quarta-feira

O mais a Leste possivel

Ao final da tarde, a ansiedade instala-se nos três ocupantes do veiculo, assim que entram na rua do Edifício Magnólia. Helena conduz o carro, transportando o seu filho ao seu lado e no banco traseiro o amigo dele, Miguel. Mais do que ninguém, ela está nervosa. O dia já vai longo. Começou com o convite irrecusável do seu amante Alberto para um pequeno-almoço no café próximo ao escritório. Uma rapidinha nos lavabos do mesmo estabelecimento. Palavras tão intimas como fogosas, à porta da empresa do casal que mora no 1º esquerdo. Papelada interminável pela manhã e a ansiedade de receber Alberto pelo fim da tarde. Mais um convite estonteante, agora pelo seu funcionário mais estimado. Desta vez Helena recusou. Visitas a clientes preencheram o resto do dia dela. E um telefonema do filho pouco antes das seis horas, impediu a mulher de ainda passar pelo escritório para encerrar o dia. O pedido inesperado do seu herdeiro mais velho para ir buscar o amigo, pôs a mulher descontrolada. E Miguel, no instante em que ela pára o carro em segunda fila, diante da porta do Edifício, percepciona o estado da mulher quarentona.
- Bolas!...
- O que foi, mãe?
- O comando...Esqueci-me do comando da garagem....
- Outra vez, mãe?
- Não tenho cabeça para tudo, filho?...Sobes e vais buscar o comando que está à entrada?
- Não, mãe. Eu subo, dás a volta e eu abro o portão lá de cima.
- Ok...pode ser....Mas não me respondas assim. A mãe hoje já não tem cabeça para nada.
O filho de Helena suspira e após alguns segundos de hesitação, abre a porta. Apressadamente, sai do carro e nem realiza que deixa o seu amigo no carro. Helena também tem alguma pressa e põe rapidamente o veiculo em marcha. Dá a volta à rua e segue pelo caminho que dá até à garagem. Com o carro parado diante do portão, a mulher espera pela acção do filho. Por um breve instante, ela põe a vista no espelho retrovisor e percebe que Miguel olha para o reflexo dela, com um sorriso presunçoso. Helena trava a respiração, mas não olha para trás.
- Nem para uma loucura? - pergunta ele.
- Desculpa?!
- A cabeça da dona Helena ainda aguenta uma loucura?
- Estás a passar um limite, rapaz....
- Estarei?
- Nem imaginas quanto...
- Eu noto em si que você quer...Nota-se. Você hoje cheira a sexo.
- Não te mando calar novamente! Ouviste, Miguel?....
O portão da garagem abre-se. Helena conduz o automóvel pela garagem, até estacionar o carro no local reservado ao seu apartamento. Denota-se o nervosismo nas suas mãos, na forma como ela conduz. Miguel regozija-se e procura o melhor instante para voltar a provocar. Ela desliga a ignição e olha novamente para o espelho.
- És um miúdo, Miguel...
- Não sou. E você sabe disso melhor do que ninguém.
- Tens a idade do meu filho! És um garoto!
- Ok, sou um miúdo....Então e diga-me....Já conseguiu explicar a si mesma porque me olhou no jacuzzi...com tanto desejo?
Miguel abre a porta traseira do carro e sai. Encontra o caminho para as escadas de acesso ao resto do Edifício e demonstra uma confiança exacerbada. Helena não consegue ficar tranquila. Sai do carro e acelera o passo até ao amigo do seu filho.
- Quero que pares de ser presunçoso. Só porque tens corpo de atleta e julgas que todas as garotas engraçam com esse sorriso, não julgues que todas as mulheres te querem....
- Diga-me então que não me quer....
- Não te quero.
O jovem começa a rir-se. Um ligeiro sorriso entregue na cara dela. Miguel fixa o olhar da mulher e descobre os receios e as ansiedades que se resguardam por detrás do olhos brilhantes. O riso dele aumenta de tom. Helena sente-se obviamente troçada.
- Sim, és uma tentação, Miguel. Sim, é dificil não olhar para ti com desejo. Sim, eu imaginei-te no jacuzzi. Mas não quero que tenhas a mínima dúvida. Isso não vai acontecer.
- Porquê?
- Não pode acontecer, Miguel....Entendes?!...Não pode!
- Esqueça a minha idade. Esqueça a diferença de idades. Esqueça que sou amigo do seu filho. Ninguém saberia e seria mesmo só por prazer....
- Pára!...Não pode acontecer....Ponto final!
Um último olhar secreto, sedento de paixão que não se quer libertar. Helena retoma o passo e sobe as escadas até ao primeiro andar, na dianteira do jovem.
A noite começa a cair. Os tons do céu misturam-se até ao horizonte, onde o sol já se escondeu, mas dá um ar da sua graça. Rodrigo estaciona a carrinha da empresa um pouco antes da entrada do Edifício. Desliga a ignição e imediatamente o seu olhar ergue-se até à janela da sala do 1º esquerdo. O homem inspira fundo mas mantém-se dentro do carro. Segura as mãos no volante e cerra os olhos. Faz força com as costas no encosto do banco e solta um grito abafado.
"Eu sei que temos que parar de fazer isto em sítios tão suspeitos. Mas é mais forte do que eu. És irresistível, Helena. Até logo!"
A mensagem é destinada à sua esposa e não sai da cabeça de Rodrigo. Foi deixada no voice mail do telefone do escritório e ele ouviu-a. O homem conhece a voz. Sabe de quem é e isso assola a sua mente desde que saiu do escritório, há vinte minutos. A imaginação dele transforma a mensagem e dá-lhe vida. Simula-a, como se fosse mesmo Alberto a confessá-lo à sua parceira de tantos anos. Porque foi o cliente estimado da empresa do casal que cometeu o erro de deixar uma mensagem tão incriminatória no telefone da empresa. Porque é Alberto que afinal ocupa os momentos vagos de Helena. Porque Rodrigo não acredita como conseguiu ter os olhos tapados durante tanto tempo. Quanto tempo? Como começou? Estes pensamentos saltitam na mente do homem como uma tortura. "....És irresistível, Helena..." Ele volta a olhar para a janela, com a luz da sala já ligada. Onde é que eles o fazem? "...fazer isto em sítios tão suspeitos...." Cerra os olhos e imagina que eles o fazem na sua própria casa. "....Até logo!..." Será que eles estão agora juntos? É possível que a luz esteja ligado porque eles se estão a comer na sala dele? Ele larga um novo berro, desta vez já nem consegue ser abafado pelo cerrar dos lábios. Um transeunte que segue caminho no passeio ouve o berro. Rodrigo decide acalmar. Mas a sua mente continua louca. A sua mulher é-lhe infiel. Uma confrontação que nunca lhe passou pela cabeça que se pudesse concretizar. Uma realidade que ele nunca quis aceitar que poderia acontecer. Nas suas costas. A sua cabeça gira, procurando algo indefinido nos bancos traseiros. Rodrigo sente-se a alucinar. O dia já vai longo e o cansaço mistura-se com a raiva. A incompreensão e o cepticismo são apenas manifestações colaterais. Ele tem que sair do carro e entrar na sua casa. "...Temos de parar de fazer isto..." O que vai ele dizer à sua própria esposa? "...Até logo..." Estará ela com Alberto neste momento? Na verdade, foi ele mesmo que disse à esposa que ia chegar mais tarde "...fazer isto em sítios tão suspeitos..." Eles estão a foder lá em cima! Só pode. Rodrigo sente-se a enlouquecer. "...És irresistivel..." E ele sabe o quanto a sua mulher é desejável. Ele sempre o percebeu, mas nunca quis acreditar. Algo tem que ser feito. O mundo não acaba hoje. O mundo não acaba com uma traição. Talvez acabe, mas pode ser recomeçado. É possível amar, depois de se ser traído? É possível ter algum tipo de sentimento quando lhe dão uma facada nas costas? É possível voltar para ela, quando Helena nem sequer pestaneja no momento de segurar a faca? Alberto está lá em cima com ela. Só pode ser. Provavelmente começou na sala. Naquela mesma janela. Rodrigo imagina a sua mulher a ser penetrada no rabo. Supõe que a mulher geme, que ela grita, que ela pede por mais. Transforma na sua cabeça a imagem de Alberto que sorri, que lhe chama nomes, que lhe dá palmadas excitantes no rabo, que a fode até ela não aguentar mais. Só podem estar juntos, achando que ele não vai saber de nada. Provavelmente estão no quarto. Helena abre-se na cama. Dá a rata ao amante, de uma forma que nunca deu ao seu próprio marido. E ele come-a. Ele deita-se em cima dela, enche-a de beijos quentes, perversos e tórridos. Alberto come as mamas da mulher que o jurou amar eternamente. E ser-lhe fiel. Rodrigo descontrola-se. Ser fiel. Fidelidade. E tudo se desfaz na cama que eles dormem todas as noites. Aquela cama nunca mais será a mesma. A última vez que este pensamento tinha acorrido a cabeça de Rodrigo foi quando se esqueceu de tirar a tanga da namorada do seu filho, do seu quarto. Porque ele também traiu Helena. Naquela mesma cama. Rodrigo precisa de respirar fundo. Abre a porta da carrinha e sente a brisa que corre na rua. A luz continua ligada. Será que ele a está mesmo a comer, a foder, a fornicar? Porque se ele faz o mesmo com outras amantes, porque não fará Helena? Será que é isso que segura o seu casamento? O segredo.
Rodrigo sobe os últimos degraus antes de alcançar a porta do 1º esquerdo. Uma luz passa por debaixo da porta. Neste instante, Rodrigo sabe que existem duas hipóteses. Ou Helena está a acabar de preparar o jantar, esperando por ele, numa hipocrisia que só agora ele dimensiona. Ou então está a foder com Alberto. E essa imagem ele já não consegue esconder da sua mente. Assim que coloca a chave na fechadura da porta, Rodrigo não sabe muito bem para o que é que está preparado. Abre a porta e na sua mente está a procura em ter a melhor reacção. O jantar já está pronto. Helena está na mesa de jantar. Do seu lado esquerdo está o seu filho mais velho, aquele que ele próprio atraiçoa. Do lado direito dela, está Sandra, a namorada do seu filho, a sua amante intensa e perigosa. E de frente, está um rapaz, que ele não conhece, certamente amigo do seu filho e que, longe de Rodrigo saber, está a fazer-se à sua mulher. Mas contrariando as certezas alucinantes da sua mente, Alberto não está ali. Nem a foder a sua mulher, nem sequer a jantar com ela. Rodrigo não sabe o que pensar. Perdão? Talvez. Porque não? Ele é infiel. E se mesmo não sabendo, a sua mulher vive com isso, vive com uma infidelidade desconhecida diariamente, porque não há-de ele viver também. Sempre aconteceu e eles sempre gostaram um do outro. A vingança não serve a nada, apenas e só para confirmar que também ele é um cabrão infiel de primeira. Arrepender-se? Confessar? Antes mesmo de qualquer coisa, Rodrigo entra em casa, cumprimenta os presentes e dirige-se à esposa. Um beijo. O primeiro beijo do resto da vida dele.
- Eu amo-te.
- Eu também te amo, Rodrigo.
Hipocrisia. Helena nem sequer desconfia do que o seu próprio marido desconfia. Do que Rodrigo já sabe. Mas do que ele não sabe, nem mesmo que esteja atento a todo o desenrolar deste jantar, é que a sua mulher está a ser comida pelos olhares. O seu filho mais velho olha para a mãe, porque ainda não entende o seu ar ansioso. Sandra olha para a mãe do seu namorado, procurando perceber se ela notou os olhares indiscretos entre ela e o seu amante, que por acaso, está casado com Helena. Miguel olha para mulher encantadora que tem diante de si e perturba-a, com gestos tão presunçosos, confiantes de que ele a vai comer. Rodrigo fixa o olhar para a esposa, tentando distinguir o que vai na mente de Helena. Porque se ele a desmascarou, ela também o pode fazer. É por isso que ele a ama. É porque toda esta hipocrisia, afinal, pode ser posta de parte. Pode ser apenas mais um episódio, daquilo a que chama de casamento. E isto a que se apelida de casamento, acarreta possivelmente um pequeno detalhe que se chama filhos. O herdeiro mais novo do casal, depois de sair da casa de banho e entrar na sala, é o único que não olha para a mãe. Cumprimenta o pai e pergunta se pode passar a noite em casa de um amigo. Fraco, alucinado e confuso, Rodrigo aceita mesmo não sabendo que Helena já tinha recusado. O casamento também funciona assim.

5 comentários:

luafeiticeira disse...

O melhor texto de sexo que já escrevi já está postado.
beijos que te aguardam

luafeiticeira disse...

Aqui está um texto que nos faz reflectir, ainda não me sinto preparada para dar uma resposta, apenas que prefiro swingar a ter amantes ou a ser traída.
beijos

Shelyak disse...

the best one, so far!!!
:)))

Magnolia disse...

LUA FEITICEIRA, preparada para dar resposta a quê? :) Agora surgiu curiosidade.... Naturalmente, swingar parece menos perverso ou proibido que trair. Mas o eterno fruto proibido também parece comandar algumas mentes...
O texto escandalosamente sexual tem que ser lido com calma. Também andas com fúria criativa :)
SHELYAK, the best one? Posso saber porquê? :)

Anónimo disse...

The best one n concordo...mas entendo...tem imensa carga emocional e não erótica... Talvez sim, talvez the best one a nível de tensão em crescendo... a prender-nos deliciosamente até à ultima linha...

Magna Magnólia... so far so good indeed.

I love it!