sábado

A mão que baila na imaginação

As panquecas com bola de gelado estão apetitosas. Clarisse já sugeriu a Rafael para provar o novo recheio de morango. Mostrando uma postura distante em relação à funcionária que o recusou há bem pouco tempo, o instrutor de equitação prefere confiar no que diariamente lhe serve de lanche. No Espaço Magnolia entardece. Ainda assim, é agora que começam a chegar os melhores clientes. Rafael está sozinho. No final de mais um dia de trabalho, ele cede à tentação de uma guloseima. Deliciosa, como a casa sempre oferece. Cremosa e reconfortante para o estômago, como ele prefere. Infiltrado no sabor requintado de tal lanche, o homem só se apercebe alguns segundos que o seu telemóvel toca.
"Número desconhecido. Atender?"
- Estou?
"- Rafael?..."
- Quem quer saber?
"Não reconheces a voz?"
- Teria que reconhecer?
"- Claro...não são todos os dias que uma mulher se confessa apaixonada por ti."
- ....Matilde.
"- Boa!...Sempre és perspicaz. Como estás?"
- Estava bem...
"- E agora, não estás melhor?"
- Depende da perspectiva.
"- Estás a dar-me com os pés?"
- Porque haveria de estar a dar? Tenho algum compromisso contigo?
Um silêncio invade a linha. Matilde é a sobrinha de Cristina, amante do professor. Jovem, atrevida e destemida. Os seus vinte e um anos não a deixam sucumbir perante a maturidade dele. No entanto, Rafael é mordaz. Frio e mordaz.
- Porque é que me estás a ligar?
"- Tinha saudades tuas....Queria saber se tinhas saudades minhas..."
- Como é que arranjaste o meu número?
"- Fácil...a minha tia guarda os números de telefone dos amantes na agenda."
- O que é que queres, Matilde?
"- Quero-te a ti...."
- Já falamos sobre isso.
"- Estás a voltar a dar-me com os pés."
- Matilde...aquilo que aconteceu, aconteceu...Nada mais...
"- Nada mais?...Fodes comigo e nada mais?"
- Foste tu que quiseste!
"- Não gostaste?"
- Isso não interessa!
" Gostaste de me foder, ou não?"
Há pessoas que se sentam na mesa ao lado dele. A conversa telefónica inesperada está a alongar-se. Rafael está incomodado. Clarisse passa à sua frente e ele levanta a mão, querendo pagar, querendo sair dali. A funcionária ainda vai atender mais um cliente, mas ele já está levantado.
"- Rafael...Então?...Sou uma foda assim tão má?"
- Não, não és....
"- Vais dizer-me que irias recusar uma repetição?"
- Sim...não...uhmmm...não sei, Matilde!
"- Onde estás tu?...Onde estás tu agora, Rafael? Quero saber."
- E o que tens tu a ver com isso?! Estou ocupado.
"- Estás?...Rafael, pergunta-me onde estou agora."
- Não vou entrar nesses teus jogos de menina, Matilde.
"- Tens mesmo a certeza que não queres saber? Não queres saber o que estou a fazer?"
Rafael ouve uma respiração mais vagarosa da sobrinha da sua amante. Ele já pagou e troca o passo até à saida do Espaço. A conversa torna-se mais intesa, mas também mais perigosa.
- Onde é que estás, Matilde?....
"- Uhm...Cheguei agora a casa. Já me despi....Vesti os boxers...só..."
- O que estás a fazer?
"- Adivinha...Adivinhao que faz uma menina como eu, deitada na cama, com a mão dentro dos..."
- Matilde...achas mesmo que eu me deixo levar por uma fantasia?
"- Só acreditas que é fantasia porque queres!....Achas que estou a brincar?...."
- Não...acho que não, Matilde....Acho mesmo que não.....E mais?
Ele está perdido na conversa. A jovem conseguiu encantá-lo, encaminhá-lo pelas suas palavras doces. Mais uma vez, Rafael deixa-se manipular por uma mulher. A seu favor. Ele entra no Edificio e aguarda que o elevador chegue.
"- Mais?!...Estou à tua espera."
- Não podes estar. Tu estás em casa e eu não posso ir ter contigo. Noutro dia, Matilde.
"- Agora, eu quero que me comas agora!"
A porta do elevador abre-se. Ao mesmo tempo, Ana, a vizinha dele entra com ele no cubículo. Um pequeno olhar serve de cumprimento. Mais nada é dito entre os dois inquilinos que vivem no mesmo andar do Edificio Magnólia mas pouco se suportam mutuamente. Olham ambos em frente, sem cruzarem o olhar. A porta do elevador fecha-se.
"- Diz-me que me queres, Rafael!"
- Agora não posso.
"- Diz-me...tem que ser agora....Diz-me."
- Acredita que não to posso dizer.
"- Se não me disseres agora, desligo. Desligo e faço a minha fantasia sozinha. Queres-me ou não?"
- Não posso!
"- Fode-me, Rafael...Eu quero que me fodas. Diz-me que queres!...Rafael...diz que queres foder-me!"
Por uns segundos, Rafael respira fundo. O seu olhar desvia-se de soslaio, com a pretensão de perceber o quão atenta a sua vizinha acompanhante possa estar. A conversa entra num outro nivel. Onde ele já perdeu o controlo e está excitado.
"- Diz-me que queres!...Rafael...diz que queres foder-me!...Queres foder-me?"
- Sim, eu quero foder-te!
Ana levanta firmemente o olhar. Momentaneamente, aquela frase - dita com todas as letras cheias - dispara a sua atenção. No entanto, imediatamente, ela volta a baixar o olhar, percebendo que aquela frase não era para si. O incómodo invade aquela pequena caixa, ocupada por duas pessoas que entram em choque. Rafael liberta um pequeno sorriso. Deu-lhe gozo dizer aquilo. Não por ser para Matilde, não necessariamente por ansiar naquele instante a jovem. Acima de tudo, deu-lhe gozo experimentar algo diferente, algo ousado e ainda assim, tão simples. O facto de ser a sua vizinha a ouvi-lo dá-lhe uma satisfação mais regozijante.
"- Ainda bem....Vês, não custa assim tanto...E o que me queres fazer agora?"
- Como assim?
"- Estou deitada na cama...Tenho a mão na......Tu sabes....E está tão quente...Tão frágil."
A porta do elevador abre-se. O ascensor está agora no terceiro andar. Ana procura sair ansiosamente deste filme. Ainda assim, Rafael corta-lhe propositadamente a passage. Vagarosamente, ele sai do elevador.
- Gostava de te lamber....Provar-te...
"- Uhm...Estou a tocar-me, Rafael..."
- E estás a gostar?
Finalmente Ana consegue sair dali. Com algum nervosismo, entra em casa e fecha apressadamente a porta. O descaramento do seu vizinho é o espelho da sua personalidade. Rafael fecha-se dentro do 3º esquerdo. O espaço pertence-lhe. A conversa agora pode tomar o rumo que pretende. Entra na casa de banho e abre as calças.
- Diz-me...estás a gostar?
"- Ohhh...sim...estou a gostar imenso....O que farias, depois de me lamber?"
- Entrava em ti...
"- Logo? Uhm...Entravas em mim até ao fundo? Até eu gemer que nem uma louca?"
- Sim...
"- Deixavas-me continuar a tocar-me?"
- Quando eu entrasse em ti, segurava-te as pernas enquanto tocavas o clitóris...
"- Como estou a fazer agora?...."
- Sim, mas com mais força...
"- Uhmm...eu sei que estás aqui...eu sei que me fodes na minha cama....oh, sim...eu sinto isso...sinto-me a gemer enquanto o teu sexo me enche...e me come...e...ohhh..."
- Estás molhada?
"- Sim, Rafael, estou tão molhada..."
- E imaginas a tua rata encharcada a molhar o meu pau?
"- Claro que sim....Fodes-me tão bem...oh, Rafael...fodes mesmo bem..."
Enquanto Rafael se vai despindo junto à banheira, Matilde está do outro lado da linha. Excitada e a masturbar-se. Louca e com os dedos espalhados pelo seu sexo. Os gemidos que ela solta fazem o instrutor imaginar. Pressupor mentalmente como seria comer aquela jovem atrevida na própria cama dela. Segurar-lhe as pernas bem alto, bem abertas, com o intimo totalmente oferecido a si.
- Sentes-me dentro de ti?
"- Sinto...ohhh...."
- Sentes o meu pau? Consegues senti-lo?
"- Não!..."
- Não?!.....
"- Não!... Ohhh...toca-te...por favor...oohhh... Rafael... quero que te toques... quero que batas uma...agora!"
Rafel silencia por uns segundos. Ele está efectivamente nu. O seu sexo está realmente entesado. A excitação que percorre o seu corpo precisa necessariamente de ser solta. O inquilino entra dentro da banheira e esfrega o sexo.
- Ele está teso, Matilde....
"- Já estás a tocar-te?"
- Sim...estou a esfregá-lo...como se estivesse dentro de ti.
"- Uhm... que bom... fode-me...esfrega como se estivesses dentro de mim... como se me comesses... oohh...não pares..."
- Gostas que eu te coma?
"- Oh, sim...adoro!...Não pares...não quero que pares até te vires...."
Com uma mão, Neves segura o telefone bem junto à orelha. Ouve os gemidos finos mas intensos da sobrinha da sua amante. Com a outra mão, o homem masturba-se progressivamente. Esfrega o sexo, fecha os olhos e imagina a situação que poderia estar a viver com a jovem presunçosa. Mutuamente, o desejo e o prazer surreal envolve-se por uma linha telefónica. Ele sente o coração a palpitar, as pernas a tremer e o sexo a ebulir. Ao mesmo tempo, desenvolve na sua mente a excitação que Matilde possa estar a ter do outro lado da linha. Mais uns segundos e ele vem-se, acompanhado de um telefone.
"- Ohh...Rafael, estou tão molhada....sentes-me?...Sentes-me a gozar no teu sexo?....ohhh..."
- Sim...ohhh....sim, Matilde...vou-me vir...ohhh...vou-me esporrar todo em ti..."
"- Não....porra, não!!...Eu quero que saias."
- Porquê?!!...Não...deixa-me foder-te....deixa-me encher-te Matilde...
"- Não!...Quero que te venhas na minha boca...Quero que me deixes provar a minha rata no teu sexo..."
- Sim..ohhh...chupa-me todo...sabe-te bem?
"- Sabe tão bem...provo os meus liquidos...ohhhh....Rafael!"
- Estou-me a vir...ohhh...sentes?...
"- Vem-te....enche a minha boca....ohhh...simmmm....."
O homem segura com ligeireza o telefone. A sua mão esquerda está a tremer. A sua mão direita agarra o seu sexo com firmeza, com vêemencia, com a sensação quase real de que se está a esporrar para a boca da jovem. E na verdade, é essa a sensação que Matilde guarda do outro lado da linha, enquanto se ouvem gemidos abafados.
"- Rafael...ohhh...é bom..uhmmm..."
- Provaste?
"- Sim..uhmmm....estou a chupar os dedos...uhmmm...sabes bem...sabes tão bem..."
- Gozaste?
"- Tanto...Eu quero-te....Vem cá, Rafael..."
- Hoje não...
"- Quando?!"
- Assim que tiver a certeza que te posso comer...sem te quereres colar a mim...
"- Isso não pode ser. Estou perdidamente louca por ti, Rafael."
- És louca, Matilde. És uma menina imatura, inconsciente e....
"- E no entanto, foste tu que me fodeste ao telefone..."
- ...E incrivelmente tesuda e...
"- E tu queres-me, Rafael."
- Vou desligar...
"- Não..."
- Vou tomar banho, limpar-me e vou jantar.
"- Vem ter comigo."
- Hoje não.
"- Vai-te foder."
"Chamada terminada"
A jovem desliga o telefone na cara. Rafael larga um sorriso. Tal como sempre, ele acaba por largar aquilo que saboreou. Mesmo que seja de uma forma diferente. Mesmo que uma linha ténue e invisivel os separe, ele saborearam um prazer surreal. Ele pousa o telefone no lavatório, próximo da banheira, fecha a porta do poliban e abre a torneira da água.

sexta-feira

Experimentar o ventre

Porque a tarde já vai longa. Porque é cedo para receber toda a familia em plena harmonia. Porque ainda há tarefas a fazer mas o fim de semana se aproxima. Por todos estes factores, Helena goza todo o espaço do 1º esquerdo só para si. O jantar está, no seu geral, preparado. A cozinha está arrumada e a sala está preparada para parecer acolhedora. Depois de um dia intenso de trabalho, a mulher guarda alguns momentos para si. Saber-lhe-ia bem ler um livro na varanda. Seria até agradável pegar no filme em dvd e desfrutar do conforto do sofá até a noite cair. No entanto, Helena prefere um banho. Aqueles longos banhos retemperadores, em que a casa de banho se enche de vapor até a respiração se tornar pesada. A água a cair até lavar o corpo todo do peso de uma semana cansativa. É essa a sua decisão. Na cozinha, ela descalça os sapatos e retira as suas calças, atirando-as para o cesto de roupa suja. Despe a blusa cinzenta que envolve o seu tronco enquanto se dirige para o quarto. Antes mesmo de ligar a água do chuveiro, antes mesmo de retirar a tanga preta e a camisola interior, Helena ouve o telemóvel a tocar. Este está pousado em cima da cama. Vibra e toca e tem como responsável pela chamada o funcionário da sua empresa e do seu marido. Hélder está no Edificio Magnolia. Está a trabalhar entre o poço e a casa das máquinas do único elevador em serviço no empreendimento. O amante inusitado de Helena procura compor a pequena falha electrónica que desde há uns dias tem perturbado o normal funcionamento do meio de transporte entre andares. Helena está a par da presença do seu funcionário. Foi ela quem lhe abriu a porta da garagem. Foi ela quem lhe forneceu a chave da minúscula casa das máquinas. Como responsável pelo condominio, é ela que agora tem o condão de poder entregar a chave da caixa que permite voltar a reactivar o sistema do elevador, parado desde há uma hora. Helena ferve. A dois passos de entrar no banho - despir e esperar que a água aquecesse - ela sente esse momento relaxante a desaparecer. Após confirmar com um seco "ok" ao seu funcionário e amante, ela desliga o telefone. Olha para o seu corpo semi-nu e olha em redor. Já não tem as calças para vestir. Procurar umas agora leva demasiado tempo. O robe está pendurado no cabide e apresenta-se como a melhor indumentária para proteger o seu corpo. Pega no telemóvel, pega nas chaves de casa, enfia-os no pequeno bolso do tecido e sai de casa a correr. Sobe as escadas e em pouco tempo consegue aceder ao terraço do topo do Edificio. Hélder aguarda por ela. O homem não esconde a surpresa de ver a amante e patroa naqueles trajes. Ela retira as chaves do bolso e imediatamente abre a caixa que está a gerar a confusão. O olhar de Hélder prende-se nas pernas torneadas da mulher. Suaves, empolgantes, irresistiveis. Ela percebe que alguém perde o olhar no seu corpo. Procura manifestar um ar de incomodada. Mas simplesmente não consegue. O desejo implicito na face do seu funcionário deixa-a irrequieta. Sente o coração apertar, sente os pulmões incharem. E assim que consegue controlar a respiração, Helena soluça quando assiste à entrada, no topo do terraço, de Bruno. Ele é o funcionário mandatado pela empresa de elevadores para confirmar a resolução do problema. Ele é um homem quase a chegar aos trinta, a respirar uma maturidade sensual. Ele é pólvora no olhar de Helena que tilinta. Bruno enche o desejo da mulher casada. Uma pequena faísca e algo pode incendiar.
- Boa tarde, dona Helena.
- Sim....boa tarde....pode tratar-me por....
- ....Helena?...Muito bem, Helena, o problema está resolvido. O elevador poderá funcionar....
O homem repara no robe dela. O homem excita-se com as pernas torneadas e com tudo o que é sugerido que esteja por debaixo daquele pedaço de roupa. O homem passa por ela, roça com o seu corpo imponente por ela e fricciona a excitação que se acumula em Helena. Bruno liga um fusivel na caixa e lança um sorriso directo para a responsável do condominio.
- O elevador poderá funcionar assim que a Helena fechar a caixa....
Por uns segundos ela congela na voz limpida dele. Por uns segundos, Helena bloqueia a sua racionalidade e deixa-se invadir por pensamentos vagos. Quando acorda, olha para Hélder e procura esconder o que lhe vai na alma. Mas o seu amante já percebeu. E quando Helena encerra a caixa, uma mensagem implicita já foi circulada entre os três pensamentos.
- Se a Helena quiser, podemos experimentá-lo....
- Experimentar?!
- Sim...o elevador.
- Ah, pois....Sim, claro....Claro que sim, Bruno.
Mais um olhar, mais um sorriso. A comunicação entre eles silencia-se em gestos ocultos. Mas Hélder intromete-se. Coloca-se junto a Helena e ajuda-a a descer as escadas apertadas para sair do terraço. Ao mesmo tempo, coloca a mão no rabo da mulher, mesmo por baixo do robe. A mão do homem desilzou pelas nádegas macias da mulher, sentindo também o fino tecido da tanga. Helena geme. Ouve-se mesmo ela a gemer. Ao alcance de qualquer ouvido mais sensivel. Ao alcance da percepção de Bruno. Ainda assim, os três adultos prosseguem o caminho pelo corredor do Edificio Magnólia. Não há vizinhos a entrar ou a sair. Daqui a poucos minutos já chega a hora de ponta e aí sim, o elevador tem que estar pronto. Junto à porta cinzenta imponente do terceiro andar, Bruno gira a chave para permitr a abertura em segurança do meio de transporte. Hélder entra primeiro. Seguidamente Helena dá dois passos para se colocar próximo do amante. O funcionário da empresa externa é o último a entrar. Carrega no botão para encerrar a porta e coloca outra chave no painel de funcionamento do ascensor. Ele olha a partir dos espelhos para os outros dois ocupantes e antes de rodar a chave, liberta um sorriso. Helena e Hélder olham para ele com alguma ansiedade.
- Acham mesmo que não se nota? - diz Bruno.
- Peço desculpa? - larga ela.
- Vocês estão quase a comer-se à minha frente e acham que eu vou ficar calado?
- Isso é uma ameaça, Bruno?
- Não, Helena. Não é mesmo uma ameaça. Longe disso.
- Então...o que pretende?
- Eu quero experimentar....Eu quero experimentá-la. A si, Helena.
Um silêncio é gerado entre os três ocupantes do elevador. Com a mão na chave, Bruno aguarda uma resposta. Helena não sabe exactamente o que responder. E Hélder tem demasiado a certeza do que pode acontecer. Assim, dentro daquele espaço minúsculo, o amante da mulher de Rodrigo antecipa-se. Enquanto ela fixa o olhar ferozmente no outro homem, Hélder coloca-se por detrás. Encosta a sua cintura às nádegas dela e coloca a palma das mãos nas coxas descobertas da amante. Helena cerra ligeiramente os olhos e encosta a cabeça um pouco para trás. Ela é conquistada pela excitação. Seja ela entregue por quem quer que tenha de ser. A mulher procura a boca do amante e despeja para lá o seu desejo. Não importa que alguém esteja a ver. Não importa o risco que esteja a correr. A faísca foi accionada. Bruno aproxima-se dos dois adultos que se envolvem num beijo leve. Helena, apesar de ter os olhos cerrados, consegue visualizar o homem. E enquanto Hélder lhe volta a apalpar o rabo, Bruno é chamado pelo olhar dela. É atraído pelo corpo fogoso da mulher. Ela acende o rastilho que termina na mão dele que se cola à cintura dela. Bruno puxa o cordel que ata o robe. A forma da tanga de Helena é revelada aos dois homens. É uma tanga preta, de uma seda quase transparente. Cola-se à pele fria e não consegue tapar o pequeno papo que se desenha entre as pernas da mulher casada. Hélder e Bruno envolvem o corpo da mulher, construindo um abraço a três. Quando Helena se despiu antes de ir para o banho estava longe de imaginar este cenário. Quando a inquilina do 1º esquerdo vestiu o robe para sair de casa, jamais podia prever que dentro do elevador, dois amantes masculinos estariam com uma mão a cobrir ao mesmo tempo o seu sexo.
A casa está encerrada a qualquer olhar alheio. A hora ainda permite um sentimento de segurança. E o espaço é perfeito para tudo ser experimentado. O quarto de Rodrigo e da sua esposa está quente. Um pouco húmido. A cama está suavemente aconchegadora. Helena enloqueceu. Ela sabe que sim. Tem essa certeza no momento em que se senta no colo de Hélder, de costas para o homem e sente a picha dele entrar no seu intimo. Consciencializa-se da loucura que comete, no momento em que acaricia os cabelos de Bruno. Ele está ajoelhado no chão, junto ao fundo da cama. Com uma mão acaricia as coxas abertas da mulher, com a outra puxa o tecido da tanga da amante. Helena é uma mulher casada. Tem dois filhos os quais chegaram daqui a pouco tempo à casa perfeita e arrumada e perfumada e aconhegante e familiar. Sim, ela tem uma familia. E antes de sentir que tem toda essa familia, Helena tem dois homens entre si, a devorá-la. A experimentá-la. A fodê-la como ela tanto desejou. Helena é uma mulher casada e geme porque o amante entra com a picha inchada dentro de si. Helena tem dois filhos e respira fundo quando o outro amante lhe lambe a rata. Ela não quer parar e tem uma familia para amar. Ela quer mais e não sabe como parar. Hélder segura nas ancas frágeis dela e empurra o corpo dela contra o seu. Bruno lambe a rata. Prova-a como se fosse a primeira vez que pudesse chupar um clitóris. Helena encosta-se ao corpo do amante mais novo e desliza os dedos na cabeça do amante mais velho. Helena não está a quebrar uma regra. Helena não atraiçoa o marido ou engana os filhos. Dentro dela, algo se despedaçou e ela ainda nem sequer o sentiu. Porque lhe está a saber demasiado bem. Ela cavalga por cima de Hélder enquanto as mãos deste se elevam pelo seu c0rpo delineado. Ao mesmo tempo puxam a camisola agarrada ao tronco húmido da mulher. Despem finalmente todo o seu corpo e expõem os seus seios sedentos e bicudos ao ar insipido do quarto. Bruno avança. Experimenta o corpo fragmentado da inquilina. Ergue as pernas e segura nas ancas dela. A sua boca adocicada pelos sucos libertados do interior do sexo feminino enche de beijos a pele da mulher e prova o ventre dela. Helena geme. Com as mamas estimuladas por mãos atrevidas, uma picha a conquistar o seu intimo, os seus ombros engolidos pelos lábios de Hélder e o umbigo a ser lambido até à exaustão, ela é um mulher excitada. O seu corpo vibra com cada entrega de prazer. A sua pele entra em ebulição a cada estimulo oferecido. E ela sente-se a dançar. Porque as mãos dos dois homens fazem-na movimentar-se. Fazem-na bailar ao sabor dos desejos dele. Sente-se satisfeita. Mesmo que não perceba que algo dentro de si estilhaça, Helena baila num júbilo escaldante. Bruno continua a sugar o seu buraquinho moldado, o seu umbigo húmido, o seu canal de ligação a todos os nervos que agora a põe louca. É agora ela que se movimenta. Mexe as ancas como um acto de sedução. Como um gesto de libertação. A boca de Bruno já nem sequer procura. Mantém-se no mesmo lugar e espalha a lingua em todo o ventre da mulher. A mulher empurra a cabeça dele contra a sua barriga. Porque o quer. Porque a faz sentir quente. Ela solta gemidos da boca, ao mesmo tempo que procura perceber porque é que a lingua de Bruno a põe mais descontrolada que a picha intensa de Hélder dentro de si. Efectivamente, o técnico de manutenção de elevadores está a experimentar. O ventre de Helena é provado como uma experiência.
- Ohhh....Bruno....era capaz de me vir...ohhh...era capaz de me vir assim....uhmmm....
Hélder sente-se intimidado. Ele percebe o quanto a amante está a delirar com uma simples caricia. Mas Bruno faz mais do que acariciar a mulher. Ele entrega uma dança vulnerável e espalha-a por todo o corpo de Helena. A mulher ainda sente o sexo a fodê-la. Sabe-lhe bem. Estimula-a e satisfaz a sua rata sedenta de uma foda assim. Mas ao mesmo tempo que o seu corpo tende a fraquejar, ela sabe que é o carinho surreal do homem mais velho que a vai fazer vir. Bruno levanta-se e agora tem a cintura bem proxima do queixo dela. Já saboreou as mamas rijas dela, fazendo com que Hélder afastasse as mãos dali. Helena ergue a cabeça e comunica com o amante. Sabe o que ele quer. Sabe o que ela própria deseja. A picha dele entra vigorosamente na boca da mulher casada. E tudo é louco. E tudo é rápido demais. E cada um procura o seu prazer. Hélder lança as suas últimas forças para dentro do sexo da mulher e sente finalmente a rata a dar de si. Finca as mãos na cama e encosta a cara nas costas macias dela enquanto geme. Sente a respiração nos pulmões da mulher. Helena está louca. Vai gozar, vai libertar todo o prazer que lhe é oferecido e tudo vai começar do fundo da sua respiração. Chupa com intensidade o sexo do amante frontal e procura dar-lhe, também a ele, prazer. Assim que Hélder se esporra, Helena vem-se. Assim que Helena se vem, Bruno esporra-se na boca da amante. E o liquido do funcionário dela escorre pelas suas bolas. E o esperma do novo amante escorre pelo corpo da mulher. Sai da boca num enorme rio branco. Pinga desde o queixo até ao pescoço. Percorre um longo caminho entre os seios, quase a ferver. Quando chega à barriga, a gota rebelde experimenta. O ventre dela é fantástico. Sente-se satisfeito e saciado. nunca anteriormente Helena se tinha excitado daquela maneira tão peculiar. Bruno provou-a. Desde o seu intimo até à sua boca. E nem sequer se pode chamar àquilo uma foda. Para isso serviu o sexo vigoroso de Hélder. A gota. A gota do desejo de Helena repousa finalmente no umbigo.
Rodrigo chega a casa já Helena está de pijama, a ler um livro na varanda. Tem o jantar pronto em cima da mesa e um dvd pronto para ser exibido durante o resto do serão. Os filhos do casal já sairam. O mais velho está exausto depois de uma semana longa de aulas na faculdade, na cidade bem próxima desta. O pai foi buscá-lo, apesar de se ter atrasado ligeiramente. Helena não desconfia sequer do motivo pelo qual o marido precisa de ir buscar o filho. Não tem motivos para o fazer. Está demasiado entretida no seu prazer, demasiado envolvida em deleite para pensar nisso. O seu ventre faz a mulher casada e com dois filhos esquecer que algo dentro de si quebrou. Mas isso não interessa. Ele quis experimentá-la. De uma forma única. Tudo o resto que se quebrou é passivel de se colar.

quinta-feira

Dança na chuva com pétalas

Não vale a pena referir que dia é hoje. É escusado falar em trocas de prendas banais e reveladoras de uma sociedade de consumo facilitista. Hoje, no 2º direito, é um dia especial. Mas não pela óbvia referência do calendário. Vai-se falar de paixão. Sim, vamos pensar em paixão e esquecer que o amor existe. O amor existe vinte e quatro horas por dia, inesgotavelmente. Por isso, hoje o que importa é a paixão.
É um convite para jantar, mas é algo mais do que isso. O jantar é composto por umas gambas de entrada, misturadas com um pão encharcado num molho requintado. As diversas saladas pela mesa a acompanhar com um fino lombo de porco deixam o estômago leve mas saciado. Referir o vinho verde é lembrar que existe um toque leve de puro bom gosto. A sobremesa não o é em si. É um gelado de baunilha esbanjado com fondue de chocolate a escorrer desde o topo até às bordas do prato. Mas para quê falar em comida? A sobremesa é tudo o que vem depois do jantar. Uma conversa suave na varanda intima e fresca. Uns olhares trocados, apenas para perceber se aquele é o momento certo para entrar no desconhecido. E assim que os minutos passam, a digestão corre e as certezas vincam-se. Laura e Afonso partilham o seu dia especial. Resguardam-se no seu apartamento caloroso e oferecem o que de melhor têm para partilhar. A sua paixão. Margarida é a surpreendente convidada desta noite. Um elemento que não pertence à casa, mas que se ambienta de uma forma natural, divertida e embrenhada no espirito que ali se vive. Margarida é uma mulher descomprometida. Colecciona a mesma idade que Laura, sua antiga colega de trabalho. Margarida acostuma-se a refazer pedaços da sua vida. Deixou para trás um companheiro que simplesmente a deixava só. Complementa o seu ser com a educação que transmite às suas duas filhas. E isso ocupa-lhe o tempo. E o tempo é algo precisoso para a paixão. Por isso, nesta noite sem crianças, sem filhos, sem compromissos, Margarida está livre. Laura, Afonso e o seu lar compõem as peças de um barco que faz navegar a liberdade da mulher. Só por esta noite.
Não há segredos. Laura e Afonso sabem o que a convidada está disposta. Margarida sabe ao que veio e o que quer. As conversas intimas, o súbito e inusitado convite para jantar num dia tão especial não deixava margem para dúvidas. A noite só pode ser especial. Margarida e Afonso não se conheciam. A empatia que se gerou no jantar complementou a amizade e intimidade entre as duas mulheres. Assim, o pedido de Laura para o trio de adultos se dirigir à casa de banho não foi de todo surpreendente.
Vinte e duas horas e dezassete minutos. A banheira é grande. Enche-se de água escaldante quase até ao topo e espuma quanto baste à superficie. A adornar, estão dezenas de pétalas vermelhas perfumadas. Misturam-se entre os três corpos que estão sentados no interior da banheira. Margarida foi a primeira a entrar. Sim, estava despida, mas ainda a dissiparem-se as complexidades iniciais, escondeu-se por entre a espuma. Laura entrou de seguida, colocando-se no lado oposto da banheira à sua amiga. O seu peito já não se escondia. A inquilina está perfeitamente à vontade com a sucessão de acontecimentos. Agora, que o vapor torna o ar quente e turvo, Afonso entra nu na casa de banho. Sem qualquer tipo de pudor. Entra vagarosamente na banheira larga e senta-se entre as duas mulheres. Ele está entre dois corpos à sua mercê. Porque elas efectivamente sentem-se nas mãos do homem. Laura conversou tudo o que havia para falar com a sua amiga. Desmistificou qualquer complexo que pudesse surgir. Revelou todos os segredos que o casal compartilha. Desta forma, Margarida sabe exactamente o que pode acontecer. E aguarda ansiosamente pelas mãos de Afonso. O chuveiro jorra água morna mesmo em frente do corpo dele. Renova a temperatura que se pretende manter no local e salpica o ambiente que se encandeia ali. Laura passa o seu corpo com espuma. Expõe os seus seios aos dois parceiros. Margarida mantém a sua posição. Ainda guarda algum nervosismo e mantém-se na expectativa. Afonso recebe alguma da água que cai do chuveiro e estende os braços. Em primeiro lugar, olha para a sua namorada e desliza a mão pelas suas coxas. Os dois corpos aproximam-se brevemente e trocam um beijo. Margarida respira fundo. Sente-se excitada com o que vê e o gemido perdido que é largado da sua boca relaciona-se com o facto de sentir a mão de Afonso a percorrer a sua coxa. Desde o joelho dobrado até chegar bem perto das virilhas. Os dedos deles são longos. Entusiasticamente atrevidos e soltos. Tudo tem regras. Tudo tem a sua ordem. Numa relação a três aprende-se a cumprir um ritual e uma forma de agir. O casal tem vindo a aprender as suas próprias orientações. Mantém o respito mútuo e solidifica a confiança numa partilha. Assim, o indicador dele que entra suavemente na rata da sua mulher é o sinal de que a partir dali existem regras a cumprir. O gemido de Laura é mais intenso do que o som que ainda é libertado suavemente da boca da convidada. Margarida é uma mulher bonita, sensualmente amadurecida na sua idade. Um ar solto, atrevido mas confiante. O cabelo loiro prende-se à orelha deslizando até roçar o ombro. Pele hidratada, macia e pálida. A espuma vai deixando de poder cobrir os seus seios redondos e firmes. Ela já não consegue negar a excitação precoce que invade o seu corpo, assim que a mão dele passa descaradamente pelo seu intimo. Margarida não sabe se encosta o seu corpo e se deixa levar ou se pende o seu corpo para a frente, bem próximo da amiga que também a deseja.
Vinte e duas horas e trinta e um minutos. Laura geme. Tem dois dedos do seu namorado enfiados na sua rata. Já entraram e sairam. Já contornaram o clitóris em caricias deliciosas. Já brincaram com os lábios grandes. Agora limitam-se a entrar e sair vertiginosamente ao ritmo da respiração da mulher. Margarida está incontrolável. Rendida à masturbação que a mão esquerda de Afonso desenvolve no seu sexo, ela recorda a última conversa com a amiga. As mãos dele são sem sombra de dúvida, mágicas. Despertaram em si sentimentos que estavam escondidos há algum tempo. Criam fricções no seu clitóris que ela não se recorda de experimentar. As suas pernas estão abertas. A sua mão direita acaricia os seios entesados. A mão esquerda agarra-se ao pulso de Afonso. Ela vem-se Mas ela vem-se porque entende a excitação da parceira que tem diante de si. Entende que ele consegue provocar prazer às duas mulheres em conjunto, apenas com as mãos. Os seus pulmões entram em convulsão. Dilatam e fecham a um ritmo estonteante. E pela primeira vez, Laura e Afonso deliciam-se com a voz tremida de Margarida a libertar o seu gozo. A rata de Laura vibra. Explode nos dedos de Afonso que absorvem o inchaço do seu clitóris. E ele está em delirio. Tem na palma das duas mãos o prazer mútuo da sua namorada e da nova amante.
Vinte e duas horas e trinta e nove minutos. Durante um largo periodo de tempo, Laura não retira o sorriso do alcance da sua amiga. O olhar mútuo reflecte a comunicação meiga entre as duas. Depois de se libertar assim, Margarida confia plenamente em Laura e por consequente em Afonso. A água continua a cair do chuveiro. Como uma chuva que se espalha na enorme banheira, como milhares de gotas que renovam o espirito escaldante desta união. Agora é a mão de Laura que se aventura. Segura o sexo excitado de Afonso. E ele está excitado porque tanto lhe é dado. Desde a tusa que a sua namorada demonstra à ligeireza do corpo atraente da amante. Laura mergulha a cara na água e por breves segundos, coloca a picha dele na sua boca. A sensação de ser chupado debaixo de água transcende o prazer de Afonso. E apesar de lhe estar a saber incrivelmente bem, ele quer partilhar. Puxa o seu corpo com os braços seguros nas margens da banheira onde senta o seu rabo nu. Ele está entesado. Esboça um sorriso espelhando a necessidade de que quer mais. Laura não o larga. Chupa-o convictamente, ajoelhando-se à sua frente. A sua mão esquerda procura o braço da nova amante. O coração de Margarida palpita, mas tudo parece correr naturalmente. Ela quer comer aquele sexo. Ambiciona abocanhá-lo desde as primeiras palavras da sua amiga sobre o dito cujo, desde o primeiro momento em que viu o jovem nú. A água está morna. Brota do chuveiro como aguaceiro sensual e vagaroso. Pinga sobre os corpos nus como elemento estimulante da tensão que se acumula na banheira. É a boca de Laura que chupa as bolas do seu namorado. São os lábios de Margarida que provam gulosamente todo o sexo inchado dele. São as mãos dele que acariciam os cabelos das duas mulheres. Ele respira fundo. Procura controlar a sensação louca mas não inédita de um broche a duas bocas.
Vinte e duas horas e quarenta e cinco minutos. É a mão vigorosa da anfitriã que masturba violentamente o sexo do namorado. É a face de Margarida que recebe o prazer libertado do sexo do homem. A água que dança pelo corpo da convidada lava a cara imediatamente, mas já ninguém lhe tira a sensação de receber o líquido fervoroso. O prazer espalha-se em toda a banheira. A espuma dissipa-se nos corpos. Laura olha para o namorado, satisfeita por ter levado a bom porto tamanha excitação. O corpo de Afonso ferve em adrenalina. Uma das suas mãos acaricia os seios de Margarida. A outra acaricia os cabelos da mulher que o ama.
Vinte e duas horas e cinquenta e cinco minutos. Existem duas toalhas a limpar o corpo de Margarida. As mãos de Laura limpam o rabo, as coxas e a rata da mulher convidada. As mãos de Afonso esfregam as mamas estimuladas da loira. E pela primeira vez nesta noite de partilha, os lábios de Afonso e da sua amante colam-se. Laura excita-se com o que vê. A boca do seu namorado chupa os lábios de Margarida, beija-lhe as maçãs do rosto flácidas e percorre o pescoço até ao ombro. Quando Laura se abraça ao corpo do seu homem, percepciona-se uma dança subtil a desenvolver-se entre os três corpos. Intensamente escaldante.
Vinte e três horas e seis minutos. O quarto de Laura e Afonso está devidamente adornado. Cada espaço plano nas mesinhas de cabeceira, na cómoda, no chão, na secretária rústica, está completo com velas perfumadas. O quarto enche-se de luz. Mas de uma luz instável, frágil mas romântica. O ambiente que é criado só pode estimular qualquer um dos três adultos presentes. Na cama, o trio envove-se em caricias. São caricias firmes, concretas. As mãos do homem nos seios das duas mulheres. As mãos das duas mulheres a explorarem-se mutuamente. A boca dele nos ombros de Margarida. Os beijos envergonhados entre elas. As ancas de Laura a roçarem entre a picha do seu namorado e o ventre da amiga. Cada pedaço é um estimulo para mais. E a dança não pára. A ansiedade de Margarida é quebrada e espalhada no desejo do casal.
Vinte e três horas e dezoito minutos. Há um rasgo de luz a esbater no peito húmido de Margarida. Há uma sombra pintada nas costas de Laura. E os dois corpos femininos cortam a luz que desvenda o ar de satisfação tatuado na face de Afonso. A convidada está sentada em cima do amante. De costas para ele, ela cavalga sobre a picha que se mantém entesada. Deixa o pedaço de carne rasgar o seu sexo, penetrar em si, alimentar a tusa dela. Margarida geme. procura controlar a respiração, mas de uma certa forma, ela já não se sente dona de si mesma. As suas mamas pulam. Demonstram a excitação que vive dentro da sua alma. Enquanto o amante lhe segura as ancas, incitando-a a saltar mais e cada vez mais, as mãos de Margarida acariciam os cabelos de Laura. A sua amiga está ajoelhada ao fundo da cama. Apalpa as coxas da convidada e abre-lhe um pouco mais as pernas. E lambe-a. Laura prova o clitóris inchado da mulher que convidou para passar um serão diferente. Ouvem-se gemidos. Ouve-se a pele dos corpos a deslizarem entre eles. Ouve-se cada movimento que a mulher que está ser comida solta dentro do seu intimo.
Vinte e três horas e vinte e nove minutos. O tempo rola. Margarida está no auge do seu prazer. Porque ela já se veio uma vez. Com a picha dele a roçar dentro de si, com a lingua de Laura a apoderar-se da sua pequena bolinha mágica, ela sente necessidade de se libertar. Mas ainda não terminou. Está longe de cessar, esta paixão que envenena os corpos dos três amantes. Laura beija agora o seu homem. Ao mesmo tempo, esfrega a rata da amiga. E ela não suporta mais. O seu corpo volta a querer explodir.
- Gostas?! Gostas, amor?...Dá-te gozo foder esta cabra?
Os gemidos de Margarida não cessam. Transformam-se em gritos e os gritos moldam-se em devaneios hipnotizantes. Afonso procura controlar a respiração. Porque vai esporrar-se. Vai libertar o sumo do seu interior. Acena positivamente à namorada. Foder uma mulher assim dá-lhe gozo. Enquanto Margarida expele a loucura que estava aprisionada na sua alma, deita-se sobre o corpo do homem. E agora é a sua boca que Laura procura.
- Sentes-te cabra?...Eu disse-te que ias sentir-te como uma cabra....
- Ohhh...Sim...Eu sou uma cabra...ohhh, Laura...é tão bom! Ohhhh....
E a mulher nunca se tinha vindo assim. É impossivel relembrar um momento em que o seu corpo pudesse ter sido levado ao extremo de todas as capacidades. Tudo nela se vem.
Vinte e três horas e trinta e cinco minutos. Segundos depois de ter libertado o seu orgasmo, Afonso sabia o que tinha a fazer. Sabia o que lhe dava gozo. Sabia o que punha o casal completamente louco e que jamais alguém iria poder perceber. Laura está em cima do seu namorado. Recebe a sua picha consolada mas ainda tesa para penetrar bem fundo na sua mulher. Margarida limita-se a escorregar as mãos nos corpos suados. As velas aquecem o quarto. Os gemidos enchem a sala de um prazer que possivelmente estará a ser espalhado para fora das quatro paredes. Para quem quiser ouvir e sentir.
Vinte e três horas e quarenta e um minutos. A rata de Laura está encharcada. Escorre por entre os seus lábios vaginais, espalha-se no sexo do homem que a fode e desliza por entre o buraco anal dele até escoar nos lençóis. Ela estava completamente molhada. Poucas vezes Laura se sentiu assim. Afonso sente-a como nunca a sentiu. Os sucos vaginais da sua namorada fluem a cada penetração. A rata dela está em brasa. Brasas incandescentes. Brasas que precisam de ser acalmadas. Laura precipita-se para o lado do namorado. Deita-se na cama, agora de barriga para cima. Já não é o sexo dele que consegue apagar aquele fogo. Já não é a picha frenética de Afonso que retém o fluido intimo da mulher. Margarida pressente o desejo da sua amiga. Ela anseia por isto. E quando o olhar de Laura atinge a sua face, ela ataca. A mulher convidada segura as pernas da amante, e engole a rata escaldante de Laura.
- Ahhhh...sim...dá-me mais....ohhh....dá-me tudo...ohohhhh! Quero que me dês tudo, Margarida!
Laura já não sabe se ainda se está a vir. Todo o seu corpo entra em ruptura. E agora o corpo dela despedaça-se. Espalha-se numa queda vertiginosa assim que a boca de Margarida consome o seu sexo. A boca da loira escalda-se. Porque a rata da amiga ferve dentro de toda a sua boca. E mesmo que ela queira libertar-se, a mão de Afonso na sua nuca incita-a a comer o prato todo. As energias de Laura dissipam-se e evacuam todo o seu corpo. É o seu sexo explosivo que expele toda a energia. É a boca de Margarida que engole aquilo tudo. E até ela conseguir extinguir toda a chama intima da amiga, ela não retira a boca de lá.
Vinte e três horas e cinquenta e dois minutos. A noite vai repousando num sentimento diferente, transcendente, peculiarmente adverso ao espirito deste dia. Não há nada para recordar de um dia tão singelo. Os três corpos estão exaustos. Consumiram todas as energias possiveis. São corpos feitos em cinzas, depois da combustão que fez arder a noite intensa. São corpos estendidos, despidos de forças, pintados de suor. Há velas que já apagaram. Outras afrouxaram a sua chama. Margarida está deitada entre o casal. Recebe todas as caricias que eles lhe querem entregar. Mas ela está numa posição onde não consegue testemunhar o olhar terno que se desenvolve entre Laura e Afonso. Eles amam-se. Entregaram prendas mutuamente, partilharam a chama da sua paixão. A melhor prenda que eles podem oferecer é o poder sublime da sua sede em partilharem o seu prazer com alguém. E Margarida, deitada numa cama que não a sua, foi prendada.
Vinte e três horas e cinquenta e nove minutos.
- E então, Margarida? O Dia dos Namorados ainda te deixa deprimida?
- Deixa...Sim, deixa...Isto não foi um Dia dos Namorados...
- Então? - pergunta Afonso.
- A partir de amanhã, quando acordar ao vosso lado, vou saber que este dia nada tem a ver com amor.
- Esta noite oferecemos-te paixão. - diz Laura.
- Então irei recordá-la como a noite da Paixão...

quarta-feira

Um Tango bem servido

Quando é dia de semana, o Espaço Magnolia começa a arrefecer o ambiente. Poucos clientes, daqueles que entram só para tomar café, às vezes comprar tabaco, outras vezes pegar uma sandes para encher o estômago. Poucos clientes, também daqueles que gostam de se alongar num bar tranquilo até à hora em que o estabelecimento encerra. Se perguntarem aos donos e aos funcionários do Espaço o motivo pelo qual mantêm o café aberto até tão tarde com tão poucos clientes, eles respondem. Até à meia-noite, algo de surreal pode sempre acontecer.
Vasco já estava a limpar a cozinha. Clarisse começou a levantar os adereços que estão colocados em cima das mesas. Mais uns minutos e as cadeiras iriam começar a ser levantadas. Nos sofás junto à jukebox ainda estavam clientes sentados. Ana vestia a máscara de acompanhante. Elegante, mulher madura e sensual. Esta noite ela traz um vestido vermelho muito fino. Cobre-lhe parte do corpo. Deixa descobrir as pernas envoltas em collants negros. Sugere as formas do seu peito redondo no decote rasgado. Transparece os seus ombros numa alça que se segura ao seu lado esquerdo. Em suma, o vestido deixa imaginar todo o seu corpo nu. Basta deixar-se levar e sentir. O seu cliente é especial. Diferente e especial. Atraente e especial. Porque Ana só aceita os serviços de homens especiais. Chamem-lhe selectiva. Ela prefere pensar em intuição requintada. Artur é professor de danças de salão. O melhor da cidade. Dos melhores que o país já conheceu. Com ascendência uruguaia, infância no pais das pampas e nómada pela Europa desde os dezasseis anos, Artur vive na cidade há dez anos. Mais do que o seu charme implicito a cada gesto que transborda, ele é intimamente especial. Ana percebeu isso desde o primeiro olhar, desde o beijo cavalheiro que ele pousou sobre a sua mão. Ainda que a vestir a pele nocturna, a jovem sentava-se no sofá enfeitiçada.
- E qual a dança que mais o excita? - perguntou ela.
- Mas é claro...um tango bem servido estimula qualquer ser humano.
O sotaque castelhano do homem é perceptivel. Acrescenta-lhe uma boa dose de charme. E nos ouvidos de Ana é como uma música de embalar. Neste caso, estonteante. O olhar entre ambos era directo. Sem rodeios. Fixava-se e intensifica-se. Como uma sedução oculta.
- Não acredito no tango.
- Como que não acredita? O tango é a dança mais erótica que existe.
- Sempre a conheci como um pensamento triste para dançar.
- Não, está enganada Ana...Alguma vez dançou Tango?
- Tive umas lições...uma espécie de lições há um par de anos.
- Você não conhece tango. O verdadeiro tango você não pode conhecer, Ana.
- Qual é esse verdadeiro tango, Artur?
- O que se dança nas ruas de Buenos Aires, como é óbvio! Aquele que se bebe nas portas dos prostíbulos. Aquele que canta pelas escadas das pensões antigas...Aquele que se deita com o desejo mais quente numa cama fria...
- Isso parece excitante...Perverso e excitante...Mas mesmo assim, não deixa de ser uma dança.
Talvez Ana quisesse provocar. O senso comum da acompanhante garante-lhe que o tango pode efectivamente ser uma dança sensual. Mas ela queria saber até que ponto. Queria elevar a fasquia que qualquer professor de danças de salão consegue dar ao aluno. Ana queria mais.
- Quer sentir uma dança? - perguntou ele.
- Sim, quero!
- Deixe-me então levá-la. Mas atenção, Ana!... Daqui em diante, você vai ficar quente. Embriagada e quente.
- Leve-me...Leve-me para essas ruas pecaminosas de Buenos Aires.
Artur pegou na mão da acompanhante. Soltava-se o charme em cada gesto. Tudo parecia encenado, tudo parecia transcendente. Ana está enfeitiçada e tem a certeza que para viver um momento assim, só a sua máscara nocturna lhe pode entregar. Transportou-a para o centro do Espaço. Por uns segundos, Ana ficou sozinha. O homem dirigiu-se à jukebox e nos espaço de um minuto escolheu a música certa. Fica a dúvida. Como pode uma jukebox num estabelecimento assim, ter um ritmo de tango? Neste Espaço, algo de surreal pode realmente acontecer.
O 3º direito tem um novo aroma. Um aroma escaldante, diferente de todos os outros que já entraram naquele apartamento. É quente, é vivo, no entanto melancólico. É perfumado, é intenso e no entanto parece chorar. Mas fervilha. No corpo de Ana ainda coberto pelo vestido vermelho sugestivo. Nas mãos de Artur que fazem bailar a sua acompanhante. E a sala de estar de Ana pode transformar-se no centro de um bordel argentino do inicio do séc. XX.
Era o som da milonga que se ouvia. Era a milonga que Artur ensinava. Era a milonga que Ana iria aprender a dançar. Os funcionários do Espaço Magnolia já tinham começado a fechar o estabelecimento. Arrumavam as cadeiras em cima das meas. Desligaram grande parte das luzes, mas deixaram um foco de luz, quase ao centro. Eles eram testemunhas daquele momento surreal que se desenvolvia entre a acompanhante e o cliente. Porque quando toca a meia-noite, tudo é normal no Espaço. Surrealmente normal. Artur segura na postura de Ana. Mágico. Algo foi transportado para um outro ambiente. Distante desta cidade, mas ainda dentro do Espaço Magnolia. Os dois bailarinos colocam-se de frente um para o outro. As pernas estão fechadas e os pés juntos. No instante em que se deu a salida, tudo era silêncio. Mas cedo tudo aqueceu. O primeiro passo manteve-os colados, mas de pernas abertas. E dai em diante, o professor mostrou à aluna que o tango se baseia em algo repetitivo. Abrir e fechar as pernas. Se ele lhe pediu intuitivamente que a aluna abrisse as pernas, é porque a intensidade assim o obrigou. Eles dançavam com o olhar. Ele lançou a marca, pedindo algo a ela. Ana percebeu e executa o movimento pedido. Artur seguiu-a e acompanhou esse gesto erótico. E no entanto, em tudo isto eles eram só um. Ana derretia-se. Apesar de ter noções básicas de como dançar, ela deixava-se levar pelas mãos e pelo tronco do cliente. Os olhares de Vasco e de Clarisse refugiavam-se sucessivamente nos passos de dança, mas o que é certo é que Ana e Artur estavam sozinhos.
Artur beija a acompanhante no centro da sala do apartamento. Cavalheiro, sedutor, implacavelmente irresistivel. Sente-se a respiração ofegante de Ana. Ela sente a mão dele deslizar pelo seu pescoço, acariciar-lhe o ombro suave e desapertar o alfinete que segura o vestido. E este cai como um lenço cortado por uma lámina fina. Tudo o que Artur faz, é suave. Ana está nua. Apenas de collants. Sem cuecas, sem nada mais que pudesse resguardar o seu corpo escaldante. Artur sabe disso desde que no café lhe segurou o rabo.
Os passos intensificavam-se. As pernas de Ana abriam-se. Artur seguia-a. Um traço longo obriga a jovem a um exercicio não perspectivado. Os sapatos de de um tacão alto e de uma agulha muito fina, fugiam ao controlo dos pés dela. O professor apercebeu-se e com a palma da mão, segurou a coxa da aprendiza e voltou a trazê-la para a posição mais vertical. Com o outro braço, Artur segurou levemente as costas dela. A esta altura, ela já lhe pertencia.
As calças dele também se dobram no chão, coladas às pernas. A perna dela está dobrada sobre a curva do braço dele. Ela sente-se mais elástica do que nunca. Sente que o tango a absorveu num mundo diferente. A rata de Ana está húmida. Abre-se bem perto do sexo entesado dele. E o tango envolve-os. Aproxima-os. Torna-os num único elemento. Sempre de pé. Tudo acontece na posição vertical. A agilidade dele impressiona. A forma como ele não move o corpo e no entanto consegue enciaxar tudo. Ana só sente o sexo imponente dele a penetrar em si, já protegido. Ana sente-o entrar no seu sexo faminto e despido. Um gemido leve, melancólico, perturbante, some-se da sua boca. De pé. Ele fode-a de pé. A acompanhante está segura ao chão apenas pelo sapta de tacão fino. Ela nunca vestiu uns sapatos assim. Ela nunca se sentiu assim. Ela não está aqui. Artur leva-a para outro universo. O pé dela arrasta-se para as costas do homem, mas ele não a deixa cair. As mamas dela chocam no peito vigoroso dele. Todo o corpo dela é desejável mas Artur fixa o olhar nela. Ana procura os beijos dele, toda a sua boca. Expõe o seu pescoço suave. E ele continua a entrar. Faz o corpo dela cavalgar de pé. A dança é extremamente louca e sensual.
O bar estava mesmo a fechar. Nenhum dos funcionários tinha coragem de chamar os clientes à razão. Porque eles estavam enfeitiçados. Dançavam por entre as mesas que já estavam arrumadas. Por entre o chão molhado. E os funcionários trabalhavam e olhavam ao mesmo tempo. Era viciante. Com a perna segura ao rabo dele, Ana sentia o seu corpo cair para trás. Artur segurava-a, mas pendia o seu tronco para cima dela. Eles eram um só. O tango deitava-os no ar. Sublime.
A paixão apodera-se do interior da acompanhante. Ele deita o seu corpo no ar. Ela finca o tacão no rabo dele, ainda com alguma desconfiança que ele a possa largar. Mas Artur não a larga. Finalmente, ele consome o peito dela. A sua boca suave enche-se com os mamilos rijos de Ana. As suas mamas dançam sobre si mesma. Ele continua a entrar nela. A perna esquerda dela mantém-se fixa ao chão. Os seus cabelos voam, quase a roçar no chão. O sexo dele incha dentro da sua rata. É uma terceira mão que a segura. Que a faz voar num pensamento melancólico. E ele continua a devorar com delicadeza os seios dela. A pele dela vibra. Exala uma atracção que ela jamais podia imaginar no inicio desta noite.
As pernas abriam-se, as pernas fechavam-se. A mão de Artur deslizava num movimento ascendente pelo corpo dela. Puxavam ligeiramente o vestido para cima. Ana sentia-se rendida. Um passo para a frente, um passo para trás. Univocamente. Ao rabo dela colou-se a mão do professor. Num movimento subtil, fez girar o corpo dela. Ana estava agora de costas para ele. Mas o par de dançarinos ainda era um só. Colava-se num abraço ousado. Artur passeou a mão no ventre da acompanhante. Insinuou a delicadeza do vestido dela. Desmascarou a sensualidade que existia no corpo dela, no seu rabo empinado. O professor pegou na coxa dela, mesmo junto às virilhas. Empurrou-a contra si deixando a mão deslizar pela perna abaixo. Empurrava-a para trás. A aluna voltou a estar assente num só sapato fino. O seu pé voltou a rodear o corpo dele, agora de costas. A acompanhante era mais do que nunca pertença do seu cliente. As persianas do café já há muito que estavam cerradas. Aquilo era um estabelecimento fechado, mas havia um enorme fluxo de vida a dançar dentro de um espaço surreal.
Ele sai dentro dela, mas tal gesto dura pouco tempo. Artur segura o corpo da acompanhante e empurra-o um pouco para a frente. Assim, Ana fixa a mão esquerda na parede e sente o sexo dele entrar novamente na sua rata. Mais uma vez, apenas sustentada por um pé no chão. É uma dança excêntrica. Intensamente insane. Libidinosamente provocadora. O corpo do cliente movimenta-se, golpeando o intimo de Ana com profundas e prazeirentas penetrações. A mão direita dele agarra o tornozelo da amante. A mão esquerda apalpa os seios dela. A sua parceira de tango entrega-se a ele. Ana geme. Agora não há retrocesso. Ela é invadida por um calor que não existe noutro lado. Apenas no mundo irreal de Artur. Como se tudo parecesse um sonho. Mas ela vive-o. E Raul é especial. Inimaginavelmente especial. O cansaço envolve o corpo de Ana. Aguenta de uma forma instável sobre o pé que faz força no tacão. Artur fode-a. Como se não houvesse mesmo amanhã e o tango fosse a derradeira maneira de sobreviver. O sexo dele baila dentro da rata da mulher. E como qualquer dança, o auge surge. Manifesta-se num êxtase supremo. Ana fecha os olhos. Jamais ela se imaginou naquela pose, mesmo para tudo o que ela já viveu como acompanhante. O seu orgasmo é um sustenido suave mas ao mesmo tempo encantador. Liberta-se ao movimento dos passos que lhe abriram as pernas durante toda a dança. A marca do professor de tango foi lançada. Ana entendeu cada sinal, cada pedido, cada desejo. Ana entendeu a magia do tango. Assim que se encosta à parede, recorda os ensinamentos desta dança. Mais do que o compasso de dois por quatro, mais do que toda a técnica existente, Ana respira os postíbulos argentinos, de putas belas mas melancólicos, de músicos bêbedos e sedentos de paixão, de camas realmente frias, com lençóis lavados mas lágrimas sujas. Quando controla a respiração, a acompanhante volta a abrir os olhos. Artur volta a girar o corpo dela, já assente sobre os dois pés. Esmaga um beijo na boca dela, como mais uma marca. Ela está rendida. O homem nunca lhe pertenceu, mas aquela dança durou uma vida inteira.
- E agora Ana, ainda tem pensamentos tristes sobre o tango?
- Estou quente!
- É normal...
- Estou a arder!...
- Estou embriagada com a sua fúria apaixonante...
- Ana...Só lhe posso dizer que o tango...come-a...
E todo o instante daquele olhar profundo e silencioso é a ressaca do tango. Para concluir a dança, há regras a ser cumpridas. Fechar as pernas, juntar os pés, com os corpos colados.
Artur já se despediu. Deixou o presente fechado num envelope branco. Deixou a puta deitada numa cama fria. Mas deixou-a encantada. Deixou-a feliz. E mesmo que Ana tivesse sido fodida pelo tango de uma maneira inesquecível, o que ela vai ficar tatuado no seu pensamento por toda a noite foi a recriação de uma rua perversa argentina. Com a noite perdida nas horas, com o candeeiro urbano a servir de foco de luz, com o passeio em pedras de calçada despido de gente, Ana e Artur voltaram a dançar o tango, após sairem do Espaço Magnolia. Cruzaram as pernas, bailaram os corpos, juntaram-se numa simbiose surreal. Porque tudo o que os irá unir, nesta relação entre cliente e acompanhante, é a paixão fervilhante desta dança. Foi meia-noite e algo de surreal aconteceu. Sublime.

terça-feira

Numa dança que segura o corpo

Os dias são longos para Lúcia. Acordar diariamente a uma hora madrugadora da qual ela não consegue fugir, reflecte-se no cansaço que invade o seu corpo quando a noite começa a cair. Misturado nas rotinas domésticas e na intensa jornada académica, o dia de Lúcia é devastador. Claro que como qualquer pessoa, ela encontra um ritmo natural. Chega habitualmente a casa para jantar, com companhia ou não, por volta das sete horas. Se a ausência de estudos ou trabalhos permitem, ela ocupa as últimas horas do dia para relxar no seu quarto. Internet, leitura, alguma escrita, divagações de prazer pessoal e uma entrada no mundo dos sonhos só dela. Alcançar as onze horas da noite lúcida é para a jovem um limite dificil de ultrapassar num dia útil normal.
A semana avança. As aulas extenuantes terminaram há duas horas. A turma de Lúcia aproveitou para jantar no bar da faculdade e trocar impressões entre os elementos mais próximos. A saída do próximo fim-de-semana, o tema do próximo trabalho de grupo, as trivialidades sobre futebol, compras e futilidades que preenchem as conversas mistas numa mesa longa do bar universitário. A conversa entre Lúcia e Francisco separou-se ligeiramente do cruzamento de diálogos confusos entre colegas. Uma conversa que se iniciou na reunião para o trabalho a entregar daqui a duas semanas. Desenrolou-se na falta de apoio dos professores e do constante distanciamento do outro grupo da turma que pura e simplesmente se recusava a acompanhá-los naquele inicio de noite. Estendeu-se para a união que surge entre este grupo, para o relacionamento entre todos, às vezes até intimo. A conversa foi concluida com um olhar breve mas intenso entre os dois. O grupo manteve-se no bar. Conversas fúteis, caminhos diferentes, rotinas distintas. Lúcia e Francisco abandonam. Saem juntos e tudo isso é perfeitamente natural para todo o grupo. E naquele instante, Lúcia sente algo em si a evadir-se do seu interior.
A luz vermelha acende-se. O elevador desce até ao primeiro andar do Edificio Magnolia. Quando a porta se abre, ela permite que o colega entre. Em silêncio, Francisco obedece. Até ao segundo andar a viagem é curta, mas o desenvolvimento é longo. A porta encerra-se. Lúcia carrega no botão com o número dois e imediatamente lança-se ao corpo do colega e beija-o. Francisco tem a idade da inquilina do 2º esquerdo. Estuda na mesma turma que ela, ao mesmo tempo que exerce a sua actividade principal. Francisco é jogador de futebol profissional, num clube da cidade sem muito impacto e mediatismo. A sua imagem possante misturada com um ar terno e intimista nunca fugiu à atenção de Lúcia. Mas este beijo abre uma brecha dentro de si. Francisco namora com uma jovem rapariga. Não é um homem fiel, no entanto procura na sede por Lúcia muito mais que uma traição. O beijo é um acordo mútuo sobre o que ambos realmente pretendem. A porta do elevador retorna a abrir, agora junto à porta da casa de Lúcia.
O apartamento está vazio. Tania e o seu namorado sairam para uma noite de copos. Outras rotinas, outros hábitos. Lúcia aproveita essas mesmas rotinas. Ela liga o minimo de luzes possiveis e põe o seu amante à vontade. Francisco não é o primeiro homem na vida da jovem. Não será o último, mas tudo é muito complexo. Lúcia é bissexual. Não implicitamente por opção. Talvez mais por necessidade. Os seus primeiros episódios sexuais que significaram algo mais que a mera masturbação foram partilhados com mulheres. Melhor, com raparigas. A sua primeira experiência sexual com um homem despoletou-se muito tempo depois dela assumir a sua faceta homossexual. Ela vivia a frágil passagem para o mundo adulto. A necessidade de entender os desejos do corpo humano fê-la entregar-se de corpo e alma a um jovem perdidamente apaixonado por ela. Lúcia considera ainda hoje que foi uma óptima experiência. Como momento decisivo no seu crescimento pessoal, essa experiência despedaçou algo dentro de si. Desde então, a relação com o seu pretendente mudou. Tornou-se mais fria, menos próxima, mais completa. Ela usou o elemento masculino dele para preencher uma necessidade que o seu corpo pedia. Em relação a ele. Não se pode dizer que concretizou o seu sonho. No final, sobrou a certeza de que Lúcia perdeu algo.
A televisão está acesa como elemento ambientador. Dispersa o nervosismo inicial de qualquer envolvimento. Na verdade, o tempo foi curto para que algo acontecesse. O beijo longo no sofá antecipa o momento em que as calças dele são desapertadas. Lúcia entrega-se ao colega de faculdade. Salta para o colo dele. Despe a camisola e enfrenta-lhe o seu peito volumoso, seguro pelo soutien preto. Francisco gosta. Sente-se arrebatado por uma jovem singelamente calma em toda a vivência académica. Enche as duas mãos no seios dela e estimula o interior que se quebra em Lúcia. Todos os homens que partilharam sentimentos sexuais com a jovem retiraram algo dela. Nunca guardaram esse pedaço. Mais novos ou mais velhos, maduros ou ingénuos, comprometidos ou não. O parceiro masculino de Lúcia caracteriza-se por perceber que não vão conseguir arrancar muito mais do que aquilo que ela entrega.
Lúcia está quase nua. Os seus suspiros demonstram alguma ansiedade. Para além do soutien, Francisco ainda não despiu a alma da jovem. Ela procura não despedaçar um pedaço de si que se solta. Sentada em cima da cintura dele, de costas para a sua face, Lúcia esfrega o sexo dele, bem próximo do seu ventre. Coloca o preservativo guardado no bolso das calças do colega e vagarosamente arrasta-o até ao fundo. As mãos de Francisco acariciam as costas suaves da amante. Aproximam-se das nádegas largas dela e empurram o seu corpo com delicadeza para a frente. O sexo dele é estimulado de uma forma excitante pela jovem bissexual. E no espaço de tempo entre a caricia terna nas bolas dele e o segundo onde ela é penetrada gentilmente, algo se perdeu dentro de Lúcia. Mas ela quer. Ela sente a picha dele entrar em si. Ele acaricia as ancas dela, ao mesmo tempo que a jovem cavalga suavemente sobre o corpo dele. Lúcia cerra os olhos. Sente o prazer do pedaço de carne a quebrar a sua rata. Francisco desliza as mãos pela barriga das pernas dela até aos tornozelos. Levanta ligeiramente o corpo e beija as costas da amante. Os saltos de todo o corpo dela sobre ele intensificam-se. Carregam em si um descarregar de desejo, de necessidade profunda de sentir o colega. Porque Lúcia entrega-se assim. O homem é atraente, carinhoso e excitantemente teso. Todavia, a alma dela está pesada. A racionalidade confunde-se com o cansaço que se apodera do seu ser. Transporta a tusa e sensualidade do seu corpo para o sexo do parceiro, mas pouco recebe. E tudo o que entra em si é devastador. Estilhaça no seu interior um prazer obscuro, uma sensação que não lhe pertence. Os gemidos que ela solta para Francisco, são os mesmos que outros homens já provaram da boca dela.
O sexo do estudante e jogador de futebol entesa cada vez mais. Incha dentro da rata apertada da amante. Francisco encosta-se no sofá e recebe o corpo dela. Lúcia está exausta. Com algo quebrado dentro de si, ela só pode esperar que toda a veemência da foda não lhe apague a consciência. Deixa-se encostar ao corpo do colega, assim que pressente as mãos dele apalparem-lhe as mamas. Sabe-lhe bem. Entesa-a. Fá-la sonhar com prazeres duradouros. Esvazia em si a sede que se acumulava desde a última penetração masculina. Ela geme, mas não explode. Francisco retira as mamas dela dentro do soutien. Estimula os mamilos, aprecia a suavidade do peito dela, espalha o suor que escorre do vale do busto apertado. Os dedos de Francisco assemelham-se a tanta coisa que põe Lúcia louca. Os dedos dele procuram colar o que já está quebrado dentro dela. E quando ela perde as forças, é ele que controla o momento. É ele que fode a rapariga até não poder mais. Porque Francisco não aguenta muito mais. Puxa pela cintura para cima, qual exercicio fisico nos treinos. Desce as mãos pelo corpo dela e segura-lhe as coxas, de forma a levantar o corpo dela. A picha entra profundamente no sexo de Lúcia. Estimula-a. Mas ela não rebenta. O seu prazer é cortado com algo que se desvanece numa parte incerta do seu âmago. As suas mamas bailam livremente, não tendo nenhuma mão que as segure. As suas costas estão completamente deitadas sobre o corpo dele. A alma de Lúcia é sustentada por ele. Já não tem forças. Já não tem sensibilidade. Francisco vem-se. Obtém o seu prazer, geme junto ao ouvido dela, abraça o colapso corporal da amante. E ainda que as mãos do colega segurem o corpo de Lúcia, ela quebrou.
Ouve-se a respiração da jovem. A foda estilhaçou o seu desejo. Rompeu o seu intimo que ansiava por isto. Não se pode dizer que obteve o seu prazer. Mas isso ela sabe que não iria acontecer. Tem consciência disso no momento em que repousa sobre o corpo dele. Não está menos satisfeita por isso. Uma queca com um homem não se resume a ter um orgasmo. Francisco veio-se, teve o seu prazer imenso e isso também é relevante na sua mente. O colega beija a maçã do rosto rosada. As suas mãos voltam a encher os seios dela que ainda bailam, nus. Quando solta o susprito derradeiro, aquele que a faz regressar ao mundo real, Lúcia liberta um pequeno sorriso. Talvez Francisco não se contente com o facto de a amante não se ter vindo. Talvez tudo isso até possa ter uma explicação lógica. Talvez tudo isso proporcione um novo encontro. Mas no momento em que se ouve a porta de entrada a abrir, Lúcia não está mais fraca, não está mais vulnerável. Tania entra apressadamente dentro de casa. Imediatamente, Lúcia agacha-se no sofá, saindo de cima do colega, retirando o sexo consolado dele de dentro da sua rata. Francisco repete a acção. Tania percebe que algo de estranho está a acontecer na sala. Ao manter o olhar lá, vê a cabeça de Lúcia surgir, vê os ombros despidos da amiga que partilha consigo o 2º direito e entende o que se passa. Larga um sorriso e um entendimento geral surge entre as duas jovens. Tania diz que veio só buscar a carteira e que está já de saida. Lúcia argumenta que se estava a preparar para ir para a cama. A televisão transmite a novela da noite. Francisco percebe que o momento já passou e é melhor dar a noite por terminada. Assim que Tania sai, o jovem levanta-se, veste-se e conclui com um beijo terno na face da amante, aquilo que tinha começado com um simples conversa rotineira entre amigos na faculdade. Lúcia, que certamente estará na cama daqui por quinze minutos, sabe que algo foi quebrado. E não foi só o facto de ter prometido que nunca se envolveria no mesmo sofá onde Tania habitualmente abocanha o namorado dela. Mais uma vez, a entrega de Lúcia ao seu desejo interior de querer sentir um homem dentro de si, não conseguiu sobrepôr-se à fragilidade de libertar toda a sua energia sexual no ouvido do parceiro. Lúcia voltou a quebrar.

segunda-feira

Danças em chão tépido

É quase hora de almoço. Sente-se o movimento habitual nas escadas do Edificio Magnolia. As pessoas saem. As pessoas entram. Terminam os seus afazeres, adiantam-se para os compromissos vindouros. Tudo tem um principio e um fim. Uma hora de começo, uma hora de término. Faltam dez minutos para Maria José terminar mais duas horas de explicações. A jovem estudante arruma os cadernos e o livro, indispensável para a preparação para a cadeira anual que nunca mais termina. O apoio da professora universitária tem contribuido para uma maior confiança da jovem. De tal forma que a última hora que foi combinada é concluída antes do tempo estabelecido. Maria José está ansiosa. Depois de almoço, aguarda pela presença de Tiago. Ele e o seu desejo guardam-se na memória da mulher. A hora de explicação derretida no seu sofá alcançou um limite decisivo na mente dela. Tiago tornou-se uma espécie de margem na postura profissional e pessoal da mulher. E Maria José transpôs essa margem. Agora tudo é possivel. E a sua ansiedade resume-se nessa possibilidade do mesmo momento voltar a repetir-se.
A professora nem pretende despachar a estudante. Os últimos minutos são reservados para a jovem pagar as últimas horas em que Maria José disponibilizou os seus serviços. A mulher passa o recibo e vai entregá-lo à aluna junto à porta de entrada.
- Obrigado, stôra...Também queria dizer-lhe que o Tiago não pode vir esta tarde.
- O Tiago??!
- Sim...tinha umas horas marcadas com ele....ele disse que não podia vir...
- Mas...o Tiago é....
- O Tiago é meu namorado, stôra e mandou-me agora uma mensagem a dizer que...
- Que não pode vir...
- Sim...
Gera-se um silêncio no hall de entrada do 1º direito. O olhar de Maria José fixa-se na aluna. Precipitadamente, uma sucessão de acontecimentos invade-lhe o raciocinio. Tiago cancelou as horas. Ter-se-à amedrontado desde o último beijo neste exacto sitio? A namorada dele é, afinal de contas, uma das estudantes à qual ela dá explicações. Saberá ela demasiado? Ela entrega-lhe uma mensagem em segunda mão. Quererá ela transmitir alguma coisa? Há duas semanas, Maria José envolveu-se com um aluno. Há quase dois meses, a mulher divorciou-se de um marido de uma vida inteira. Há vinte e dois anos, a professora deixou de ser solteira. Aos vinte anos, ela tinha todos os sonhos da vida, as loucuras da juventude, as insanidades saudáveis. E no entanto, hoje continua a ser a vida presente dela. A sua mente continua em turbilhão. A jovem aluna abre a porta da casa da explicadora mas mantém-se a olhar para ela, esperando uma espécie de resposta. No entanto, Maria José ainda está desorientada.
- ...Desculpa, Alexandra...Esqueci-me de te dar o troco...Dás-me uns segundos?
Alexandra aguarda. Pressente a mulher fixar o olhar na sua face. Pressente os olhos dela a percorrerem vagarosamente o seu corpo. Pressente a confusão da professora. Mas aguarda. Maria José vira as costas e dirige-se à sal, à procura da carteira. Algo dentro do seu pensamento não decorre da forma certa. Algo na sua imaginação bloqueia um pensamento maturo, harmonioso e saudável. Na sua mente, enquanto procura uma nota para entregar de troco, está a imagem de Alexandra. Maria José comeu o namorado da sua aluna. Entregou-lhe um prazer que supostamente a jovem nunca tinha dado a Tiago. Ele não vem. Ele assustou-se. Ela sabe. Ela é linda. Dentro da cabeça de Maria José explode a estupefacção perante a beleza da jovem. A professora tenta concentrar-se. Não consegue. Procura achar uma nota. Não consegue. As suas mãos tremem. Ela vê a face perfeita de Alexandra. Cabelos castanhos lisos aloirados. Uns olhos azuis cristalinos. Um sorriso intenso e misterioso. Um corpo esbelto. Extraordinariamente esbelto. O decote salienta o seu peito firme. Pequeno mas firme. A saia preta até ao joelho realça, mas realça mesmo as ancas delineadas e as pernas tonificadas. Maria José respira fundo. Ela não sabe se está nervosa ou excitada. Não pode estar excitada. Não é mesmo possivel. Mas ela treme. Recorda os seus vinte anos. Recorda as noites no dormitório junto à universidade onde se formou. Maria José não encontra a nota. Morde o lábio inferior, ergue o corpo e inspira o mais profundo que consegue. Olha para o exterior pela janela graciosa da sala. Voltar ao hall de entrada, depois destes segundos vertiginosos, repletos de reminiscências da sua vida, dos seus desejos e dos seus impulsos, é agora torturante.
- Alexandra...não tenho mesmo troco para te dar......
A jovem liberta um sorriso. Como que a aceitar gentilmente o facto de não poder receber o dinheiro devido. Ela percebe que a mulher está nervosa. Segura na porta e prepara-se para sair. Maria José tem o olhar perdido nela. Antes de deixar a aluna sair, a professora volta a transpôr o limite. Dá um passo em frente e despeja os seus lábios na boca fina e macia de Alexandra. Algo é quebrado. Há um sliêncio estilhaçante naquela divisão da casa. O beijo roubado dura cinco segundos. Não mais. Não pode durar mais. Alexandra nem sequer esboçou um gesto, um movimento. Poder-se-ia mostrar surpreendida com o beijo. Talvez atrapalhada. No entanto, nesses cinco segundos cerrou levemente os olhos. No momento em que Maria José liberta a boca, abre os olhos. Abre as pálpebras a ponto de fazer lacrimejar os olhos. Entra em choque. São momentos longos.
- Não... Desculpa, Alexandra...eu não queria...desculpa...eu estou...esquece... por favor esquece que fiz isto... por favor...
Quando tudo parece desabar à volta de Maria José, a margem que ela transpôs aproxima-se dela. Alexandra fecha a porta, larga a mal que tem a tiracolo e retribui o beijo. Desta vez é um beijo quente, profundo, colado. A jovem quer. De alguma forma, com algum intuito oculto, a rapariga de cabelos castanhos gostou do beijo da professora e entregou-se a ela. Tudo o que se precipita na cabeça de Maria José, mistura-se numa enorme confusão. A única saída é render-se àquele prazer insólito. A mulher envolve-se no beijo. Leva as mãos aos ombros dela, puxando o casaco de malha para trás. Empurra a jovem contra a porta, agora fechada, isolada da correria infernal nas escadas. O beijo molha-se. Envolve o vigor das linguas, joga com as mãos desejosas, dança com a trepidação dos corpos. Maria José sente-se enfeitiçada. Jamais ela pôde imaginar no inicio destas duas horas que elas se iriam concluir assim. Não estava pré-definido. Não estava sequer ao alcance das suas fantasias mais ousadas. Beijar o pescoço de uma outra mulher não era concebido nos seus desejos. Saborear a pele fina de uma jovem sensual seria um passo que ela jamais iria dar. Mas está a dá-lo. Entra num jogo perigoso. Cada vez mais perigoso. Aceita uma dança desconhecida. O corpo de Alexandra escorrega pelo carvalho envernizado da porta. A professora acompanha o movimento dela. As duas mulheres sentem agora o chão frio. Alexandra está sentada e procura abrir as pernas para deixar os joelhos da mulher aproximarem-se do seu sexo.
- Não sei como fazer isto...Nunca tinha...Não o sei fazer...
- Achas que eu me lembro da última vez que o fiz?
Vinte anos. Maria José tinha vinte anos quando se deixava levar por loucuras sem medir qualquer tipo de consequência. Nessa altura ela era assim. Uma jovem bonita, sensata mas sonhadora. Atrevida mas reservada. Imatura. Os tempos eram outros. Agora ela tem quarenta e seis anos. Envolver-se com alunos passa para além da sua maturidade. Mas o desejo fala mais alto. Os seios de Alexandra são descobertos assim que ela lhe puxa as alças do top decotado. Pequenos mas firmes. Os mamilos aguçam num calor desperto pelo prazer proibido. A jovem acaricia os cabelos loiros da mulher. Pede mais. Quer mais. Recebe mais. Os lábios da professora chupam as mamas e obrigam um gemido a saltar da boca fresca de Alexandra. O seu rabo arrefece no soalho desconfortável. Ela movimenta as pernas, fazendo-as dançar em pleno ar. O peso das suas botas força-a a pousar as pernas nas costas da mulher. Maria José delicia-se com as mamas suaves e fofinhas da inesperada amante. Não é um caso inédito na sua vida. Mas um enorme ocaso surge na sua mente quando ela procura recordar-se da excitação de saborear um peito feminino. Entre essa e esta experiência existem mais de vinte e cinco anos solitários e vazios. Agora tudo se enche na boca de Maria José. Porque a sua aluna procura mais prazer. As mãos dela empurram a sua cabeça mais para baixo. Algo arde no intimo de Alexandra. A mulher puxa a saia fina dela e descobre as coxas formosas da jovem. Descobre as cuecas que cobre o sexo fresco da rapariga. Descobre o sexo que está húmido. Porque tudo é demasiado rápido. Tudo é demasiado inconsciente. Alexandra fecha os olhos. Sente os dedos da professora a tocarem no pedaço de tecido interior que envolve a sua pele. Sente a cuecas percorrerem a pele das suas coxas. E uma vibração desloca-se por todo o seu corpo, atravessando a espinha, rebentando na sua nuca.
- Eu quero...ohhh...quero tanto!!! Quero mesmo...por favor, não pare!...
As cuecas finas de Alexandra páram próximo dos seus joelhos. Por sua vez, os joelhos dela estão a rodear a cabeça da professora. Maria José beija as coxas dela até chegar às virilhas. A jovem sente-se louca. Geme por todo o lado. O feitiço que invade a alma de Maria José é espalhado pelo corpo da jovem. A lingua da professora toca os lábios vaginais da sua aluna, para depois explorar mais profundamente. Descobre o clitóris, perde-se nele, encanta-o com um toque intenso. As pernas de Alexandra entram em convulsões excitantes. Ela pede mais. Maria José tem agora as mãos no rabo macio mas frio da jovem. São nádegas diferentes para o tacto da mulher. São sensações disperas de todas as suas fantasias. Nunca foi fantasia. Em poucos segundos, algo explodiu nas certezas interiores de Maria José e transformou-se numa realidade excêntrica. Ela come a rata de uma jovem mulher. Ela delicia-se. Prova os sabores que emanam do interior da vagina dela. E quando todo o corpo de Alexandra escorrega pela porta, deitando-se por completo no chão tépido, a professora dança com a lingua dentro da rata da aluna. Alexandra está louca. Dentro da alma imatura da jovem, ela já se veio. Tudo brotou na fantasia delicada que se pinta nos seus sonhos. Agora há uma viagem intensa e precipitada a decorrer no seu intimo. Agora que Maria José abocanha toda a rata, chupando o clitóris encharcado da sua amante, Alexandra espalha a sua energia pelo corpo. Perde o controlo de tudo. Sente-se alucinada por um sentimento novo. Maria José cola-se à rata apetitosa da jovem. E ela sente o prazer de Alexandra eclodir na sua boca. As mãos finas da aluna fincam na nuca da mulher. As pernas apertam nas suas costas. E o suco que a professora suga é a prova de que tudo isto é sentido. É o gosto que vai ficar guardado na sua lingua assim que ela para de dançar na vagina de Alexandra...
A namorada de Tiago não pode saber. Jamais poderá ter ideia das coisas que a professora lhe roubou. Tiago não faz ideia do que a sua explicadora lhe roubou. Maria José não tem noção dos limites que ultrapassou. Mas este segredo é mais profundo que isso. Envolve mais sentimentos que a mera extorsão de experiências sexuais. Este segredo não é uma descoberta de Maria José. É a revelação de tudo o que ela ambicionou e provou. É a revelação que foi encoberta por mais de vinte anos de casamento. E entre o inicio e o fim dessa união guardou-se um desejo cadente, recalcado na mente ousada de uma mulher a caminho dos cinquenta. Maria José tem uma vida pela frente. Sempre teve. Episódios como este são apenas pedaços quebrados da sua líbido. Quando solta um beijo fino na boca de Alexandra, para se despedir dela, a professora sabe que está incontrolável. Assim que abre a porta à jovem, depois dela se ajeitar, a mulher consciencializa-se dos seus pecados. Ao fechar a porta, Maria José tem a certeza que a revelação dos seus desejos irreverentes e imaturos ainda agora começou. Novamente sozinha em casa, ela baixa-se para pegar nas cuecas espalhadas no soalho tépido. Segura-a na mão e até chegar ao chuveiro, já nua, irá decidir o que fazer com aquele tecido surreal.

domingo

Do que está à espera para abrir esta porta?

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"Eles quebram todas as regras"
Tagline do filme Nine 1/2 Weeks, de 1986, com Kim Basinger e Mickey Rourke http://www.imdb.com/title/tt0091635/


E ainda sobra um doce encanto achocolatado. E ainda resiste uma irresistivel sensação de gula. De querer mais. De pedir mais. De desejar mais e melhor. Foi uma semana longa, num dia muito longo. O Carnaval foi vivido intensamente e hoje resta apenas uma leve memória de que algo transcendente foi intrinsecamente respirado. Ao acordar, será que alguém se lembra? Ao despertar, será que resiste uma vibração na pele de cada um dos inquilinos?
O dia de amanhã será diferente. Espreita sempre uma nova revelação. Aguarda que alguém tatue nas paredes do Edificio um segredo demasiado aberto ao mundo, um sussuro erótico num tom demasiado grave. O dia de amanhã reflecte novas realidades. Esta semana o Edificio é como um espelho enorme que se estilhaça no chão. Parte-se em seis pedaços e esbate meia dúzia de perspectivas. É um vidro que se quebra. É um vidro que se cola. É um vidro que dança com a luz.
Esta semana, peguem num pedaço de vidro espelhado. Reflictam-se neles. Amem-se neles. Apaixonem-se neles. Sozinhos ou acompanhados. Vestidos ou nus. De dia ou de noite. Tudo o que é preciso é um foco de luz. Um fio luminoso que possa chocar contra o pedaço de vidro. Movam o vidro. Estudem os movimentos. Encantem-se com o que se revela. O corpo irá dançar. Irá movimentar-se vertiginosamente numa verdade paralela. A mente irá bailar. Aquilo que se julga ser, passará a ser um sonho. Apenas com a mão, toda a realidade que estamos habituados vai tremer. Os acontecimentos vão flutuar em novos contrastes, novos desejos, novas revelações.
Porque o segredo é esse. Ainda há tanto para ser revelado.
Porque já se conhece o Espaço. Traz sensações surreais.
Porque vive-se nestas paredes. Elas guardam os nossos próprios desejos.
Porque acima de tudo, nada fica intacto depois de vivido por alguém.
E os sentimentos, as paixões, a cobiça, o desejo são pedaços do nosso ser. Confundem-se com a hegemonia harmoniosa de outras vidas.
Porque tudo vai ser revelado. Porque nada vai ficar intacto. Porque o espaço é seu. Porque alguém vive aqui. Eles vão ceder à inevitabilidade. Eles vão quebrar.

E ainda há um desafio para responder...