marido e namorada do filho, a tentar limpar dos lábios o sémen expelido por Rodrigo. Naturalmente, se Helena se decidir a usar a arrecadação, o mesmo será dizer que o inferno invadirá a casa deste casal. A mulher confrontará em flagrante o seu marido, confirmará os piores receios que ela detém sobre a sua nora virtual e enfrentará a realidade da confiança do seu casamento ser uma farsa. Sandra não teme. Tudo o que ela terá a perder com a descoberta, nunca será superior ao seu desejo obsessivo. Por Rodrigo e por qualquer aventura. Por isso, ela resguarda-se, mas tranquila. Rodrigo ferve. Segura a porta da arrecadação, esperando que a esposa não tente sequer imaginar entrar ali. Ouvem-se os passos de Helena, com os seus saltos altos. Ela leva os sacos em direcção à cozinha, tendo que passar no corredor. Rodrigo corta a sua própria respiração. Os seus olhos parecem congelar e os seus músculos ficam tensos. A mulher entra na cozinha. Rodrigo procura pensar numa solução. Mas quanto mais os instantes passam, mais ele confirma que tem que ficar escondido. Helena regressa. E aparentemente, ela não desconfia. Não pressupõe o que se passa numa divisão minúscula da sua casa. Ao invés, está entusiasmada em dirigir-se à sala. Rodrigo consegue espreitar por uma grelha colocada na porta da arrecadação. A sua mulher está junto ao sofá da sala. Segura um copo de plástico de café, possivelmente adquirido no Espaço Magnólia, antes de subir. Helena detém alguma vivacidade. Ela está junto à mesinha onde está o candeeiro, o telefone fixo e o livro de contactos. Abre-o e desfolha algumas páginas. Rodrigo sente-se intrigado, mas ao mesmo tempo assustado. Ele aguarda pela primeira oportunidade que a mulher lhe conceda, de forma a sair dali e a evacuar da sua casa a amante que está colada a si. Ouve-se um pequeno gemido de Helena. Ela entra o copo de café para cima a mesinha e salpica o livro. Apesar de alguma atrapalhação, é essa a página que Helena procura. Pega no telefone e marca o número que visualiza. Rodrigo inspira fundo. Alguns segundos de espera e da boca de Helena abre-se um sorriso.
- Estou?!...Sou eu... A Helena.... Sim... só cheguei agora a casa... Não, não...não posso!... Tu sabes que não posso... Porquê?.... O meu filho deve estar a chegar a casa e ainda tenho que ir... Não!... Não posso!.... Sim... claro que vi as tuas chamadas...
Escondido dentro da arrecadação, Rodrigo só pode ficar suspenso nas palavras da sua esposa. Ele indaga sobre quem estará do outro lado da linha. Ele procura perceber o teor da conversa. E subitamente, não é só Rodrigo que fica desarmado, com as calças na mão.
- ...Não te posso dizer isso... e tu sabes... é claro que penso... Mas eu sou uma mulher comprometida... bolas...tens que ter essa consciência!... Mas sim...eu quero-te... és uma perdição e tenho que me render... Oh sim, desejo que me possuas outra vez... Não sei onde... em tua casa... Não sei quando!... Veremos... Sim... Prometo... Eu telefono-te quando puder... Sim! Quero-te!...
Impaciente e encerrado, Rodrigo sente-se a explodir. A sua própria esposa troca conversações sensuais e explosivas com um dos seus amantes. Poderá ser o mesmo cliente. Poderá ser outro cliente. Poderá ser alguém que ele conhece. Em todo o caso, será alguém que consta na lista de contactos da família. Sandra entende o que está a ocorrer porque também ouve as palavras ansiosas de Helena e porque percepciona a raiva e impotência do seu amante. Ele parece querer revoltar-se. Está a uma passo de sair daquela arrecadação, ainda arrebatado pelo broche que recebeu. Ainda assim, ele controla-se.
- ...Quero sugar-te... quero que me toques até me pores louca... quero sentir-te dentro de mim... Meu Deus!... Eu prometi que te resistia... Sim!!... Quero-te!... Pára com isso!... Tenho que ir... Não, não podes vir ter comigo... Tenho que ir!... Tchau... Sim!... Eu ligo... Tchau!...
Helena desliga o telefone. Solta um suspiro, tal foi a intensidade do que acaba de proferir. Ela olha em redor, confirmando que está mesmo sozinha na sua casa. Ela não está. Rodrigo contorce-se nervoso dentro da arrecadação. Helena procura limpar os pingos de café que respingaram na mesa e fecha o livro de contactos. Inspira fundo, volta a pegar na sua mala e acorre a sair novamente de casa. Quando ouve a porta do apartamento bater com estrondo, Rodrigo solta um enorme suspiro. Sandra solta um sorriso malicioso. Ele abre a porta da arrecadação e procura perceber o que pode fazer. Olha para a jovem com um ar de censura. Mas ele próprio sabe que a situação, vista de fora, só pode ter ar de troça. Por um momento, Rodrigo pensa em criticar a sua amante. No entanto, não é a irreverência e ousadia de uma menina que o preocupa. Ele precipita-se para a sala e pega no livro de contactos. Folheia as páginas até encontrar a folha que está manchada. Ele atenta aos nomes que estão inscritos e procura desvendar o que parece mais evidente. Gera-se um silêncio enquanto Sandra se aproxima dele. A jovem ainda tem restos de sémen na sua face meiga. Por provocação, ou meramente por excitação, ela não se dá ao trabalho de limpar. Olha para o seu amante, procurando obter a resposta sobre quem seria o misterioso amante de Helena. Ele já deduziu. Já percepcionou quem é e está abismado com a resposta. Uma tempestade parece invadi-lo. Uma fúria envolve o seu semblante. Sandra percebe que, não obstante a curiosidade, ocupa uma posição delicada ali dentro. Helena pode regressar e ela não quer estar ali caso algo rebente. Aproxima-se de Rodrigo, envolve a mão nas costas dele e entrega-lhe um beijo doce no rosto do amante. Depois, delicadamente, sai do 1º esquerdo. Rodrigo mantém-se em silêncio, agora sozinho. Segura o livro de contactos e dirige-se à janela da sala, por onde se vislumbra a rua do Edifício. Helena volta a entrar no carro que está estacionado quase à porta. Possivelmente irá buscar o filho mais novo. Naqueles instantes intensos e confusos, Rodrigo procura controlar-se. Tenta obter uma solução para o que acaba de ocorrer. Ele não sabe se o que o incomoda é o facto de ter estado a um passo do abismo, ao ser apanhado em flagrante pela esposa, se é a questão da sua esposa ser infiel, algo que ele já sabia de antemão, se é a revelação do amante que ela possui, ganhando um ódio a essa pessoa. Porque naquele instante, Rodrigo tem o orgulho ferido. Reconstitui certos acontecimentos que ocorreram, ali mesmo naquele prédio. Deduz certas acções e reacções, sabendo que nunca ele tinha associado a confrontação. Ele volta a colocar o livro em cima da mesinha e cinge o olhar naquele nome. Mais do que descarregar a sua fúria na própria esposa. Mais do que querer acabar com aquela relação. O sentimento que invade a mente de Rodrigo é a vingança. É sintomático. Quanto mais se tem, mais se deseja. Quanto mais se deseja, maior é a obsessão. Quanto maior é a obsessão, maior é a corrupção da alma e dos seus valores. E enquanto formulava a sua vingança, Rodrigo sabia que estava a vender os seus valores morais a uma cobiça perigosa. Porque ele sabe qual a melhor forma de se vingar daquele homem. Sim, Rodrigo fecha o livro e confirma que se vai vingar do seu vizinho do terceiro andar, Rafael Neves.

domingo

Toda a paixão que ainda existe para contar

Publicado a 06-01-2009
"A vida não é medida em minutos, mas em momentos"
Tagline do filme The Curious Case of Benjamin Button, de 2008, escrito por Eric Roth, realizado por David Fincher e protagonizado por Brad Pitt http://www.imdb.com/title/tt0421715/

O Edifício Magnólia completa no dia de hoje um ano de existência.
A história que, tal como prometido, não era suposto ter um fim, mantém-se viva. A história que ainda gosto de postar e contar, continua a ser uma grande aventura. Faz hoje um ano que se abriu a porta deste lugar que pretendeu trazer uma lufada de originalidade ao mundo da blogosfera, especialmente na temática erótica. Espero, que ao fim de um ano, esse objectivo ainda se mantenha desperto.
Fará amanhã um ano que se deu a conhecer Helena e Rodrigo, o casal mais que perfeito à beira da ruptura. Daqui a dois irão passar 365 dias desde que se cuscou a entrada no seu novo apartamento de Maria José, a professora universitária quarentona, humilhada por vinte anos de casamento. Três dias depois, comemora-se a primeira revelação da vida de Lúcia, jovem universitária que se apaixonou pela sua colega de casa, Tania. Ao quarto dia contado a partir de hoje, irão passar doze meses desde que foi dado a conhecer o lar de Afonso e Laura, um casal de idades distintas mas pensamentos comuns, apaixonados pela partilha. Faltam só cinco dias para celebrar a postagem da novel história de Rafael, um instrutor de equitação, atraente e irresitivel para as suas vizinhas. E ao sexto dia depois da anuidade do blogue, há lugar para felicitar Ana, a deslumbrante acompanhante de luxo que mora sozinha com as suas máscaras. Claro que o Edifício Magnólia também conta as suas histórias no Espaço Magnólia, na garagem, no elevador e na casa das máquinas e no jacuzzi no andar superior, mas é dentro destes seis apartamentos que tem residido a magia destas personagens.
Ao fim de um ano, contaram-se cerca de 20 histórias para cada inquilino. Foram 126 posts em que se procurou ser sempre mais surpreendente na próxima postagem do que na anterior. As opiniões podem divergir, mas na opinião deste humilde narrador, creio que houve um esforço para assim o tentar efectuar. E se o ritmo inicial de postagem era feito com carácter diário, nos últimos meses houve um significativo decréscimo de postagens. Em momento algum, durante este ano, estes doze meses, estas cinquenta e duas semanas, estes trezentos e sessenta e cinco dias, houve alguma procura em desistir. Houve desmotivações, algum cansaço certamente, até um certo desnorte. Mas nunca desistir. Porque o Edifício Magnólia surgiu de uma vontade imensa de narrar ideias íntimas, desenvolver conceitos, expandir a mente. E isso é mais forte do que qualquer desmoralização ou inconveniência material. Adoro fazer isto. Se pudesse vivia disto. Ainda não posso. Mas se pudesse, este era o meu lar, o meu ar. Existem outros projectos paralelos ao Edifício que também necessitam de dedicação, tempo e alguma coragem. Se algumas vezes o Edifício parece esmorecer, isso deve-se às limitações que decorrem de tanto projecto. Mas um desses projectos é justamente este. Por isso, posso certamente dizer que não se prevê que o Edifício vá encerrar brevemente. Não está previsto. Não irá acontecer. O Edifício Magnólia será eterno.
Mesmo para o reduzido número de leitores frequentes que o blogue possa deter, há orgulho no trabalho feito. Imaginava fazer muitos posts. Não julgava era que fosse possível fazê-los. Pressupunha alguns leitores. Não poderia era pedir que fossem tão bons leitores. Desejava manter alguma qualidade e distinção. Não exigia é que ela fosse distinguida. Outros voos foram sonhados. Esses ainda não foram conquistados. Haverá tempo. O Edifício Magnólia quer ser sólido. Quer estabelecer-se e sorrir à surpresas que possam ir aparecendo. Acima de tudo, acredito no produto e é um entusiasmo saber que há mais quem acredite neles. E a todas essas pessoas que nele depositam confiança para cuscar algumas vezes, gostava que pudessem ler este post, numa espécie de agradecimento por, seja de que forma for, se identificarem minimanente com algum aspecto do Edifício.
Naturalmente que um blogue, seja ele de que matéria for, sobrevive e cresce à conta dos visitantes. Quer em número, quer em qualidade. Continuo a não querer 1000 pessoas a saberem que o Edifício existe. Continuo a não querer que 100 pessoas tenham visto o titulo do último post. Mais do que tudo, quero que 10 pessoas, ao fim deste ano, tenham vivido intensamente - como se estivessem dentro do Edifício - pelo menos uma das mais de cem histórias que partilhei. Se isso acontecer, sinto-me reconhecido.
E porque este post de comemoração também é de quem lê, de quem aguarda com expectativa por uma nova história e de quem comenta, também esta "semana" haverá a entrega da já "habitual" Menção Especial Magnolium. Este singelo prémio foi criado para promover a participação de quem sente as histórias do Edifício mas nem sempre tem coragem de comentar ou não encontra algo a dizer. Nem sempre é fácil eleger um bloguista ou um leitor, até porque muitas vezes não é unânime a escolha, ou o legítimo mencionado já foi designado. Não sinto que seja ainda a altura de repetir algumas distinções, mesmo que parecesse justo. Esta "semana", após alguma ponderação, decidi adiar a repetição de uma nomeação, para a entregar a alguém que já há imenso tempo comenta no Edifício e nunca teve oportunidade de a receber. E apesar da Lize ter deixado sempre comentários muito gratificantes, a Menção Magnolium esta "semana" vai para o Shelyak. Porque ele tem sido um dos nossos pioneiros. Porque todos os moradores sabem que ele nutre um carinho especial pelas cusquices que andam aqui dentro. Porque faz sentido dar um pouco do Edifício ao administrador de um blogue, em si dinâmico e original. A Menção Magnolium é-lhe então entregue em nome do Rodrigo e da Helena, os quais o Shelyak tanto estima.
Não há tempo para olhar para trás. Alguns moradores ainda o fazem, alguns querem viver todo o presente, mas a maioria deles olha para o futuro com alguma ansiedade e até desejo. Porque eles sabem que a sua vida transforma-se nos momentos vividos, também eles não querem deixar de partilhar aquilo que sentem, aquilo que vivem, aquilo que ambicionam, aquilo que provam e acima de tudo aquilo que os consome de uma forma demasiado intensa. Novas histórias estão para surgir. Nada se esgotou. Tudo se mantém muito quente. Espero que continue por aqui. Entre nesta rua, espreite pela porta de entrada, se preferir tome um café no Espaço, ou se quiser escolha uma campainha e certamente alguém o deixará entrar. Sente-se, deite-se, ou deixe-se ficar a pé. Devore cada pedaço, delicie-se com cada instante de prazer, guarde cada resto de sensualidade que ainda sobrar. O Edifício Magnólia quer continuar a recebê-lo. Isto ainda não é o fim...