Qual a melhor brincadeira de Carnaval que se conhece? Até onde pode ir uma partida em que ninguém pode levar a mal? Qual o limite entre uma surpresa fantasiosa e uma gracinha de mau gosto? O Entrudo pode ser uma linha ténue entre a diversão e a decadência.
Rodrigo espera por mais uma bebida no sofá mais próximo da porta de entrada. Está sozinho. Muito sozinho. A sua esposa deixou-o. Trocou-o por uma noite de Carnaval com as amigas. Abandonou-o na solidão de mais uma noite de folia da qual ele nunca foi adepto.
- Aqui está a tua imperial....
O convite de Clarisse para acorrer ao Espaço Magnolia na noite de Carnaval foi tentador. Assim que soube que Helena tinha uma noite de mulheres num bar do outro lado da cidade, correu para o centro comercial, comprou uma máscara e escolheu a sobremesa de chocolate.
- Não queres marcar a bebida no cartão? - pergunta ele à funcionária.
- Não é preciso. Foi oferecida...
- Por quem?
Clarisse levanta o olhar e aponta-o brevemente para o balcão. Rodrigo percebe onde pára a atenção da funcionária do Espaço e avista uma mulher mascarada. Sensual. Charmosa e madura. Quente. Intima mas segura. Ele sabe que chamou a atenção. Rodrigo é um homem disponivel. Na noite de Carnaval, ele está sozinho com as suas bebidas, olhando para o desenrolar da festa. Apesar de ostentar a aliança de casamento, ele não tem companhia. Mas é notório que a procura. Rodrigo anseia por uma foda. Rápida, instantânea, prolongada, em que sitio seja, a que momento fôr. Mas tem que ser nesta noite, com uma mulher que se entregue a ele. Isto é o que o corpo dele transmite. Isto é o que ele deseja. Clarisse está obviamente ocupada para ser a sua presa. A mulher que dança diante da jukebox está quase perdida nos braços do seu vizinho e não trda vão sair para o apartamento dele. E todas as outras mulheres solteiras e descomprometidas já sairam do Espaço, rumo a uma discoteca onde possam libertar os seus desejos mais intensamente. Mas uma mantém-se. Misteriosamente, há uma mulher sozinha ao balcão que chegou há cinco minutos e desde então não retira o olhar de Rodrigo. A oferta da bebida é o culminar de um assédio silencioso que ocorre desde que ele a avistou. O homem pega na bebida e levanta-se. O seu olhar mantém-se na mulher. Procura perceber se a conhece, mas a máscara não deixa vislumbrar a sua identidade. É uma máscara branca, que ocupa toda a face, deixando apenas descobrir os cabelos negros, penteados com uma laca modeladora. A mulher ostenta o espirito de Carnaval. Pelas pernas também não é fácil desvendar uma familiaridade com o corpo. Cobertas com uns collants pretos quase transparentes e uma saia que com dificuldade tenta tapar as coxas, ela exibe-se. Escaldante. Apetecível. E parece que a mulher apenas se quer guardar para Rodrigo. Ele conhece-a. Ele tem que a conhecer. Ele acredita mesmo que a conhece.
- Obrigado pela bebida...A máscara é fantástica...
A mulher mantém-se em silêncio. Mesmo quando Rodrigo está próximo dela. Tão próximo que as pernas dele roçam nos joelhos dela e a incitam a descruzar as pernas. Ela mantém-se sentada junto ao balcão, mas subitamente sente uma vontade de se levantar. Um desconforto invade a sua postura. Mas ainda assim, ela mantém-se firme. Ergue o olhar para o homem, pega no copo dele e dá um gole rápido. A sua mão, coberta por uma luva negra, percorre o peito dele.
- Isto é um jogo?... - pergunta ele.
Rodrigo sabe que está ser seduzido. Delira com o facto de uma mulher misteriosa o galantear. Ela não responde. Mas o homem ainda está convicto que a conhece. Uma cliente da sua loja, possivelmente. A vizinha morena da rua por detrás desta. As pernas dela fazem-no recordar instantaneamente a funcionária do restaurante onde ele vai almoçar diariamente. Rodrigo lança um sorriso presunçoso. O sinal que demonstra o desejo por ela está lançado. A mulher opta pelo jogo do silêncio. Ele respeita. Se a mulher o quer, terá que se entregar.
- Ok, se queres um jogo...então...eu serei o teu jogador...
Percebe-se que a mulher sorri, por detrás da máscara. Aproxima o seu corpo do peito dele. Como se pedisse um abraço. Como se pedisse uma entrega total. A mão dele envolve a face da mulher. Tem vontade de retirar a máscara e descobrir a amante que atrás dela se esconde. Ele conhece-a. Ele tem a certeza. Quase de certeza que já se envolveu com ela. Só assim é possivel a mulher seduzi-lo daquela forma tão ousada. Acaricia os cabelos dela.
- Onde o queres? Ainda temos tempo para subir....
Ela acena negativamente. A mão dele desce até ao ombro da mulher. Pressente-se que debaixo do casaco negro de veludo, ela gosta do gesto.
- A esta hora já é tarde para ir para um hotel...
A mulher baixa ligeiramente a cabeça. Imediatamente fixa o olhar no peito dele, mas depois olha por cima do ombro dele.
- A casa de banho?!...Não achas um pouco precipitado?
As mãos apertam o casaco, que lhe cobre o tronco até um pouco abaixo da cintura. A mulher demonstra que pretende algo intenso, louco e diferente. Ela desafia Rodrigo para uma verdadeira queca. Mas também demonstra que se ele não estiver interessado, o jogo pode terminar ali mesmo. A mão de Rodrigo percorre todo o braço dela, segurando com firmeza a mão coberta dela.
- Está bem....Nós vamos...És louca!
Rodrigo mantém segura a mão da mulher. Ele faz rodar a sua cabeça, procurando perceber o que o rodeia. Subliminarmente, ele percepciona se ninguém olha para ele. Quando ele puxa a mão da mulher misteriosa, tem a certeza que a consegue levar para a casa de banho dos homens sem que ninguém perceba a acção.
São uns lavabos limpos. Ostentam o mesmo brilho e charme de todo o Espaço Magnolia. O chão e parte das paredes são ladrilhados de um mosaico negro mas brilhante. Um metro acima, o resto das paredes vestem uma pintura pérola. Os enormes espelhos do lado direito e os focos de luz no topo entregam uma luminosidade surreal àquele lugar. Ainda assim, Rodrigo leva a mulher para o interior de uma cabine. Depois de fechar a porta, sente a segurança suficiente para se entregar aos desejos da amante desconhecida. Não há beijos. A ocultação da face assim o dita. Não há tempo para ternuras e caricias. Eles não estão num lugar dado a prazeres demorados. As mãos de Rodrigo querem despir o peito dela. A mulher não deixa. A mulher quer ser consumida. A mulher vira-se e encosta-se à parede fria, mesmo ao lado da sanita. Apesar de confuso, Rodrigo sabe perfeitamente que já provou esta mulher. A excitação invade-o. A incerteza da identidade deixa-o louco. Abre as calças enquanto procura dar um palpite a si mesmo sobre quem lhe está a dar uma misteriosa noite de Carnaval.
Ela geme. Sente o corpo dele a empurrá-la contra a parede. Ela quer. Anseia pelo instante em que o sexo dele subir pelos seus collants, roçar por entre as nádegas e entrar no seu rabo. Porque é isso que ela quer. É isso que ela demonstra quando emite sons excitantes ao sentir a mão dele levantar-lhe a saia. Rodrigo faz escorregar um dedo por entre a carne do rabo. Desvia a tanga que ela traz e penetra-a. Ela volta a gemer. Procura abafar o som suave que é largado da sua garganta. Alguém pode entrar. Alguém pode ouvir. Ele conhece-a. Ele sabe que já provou um cú assim. Apertado. Quente. Sufocante.
- Ansiavas assim tanto por isto?? Ansiavas assim tanto que eu te fodesse?
Ele segura-se às ancas dela. Puxa a cintura dela para trás e põe o rabo mais a jeito. Fode-a. Penetra nela como uma verdadeira amante sua gosta de ser fodida. Porque efectivamente, para o querer assim, a mulher só pode ter fogo a despertar dentro de si. Para se submeter a uma queca assim, ela deseja-o intensamente. E ele corresponde. Fode o rabo dela. Acaricia as nádegas femininas quentes. Dá-lhe aquilo que a respiração dela pede. Mais. Muito mais! Rodrigo encosta a boca junto à face dela, coberta pela máscara e pelo cabelo. Sente os gemidos dela. Sente como eles bortam do peito dela e se desfazem na garganta. Enquanto a penetra, o homem faz sentir à amante aquilo que ela deseja. Ser comida como uma puta. Como uma mulher que apenas quer retirar o prazer instantâneo do sexo dele. E isso dá gozo a Rodrigo. Mesmo que na cabeça dele, ele saiba que come alguém conhecido. O que o faz vir-se neste instante, é a sensação de foder uma mulher oferecida. Esporra-se no interior dela de uma forma descomprometida. Ouvem-se os gemidos da mulher. Agora os lábios finos dela não oferecem resistência. Soltam os gritos, exprimindo o prazer louco que o orgasmo do parceiro lhe está a dar. São gemidos excitantes. Abafam no plástico da máscara, mas tornam a sua voz perceptivel. Rodrigo conhece-a. Melhor do que ele pensa. No momento em que ele liberta tudo para o rabo. No momento em que a sua mão esquerda aperta o peito dela. No momento em que a queca impulsiva decresce o seu ritmo, uma ideia estonteante e insane invade o seu pensamento.
- Ohhh...não...não pode ser!.... - desabafa ele.
Rodrigo retira a picha do rabo da amante. Segura nos ombros dela e vira o corpo. Um olhar momentâneo é trocado entre os dois. Ela encosta-se à parede. Ele mantém um ar sério. Mas no instante em que Rodrigo leva a mão à nuca da mulher e puxa a máscara para a retirar, um arrepio atravessa-lhe a espinha.
- Não pode ser o quê? - pergunta ela - Nunca imaginaste foder-me assim?
Defronte de si. Defronte de Rodrigo. Defronte da sua atitude de desejo lívido. Defronte de tudo o que ele jamais procurou pensar, está Helena.
- ....Não sei...Julgava....Não sei...Helena....Julgava que não gostavas de...
- De ser fodida numa casa-de-banho?!
O ar de estupefacção dele é inacreditável. Ele conhece-a. A mulher que o galanteou no meio do bar, escondida por detrás de uma máscara, é a sua mulher. Ele procurou imaginar qualquer uma das suas amantes. A filha do seu namorado. Qualquer uma das suas clientes com os mesmos traços ele imaginou. A secretária da outra cidade, talvez disfarçada. A sua esposa foi a última mulher que ele esboçou por detrás da máscara. E agora? Será que Helena o desmascarou? Porque desde o inicio, Rodrigo julgou que ia comer uma amante. E isso quase implicitamente saltou à vista. Até mesmo de Clarisse. Até mesmo de qualquer cliente no bar que os tivesse visto a entrar para a casa de banho. Mas é um jogo o que Helena faz. E nesse jogo, nem ela própria consegue alcançar o verdadeiro objectivo. Nem ela mesmo recolhe a presa que se sente caçada pela ratoeira dela. Não. Helena ainda geme. A sua rata ainda lateja da foda. Mas ela quer mais. O sorriso dela não engana. Abre o casaco, abre a camisa branca com folhos que veste. Porque Helena veste-se como uma prostituta. Mascara-se de uma fantasia que quis entregar ao seu marido. E já é tarde demais para ela perceber o que ia na mente dele. Ela jamais o irá perceber. Para ela, tudo aquilo não passou de uma brincadeira envolvente. Em que ela comandou e ele participou. Como um lindo menino. Rodrigo esteve a um palmo, a uma foda, a um pequeno deslize de ser descoberto. Algo que ele tivesse dito ou desejado e tudo terminava ali. Impávido e ainda a procurar recuperar a respiração, ele leva as mãos aos seios da sua própria mulher. Não é uma amante. Não é tão pouco uma mulher desconhecida que se ofereceu a ele. Os seios quentes, tesos e espelho do desejo do corpo da mulher, são da sua esposa. O coração dele palpita. Excita-se com o momento, mas palpita velozmente. Como se a qualquer momento, pudesse saltar do peito para fora. O que o segura é uma linha ténue. Uma linha muito fina. Quase invisivel. A linha ténue que separa uma brincadeira gostosa, de uma partida de mau gosto.
Helena está montada no corpo do seu marido. Tem a testa a suar, tens os lábios molhados. Rodrigo já não tem a sua máscara a envolver a face. A sua pele toca nas maçãs do rosto da sua esposa. Segura o corpo dela contra a parede húmida da cabine da casa de banho. As pernas da mulher estão envoltas na cintura dele. O sexo dele ainda incha dentro da rata de Helena. O impacto do momento, a excitação do perigo, a adrenalina que explodiu no seu interior, fez Rodrigo entusiasmar-se e por cerca de três minutos perder a cabeça. Voltou a foder a amante que escolheu para esta noite. Segurou-a pelas nádegas e entrou nela, abrindo as suas pernas. Entrou na rata dela de uma forma intensa. O sexo dele roçava no clitóris da esposa, ao mesmo tempo que enchia o sexo dela. Os seus lábios vaguearam várias vezes pelo pescoço húmido da mulher. Chuparam os seios. E nesse instante, ele não sabia quem era. Talvez não lhe fizesse diferença de que eram aquelas mamas. Helena segurou-se à nuca dele, beijou-o várias vezes. Gemeu. procurou gemer de forma a que ninguém ouvisse. Veio-se sem pensar que alguém verdadeiramente lá fora pudesse perceber que ela estava a adorar ser comida pelo próprio marido. O entusiasmo que soluçava dentro de si tornou-o um homem diferente. Podia ser uma amante que ele comia. Podia ser uma mulher quente, sem compromissos, sem nada a perder que estivesse a entregar-se a si. Mas não. Ele perdeu a cabeça e voltou a foder a sua mulher ali mesmo. E nem ele pode negar que com o descontrolo que invadiu a sua mente, ele comeu-a como se fosse uma verdadeira puta. Helena foi, mais do que nunca, literalmente e por um momento insane, a sua amante.