sexta-feira

Ainda se ruma a Sul

Laura sai do banho nua e dirige-se ao quarto. A toalha ainda limpa o seu corpo e ela retira do saco duas peças vermelhas. No instante em que ela veste a roupa interior, o seu namorado chega a casa. Afonso pousa as suas coisas no móvel junto à porta de entrada e dirige-se imediatamente ao quarto.
- Uau! O que se passa para estares assim tão sensual?
A mulher tem uma lingerie vermelha, transparente quanto baste, excitante o suficiente para despertar a atenção de um homem como Afonso. Laura aproxima-se do corpo do namorado e abraça-o. Fixa o olhar nele, com algum atrevimento. Ele sorri.
- Não posso?...Não gostas? Uhmmm?....Se quiseres posso devolver....
- Nem penses...Quer dizer que foste às compras?
- Fui....Mais a Sofia....
As lojas estavam cheias. A baixa da cidade era um pandemónio. Pessoas a sair do trabalho. Pessoas que procuravam chegar ao outro canto da cidade. Pessoas que apreciavam as novas colecções, algumas promoções primaveris e enchiam todos os cantos das ruas comerciais. Sofia convidou Laura para um final de tarde de compras. De outra forma, Laura até podia achar aborrecido e cansativo. Mas o pedido da sua amiga e amante loira motivou-a a atrasar o seu regresso a casa. Apesar de entrarem em todas as lojas de roupa feminina, masculina e para criança, pequenas casas de acessórios para mulher, lojas de decoração e até uma livraria, o intuito de Sofia era levar a sua amiga a uma loja fantástica de roupa interior feminina. A segunda parte, a segunda vaga de uma romaria incansável. O sorriso ansioso da namorada de Diogo dilatou. Como uma criança que entra numa loja de brinquedos. Ainda assim, o que mais custou foi pegar na primeira peça exposta. E era para isso que Laura lá estava.
- Vai lá experimentar esta....Vê lá se o creme combina contigo. - diz Laura.
- Vem comigo.
Sofia pegou na mão da amiga e levou-a até aos provadores. Entrou e puxou a cortina. Do lado de fora, Laura aguardava para que a loira se despisse e pusesse o soutien e as cuecas a jeito no seu corpo.
- Laura?
- Sim?
- Diz-me....Gostaste do Gustavo?
- Sim, gostei....É um homem muito educado, muito divertido.
- Não te faças de desentendida.
A namorada de Diogo abre a cortina e apresenta a sua figura à amiga, com um sorriso matreiro. Laura olha-a de cima a baixo e depois volta a subir com o olhar. O corpo de Sofia é encantador, suave, terno e sensual. Mas a cara de Laura não parecia aprovar a lingerie que a mulher tinha vestido. Efectivamente, tapava-lhe demasiado aquilo que há para ver.
- Achas que é um bom amante? - insistiu Sofia.
- Sim, acho. Adorei chupá-lo....Estava-me a pôr louca. Isso ou a picha do teu homem....
- Trocavas?
Laura aproximou-se da amiga e ficou a estudar os pormenores do soutien no peito, nos ombros e nas costas de Sofia. Deslizou os dedos pelas alças e puxou ligeiramente as copas, fazendo os seios afundarem um pouco. Ao mesmo tempo, a namorada de Afonso recordava a primeira sensação que o seu corpo experimentou com o convidado que inesperadamente surgiu na noite escaldante dos dois casais, a duzentos quilómetros dali. Laura aqueceu, vibrou, sentiu o seu corpo a pedir cada pedaço de carne de Gustavo. Naquele quarto, a perversidade tomou conta da mulher, mesmo tendo o seu namorado ao seu lado. Ela inspirou fundo e voltou a olhar com um ar sério para Sofia.
- Com o quê? Com o Afonso? Não!...Eu quero alguém que ame, não uma máquina sexual. Mas porque perguntas? Tu trocavas?
- Não te deixa nem a pensar?
- Sofia! Estás a pensar trocar?
- Não! Tu sabes que não......Mas já pensei....
- Quando?!.....
- ....O que achas? O creme fica-me bem?
- Nada mesmo, Sofia....Dá-te um ar murcho...De quem passa fome. Espera um instante....
Laura saiu do provador e regressou ao centro da loja, onde ainda continuava o rebuliço de pegar em peças, ver o preço, abandoná-la e repetir o processo dezenas de vezes. Num minuto, Laura pega em cinco cabides e volta à cabine de provas. Volta abrir a cortina, desta vez com algum cuidado, procurando não mostrar para o exterior o que se passa diante do espelho. Sofia acaba de desapertar o soutien. Pendura os cabides e a loira percebe quais são as peças que tem que experimentar. A amiga é ousada e trouxe peças curtas, transparentes e sensuais.
- Estás à espera do quê para me contar? - pergunta Laura.
- Contar o quê?
Sofia despiu-se diante da amante. Em gestos rápidos mas incisivos, ela nunca chegou a ficar completamente nua. Tirou o soutien, pôs um novo. Tirou as cuecas, pôs uma tanga. Ao mesmo tempo, contava exactamente o que se passou entre ela e Gustavo. Namoro aos dezassete anos, mais amigo que amante, o último passo de Sofia antes de entrar na faculdade. Passeios românticos junto à marginal, saídas à noite nos bares da cidade, viagens a praias no sul. Tudo aquilo que os jovens vivem. Tudo com as ilusões de uma idade própria, mas com desejos nunca consumados.
- Espera....E queres-me convencer de que nunca aconteceu mais nada do que beijos?
- ...Laura...por favor, entra logo de uma vez....
E depois de as duas mulheres se fecharem na cabine, ela contou. Relata em palavras curtas a única passagem de ano da sua relação. Num parque de campismo numa vila do interior, juntamente com amigos da mesma turma. A noite em que podiam dormir juntos sem o receio de surgirem os pais. A noite em que algo poderia acontecer. Aconteceu. A língua dele provou o intimo virgem de Sofia.
- Quer dizer....não te posso dizer que tenha sido realmente prazer. Sim, gostei, mas não me cheguei a...Tu sabes...Não sei...Naquela idade tudo é demasiado relativo. Mas acho que até na altura deveria ter percebido a sua tendência....
- Tendência??? O Gustavo é gay?
- Bi....
- Eu sabia!!...Eu bem que tinha desconfiado.....O Diogo sabe?
- Do quê?
- De tudo!
- Não, sim e não. Não sabe que ele me tentou comer a rata....Também, nem deu em nada. Sim, sabe que ele é bissexual. Não, não sabe que ele não se importava de ser comido por ele.
- Desculpa??
- O Gustavo confessou-me que não importava de que o Diogo o....
- Fo...?? Oh, Meu Deus.... E ele nem sequer percebeu?
Laura estava surpreendida. Nitidamente. Ao mesmo tempo que ajeitava a tanga lilás que a sua amiga vestiu, ela procurava imaginar a noite na estalagem. Recordava o momento em que cavalgava sobre o colo de Gustavo. Procurava voltar a sentir no seu intimo o sexo dele inchado e esconder a si mesma o quanto aquilo a deixou louca. E não esquecia. Não afastava a ideia de que o homem a podia comer a noite toda. Quer o seu namorado quisesse ou não. Não importa se estivesse ali mais alguém. Por uma noite, ela enlouqueceu. E naquele instante, em que as suas mãos já torneavam o tronco de Sofia, diante do espelho, Laura imagina o que poderia ter sido se a troca se proporcionasse entre os homens.
- E este?...Já está melhor, não está? - pergunta Sofia.
- Sim...muito sensual....Excitante...Fica-te mesmo bem...Acho que o Diogo vai adorar...Isto se ele já não decidiu ser gay....
- Não sejas parva....Mas e tu? Gostas de me ver com ele?
A amiga de Sofia sorri. Por trás das suas costas, quase colada ao corpo dela, Laura olhava para o reflexo delas ao espelho. As suas mãos ainda vibravam com a sensação do homem que pertence à loira a vir-se na sua boca. E só ela é que sabe que a gota que transbordou o copo do seu prazer naquela cama, foi a imagem de Sofia a vir-se. Quando a loira cavalgava em cima do seu namorado, um terramoto de pensamentos e excitações percorriam a sua mente. E tudo aquilo só a podia excitar. Diante do espelho, as suas mãos estavam cheias das mamas de Sofia, cobertas do tecido leve do soutien.
- Eu comia-te toda, esta noite.... - desabafa Laura.
E naquele instante, Sofia só conseguiu ter a sua mente concentrada numa coisa. A madrugada na estalagem. A noite longa. Mesmo depois de tanta troca. Mesmo depois de tantos orgasmos, gemidos, gritos, palavras estonteantes na cama de toda a partilha. Mesmo quando o quarto adormecia. Mesmo depois de Gustavo fumar um cigarro e se deitar ao lado de Sofia até adormecer, algo mais aconteceu. E isso, Sofia não conseguia esquecer. E isso, a loira sabia que a amiga não iria esquecer. E isso, era visível nos gestos que elas trocavam, ali mesmo. As mulheres continuavam na sessão de provas. Agora, era Laura que se despia. Ela trouxe também para si uma peça para experimentar. Uma lingerie vermelha, com os contornos adequados ao seu corpo, com as linhas a salientarem as suas formas eróticas. Sofia vestia um soutien preto, rendado, também ele muito curto. Os seus seios estavam claramente à vista. O relevo dos mamilos excitados também eram visíveis. De roupa interior escaldante, as duas mulheres olharam-se mutuamente. Sem auxilio do espelho. Um silêncio foi gerado durante alguns segundos. Na mente delas ia aquele toque. Deitadas na cama da estalagem ao lado de Diogo, Laura acordou a loira. A noite já ia longa. Três, quatro da manhã, já não será possível descobrir. Depois de roçar pelo corpo do homem, a mão de Laura alcançou o corpo de Sofia, que se recolhia nos braços do namorado. Os dedos deslizaram pelo peito da mulher, navegaram pela sua barriga e chegaram ao ventre da amiga. Foi aqui que Sofia despertou do seu sono tranquilo. O seu corpo vibrou. As suas coxas desviaram-se. E a mão de Laura afundou-se por entre as pernas da amante. E os dedos da namorada de Afonso despertaram-lhe os sentidos. Em segredo, num sonho dentro da surrealidade de toda a noite. Em harmonia, como um desejo há muito ansiado. Laura estava masturbar a sua amante, num jeito que mais ninguém poderia percepcionar, muito menos entender. Os dedos de Laura tornaram-se divinos na rata de Sofia. Ouvia-se a respiração dela. Pressentia-se nos lençóis o movimento vagaroso da mão de Laura. E após alguns momentos, a ponta dos dedos de Laura molharam-se. Assim que sentiu Sofia entusiasmada. Assim que sentiu um movimento de Afonso nas suas costas. Assim que foi possivel transformar aquele desejo em realidade, a mão de Laura rendeu-se. Afastou-se do corpo da amante e guardou-se. E nem sequer ao amanhecer. Nem sequer ao pequeno-almoço. Nenhum dos homens desconfiou minimamente do que a madrugada na estalagem ainda proporcionou. Dentro do provador, a mão de Sofia segurou-se ao pescoço descoberto e húmido da amiga. Laura tinha mão, essa mesma mão que deliciou a rata da amante num momento intenso, ajeita a tanga negra da loira e sobre a seda, roça sobre os lábios vaginais entusiasmados.
- Pára com isso, Laura...Peço-te...Senão as coisas podem acabar mal. - diz Sofia com um sorriso ansioso.
Laura riu-se. Percebeu a excitação da amiga. Percebeu a linha ténue que as separava de um beijo fogoso, por detrás da cortina do provador. Paixão. Paixão partilhada. Acabar mal seria a concretização de um momento perverso naquele local tão inusitado. E mesmo que elas o quisessem, há regras a cumprir neste jogo de desejo e partilha. Elas separaram-se. Elas despiram-se. Elas voltaram a vestir-se. Elas pegaram na lingerie preferida, saíram do provador e dirigiram-se à caixa de pagamento.
- Mas ainda não me respondeste...Trocavas? O Diogo pelo Gustavo? - diz Laura.
- Se alguma vez achasse que poderia trocar, nem sequer lhe tinha feito o convite pessoalmente para vir ter connosco.
- Sim ou não? Trocavas?
- Não! Amo a foda que tenho em casa.
Ouviu-se o apito da máquina registadora. Sofia pagou as peças de roupa escolhidas e sorriu para a funcionária da loja. Com um riso cúmplice, as duas mulheres saíram satisfeitas da loja onde partilharam segredos. Cedo a noite começava a chegar. Era tempo de separar a surrealidade do quotidiano das suas vidas. Cada uma para seu caminho, ansiosas por apresentar as suas aquisições aos seus namorados.
Na cama do quarto de Afonso e Laura, tudo estava preparado para uma noite intima. A menina está em casa do pai, o 2º direito tem um aroma romântico e a indumentária de Laura adorna o seu corpo de uma sensualidade irresistivel.
- Foi a Sofia que escolheu?
- Não, fui eu que a experimentei....
Na perversa ambiguidade do significado das palavras da Língua Portuguesa, paira no ar a sensação de uma noite quente, misturada em fantasias surreais com o seu casal swinger.

6 comentários:

... disse...

Vim conhecer com mais calma o Magnólia, e adorei os textos ;) Não li todos, mas aqueles que vi estão todos muito bons mesmo!


Beijo grande

Shelyak disse...

Diversidade...cada vez mais...muito bem...
:)

Anónimo disse...

É capaz de se tornar difícil o desejo que emerge destas vidas, como se nada mais importasse que o prazer.É tentador ir mais além, Gustavo ficou com vontade de mais, achouque Diogo lhe devolveu o olhar (?) e a cumplicidade...

Ana continua numa cedência às emoções, sabe que ele também cede, os dois cedem e nenhum quer um sempre mas a intensidade fascina-os...quebra-lhes a frieza em que gostam de se salvaguardar de prisões...

Sofia e Laura estão num crescendo de tentação, a te(n)são inunda-as e já não tentam esconder o que sentem. A adrenalina? O desejo? Ou a vontade de se pertencerem e dominarem a situação com os seus parceiros? Elas pertencendo-se sabem que são elas que gerem a situação...já não é assim?

Gostei particularmente do que vi no jacuzzi,acontece lá muita coisa... e tanto por contar.

Sorrio ao ouvir os silêncios emoldurados por gemidos, sussurros e respirações ofegantes e alguma vezes controladas...limito-me a segui-los e... gosto do que vejo... cada vez mais...

Anonimo do Algarve disse...

Cada post k passa o enredo está melhor, isto está a se tornar viciante.
Tb vai haver bisexualidade entre eles?
Estou a tentar descobrir kem é o narrador/a já exclui alguns.

Continua isto é muito bom, vale a pena todo o tepo gasto a ler os teus posts.

luafeiticeira disse...

Realmente a língua portuguesa tem destas ambiguidades. Este texto, muito melhor que o meu, recordou-me o do sexo virtual que escrevi já há algum tempo e que to ofereço.
beijos

Magnolia disse...

NIKITA,agradeço-te a tua visita. Espero que voltes mais vezes.E espero que mais do que gostares dos textos, gostes de tudo o que o Edificio vive.
SHELYAK, muita diversidade :) e surpresas...aguarda...
O FANTASMA DO EDIFICIO, talvez Gustavo surja aqui mais como um suplemento das experiências destes dois casais. Talvez possa voltar, mas também pode não acontecer. O futuro e o desejo assim o irão ditar.
Sim, Sofia e Laura parecem gerir a situação dentro do que é possivel, pertencedo-se. Ainda é assim.
E sim, ainda há muito para contar. No jacuzzi, em todo o Edificio.
Mais uma vez, ainda bem que gostas de cá vir, ainda bem que acompanhas, ainda bem que deixas palavras muito agradáveis. Os inquilinos agradecem. Acho que as outras visitas também.
ANONIMO DO ALGARVE, em relação à bissexualidade entre eles, é evidente que existe uma aproximação. É evidente que se tornou algo em que os dois casais assumem que existe essa possibilidade. Se vai acontecer ou não, tal ainda é uma incógnita.
Quais é que já excluiste? Podes avançar? :) E sabe bem ler quando dizes que vale a pena o tempo que gastas aqui :) Em casa, no trabalho? lol
LUA FEITICEIRA, na verdade creio que já li esse teu texto. E apesar de os registos serem diferentes, acho que não se pode dizer que um é melhor do que outro. Julgo eu. Beijinhos.