As panquecas com bola de gelado estão apetitosas. Clarisse já sugeriu a Rafael para provar o novo recheio de morango. Mostrando uma postura distante em relação à funcionária que o recusou há bem pouco tempo, o instrutor de equitação prefere confiar no que diariamente lhe serve de lanche. No Espaço Magnolia entardece. Ainda assim, é agora que começam a chegar os melhores clientes. Rafael está sozinho. No final de mais um dia de trabalho, ele cede à tentação de uma guloseima. Deliciosa, como a casa sempre oferece. Cremosa e reconfortante para o estômago, como ele prefere. Infiltrado no sabor requintado de tal lanche, o homem só se apercebe alguns segundos que o seu telemóvel toca.
"Número desconhecido. Atender?"
- Estou?
"- Rafael?..."
- Quem quer saber?
"Não reconheces a voz?"
- Teria que reconhecer?
"- Claro...não são todos os dias que uma mulher se confessa apaixonada por ti."
- ....Matilde.
"- Boa!...Sempre és perspicaz. Como estás?"
- Estava bem...
"- E agora, não estás melhor?"
- Depende da perspectiva.
"- Estás a dar-me com os pés?"
- Porque haveria de estar a dar? Tenho algum compromisso contigo?
Um silêncio invade a linha. Matilde é a sobrinha de Cristina, amante do professor. Jovem, atrevida e destemida. Os seus vinte e um anos não a deixam sucumbir perante a maturidade dele. No entanto, Rafael é mordaz. Frio e mordaz.
- Porque é que me estás a ligar?
"- Tinha saudades tuas....Queria saber se tinhas saudades minhas..."
- Como é que arranjaste o meu número?
"- Fácil...a minha tia guarda os números de telefone dos amantes na agenda."
- O que é que queres, Matilde?
"- Quero-te a ti...."
- Já falamos sobre isso.
"- Estás a voltar a dar-me com os pés."
- Matilde...aquilo que aconteceu, aconteceu...Nada mais...
"- Nada mais?...Fodes comigo e nada mais?"
- Foste tu que quiseste!
"- Não gostaste?"
- Isso não interessa!
" Gostaste de me foder, ou não?"
Há pessoas que se sentam na mesa ao lado dele. A conversa telefónica inesperada está a alongar-se. Rafael está incomodado. Clarisse passa à sua frente e ele levanta a mão, querendo pagar, querendo sair dali. A funcionária ainda vai atender mais um cliente, mas ele já está levantado.
"- Rafael...Então?...Sou uma foda assim tão má?"
- Não, não és....
"- Vais dizer-me que irias recusar uma repetição?"
- Sim...não...uhmmm...não sei, Matilde!
"- Onde estás tu?...Onde estás tu agora, Rafael? Quero saber."
- E o que tens tu a ver com isso?! Estou ocupado.
"- Estás?...Rafael, pergunta-me onde estou agora."
- Não vou entrar nesses teus jogos de menina, Matilde.
"- Tens mesmo a certeza que não queres saber? Não queres saber o que estou a fazer?"
Rafael ouve uma respiração mais vagarosa da sobrinha da sua amante. Ele já pagou e troca o passo até à saida do Espaço. A conversa torna-se mais intesa, mas também mais perigosa.
- Onde é que estás, Matilde?....
"- Uhm...Cheguei agora a casa. Já me despi....Vesti os boxers...só..."
- O que estás a fazer?
"- Adivinha...Adivinhao que faz uma menina como eu, deitada na cama, com a mão dentro dos..."
- Matilde...achas mesmo que eu me deixo levar por uma fantasia?
"- Só acreditas que é fantasia porque queres!....Achas que estou a brincar?...."
- Não...acho que não, Matilde....Acho mesmo que não.....E mais?
Ele está perdido na conversa. A jovem conseguiu encantá-lo, encaminhá-lo pelas suas palavras doces. Mais uma vez, Rafael deixa-se manipular por uma mulher. A seu favor. Ele entra no Edificio e aguarda que o elevador chegue.
"- Mais?!...Estou à tua espera."
- Não podes estar. Tu estás em casa e eu não posso ir ter contigo. Noutro dia, Matilde.
"- Agora, eu quero que me comas agora!"
A porta do elevador abre-se. Ao mesmo tempo, Ana, a vizinha dele entra com ele no cubículo. Um pequeno olhar serve de cumprimento. Mais nada é dito entre os dois inquilinos que vivem no mesmo andar do Edificio Magnólia mas pouco se suportam mutuamente. Olham ambos em frente, sem cruzarem o olhar. A porta do elevador fecha-se.
"- Diz-me que me queres, Rafael!"
- Agora não posso.
"- Diz-me...tem que ser agora....Diz-me."
- Acredita que não to posso dizer.
"- Se não me disseres agora, desligo. Desligo e faço a minha fantasia sozinha. Queres-me ou não?"
- Não posso!
- Não posso!
"- Fode-me, Rafael...Eu quero que me fodas. Diz-me que queres!...Rafael...diz que queres foder-me!"
Por uns segundos, Rafael respira fundo. O seu olhar desvia-se de soslaio, com a pretensão de perceber o quão atenta a sua vizinha acompanhante possa estar. A conversa entra num outro nivel. Onde ele já perdeu o controlo e está excitado.
"- Diz-me que queres!...Rafael...diz que queres foder-me!...Queres foder-me?"
- Sim, eu quero foder-te!
Ana levanta firmemente o olhar. Momentaneamente, aquela frase - dita com todas as letras cheias - dispara a sua atenção. No entanto, imediatamente, ela volta a baixar o olhar, percebendo que aquela frase não era para si. O incómodo invade aquela pequena caixa, ocupada por duas pessoas que entram em choque. Rafael liberta um pequeno sorriso. Deu-lhe gozo dizer aquilo. Não por ser para Matilde, não necessariamente por ansiar naquele instante a jovem. Acima de tudo, deu-lhe gozo experimentar algo diferente, algo ousado e ainda assim, tão simples. O facto de ser a sua vizinha a ouvi-lo dá-lhe uma satisfação mais regozijante.
"- Ainda bem....Vês, não custa assim tanto...E o que me queres fazer agora?"
- Como assim?
"- Estou deitada na cama...Tenho a mão na......Tu sabes....E está tão quente...Tão frágil."
A porta do elevador abre-se. O ascensor está agora no terceiro andar. Ana procura sair ansiosamente deste filme. Ainda assim, Rafael corta-lhe propositadamente a passage. Vagarosamente, ele sai do elevador.
- Gostava de te lamber....Provar-te...
"- Uhm...Estou a tocar-me, Rafael..."
- E estás a gostar?
Finalmente Ana consegue sair dali. Com algum nervosismo, entra em casa e fecha apressadamente a porta. O descaramento do seu vizinho é o espelho da sua personalidade. Rafael fecha-se dentro do 3º esquerdo. O espaço pertence-lhe. A conversa agora pode tomar o rumo que pretende. Entra na casa de banho e abre as calças.
- Diz-me...estás a gostar?
"- Ohhh...sim...estou a gostar imenso....O que farias, depois de me lamber?"
- Entrava em ti...
"- Logo? Uhm...Entravas em mim até ao fundo? Até eu gemer que nem uma louca?"
- Sim...
"- Deixavas-me continuar a tocar-me?"
- Quando eu entrasse em ti, segurava-te as pernas enquanto tocavas o clitóris...
"- Como estou a fazer agora?...."
- Sim, mas com mais força...
"- Uhmm...eu sei que estás aqui...eu sei que me fodes na minha cama....oh, sim...eu sinto isso...sinto-me a gemer enquanto o teu sexo me enche...e me come...e...ohhh..."
- Estás molhada?
"- Sim, Rafael, estou tão molhada..."
- E imaginas a tua rata encharcada a molhar o meu pau?
"- Claro que sim....Fodes-me tão bem...oh, Rafael...fodes mesmo bem..."
Enquanto Rafael se vai despindo junto à banheira, Matilde está do outro lado da linha. Excitada e a masturbar-se. Louca e com os dedos espalhados pelo seu sexo. Os gemidos que ela solta fazem o instrutor imaginar. Pressupor mentalmente como seria comer aquela jovem atrevida na própria cama dela. Segurar-lhe as pernas bem alto, bem abertas, com o intimo totalmente oferecido a si.
- Sentes-me dentro de ti?
"- Sinto...ohhh...."
- Sentes o meu pau? Consegues senti-lo?
"- Não!..."
- Não?!.....
"- Não!... Ohhh...toca-te...por favor...oohhh... Rafael... quero que te toques... quero que batas uma...agora!"
Rafel silencia por uns segundos. Ele está efectivamente nu. O seu sexo está realmente entesado. A excitação que percorre o seu corpo precisa necessariamente de ser solta. O inquilino entra dentro da banheira e esfrega o sexo.
- Ele está teso, Matilde....
"- Já estás a tocar-te?"
- Sim...estou a esfregá-lo...como se estivesse dentro de ti.
"- Uhm... que bom... fode-me...esfrega como se estivesses dentro de mim... como se me comesses... oohh...não pares..."
- Gostas que eu te coma?
"- Oh, sim...adoro!...Não pares...não quero que pares até te vires...."
Com uma mão, Neves segura o telefone bem junto à orelha. Ouve os gemidos finos mas intensos da sobrinha da sua amante. Com a outra mão, o homem masturba-se progressivamente. Esfrega o sexo, fecha os olhos e imagina a situação que poderia estar a viver com a jovem presunçosa. Mutuamente, o desejo e o prazer surreal envolve-se por uma linha telefónica. Ele sente o coração a palpitar, as pernas a tremer e o sexo a ebulir. Ao mesmo tempo, desenvolve na sua mente a excitação que Matilde possa estar a ter do outro lado da linha. Mais uns segundos e ele vem-se, acompanhado de um telefone.
"- Ohh...Rafael, estou tão molhada....sentes-me?...Sentes-me a gozar no teu sexo?....ohhh..."
- Sim...ohhh....sim, Matilde...vou-me vir...ohhh...vou-me esporrar todo em ti..."
"- Não....porra, não!!...Eu quero que saias."
- Porquê?!!...Não...deixa-me foder-te....deixa-me encher-te Matilde...
"- Não!...Quero que te venhas na minha boca...Quero que me deixes provar a minha rata no teu sexo..."
- Sim..ohhh...chupa-me todo...sabe-te bem?
"- Sabe tão bem...provo os meus liquidos...ohhhh....Rafael!"
- Estou-me a vir...ohhh...sentes?...
"- Vem-te....enche a minha boca....ohhh...simmmm....."
O homem segura com ligeireza o telefone. A sua mão esquerda está a tremer. A sua mão direita agarra o seu sexo com firmeza, com vêemencia, com a sensação quase real de que se está a esporrar para a boca da jovem. E na verdade, é essa a sensação que Matilde guarda do outro lado da linha, enquanto se ouvem gemidos abafados.
"- Rafael...ohhh...é bom..uhmmm..."
- Provaste?
"- Sim..uhmmm....estou a chupar os dedos...uhmmm...sabes bem...sabes tão bem..."
- Gozaste?
"- Tanto...Eu quero-te....Vem cá, Rafael..."
- Hoje não...
"- Quando?!"
- Assim que tiver a certeza que te posso comer...sem te quereres colar a mim...
"- Isso não pode ser. Estou perdidamente louca por ti, Rafael."
- És louca, Matilde. És uma menina imatura, inconsciente e....
"- E no entanto, foste tu que me fodeste ao telefone..."
- ...E incrivelmente tesuda e...
"- E tu queres-me, Rafael."
- Vou desligar...
"- Não..."
- Vou tomar banho, limpar-me e vou jantar.
"- Vem ter comigo."
- Hoje não.
"- Vai-te foder."
"Chamada terminada"
A jovem desliga o telefone na cara. Rafael larga um sorriso. Tal como sempre, ele acaba por largar aquilo que saboreou. Mesmo que seja de uma forma diferente. Mesmo que uma linha ténue e invisivel os separe, ele saborearam um prazer surreal. Ele pousa o telefone no lavatório, próximo da banheira, fecha a porta do poliban e abre a torneira da água.