sábado

Consegues resistir à chantagem?

Não é dificil de imaginar dois amigos sentados lado a lado no mesmo sofá. Não é uma situação caricata se a visita de uma das pessoas se prender com a ansiedade de mostrar um álbum de fotografias. Não parece estranho se o anfitrião se mostrar entusiasmado em ver as fotografias. E só quem conhece Rafael e a sua amante Cristina percebe que o pequeno molhe de fotografias reveladas, sobre a última exibição do filho da mulher com um cavalo, é apenas uma desculpa. Uma justificação para que o encontro entre ambos pareça fazer sentido. Mas no fundo, à medida que as fotos vão passando diante do olhar de Rafael, pela mão de Cristina, eles entendem a futilidade da acção que decorre. Sem rodeios. Apenas uma coisa importa.
- Fode-me.
A expressão inusitada de Cristina não deixa o instrutor de equitação atónito. Ele já esperava uma reacção semelhante. Rafael entende que a mulher o deseja e a única reacção que consegue esboçar é um soslaio do olhar e um sorriso presunçoso. A camisola verde azeitona apertada e decotada. O peito levantado pelo soutien. Os lábios a fervilhar. Os dedos a tremer. A fixação nas mãos do amante e não nas fotos do próprio filho. Nada em Cristina passa despercebido. Ela efectivamente deseja o homem. Rafael larga as fotos em cima do sofá, mas imediatamente elas espalham-se no chão. A mão dele segue com empenho para a face da mulher e o beijo intenso demonstra toda a fome que passa por eles. Ele gosta de sentir a pele hidratada da mulher. Consegue perceber o quanto a mulher quer aquele momento. Suga a lingua dela e deixa a sua mão imponente invadir-lhe o corpo. E quando o beijo é definitivo, Rafael sabe que controla a sua amante.
O sofá é pequeno para os dois adultos e as suas posições excêntricas. Cristina está deitada no sofá, com a cabeça apoiada no braço almofadado. É neste tecido que os cabelos da mulher se espalham. A sua garganta já ferve, de tanto gemido que os seus pulmões querem largar. Os seus ombros estão descobertos. Cingem movimentos intensos. O seu pescoço começa a suar. O soutien preto da mulher ainda está preso ao corpo. A alça esquerda está solta, a escorregar pelo braço. Um dos mamilos tenta sair. Sem cuecas, as pernas dela erguem-se. Os pés estão lá bem no alto. Os seus joelhos quase que alcançam o peito. Porque as suas coxas estão apoiadas no peito dele. As suas mãos agarram-se ao cabelo do homem. O seu sexo recebe as penetrações de Rafael. A foda é intensa. É um momento ansiado, mas banalizado com a rapidez com que os dois adultos se despiram e se colaram mutuamente. O anfitrião entra na rata da mulher com vigor, com fome, com penetrações impetuosas que a fazem gemer, que fazem inchar o sexo dele no intimo da mulher casada. O sofá treme. Os corpos explodem de tanto desejo. Cristina sente-se possuida. Sente o corpo do amante a cavalgar sobre o seu. A empurrar o seu corpo contra o braço do sofá. A abrir-lhe as pernas e deliciar a sua rata. Porque Cristina já tinha acordado assim. Com uma súbita vontade de ser comida por aquele sexo. É isso que a traz frequentemente ao 3º esquerdo. Rafael procura baixar-se para provar os seios da sua amante. Mas as pernas levantadas de Cristina obrigam-no a fazer força. Assim, ela puxa uma perna para cada lado e deixa-se levar. A boca dele chupa as mamas da mulher, trazendo o mamilo teso para fora. As mãos de Cristina escorregam pelas costas despidas do homem até alcançarem o rabo. Os dedos dela fincam-se nas nádegas e incitam-no a penetrá-la até ao fim. A foda é precipitada. Quer ser um momento erótico intenso e demorado, mas mediante a ansiedade dos intervenientes acaba por ser uma rapidinha. Rafael faz força com a palma dos pés e suporta a pressão dos dois corpos. Assim que o seu pénis rebenta dentro dela, Cristina vem-se. Ela é mulher saciada. A sua respiração procura controlar-se. Os seus gemidos são decadentes. E tudo nela anseia por um carinho que sabe que dificilmente receberá. Rafael acaba de se deliciar com os seios da mulher. Depois deixa as mãos dela envolverem o seu corpo e fixa o olhar de Cristina. Ela recupera o seu estado normal. Coloca um pé no chão e outro em cima do encosto do sofá. Olha para o amante com firmeza e gera uma espécie de distância.
- Posso-te pedir uma coisa?
- Diz...
- Não mandes a minha sobrinha à merda.
- O que é que eu fiz?
- Por favor, Neves....É só isso que eu te peço.
- Não me posso apaixonar por ela.
- E porque não? Ela é tudo aquilo que podias querer. Linda, sensual, louca na cama, boa companhia, não é burrinha...
- Ela é imatura!....
- E tu não o és?!
- ....Cristina......tu estás a forçar-me a ter uma relação com a Matilde?
- Não! Não é isso....Apenas acho que podias ceder e....
- O que é que tens a ganhar?
- Nada!...Por isso mesmo...
- O que tens a perder? Já sei....Estás com medo....
- Com medo?
- Tens medo que a Matilde possa contar a alguém os amantes que tens....
- Talvez....Talvez não.
- Quem diria....A pedra de gelo da Cristina tem medo de uma garota.
- Cala-te....Tu também tens medo dela.
- Não diria medo....
- Por favor, não a mandes à merda....
- Ela está à vontade...É verdade que a foda é muito boa.
- Sim, é das poucas coisas que fazes com dedicação....É apreciar fodas....
- Vai-te lixar....
- Vou....
Cristina procura desembaraçar-se do corpo do amante. Levanta a perna direita e retira o sexo do homem dentro de si. Senta-se no sofá e procura as suas peças de roupa. De uma forma fria, Cristina levanta-se e sai de casa. Mais uma vez, Rafael fica sozinho. Mas a cada orgasmo, precedido de um momento vazio, o instrutor sente uma monotonia de acções. Mesmo que a foda seja de facto extraordinária.

sexta-feira

É assim que ela acorda?

Bonita. Esconde a rudeza dos anos. Espalha o aroma da sua pele. Descobre a simplicidade do sorriso. Balança a sensualidade da pele desnudada. Maria José acorda esplendorosa. Porque a noite foi intensa e excitante. Porque os sonhos flutuaram na sua cama. Porque a manhã é alegre e solarenga. Porque a companhia que preenche o lado oposto da sua cama é agradável e manteve-se até às primeiras horas da manhã. Acorda com ela. Henrique sente-se em casa. Aquela casa é sua. Ele empresta-a a uma mulher especial. A troco de uma renda e de uma paixão. Nada paga o que aconteceu na noite anterior, mas é assim que ele se sente. Um arrendatário. A mulher não é sua. Nunca lhe pertenceu. No entanto, a sua parceira acordou consigo. Bonita.
Foi uma noite típica. Maria José precisava da companhia do seu cunhado. Um homem sensato, tranquilo e que enchia os vazios da sua alma. Talvez não todos. Mas o que é certo é quando ele estava ali diante de si, Maria José não amargurava. Pelo contrário, a professora torna-se uma mulher viva, confiante e sensual quando aquele homem está presente. Numa companhia algo bizarra, a irmã da mulher de Henrique oferece-lhe um jantar a sós. Macarrão no forno. Que importa o que é a refeição? O vinho branco habitual soube bem. Os olhares misturava-se com palavras intimas e o beijo na cozinha, enquanto Maria José lavava a loiça. E mesmo sendo uma mulher quarentona arranjada, vistosa quanto baste para aliciar um homem como Henrique, a professora transpirava uma sensualidade até com as mãos e os braços envoltos em água. Esse beijo foi um convite mútuo a irem para o quarto, assim que a noite repousava. Na divisão que Henrique cedeu para as noites de nova solteira da cunhada, a cama era acolhedora. Ao mesmo tempo, o aroma que os lençóis expiravam assemelhavam-se a fruto proibido, a desejo irresistível. Peça a peça, ele despiu as roupas elegantes da amante e deu um novo aspecto à mulher. Maria José, nua, quente e suave, só podia entregar-se ao homem de uma forma intensa. Beijos, caricias, apalpões, linguas a circundarem os pescoços, mamilos rosados e rijos por entre lábios masculinos, coxas a roçarem no sexo oposto, ancas entusiasmadas em encontrar a melhor posição, braços a capturar o corpo do parceiro, mais apalpões, mais caricias, mais beijos. Maria José tinha o corpo do cunhado nas suas costas. Colado à sua pele já a suar. As mãos dele cobriam as suas mamas. As mãos dela espalmam-se na parede do topo da cama. Com os joelhos fincados no colchão, o casal de amantes erguia-se num abraço explosivo. O sexo de Henrique roçava as nádegas fofas da professora. Assim. Assim mesmo. O dono do 1º direito penetrou com ligeireza na rata de Maria José e arrancou um longo gemido da boca dela. A inquilina do apartamento do Edificio Magnolia enfeitiçou-se em tal mastro a irromper pelo seu interior. E sentiu-se segura. E sentiu-se possuída. E sentiu-se melhor do que nunca. O seu corpo era pressionado contra a parede. Os joelhos de Henrique pendiam e os dois sexos estimulavam-se em simultâneo. Nos beijos dele no pescoço dela. Na caricia vibrante das mãos do homem nos seios da mulher. Na forma como a pele dos dois adultos se tocavam. Nas respirações que se entrelaçavam entre si. Maria José e Henrique desejavam-se e navegavam fora dali. Esqueciam a postura que os define no dia a dia e extravasavam a sua sede. Tanto. Tanto que aquilo não chegava. A mera estimulação da vagina não deixava a mulher satisfeita. O constante entrar e sair do pénis de Henrique pedia mais. Era um chamamento para que aquilo terminasse de uma forma diferente. A mão dele a escorregar pelas costas macias dela. O indicador a deslizar pela nádega corada de Maria José. Húmido e sereno, o dedo de Henrique estimulou o buraco anal da professora. E depois de uma última penetração no âmago dela, o pénis encharcado entrou com um vigor delicado no rabo de Maria José. Era o auge de uma noite. Era o incendiar incontrolável de uma fogueira que já tinha sido ateada há muito tempo. E tudo o que aconteceu daí em diante alterou a lucidez da mulher. Porque os olhos não voltaram a abrir.
É um acordar diferente. As pupilas dos olhos descolam-se e a sua respiração parece distinta dos dias anteriores. Á pele dela guarda a marca da almofada que lhe guardou o sono. Os cabelos dela estão despenteados mas adornam a face dela como um arbusto podado. Sem perceber porquê, é assim que Henrique vê a sua amante. Ela está em silêncio. A mão dele toca-lhe na face, mas ela não reage. É como um desenho pintado por um artista inspirado. Tudo nela parece belo. Tudo o que exala de Maria José parece divino. Mas é assim que ela acorda. É assim que ele a sente depois de uma noite em que a professora se entregou por completo ao cunhado. A mulher puxa delicadamente o lençol para o lado. O seu corpo ainda está despido. Os seios ainda têm o toque dos beijos dele, o rosado de tanto desejo, a rigidez de tanta tesão. Ela aproxima-se da face dele e entrega-lhe um ligeiro beijo, misturado com um sorriso. É um bom dia gestual. É um bom dia diferente. É bom dia carregado de sede. Maria José sente o corpo carregado de suor. Graciosamente levanta-se da cama, abre os estores da janela e espreita para a rua. Sem receio que alguém vislumbre o seu peito nu. Olha para o seu amante e segue caminho até à casa de banho. Henrique sabe o que vai acontecer. A água da torneira corre no chuveiro. Cedo o vapor quente vai-se espalhar pela pequena divisão. E ele não duvida minimamente do que vai acontecer. E é impossivel recusar tamanha tentação.
Ele vai procurá-la dentro do chuveiro. Onde o corpo de Maria José já escorreu todo o suor da noite anterior. Vai pegar na esponja e vai procurar lavar-lhe o corpo, ao mesmo tempo que a mulher se vai certificar que o sexo dele está lavado e excitado. Os olhares vão-se trocar. Ele vai ficar embevecido com os olhos iluminados da professora, enquanto os joelhos dela flectem. Maria José vai deixar o homem louco de tanto acariciar o pénis entesado, enquanto a água quente do chuveiro corre por entre as pernas dele. Vai chupá-lo com dedicação. Vai-lhe dar a mostrar o desejo da boca dela. Vai encantá-lo com o calor que os lábios dela colam à ponta do seu sexo. E Henrique sabe que vai gemer. Vai acariciar os cabelos loiros e molhados dela. Vai pedir-lhe que não pare. Vai dizer que é fenomenal ser chupado por uma mulher assim. Vai confessar que adora. Que a adora. E assim que tudo estiver encaixado. Assim que ele percepcionar que está a ser chupado ao inicio de uma bela manhã, pela sua cunhada quarentona. Assim que ele inspirar fundo e realizar que tal acontecimento não é fruto da sua imaginação, Henrique vai vir-se.
É dia de trabalho. As rotinas são para se cumprir. Mas há momentos nestes dias úteis em que a mente bloqueia. Pára no tempo. Divaga sobre aquilo que não é normal acontecer no quotidiano. E nesse instante, Henrique reflecte sobre Maria José. Sobre a forma singela, apetecível, sedutora e única como a mulher desperta. É possível ter aquela mulher ao seu lado e sentir que há uma enorme probabilidade de ela poder acordar assim todos os dias? Será que alguma vez ele teria a ousadia de efectivamente se perder de amores por Maria José?

quinta-feira

Esqueci-me mesmo daquilo?

Um beijo. Helena e Rodrigo encontram-se à entrada do Edificio Magnolia. Combinaram à hora certa a troca de carro. Ele já estacionou a carrinha da empresa na garagem, mas necessita do carro familiar para uma reunião com um novo cliente numa das cidades satélite. Assim, Rodrigo aguardou pela chegada da sua esposa no 1º esquerdo e assim que recebeu a chamada de Helena, desceu as escadas. Um beijo. Acompanhado de um sorriso, o beijo que o casal troca é uma espécie de passagem de testemunho. Misturado com um cumprimento intimo. Acarretando uma pequena dose de desejo. Espalhando uma estranha ansiedade entre os dois. Helena entra no Edificio. Rodrigo toma posse do automóvel que pertence ao casal.
Parado no meio do transito, Rodrigo ouve as noticias do dia que a rádio emite e transporta a sua mente para o que acabou de acontecer. Dez minutos antes de Helena chegar à rua do Edificio, a namorada do filho mais velho do casal tinha acabado de sair do apartamento deles. O herdeiro de Rodrigo não estava. Ninguém mais estava em casa a não serem eles dois. O filho mais novo estava na escola. O filho mais velho estudava na biblioteca da cidade. Helena ainda não tinha chegado. Os amantes não resistem. Todas as oportunidades que se apresentam aos dois trazem algo de novo para contar. Em segredo. Foi no quarto deles. No quarto de casal. Intimo e revelador de grande parte da vida de Helena e Rodrigo. Foi na cama. Começou na cadeira onde ele costuma pousar as gravatas. Começou com Sandra sentada no colo dele. A jovem rapariga já tinha retirado as calças de ganga apertadas. E deixá-lo penetrar no seu sexo molhado não custou assim tanto. Mesmo com o tecido da tanga roxa desviada do seu sexo. Era assim que ela se entregava ao pai do seu namorado. Sem hesitações. Com atrevimento. Apreciava as mãos dele no seu rabo, ao mesmo tempo que a face dele já roçava pelo seu topo, apertando o seu peito. Começou na cadeira mas foi no colchão. Foi na cama que Rodrigo consumiu o desejo frenético da jovem que pede sempre um pouco mais de si. Um pouco mais de calor. Um pouco mais de vigor. Um pequeno bocado de paixão. Um enorme pedaço de risco e adrenalina. Porque há sempre uma enorme probabilidade de aqueles momentos intensos, surreais e proibidos, serem descobertos. Toda a relação entre Rodrigo e Sandra tem muitas pontas soltas. Foi no topo da cama, junto às almofadas. A colcha da cama era amarrotada enquanto eles procuravam despir o que era possível. Ele deitou-a de barriga para baixo no colchão e colocou a cabeça da jovem sensual entre o seu travesseiro e o da sua esposa. Retirou-lhe a tanga atrevida com agressividade e atirou-a para o chão, junto à mesma cadeira. Sem perder tempo, enquanto acariciava as nádegas macias, Rodrigo sentou-se em cima da amante e voltou a penetrar, desta vez com firmeza, no sexo de Sandra. O trânsito está complicado. Não deixa o veiculo avançar muito depressa. O tempo para chegar à reunião escasseia. E a sua mente não consegue abstrair-se da intensidade do momento sexual com a namorada do seu filho. Rodrigo procura perceber porque é que não consegue resistir a uma rapariga bem mais nova que ele. E a divagação da sua mente recorda a palma das suas mãos no seios rijos e vigorosas dela. Desenha na sua imaginação cada penetração por trás dela, numa rata que se molhava constantemente. Sandra gemia. Saboreava cada momento. Degustava-o, assim que enterrava cada vez mais a cabeça entre as almofadas. Para Rodrigo sempre foi fácil possuir aquela jovem. De uma forma discreta, ela mesma se torna fácil para ele. Entrega-se de uma forma natural, mesmo sabendo que existe tanta coisa a perder. E naquele instante, naquela cama, naquele quarto, no apartamento de Helena, de Rodrigo e dos seus dois filhos, o corpo de Sandra estava à mercê do empresário. As mãos dela seguravam-se às almofadas rechonchudas, fincando os dedos no tecido. As mãos dele seguravam-se às nádegas excitadas da jovem. E o sexo dele transportava-a vagarosamente para um êxtase deleitoso. Ainda que o trânsito não adivinhe melhoras, é o som do telemóvel dentro do porta-luvas, que desperta Rodrigo, no exacto momento em que ele imagina o orgasmo profundo de Sandra na sua cama e as cuecas excitantes dela. E um sobressalto invade-o.
Helena entra no seu apartamento. O seu passo é rápido. Sabendo que o seu marido e os seus filhos já estiveram em casa antes dela chegar, o mais certo é a casa precisar de uma arrumação. E ainda que ela deseje que tais trabalhos não sejam demorados, Helena é uma mulher prevenida. Abre a porta da casa e olha imediatamente para a cozinha. Surpreendentemente, não existe loiça para lavar. O chão não está sujo. Estão apenas duas peças de roupa em cima da mesa da cozinha, mas tal facto coloca-lhe um sorriso na face. Arruma as peças e segue para a sala. O sofá está desarrumado. O tapete tem algumas migalhas. Estão alguns dvd's espalhados no chão. Quase de certeza que o seu filho mais velho passou ali a manhã. Em poucos segundos ela disfarça qualquer tipo de desarrumação. E na sua cabeça, a ansiedade mexe consigo. Alberto, o cliente do seu marido, o seu cliente, o seu amante das tardes vazias no Edificio Magnolia, está prestes a chegar. Helena aguarda apenas um telefonema que o informe da sua chegada. Claro que ela tem que indicar que é possível Alberto entrar. Mesmo que a casa ainda esteja por arrumar ligeiramente, ela anseia que o amante ligue. Imediatamente. Arruma as almofadas do sofá e imagina que ali será um bom sitio para começar. Sentar-se com Alberto, ouvir as suas palavras estimulantes. Apreciar o sorriso dele. Aguardar que as mãos masculinas invadam o seu corpo. De preferência os seus seios, que estão a arder de desejo. Depois, talvez tudo possa acontecer. Uma caricia ao sexo dele. Um toque elegante dos dedos dele na sua rata. Ela no colo do homem. Quando um sorriso se abre no rosto dela, percebe-se que Helena o imagina a deitá-la no sofá e a trazer-lhe um orgasmo. Mas a sala está muito iluminada. Está muito próxima da porta de entrada, onde qualquer entrada inesperada pode deitar tudo a perder. Helena ergue-se e sai da sala. Vai directamente para o seu quarto. O quarto que partilha com o seu marido. A cama que testemunha a união com o homem da sua vida e que separa a intimidade deles da convivência que tem com os filhos no resto da casa. Esta cama está desarrumada. Pelo menos no ponto de vista de Helena. A cama não está feita da forma como ela a deixou de manhã. A mulher não gosta que desarrumem a casa. Pior ainda, não gosta de sentir a cama remexida. Principalmente quando aguarda por um amante. Estranhamente, Alberto, ainda não ligou. Helena senta-se na cama e ainda que indignada por a cama não estar arrumada da mesma forma como ela a deixou antes de sair de casa, ela infiltra-se na sua imaginação. Depois do sofá. Depois de um beijo revelador. Depois dos corpos já despidos, Helena quer consumir o homem naquela cama. Mesmo que seja por pouco tempo. Ela já sente as suas pernas abertas, com as coxas a pressionar o peito dele. Com o sexo dele a entrar várias vezes dentro de si. Helena contorce-se na cama enquanto imagina tal cena. Cerra as pernas, gozando o calor que já fervilha dentro de si. Fecha ligeiramente os olhos. Morde o lábio inferior e respira fundo. Sim, Alberto vai possui-la. Da forma exacta como ela desenha na sua mente. Mas ele está atrasado. Ele não liga. Algo se passa e os seus olhos abrem-se assustados. Fixam-se na cadeira onde o seu marido deixa as gravatas e vê umas cuecas roxas no chão, junto a uma das pernas.
Rodrigo já segue por um caminho diferente. Conhece um atalho que o retira provisoriamente daquele trânsito. Porque ele tem que voltar atrás. Na sua mão tem o telemóvel da sua esposa que não pára de tocar. Dá sinal de chamada. Cessa. E volta a tocar. Para novamente cessar. E repete o processo. Mas na mente dele, está apenas o facto de ele ter a certeza que Sandra se esqueceu das cuecas no seu quarto, bem perto da cama onde ainda há minutos ele lhe estava dar um orgasmo excepcional. As coisas tremem na cabeça de Rodrigo. A sua esposa está em casa e quase de certeza irá ver aquela peça de roupa interior feminina, que efectivamente, não é dela. Rodrigo respira fundo. O telemóvel toca. É de número privado e ele não atende. Está demasiado nervoso. Não desculpa possível. Não há retorno. Tudo está por um fio.
Helena tem as cuecas na mão. Está ajoelhada no chão e tudo se confundo na sua mente. Alberto provavelmente está a ligar-lhe, mas ela tem a certeza que se esqueceu dele no carro. No automóvel que entregou de mão beijada ao marido. E ele irá ver a chamada. O mais provável é perceber. É entender que Alberto, afinal, não é só um cliente da empresa que eles gerem em conjunto. As cuecas que estavam prostradas no chão, também têm uma justificação. Bizarra. Violenta. Estranha. De algo ela sabe. Aquelas cuecas não são suas. Tudo está por um fio.
Carro em segunda fila. Correria até à porta. Nervos para abrir a porta. Escadas a subir de dois em dois degraus. Abrir a porta de casa e procurar suster a respiração. Rodrigo entra no 1º direito e dá de caras com a sua esposa no corredor.
- Tenho uma coisa para te contar.... - diz ela.
- O quê?!! - pergunta ele assustado.
- Já foste à reunião?
- Não....Estava muito trânsito e....
- Porque voltaste atrás?
- O que tens para me contar?
- Perguntei primeiro.... - diz Helena, procurando manter um ar sereno.
- Deixaste o teu telemóvel no carro....Tocou uma data de vezes e....pensei que fosse importante.
- Quem era?....
- Não sei...Era de número anónimo e não atendi.
Helena suspira. Um alivio atravessa a sua espinha. Com a mão direita, ela recebe o telemóvel na mão, satisfeita por saber que afinal, Rodrigo não sabe que Alberto lhe quer dar uma tarde inesquecível. Mas Rodrigo mantém dentro de si um ar ansioso, nervoso, explosivo. Mas ainda espelha uma face tranquila.
- O que tinhas para me contar, afinal?!.....
- O teu filho.....
- O que tem?.....
Ela abre a mão esquerda e apresenta as cuecas roxas. Por uns segundos, Rodrigo pensa na sua mente a desculpa mais plausível. A que possa trazer menos danos.
- Acho que ele anda a levar a Sandra para a nossa cama.... - diz Helena.
- Uhm?!....Como assim? Porque dizes isso?!
- Encontrei isto junto às tuas gravatas. E tenho a certeza que isto é uma tanga dela.
- Como é que sabes?
- Minhas não são, Rodrigo..... E sinceramente, tem o cheiro dela. Todo o quarto tem o cheiro dela! O quarto dele não deve ser suficientemente grande e ele leva-a para o nosso quarto, a tua cadeira, a nossa cama...Meu Deus...sei lá que sítios mais....
Rodrigo suspira fundo. Ele não se iria lembrar de história melhor. A esposa ilibou-o sem sequer haver uma acusação. Sem sequer ela desconfiar que foi ele que atirou as cuecas da jovem namorada do seu filho para a sua cadeira das gravatas. Inusitadamente, Rodrigo abre os lábios e não consegue disfarçar um sorriso.
- Tu ainda te ris?? O nosso filho traz a namorada para casa e ainda acha que tem o direito de comer a rapariga na nossa cama? Na nossa cama, Rodrigo....
- Eu falo com ele...Pode ser?
- Não, não, não, não...Eu tenho que ter uma conversa a sério com esse rapaz. Sei lá eu que mais maluqueiras ele pode fazer.
- Helena...deixa, eu falo com ele....Isto...Isto é uma coisa normal na idade dele e...
- No nosso quarto, Rodrigo!
- Mas nós também já entramos no quarto dele e.....
Ela silencia. A pecadora penitencia-se. Baixa o queixo e rende-se às evidências. Ainda assim, ambos estão tranquilos, aliviados. O fio não foi cortado. A linha não foi quebrada. Após mais uma insistência, Helena aceita que seja o seu marido a ter uma conversa de homem para homem com o filho mais velho do casal. As cuecas foram surpreendentemente entregues à mão de Rodrigo. Como uma troca. Um câmbio de segredos não revelados. E na iminência de serem apanhados, eles entregaram o ouro ao bandido. Tudo esteve por um fio. Para um lado e para o outro. Mas se o destino existe. Se algo está escrito na história deste casal, tudo isto tinha que acontecer. Rodrigo e Helena são um casal perfeito. Trocam olhares de acesa paixão entre eles. Demonstram a união que segura a família que ergueram em conjunto. Partilham uma carreira, uma empresa, um futuro. E num desejo paralelo, ambos se entregam a amantes escaldantes, a relações proibidas, a segredos perigosos. E ainda assim, conseguem manter tudo por detrás de um espelho. Porque o parceiro não quer ver. E nem os sustos, nem a iminência de serem descobertos por detrás do espelho os leva a mudar de atitude. Tudo está bem. Tudo tinha que estar bem.

quarta-feira

Será possivel guardar um segredo?

A porta do elevador do Edificio Magnolia encerra-se no primeiro andar e segue um breve curso. Dentro da caixa, começa uma conversa entre os dois ocupantes no momento em que alguém carrega no botão do stop.
- Pára com esse sorriso... - diz Lúcia com ar de desprezo.
- Porquê? Vais-me dizer que não gostas.... - pergunta Filipe.
- É presunçoso, é parvo, é muito estranho, é um sorriso de um psicopata...Porque haveria de gostar?
- Porque me queres....
- Por favor!...Filipe....Pára de ter tanta presunção e cai no mundo real.
- Eu noto no teu olhar... Sempre que entro na vossa casa...Sempre que estás sozinha comigo...como agora. Estás nervosa...ansiosa...És capaz de me ignorar só para negares que até gostas de mim.
- Eu não gosto de ti...
- Tu queres-me...
- Eu não te quero...
- Eu sei que o beijo mexeu contigo. Sei que te deixou a noite toda a pensar. Gostaste do beijo.
- Não, não gostei do beijo...
- Preferes a boca da Joana....
- Filipe, tenta perceber isto...Eu não gosto de ti. Não te quero. Não sonho com os teus beijos. Não quero envolver-me contigo. Não quero ir para a cama contigo. E se fosse a ti, começava a pensar seriamente em tirar essa ideia da cabeça.
- Porquê? Isso é uma ameaça?
- Não. Não preciso de ameaçar-te. Sabes bem o que tens a ganhar ou a perder com isto tudo.
- E sou só eu?
- Como assim?
- Achas que consegues esconder, Lúcia?
- Não te estou a seguir.
- Ela pode não perceber, mas até a tua namoradinha de ocasião já o percebeu. Tu queres a Tania.
- Assumes isso só porque sabes que gosto de mulheres...
- Não! É demasiado óbvio. Podes achar que não te conheço. Podes até achar que sou presunçoso. Mas não tentes iludir-me. Tu gostas da Tania e queres levá-la para a cama...
- Pára, Filipe.
- Queres ou não queres? Não lhe queres lamber a ratinha? Não queres fazer aquelas coisas que só as lésbicas acham que conseguem fazer?
- Vais parar?!
- Então? Gostas ou não gostas da Tania?
- És um cabrão. Sempre o soube. Desde o primeiro momento que te vi. És um cabrão. A Tania é que está de facto muito iludida. Mas descansa...um dia...quando menos esperares, ela vai saber.
- És tu que lhe vais contar?
- Porque não?
- Porque sabes perfeitamente que teriamos os dois a perder. Achas que a Tania, uma rapariga que sempre gostou de homens, sempre gostou da forma como eu lhe dou prazer, que abomina a porra da lésbica da novela...que olha de lado para a tua amigazinha...Achas que a minha Tania vai gostar de saber que queres que ela te coma a rata?.....
- .....Sabes onde é que tu erras, Filipe?....Para além de achares que a presunção te faz bem?
- Diz-me, sabichona....
- É teres a convicção que nunca houve nada entre mim e ela.
- Mais depressa me vais pedir a mim para entrar debaixo dos teus lençóis, do que ela aceita partilhar a mesma cama que tu.
- Veremos, Filipe....Veremos....
O botão de stop é pressionado e o elevador retoma a sua marcha até ao segundo andar. Os ocupantes saem para o lado esquerdo e depois dele tocar à campainha, a inquilina abre a porta. Apesar de estranhar a chegada de ambos juntos, recebe-os com dois sorrisos.

terça-feira

Alguém sabe como tudo começou?

A história não começa no 3º direito. A hora tardia que já cai sobre a noite do Edificio não marca o principio dos acontecimentos. Daqueles acontecimentos que fazem questionar a racionalidade de tudo o que se vai retratando. Porque tudo isto tem uma lógica, um seguimento, uma ordem. E a chave para o que agora acontece não foi despoletada no beijo que Ana troca com a sua companhia desta noite. É um beijo intenso. É um beijo desejado. Sabe a tinto, sabe a licor, sabe a muito álcool. É um beijo fogoso, que queima na pele das duas pessoas que engolem a boca do parceiro na breve viagem de elevador até ao terceiro andar do Edificio Magnolia. Mas é um beijo que não começou aqui. Tudo o que este beijo significa é um desejo alimentado horas antes. Longe deste prédio. Longe desta rua.
A noite estava planeada. Muito bem planeada. Ana tinha a máscara nocturna vestida. Ostentava um ar mais fluído, mais extrovertido que numa noite normal de acompanhamento. O seu cliente é uma antiga recordação, dos tempos em que trabalhava no clube. Uma recordação breve, fugaz e não muito apelativa. Não se pode dizer que o homem era mal parecido. Tinha o seu charme, tinha a sua lábia. Tinha lábia a mais. Tinha uma carteira cheia de notas e um sexo vazio de paixão. O cliente de Ana desta noite é um péssimo amante. Vê as mulheres como um acessório e limita-se a receber o prazer que elas lhe possam entregar. A solução é efectivamente uma mão cheia de notas e acompanhantes que estejam dispostas a dar-lhe esse prazer. Numa noite normal, Ana não queria repetir um segundo encontro com este cliente. Mas o convite para uma festa numa quinta dos arredores da cidade, deu-lhe um novo ânimo. Ana não se considera adepta de festas sociais. Não se entusiasma com bonecas que mais do que procurarem diversão, fama, envolvencia com pessoas da alta roda social, tentam encontrar o caminho mais curto para um sucesso ilusório. E Ana desconfia quantos broches é que uma boneca dessas precisa fazer para chegar ao fim desse curto caminho. O seu cliente já lhe explicou. Ele é director de marketing e relações públicas de uma empresa de comunicação social. Mas Ana tem um negócio. A máscara que agora a adorna é um negócio. E o sexo oral e todo o prazer adjacente das suas noites procuram bem mais que a fama. Não. Ana não está ali pela festa em si. A acompanhante tem um fetiche. Jornalistas. A festa tem no seu rol de convidados uma enorme lista de jornalistas que enchem as redacções de jornais e estúdios de televisão. E dos seus tempos de profissional no clube privado de acompanhantes, Ana guarda a memória de noites fantásticas com jornalistas. Não só pelo sexo. Pela forma desinibida de se entregarem, pelo carácter sério mas extrovertido de muitos deles, pela postura deles perante uma mulher que, no fundo, os acompanha. O seu cliente não é jornalista. Longe disso. O cliente de Ana prometeu pagar-lhe ao final da noite três notas grandes pelo acompanhamento. O que o homem se esquece é que Ana não negoceia. Não fala sobre valores monetários. E esse foi o erro crasso do homem que contratou uma acompanhante demasiado especial.
Já era impossivel retirar o olhar. O seu cliente entreteve-se numa conversa longa e aborrecida com um accionista de uma importante empresa na área da televisão. Apesar de ter feito o seu papel e cumprimentado com a elegância exigida as pessoas que se aproximavam do seu cliente, cedo Ana se demarcou daquela atitude de fantoche. E depois de um copo de champanhe, depois de vários passos em redor do jardim onde decorria a festa, Ana cruzou-se com um olhar intrigante mas sensual. Ela conhecia aquele olhar. Não era surpresa o calor que lhe invadiu o corpo, depois de um arrepio na espinha. Ela conhecia-lhe o nome, o sorriso, a voz sedutora, a forma delicada com as suas mãos se movem. E quando os olhares se trocaram, Ana aproximou-se. Chamava-se Elisabete. Jornalista de um canal de televisão, figura presente em algumas emissões, imagem apetecivel a milhares de curiosos telespectadores. Homens e mulheres. E aquele era o fetiche de Ana. Cativar jornalistas. Não importa o género sexual. E para a acompanhante, o processo era simples. Ana tem um instinto natural em lidar com eles. E a própria Elisabete estranhou tal facto. Por estar sozinha, também ela se abriu a uma bela jovem desconhecida. Quem suspeitou da empatia que foi criada entre as duas mulheres, é porque efectivamente, não conhece as reais capacidades de Ana.
O empregado que circulava pelo jardim passou diante delas. Ana fez questão de oferecer champanhe à sua nova amiga. Elisabete não se fez rogada. As maçãs do seu rosto transpareciam a sua sede. A conversa desenrola-se. Parece banal. Mas é uma conversa viva, emocionante, reveladora da aproximação que se gera. Mas no fundo, ambas sentem que ali estão a perder o seu tempo. A troca de olhares que as enfeitiça demonstra isso mesmo. Aquele sitio é falso. Aquele sitio é aborrecido. Aquele sitio não é mais que um ponto de encontro. Elisabete, mulher bonita e misteriosa, elegante e voluptuosa, trintona e madura, dá o primeiro passo. Espalha pelo jardim todo o seu perfume e chama Ana para prosseguir o caminho dela. Para bem longe dali. As duas mulheres já estavam na escadaria do edificio-mor do jardim, quando Ana se lembra que aquela noite tinha um propósito bem diferente. Segurou a mão de Elisabete, trocou brevemente o olhar com ela, pedindo que aguardasse uns momentos. Em passo confiante, dirigiu-se para junto do seu cliente, que mantinha agora uma conversa com duas mulheres fúteis. Ana colocou os lábios junto ao ouvido do homem. E mesmo que ele ficasse surpreendido, não conseguiu esboçar uma reacção perante a decisão da sua acompanhante. Ana cancelou todo o serviço. Sem pagamento, sem nada que pudesse deixar alguém em divida. E desta forma, com uma confiança exacerbada e uma ansiedade a despoletar dentro de si, Ana saiu daquele espaço e voltou para junto da sua nova amiga.
Foi o automóvel luxuoso de Elisabete que levou as duas mulheres para um destino já traçado. Ana sentia que se identificava com a mulher. Não era paixão, nem tão pouco ilusão. A jornalista seria apenas uma mulher que iria completar a sua noite de uma forma bem mais intensa de que o seu cliente poderia transformar. E Ana nem a via como cliente. O carro leva-as pelas avenidas da cidade. Eram notórios os sorrisos, as pequenas palavras que se trocavam, os olhares cristalinos. Era inegável. As mulheres desejavam-se. Porque o pior de ter saído da festa foi o facto de faltar um pouco de álcool, aperitivos e doces, alguma coisa tinha que ser feita para compensar o défice de um sabor doce nas bocas das mulheres decididas. Paragem num posto de gasolina. Ana entrou na loja de conveniência e adquiriu os acessórios de uma noite que prometia. Vinho. Tinto. Chocolates com licor. Cereja. Ana fez questão de abrir as duas embalagens, deixando a condutora sedenta de provar os sabores apaixonantes. Condução segura. A viagem prosseguiu e mais uns minutos elas entravam na rua do Edificio Magnólia. Por esta altura, a mão da jornalista já tinha provado o toque das pernas da acompanhante. Ana suspirou e nem sequer conseguia esconder o quanto desejava a mulher.
A história não começou no 3º direito. Ainda assim, o beijo que elas agora partilham no elevador desvenda uma paixão que agora se incendeia. Mas não é possível deduzir o que Ana disse à jornalista para a capturar nos seus braços. Porque não pode ter partido só de um olhar. Não pode. Ana segura na sua mão a garrafa de vinho tinto e os chocolates com licor de cereja. Elisabete envolve os braços na sua nova amante. Os peitos apertam-se mutuamente e o calor ferve na pele das duas mulheres. Enquanto prova os lábios finos da jornalista, Ana pede-lhe num sussurro que lhe roube as chaves da mala. São os dedos de jornalista que abriu a porta do apartamento da jovem. São as mãos de Ana, que numa ansiedade descontrolada levam directamente a mulher para o seu quarto. Sem rodeios, sem seduções típicas de acompanhante. Aquela mulher é sua.
Despida em cima de uma cama estranha. Reconfortada em braços meigos. Elisabete sente-se uma mulher especial, numa noite diferente. Ela é uma mulher vistosa. O cabelo preto liso e arranjado confere-lhe um ar extravagante. A face morena e revigorante não é divina. Mas o sorriso que está preso à sua face absorve todas as atenções. De estatura média, com uns ombros confiantes, ela apresenta um busto saliente, suave e apetitoso. São duas mamas que descaem pelo seu tronco numa firmeza estonteante. E tudo o resto em Elisabete são curvas sensuais que, efectivamente, deliciam o olhar de Ana. A acompanhante admira o corpo nu da sua amiga. Ela ainda não conseguiu perceber se recebe aquela jornalista como amante ou como cliente. Uma coisa é certa. Depois de despir-se, exibir o seu corpo fulminante ao olhar de qualquer adulto e levar à boca um bombom, de uma forma vagarosa, Ana tem a garantia de que o seu prémio já foi conseguido.
As pernas da jovem a envolverem o corpo da jornalista. Os sexos húmidos a aproximarem-se mutuamente. Os mamilos a tocarem-se e a transportarem arrepios por todos os cantos dos corpos. As mãos da mulher a acariciarem as costas da acompanhante. O pescoço quente de Elisabete. O olhar ansioso de Ana. A raiz dos cabelos pretos da jornalista a suarem. As maçãs do rosto da jovem a ruborizar. Um abraço envolvente e sorrisos. Os corpos nus e desejo. Os dedos de Ana a segurarem um bombom e este a desfazer-se na boca das duas mulheres. É um beijo saboroso. O licor espalha-se nas línguas que se enrolam. O sabor da cereja que escorre nos lábios sedentos. E os olhos cerrados das duas amantes imaginam muito mais que o fervor daquele sabor.
É um trago de vinho. Tinto. Despejado do gargalo da garrafa para os lábios doces de Elisabete. Escorre pelo queixo. Desenha um fio escarlate pelo pescoço suado e viaja até ao vale por entre os seios. Descobre a boca da acompanhante que beija convictamente a pele sarapintada da jornalista. Ana segura as mamas como duas bolas de cristal. Os mamilos quentes de Elisabete adivinham a sede da jovem. Porque ela beija-lhe os seios como se nunca tivesse provado a tentação feminina. Como uma menina que descobre revelações intimas. E os ligeiros gemidos de Elisabete misturam-se no sabor de Baco, na intensidade do chocolate forte. Porque a sua boca engole o licor. E Ana amacia toda a jovialidade das mamas da amante.
Como um rio sem margens. Como água fértil de desejo. A barriga de Elisabete sente o toque tépido do vinho que continua a escorrer pelo seu corpo. Pinga da ponta dos seus mamilos e aterra na testa pálida de Ana. A jovem aprecia os contornos da vagina da jornalista. Pressente as vibrações que os lábios grandes desenvolvem assim que sentem o toque inusitado do chocolate que roça pelo intimo de Elisabete. E enquanto continua a entornar a bebida alcoólica para a sua boca, a mulher, sentada, delira com a boca da acompanhante a lamber-lhe a rata. Uma língua aguçada, uma vulva esfomeada, licor misturado no vinho. É uma explosão de sabores que brota na boca de Ana.
Os olhares voltam a trocar-se. Criam uma sintonia sinistra, tendo em conta que as mulheres se conhecem há um par de horas. Ana já lhe conhece os traços. Elisabete tem consciência do seu desejo intimo. E a cama tem espaço suficiente para as mulheres se estenderem. As pernas dobram-se ligeiramente e abrem-se a uma largura suficiente para deixar espaço à amante de se colar ao sexo. As mãos fincam na colcha, seguram a força dos braços que fixam o corpo na diagonal. Os peitos de ambas as mulheres ardem, mas no seio que une as ratas de Ana e e Elisabete, há um vulcão que explode constantemente. É uma erupção que é despoletada pelo chocolate que derrete por entre os lábios vaginais. E Elisabete volta a gemer. A sua pele liberta o suor de tanto prazer. Ana liberta o seu corpo. Porque a noite não estava planeada assim. Um serão seco, em que o prazer tinha que ser procurado, dá lugar a uma fantasia que acontece. Que se desenha na mente de Ana e se materializa numa mulher fogosa, diante de si.
A jornalista jamais o poderia imaginar assim. Um corpo feminino. Nu. Deitado na cama. Pernas abertas. Pele sedosa a vibrar. E uma intensidade que lhe é entregue só assim. A experiência lésbica de Elisabete revela-se um acontecimento maior do que a sua imaginação conseguiria transformar. Mas a sua calma, a sua postura, a sua experiência de uma área tão comunicativa, leva a mulher a continuar a paixão. As suas mãos delicadas e vividas roçam nas coxas da acompanhante. Os sorrisos espalham-se pela cama. Entrelaçam-se nos gemidos incessantes de Ana. Os corpos estão envoltos em vinho, suor, licor, chocolate e fluidos íntimos. Os corpos colam-se. Os corpos estão pegajosos. Mas a loucura que invade as duas mulheres não as impede de experimentar os sabores que estão ao dispor delas. Elisabete retira o penúltimo chocolate da caixa, desembrulha-o e mostra-o à sua amante. Ana acaricia os seus seios, aguardando pelo prazer absoluto. Elisabete leva o bombom aos seus lábios e dá um trincada ligeira. Retira-o novamente da boca e depois de se encostar ao espaço por entre as pernas da jovem, abre o chocolate, com se de um ovo se tratasse. A três palmos do ventre de Ana, a racha no chocolate deixa passar o liquido, que cai um pouco acima do clitóris da acompanhante. E o licor é uma ignição no intimo de Ana. Incendeia a pele sensível, estilhaça os nervos no seu interior e faz entrar em combustão a mente dela. Gemidos seguros pelos lábios. Gritos soltos pela garganta. Respiração descontrolada no peito da jovem. Dedos da mão esquerda da jornalista no brinquedo de desejo alheio. E o licor flui por entre as paredes vaginais como lubrificante. E Elisabete delicia-se com tal sabor. E Ana deixa de ser acompanhante. Veste a sua máscara diária e entrega-se à mulher como uma jovem que apenas quer gozar e partilhar o seu orgasmo. Os dedos dela apertam as suas mamas pegajosas, de forma a resistir à explosão que o seu corpo liberta. Tudo nela estilhaça. Todas as energias confluem na rata dela, que é lambida pela boca de Elisabete e molhada com os bombons apetitosos. E quando os seus pés fincam no colchão e fazem elevar as suas ancas, deixando as nádegas húmidas de suor à mercê das mãos da jornalista, tudo cede. Ana vem-se. Ana entrega o seu orgasmo à mulher que apareceu na sua noite de trabalho. Ana espalha o seu prazer pela cama que testemunha tantas noites confiantes com clientes. Com aquela mulher, Ana está desprotegida. E vem-se.
Não era suposto ter acabado assim. O plano seria sair aborrecida da festa, trocar umas palavras banais com o director, beijá-lo no carro, subir com ele para o seu apartamento, galanteá-lo na sala, ser galanteada, esperar um pedido mais ousado dele, ser comida com ele, procurar um orgasmo, esperar que ele pedisse para sair, espreitar o envelope branco. Até despir a máscara nocturna. Mas com aquela mulher a repousar ao seu lado, por debaixo da colcha suja de licor, chocolate e vinho tinto, ela está confusa. Não sabe quando deixou de ser acompanhante. Não sabe se o deixou mesmo de ser. Não sabe se Elisabete percebeu que ela era prostituta. Não quer que a mulher a veja como uma puta. Porque a noite foi intensa, foi diferente, foi inesperada. E no meio de uma enorme dose de paixão, de um trago de carinho, de uma dentada de desejo, Ana quer adormecer com a sua conquista até amanhecer.
- Acordas comigo amanhã? - pergunta Ana.
- Não sei. Queres que eu acorde?
- Era a única coisa que te podia pedir.
- O que me queres pedir mais?
- Nada....Apenas que me dês o resto desta noite.
Elisabete sorri. Um sorriso supremo. Terno. Meigo. Apaixonante. Assim que os olhos lhe pesam, assim que ela fixa a imagem da jornalista, da mulher fogosa ao seu lado, deitada na sua almofada, Ana hipnotiza-se em pensamentos indefinidos. Elisabete é a mulher que lhe vai preencher os seus sonhos. E tê-la ali despida, húmida e satisfeita é mais do que um prémio para a jovem acompanhante.
Um envelope branco. O sol a despontar nas brechas da janela do quarto. Um acordar vagaroso e diferente. A luz bate na testa de Ana. Ela desperta os olhos e imediatamente roda a cabeça. A sua companhia não está. Elisabete saiu. Em silêncio. Vagarosamente. Secretamente. Por um lado, Ana já estava à espera de tal atitude. O envelope branco em cima da mesinha de cabeceira, preso ao último bombom com licor de cereja é que a surpreende. O olhar fixa-se no papel, não querendo acreditar que Elisabete lhe quis pagar. Como sabia ela do envelope branco? A jornalista sempre soube que ela era acompanhante? Isso mudou algum sentimento na noite de ontem? Os seus dedos sujos abrem o envelope. Lá dentro estavam a maioria das suas respostas. Uma nota grande. Um bilhete. "Eu sou casada e tu és linda!" E apenas sobra uma sensação estranha de por uma vez, não querer ser acompanhante. A história não começou no 3º direito. Foi despoletada quando Ana ofereceu um copo de champanhe e um aperitivo a Elisabete e confessa "Não vejo a hora de sair daqui". E a melhor resposta que obteve foi "Comigo?"

segunda-feira

Estão sozinhos?

No topo do Edificio Magnolia, o terraço comum a todos os inquilinos tem estado impraticável. As obras já decorrem há algum tempo e muitos dos moradores já não vêm a hora do fim. Uma mistura de aborrecimento com ansiedade. E a expectativa do fim dessas obras deixa qualquer um dos inquilinos com curiosidade. Por vezes é possivel ver um dos elementos que reside neste empreendimento a dirigir-se ao terraço e espreitar o que já está feito. No entanto, é preciso espreitar com atenção. A esta hora da noite, é bem provável encontrar alguém que não pretende ser visto. Pelo menos ali. Pelo menos assim. Pelo menos, não da forma como Laura e Afonso se mantém. Depois de jantar, depois de convencerem a menina a ir deitar-se, depois de todas as tarefas domésticas realizadas, o casal escondeu-se no terraço, invocando a desculpa perante a filha de Laura que iam estender uma enorme peça de roupa. Falso. Extremamente falso. Desde o inicio das obras que ninguém ousou a estender roupa naquele espaço. Ainda que não seja impossivel perceber que eles estão ali. Ainda que uma mente perspicaz consiga raciocinar o que eles possam estar a fazer, Afonso e a sua namorada resguardaram-se num canto que lhes permite percepcionar se alguém subir o último lance de escadas do Edificio Magnolia. Apenas, só apenas aqueles que despertarem a sua curiosidade através da porta de ferro, conseguem descobrir o casal. Laura está sentada no colo de Afonso. As calças de ganga dela já não se agarram à cintura. O mesmo sucede com as cuecas brancas. De costas para o namorado, ela senta-se sobre as pernas dele e sente o sexo do parceiro a roçar nas suas nádegas.
- Tens que entrar rápido...Não quero que apareça ninguém... - diz Laura.
- Achas que eu quero?
- Não sei....Se calhar excitava-te que algum dos vizinhos entrasse...Gostavas que ela entrasse?...
- Talvez....Agora não....Agora quero-te....
Afonso segura as ancas da namorada. Tem o sexo excitado e o olhar direccionado para o espaço quente entre as nádegas dela. Depois de se certificar que ninguém os possa ver fora do perímetro do terraço, depois de se concentrar nos sons em redor, Laura entrega-se. Faz força nos joelhos e ergue-se ligeiramente. Com três dedos, ele ajeita o seu pénis e escorrega-o pela pele da sua namorada. Quando a mulher sente a ponta da picha a roçar os seus lábios vaginais, volta a impulsionar o seu corpo para baixo. Senta-se no colo dele, deixando o pedaço de carne deslizar pelo seu intimo. Ela segura as mãos aos joelhos e ele começa a puxar a camisola dela para cima.
- Ohhh....siimmm....Afonso...temos que ir até ao fim...ouviste?
- Sim....Abraça-te a mim.
As ancas de Laura movem-se para cavalgar sobre as coxas de Afonso. É evidente a excitação entre os dois. Corre uma brisa fresca, mas mesmo assim ele puxa um pouco mais a camisola da parceira e vagueia as mãos até ao peito de Laura. Afonso envolve o corpo da namorada. E mesmo que suporte sobre as suas pernas a mulher que ama, o facto de ter o seu sexo enterrado na rata dela, estimula o jovem para fazer força nos joelhos e incitá-la a saltar com mais força. O abraço vai acontecendo. Transforma-se. De uma forma que só eles sabem conceber. Num jeito que os aproxima mais do que nuca. Mesmo que seja um sitio inusitado. Mesmo que haja um enorme risco de alguém aparecer e confrontá-los. Ou quem sabe, alguém estar a espreitar.
- Era aqui que a querias foder...uhm? Era aqui, amor?
- Não....era ali, junto ao parapeito....ohhh....
- Uhmmm!!!!...Isso agrada-me...ah...oh, estás a saber bem!
- Gostas?....Gostas que te foda assim?....É louco, não é?
- Ohhh... é...mor... uhmmm...fica atento..ohhh.... excitava-me...uhmmm...se aparecesse alguém...
Ao ouvir os desejos da sua namorada, Afonso cola a cabeça às costas da namorada, aperta as mamas com um pouco mais de força, mas sempre carinhosamente e empurra o corpo dela contra a sua cintura. Procura fazer mais força nos joelhos, acelerar o ritmo das penetrações e entrar bem fundo nela. Ao mesmo tempo que se delicia com a rata de Laura, tenta tornar aquele momento numa rapidinha imperceptível a um prédio inteiro. As pernas dela abrem-se um pouco, para deixar o sexo do parceiro escorregar com mais facilidade. Desta forma, própria clitóris de Laura se sente estimulado. Eles não estão nús. As calças de Laura estão presas às suas coxas e Afonso praticamente só tirou o sexo para fora. Ainda assim, uma volúpia carnal invadia-os. E essa intensidade é estimulada pela adrenalina de saber que a qualquer momento alguém pode ver. Laura vai cerrando os olhos, excitada com cada penetração do seu namorado. Ainda assim, quando ela os abre, o seu olhar foca-se no prédio em frente, onde há uma luz que acende e desliga frequentemente. Talvez seja um candeeiro. Talvez seja a luz de uma casa de banho. Talvez seja alguém que ainda não quis acreditar que os vizinhos estão a foder num terraço, pouco depois da hora de jantar.
- Vais-te vir? Vais, amor?...Vem-te! Vem-te dentro de mim...Estás a pôr-me louca...
- Ohh...uhmmm...eu quero que gemas...eu quero saber que alguém ouviu....
- Não queres nada...uhm...ohh...tu só estás demasiado teso...e não queres que ninguém oiça....
- Ahhh...eu quero que os vizinhos daquele prédio oiçam....eu quero que ela oiça....
Ela salta. Cavalga sobre o namorado e sabe que tudo vai ceder. A luz no prédio em frente finalmente desligou-se. O som dos movimentos da rua do Edificio também parece ter-se desligado. Porque tudo se dissipa quando Laura e Afonso se vêm em conjunto. Ele liberta-se para dentro dela. Veemente. Com uma intensidade que o obriga a abraçar-se com mais força. Aperta os braços no tronco dela, enche as mãos com os seios redondos de Laura. E a sua namorada geme. Procura resistir e evitar soltar gritos comprometedores. No entanto, a sua tesão é mais forte que a sua própria vontade. A estimulação da sua rata e o liquido escaldante dentro de si, transportam um enorme sentimento de loucura pelo corpo de Laura, até alcançar os pulmões. As bolas de ar atingem um limite máximo e querem explodir. O orgasmo é libertado como um vulcão. Neste caso, um vulcão sonoro. Todo o corpo da mulher vibra, ao mesmo tempo que Afonso procura introduzir o sexo até ao ponto máximo. Quando o poder da explosão carnal os devora, eles cedem. Laura pára de saltar e deixa-se estar sentada em cima dele. Afonso beija a pele das costas da sua namorada e deixa cair as mãos por entre as pernas da mulher.
- Vais chamá-la?
- Uhm...vou...
- Vais fodê-la aqui?
- É isso que queres?
- Ohhh...foi isso que me fez vir.....
Talvez alguém viu. Possivelmente alguém ouviu. Existe uma hipótese de alguém ter percebido quem estava no terraço e o que estavam exactamente a fazer. Inclusivamente ela. De qualquer forma, eles gozaram. Aproveitam aquele momento e cedo vão voltar à rotina familiar. Mas num banco improvisado junto ao gradeamento que define a área da zona em construção, Laura e Afonso exprimem toda a sua loucura. E já nem sequer importa se junto ao portão de acesso ao terraço possa estar efectivamente alguém. A linha ténue entre desejo, fantasia e poder estimula-os ao ponto de nem eles percepcionarem se estão sozinhos.

domingo

Venha espreitar esta tentação

"Basta provar uma vez"

Tagline do filme Chocolat, de 2000, com Johnny Deep e Juliette Binoche http://www.imdb.com/title/tt0241303/

As revelações já não são segredo. Essa caracteristica intrinseca da revelação dissipa-se a cada dia. Quando se espreita num apartamento suga-se algo profundo. Quando se ouve o que os inquilinos confessam, algo inebriante transparece das paredes do Edificio. E tudo o que está para vir só pode trazer pedaços de revelações já esperadas. Porque tudo o que aqui é contado é uma sucessão lógica de acontecimentos. E o mais certo é haver palpites certeiros por parte de quem visita frequentemente o Edificio. Mas atenção. Nem tudo o que parece, o é verdadeiramente. E as novas revelações que se aproximam, serão mais surpreendentes do que possa ser esperado. Criar suposições sobre o que acontecerá na vida destes inquilinos poderá ser precipitado. Sonhar com o que estará para vir será pura ilusão. Porque as histórias que se vão tatuando nas paredes destes apartamentos voam mais alto que qualquer fantasia que neste segundo possa estar a construir na sua mente.
E o mais surreal é que essas revelações, essas histórias irão ser relatadas em pequenos pedaços da vida destas personagens. Mais do que nunca, entrar no Edificio Magnolia será como espreitar secretamente pelo buraco de uma fechadura. Num pequeno espaço de tempo, de uma forma que o vai fazer sentir-se intruso. Experimente. Torne-se ousado. Seja célere. Quando começar a espreitar, a revelação pode já estar a decorrer. Resta-lhe tentar imaginar porque é que tudo aquilo começou. Seja paciente. O buraco da fechadura pode ser mais estreito do que a fantasia. E se não conseguir espreitar tudo, imagine. E ainda que o pedaço revelado deixe um sabor na boca a pedir por mais, fica a certeza que despertará desejos na curiosidade dos visitantes. Por isso, se lhe parecer que lhe foi oferecida uma pequena porção de chocolate, na verdade perceberá que foi você que conseguiu roubar uma tablete inteira. Apenas um conselho, tenha cuidado com a gula. Poderá ser viciante.
Esta semana está a ser feito um esforço para terminar a obra no topo do Edificio Magnolia. De acordo com o que foi estipulado, preve-se que ela termine o mais depressa possivel e que esteja disponivel para todos os inquilinos e até visitantes no espaço de alguns dias. Nas suas próximas visitas, olhe bem para o chão, olhe bem para as paredes. Tenha cuidado nos corredores. Não tropece em nada, não se magoe. É possivel que haja espaços indisponiveis. Tenha efectivamente muito cuidado quando está a espreitar. Esperemos contudo, que tais obras não lhe criem inconveninetes na sua curiosidade em espreitar as revelações. Estará a indagar que obra é essa e porque é que é tão relevante na vida do Edificio. Pois então, mais uma vez, a curiosidade aguça o apetite. Aguarde para ver a obra que irá mudar o quotidiano dos habitantes do Edificio. Mais do que alguma vez pôde imaginar.
Prove.
Delicie-se.
Volte a provar.
E ceda à tentação.
Porque o pecado não mora ao lado.
Vive aqui mesmo, no Edificio Magnolia.