quarta-feira

Espelho mágico

Publicado a 30-06-08
Respira-se um vazio. Sente-se um vazio. Ela sente sempre um vazio, assim que entra em casa e Tania não está. Está demasiado vazio. Lúcia abre a porta da casa e faz questão de confirmar em todas as divisões que a sua colega de casa não está de facto presente. No seu coração, reside a incerteza de quere-la ali ou realmente achar que é melhor não ter. Na confusão da sua mente, Lúcia perde-se. Evade-se daquilo que sempre achou coerente. Afasta-se daquilo que dentro de si a chama. Numa estranha atitude, Lúcia chama com um gesto a sua convidada. Beatriz entra. Menina. Jovem. Ingénua quanto baste. Atrevida o suficiente. Ela entra no 2º esquerdo com uma boa dose de ansiedade. Bonita. Meiga. Com um olhar profundo mas misterioso. Com umas maçãs do rosto rechonchudas e fofinhas. Ela procura sentir-se à vontade no espaço que pertence à sua amiga. Lúcia fixa a sua postura junto à entrada da sala e solta um sorriso, como que a pedir uma confirmação da satisfação de Beatriz. A rapariga de 18 anos dá dois passos em frente, cola-se ao corpo da anfitriã, coloca uma mão no pescoço da morena e entrega-lhe um beijo terno.
Conheceram-se em Outubro, nas praxes da faculdade. Lúcia assistia às festividades do absurdo, à folia da irreverência, à parada da prepotência. Pelo menos era assim que ela via - com alguma distância - desde a esplanada do bar da universidade, as tão chamadas tradições académicas, que pretendem com alguma suposição integrar os caloiros no ambiente universitário. Beatriz é uma dessas caloiras do curso da inquilina do Edifício. Tinha a cara cheia de pinturas e a cabeça enrolada de papel higiénico. Um balde na mão e os pés descalços completavam a figura apalhaçada. Quando um grupo de estudantes do primeiro ano entrava na esplanada e procuravam um lugar para se sentar, Beatriz estendeu-se numa cadeira. Suada e exausta, a jovem lança imediatamente o olhar em Lúcia. Se a aluna morena não tivesse colocado a vista na rapariga, talvez nada tivesse existido. Mas Lúcia virou a cabeça.
Lúcia aceita o beijo. Retribui o beijo. Segura a face suave da amiga e envolve-se no gesto apaixonante. Os olhos de Beatriz cerram como um toque de fantasia. Ela vem vestida de uma forma adolescente. Uma camisola verde, com um ligeiro decote inocente e uns calções curtos. As sapatilhas de pano e as pulseiras de tecido coladas ao pulso entregam-lhe um ar de menina que quase coloca em causa a maioridade dela. Ainda assim, Beatriz é uma jovem lúcida. Com uma atitude sensata, uma postura tranquila mas brincalhona e um ar constante de sonhadora devolvem naturalmente o seu amadurecimento como mulher. A tarde ainda não caiu. Reflecte uma luz tépida que entra pela janela da sala. O ambiente morno que invade aquela divisão convida a sentar no sofá. Lúcia não resiste a colocar a mão em cima da coxa descoberta da amiga. Suave, intensamente meiga, ansiosamente excitante. Beatriz gosta. Coloca as suas pernas junto à anfitriã e procura descontrair. Um sorriso na face, um toque nas calças de ganga da outra jovem e uma atitude que demonstra desejo. Mas Lúcia está dividida. Definitivamente, ela quer a rapariga. É esse o motivo pelo qual a convidou para ir a sua casa. É algo que sempre lhe pareceu inevitável. Mesmo que este não seja o momento certo. A sua mente está confusa. Sente-se desnorteada. Sem convicção. Sem um rumo a dar no que toca à decisão da sua paixão. Mas Beatriz sempre foi algo que desde o primeiro instante seria inevitável.
A face da caloira obrigava-a a sorrir. Misteriosa, divertida, penetrante. Os olhos grandes e redondos de Beatriz fixaram-na. E numa altura em que Lúcia pressentia um ano académico longo e complexo a chegar, uma jovem caloira, ingénua e inesperada, seria sempre uma paixão engraçada para se ter. Por isso, ela abriu o sorriso e permitia que a rapariga se aproximasse. Trocar sorrisos foi simples. Partilhar palavras parecia natural. Revelar o endereço do messenger era apenas um pormenor de tudo o que tinha que acontecer. Beatriz voltou à procissão das praxes. Lúcia guardou o endereço do messenger, saiu do bar e foi para casa com a convicção de que uma doce caloira lésbica se tinha enfeitiçado por si.
Beatriz está quase deitada sobre o peito de Lúcia. É a mão da anfitriã que a guia. Num jeito instintivo, Lúcia pede com um gesto incisivo para sentir os lábios fofinhos da amiga na pele do seu peito. Com um pouco de receio, Beatriz coloca os dedos no tecido do top da jovem e lentamente puxa-o para baixo. Lúcia respira fundo e procura ter a certeza que tal entrega vale a pena. Acaricia os cabelos castanhos e longos da rapariga e deixa que o entusiasmo dela se apodere de si. No momento em que o enorme seio esquerdo de Lúcia é descoberto, Beatriz liberta o seu sorriso fofinho e límpido, ao mesmo tempo que coloca a boca no mamilo redondo.
Nessa mesma noite de Outubro, ela nem ligou o computador. Mas na manhã seguinte, bem cedo, o canto superior do monitor do seu computador informou-a de que a Doce Bia a pretendia adicionar no messenger. Talvez infantil. Talvez distante da sua maturidade. Ainda assim, às oito da manhã, a suposição de algo sexual excitou-a. Após adicionar o contacto, uma janela de conversação abriu-se.
Lúcia está deliciada com os beijos, as carícias e com a forma como a língua da amiga se envolve com as suas mamas. Beatriz encanta-se com o vale dos seios apertado, húmido e escaldante. As mãos macias e ternurentas da rapariga enchem-se com a carne do peito da amante. É uma entrega peculiar a de Lúcia, assim que se pressente que a sua respiração está descontrolada. Ela não sabe se procura receber algo ou se tenta dar uma experiência inolvidável à caloira. Mas é certo que algo a descontrola, quando ela segura a cabeça de Beatriz e exige um beijo intenso na boca dela.
A manhã tinha sido longa. Milhares de teclas tinham sido batidas, páginas e páginas de diálogos já se tinham desenrolado e de cada vez que uma das jovens pressionava o Enter, uma ansiedade prendia-se ao coração. A conversa era deveras interessante. Lúcia quis muito cedo desviar-se da conversa de circunstância sobre a faculdade, o curso e os colegas. Atalhou por pequenos mas importantes pormenores da sua vida, procurando chegar mais facilmente ao que Beatriz na verdade poderia ser. Rapariga de conversa madura, eloquente, ainda que irreverente. Jovem activa, enérgica, confessava não conseguir viver sem noitadas e alguns copos, mas ao mesmo tempo jogava na equipa de andebol feminino da escola secundária que frequentava. Menina da cidade, foi para a universidade porque queria manter os mesmos amigos e essencialmente estar próxima da sua paixão platónica. As horas, os minutos e os segundos que Lúcia perdia à frente do monitor estavam a ser recompensadas pela criação de um perfil fantástico sobre a nova amiga.
Parece não haver tempo a perder. Ou é a ansiedade de algum hipotético acontecimento inesperado, ou é pura e simplesmente o desejo frenético a falar mais alto. Beatriz já não tem a camisola vestida. Despida num impulso pela sua amante, que também tem o peito ligeiramente descoberto, a rapariga sente as mãos rechonchudas de Lúcia a segurarem o seu tronco. Sentada no sofá, de costas para a amiga, ela é envolvida pelo corpo de Lúcia. As pernas da anfitriã estão abertas, já sem as calças, colaterais às pernas frágeis de Beatriz. E o abraço desenhado é apenas um gesto carinhoso para assumir a paixão sexual. O corpo de Beatriz parece vulnerável. Pouco amadurecido. Doce mas ténue. Meigo mas ainda assim escaldante. A pele dela parece seda acabada de fabricar. Os seus membros parecem volúveis, tal é a suavidade com que se movem. O seu tronco demonstra essa fragilidade que parece querer colar-se a ela. Mas Beatriz, apesar dos pequenos seios, sabe que o seu corpo pode dar mais do que aparenta. E Lúcia apercebe-se disso. Na palma das suas mãos sente os bicos dos seios rijos e escaldantes. De tal modo que quando o desejo da anfitriã pretende mais, não são as duas mãos que viajam. A mão esquerda mantém-se num dos seios e a outro arrasta-se até ao ventre de Beatriz.
Antes mesmo de serem horas de almoço, Lúcia confirmou numa veloz conversação de que Beatriz era lésbica. Paixões fugazes com rapazes nunca trouxeram mais do que curtes em cantos de discotecas. Beatriz confessou serem as raparigas que fazem o seu coração pular, a sua pele vibrar e o seu sexo humedecer. Procurou colegas mais velhas, desconfiou de aproximações mais ousadas de miúdas mais novas, até chegou a fantasiar com professoras atraentes. Mas ninguém mexeu mais na alma de Beatriz do que a parceira de jogo, na equipa de andebol. Sensual, apetecível, amiga, confidente, mas irremediavelmente heterossexual.
São calções macios, com um elástico leve, pouco tenso. Entregam-lhe um ar inocente, mas ao mesmo tempo muito atrevido. A olho nu, é uma peça de roupa apertada. Na imaginação de quem se prende à cintura da rapariga, antevê-se um âmago escondido mas fervilhante. Mas na mão de quem entra lá dentro, há a descoberta de um sexo desprotegido, ansioso, sem roupa interior. A mão de Lúcia mergulha por entre as pernas de Beatriz. Agora são os dedos dela que dão ordens à mente da caloira. São os dedos maduros da inquilina que transmitem sentimentos ao desejo trépido da jovem. É a ponta dos dedos que regula as reacções de Beatriz e que a deixam distante de um auto controlo. E a masturbação no seu sexo confronta-a com uma realidade da qual não tem reflexo. E o gozo que Lúcia pretende oferecer lança-a numa fantasia opaca à crueldade dos seus dias. Beatriz fecha suavemente os olhos e encosta ligeiramente a cabeça no tronco da nova amante. No seu rabo, a rapariga sente o calor húmido da rata de Lúcia. Nas suas mamas, sente o carinho de alguém que inexplicavelmente, entende os contornos do seu peito. No seu sexo, Beatriz renasce. Descobre uma sensação imaginária. Os seus lábios vaginais são barro e os dedos de Lúcia são instrumentos que desvendam novas formas e originais texturas no intimo que ela sempre conheceu. E ela inspira fundo. Lúcia amacia os seus seios. E ela expira. Lúcia penetra com dois dedos na sua profundeza húmida e progressivamente encharcada. A respiração marca o ritmo e Lúcia baila na excitação da amiga.
Antes de sair da escola secundária, antes mesmo de seguir para a faculdade, Beatriz prometeu a si mesma jamais deixar cair no esquecimento, ou fingir diante de tudo, de todos, até de si mesma, que gostava teimosamente de uma pessoa do mesmo sexo. Admitir para si que é uma mulher que a faz desejar sexualmente parece tarefa simples. Mas transmitir isso a alguém que exibe . Beatriz confessou a Lúcia - nas conversas de messenger - que a jogadora de andebol lhe prendia o raciocínio, transformava os seus sonhos e fazia acreditar que tudo é possível. E ao longo do ano lectivo, não foi Lúcia que tentou trazer a caloira à realidade. Ao contrário disso, incentivou-a a acreditar naquilo que mais ninguém acredita. Desbravou novos caminhos para alcançar o objectivo. Demonstrou-lhe que ser homossexual não é uma bolha, impeditiva de envolver heterossexuais. E Beatriz acreditou nela. E Beatriz fixou-se nela. Quanto mais partilhavam ideias sobre paixões platónicas, mais as duas jovens estudantes se reflectiam mutuamente.
A boca de Lúcia absorve o ombro meigo da amiga. Os cabelos da rapariga misturam-se nos lábios da amante, tapando-lhe parte da face. Os dedos da anfitriã continuam a brindar os bicos das mamas de Beatriz com caricias tensas. Dentro dos calções, a caloira vem-se. Explode estilhaços que fragmentam em todo o seu corpo. Há uma fervilhação que assola a pele da rapariga e que Lúcia entende. A anfitriã sente os seios a escaldar e o pescoço a suar. Mas ainda assim, não pára. Os dedos vagueiam veemente por toda a vagina de Beatriz. Os gemidos dão lugar aos gritos. Os gritos dão lugar a pequenos espasmos, onde cada pedaço do corpo converge energicamente as energias para o âmago de todo o prazer da caloira. A testa longa da jovem deixa escorrer pingos de suor libertados no couro cabeludo. E as maçãs do rosto ruborizam. Beatriz vem-se e Lúcia consegue entender melhor do que ninguém o que ocorre.
Uma coisa é assumir uma paixão quase impossível de se concretizar. Lutar por ela, encarar todas as perspectivas que tal concretização poderia assumir. Outra coisa é atingir o objectivo. Uma coisa é viver uma opção, encarar a escolha sexual que se tomou, sentir-se até preparada para dar um passo. Outra coisa é dar dois passos. Beatriz escusou-se a confessar atempadamente à sua grande amiga virtual e no entanto mera conhecida na faculdade, que era virgem. Na verdadeira assumpção da definição. Virgem. Sem qualquer envolvimento com homens, sem qualquer espécie de partilha carnal com mulheres. Se em todas as conversas via internet houve espaço para tanta confissão, tanta partilha de segredos e imensas revelações fantasiosas, houve apenas uma única oportunidade para Lúcia saber que a sua amiga jamais tinha sido arrebatada por uma emoção carnal. Seis da manhã de uma madrugada de Domingo. Com o sol a querer revelar-se, Beatriz é confrontada com a pergunta que sabia que iria surgir inevitavelmente. A resposta nem foi sim, nem foi não. Foi evasiva. Quase de certeza sim, com alguma possibilidade não. Lúcia terminou a conversa abruptamente, salientando que necessitava de descansar. Mas ao adormecer, a jovem estudante encaixava a ideia de que a sua caloira era virgem.
Começa por um abraço. É uma forma imediata de segurar a intensidade desse orgasmo especial. Continua em beijos carinhosos no pescoço, que apesar de húmido, transpira uma forte sensação de paixão. Estende-se por uma caricia aos cabelos encharcados, confirmando o conforto de quem sabe o que ocorreu. Beatriz fecha as pernas, ainda com a rata a latejar. Sabe que está molhada. Não sendo uma sensação nova, gera alguma estranheza por ter vindo de umas mãos alheias. O corpo dela ainda vibra. E Lúcia entende tudo o que está a acontecer à sua amante, que ainda há pouco mais de sete minutos era virgem. Beatriz sorri, quando percebe que a sua colega de faculdade sabe que de uma forma mágica a tornou um pouco mais mulher. Também Lúcia já se reflectiu nesta sensação.
Para Lúcia, durante boa parte do 1º período do ano lectivo, a caloira tornou-se mais do que uma paixão. Tornou-se mais do que uma mera troca de caricias e fluidos. Na sua mente, a visão e fantasia que ela transformava sobre Beatriz exigia mais do que um mero envolvimento sexual. Para Lúcia, a sua caloira era agora uma exploração da qual ela sonhava em ser pioneira. No momento em que os primeiros encontros, as primeiras saídas, os leves beijos na casa de banho da faculdade começavam a ocorrer, um turbilhão de acontecimentos eclodiu na sua vida. Primeiro Tania, depois Joana, também Filipe e depois os três juntos. Beatriz passava a ser apenas e só uma fantasia solitária para adormecer.
Deslumbrada com a recepção de tamanha onda apaixonante, Beatriz sente o seu corpo sucumbir. ela já experimentou sensações semelhantes, mas afirmar-se descontrolada perante a primeira amante, deixa a rapariga ainda mais frágil. O seu rabo não consegue manter-se sentado na ponta da almofada do sofá e o seu corpo escorrega. As suas pernas dobram, as suas costas deslizam pelo tecido e as suas nádegas batem no tapete. As mãos de Lúcia mantém-se nos cabelos suados da rapariga. Beatriz deixa cair a nuca na almofada, ao mesmo tempo que fecha os olhos. Neste instante, a anfitrião realiza os contornos da face da amante. A pele suave, os lábios fofinhos, os olhos redondos, a testa molhada. A sua caloira é simplesmente um sonho. Um reflexo de si há poucos anos. E só um sorriso pode ser libertado da face de Lúcia, assim que se levanta do sofá, com os pés assentes, ao lado das ancas da amiga.
A rapariga que ainda procurava o seu espaço na faculdade e num mundo diferente do secundário, procurou entender o distanciamento que Lúcia vinha a provocar. As conversas no messenger até continuavam. Os lanches na faculdade aconteciam ocasionalmente. Mas os beijos diminuíam e as propostas imaginárias de um momento diferente dissipavam-se. Beatriz percebeu que a mente da amiga já não tinha mais espaço para as suas fantasias. Inscreveu-se na equipa de andebol da faculdade e até procurou novas amigas.
As cuecas escorregam pelas pernas de Lúcia até aos joelhos. As mãos de Beatriz trilhavam a pele das coxas da amiga, como trepadeiras. E Lúcia nem sequer recusou qualquer gesto até sentir a respiração forte de Beatriz colada às suas virilhas. Porque a estudante está de pé, sobre a cabeça da convidada. A caloira abre os olhos grandes e deslumbra-se com a visão que tem do sexo húmido da sua amante lésbica. Os seus lábios abrem-se, deixando um breve sopro soltar-se da boca. Ela está estupefacta com os lábios vaginais que se lhe apresentam a dez centímetros do seu nariz. Lúcia pensava em levantar-se, sair do sofá, sair da sala, ir buscar algo para beberem. Mas precipitadamente, é Beatriz quem acaba por querer beber de si. A boca cremosa da rapariga ataca gentilmente a vagina da anfitriã e quando Lúcia consegue respirar fundo, já os lábios chupam o que podem da sua rata. Um gemido ecoa. Uma vibração percorre a espinha de Lúcia. E uma mão regressa ao interior dos calções de Beatriz. A sua própria mão direita.
Quando entrava nos balneários do pavilhão da sua faculdade, a sua mente não sabia o que pensar. era difícil saber o que procurar ali. Era escusado entender se aquilo fazia sentido. A sua vida tenta fazer sentido mas acaba por se reflectir num enorme vazio. Por isso, no momento em que ela própria se deixou conceder autorizada a entrar no balneário feminino, apenas o instinto a movia. Os olhos grandes de Beatriz brilhavam, assim que a entrada inusitada da sua colega de curso se fez notar em todas as jovens presentes. Todos os desencontros, todas as saídas ocultas no messenger, todos os beijos evitados, pareciam agora ser esquecidos. Os lábios de Beatriz abriram-se, assim que Lúcia soltou um sorriso apaziguador. No meio de tantas raparigas suadas, em equipamentos amarelos e colados ao corpo, Beatriz sabia que tinha sido escolhida. E desta vez, não haveria rodeios. Não haveria conversas virtuais, nem cafés escusados. Lúcia faria o convite e a sua caloira nem hesitaria em recusar.
É a sua sala. Sem mais ninguém. Sem pedidos para manter a intimidade. Sem ansiedades asfixiantes, na incerteza de se abrir a porta de entrada. Lúcia está de pé na sua sala e é lambida por uma caloira, até há bem pouco tempo virgem. Beatriz descobre o clitóris da amante. Percebe que é diferente do seu. Bem mais inchado, bem mais palpitante. Deveras mais excitante. Intensamente mais saboroso. Divinamente cremoso. Entusiasticamente sublime. Ela chupa e pressente os sucos vaginais de Lúcia a escorrerem progressivamente. A sua língua já penetrou vezes sem conta por entre os lábios vaginais. E para Beatriz, é como um brinquedo que não se esgota. É como um jogo que só acaba quando deixar de dar prazer. Mas Beatriz tem uma tesão infindável e uma vontade acumulada de exprimir desejos. E nem nas suas maiores perspectivas, Lúcia julgava que o seu intimo pudesse palpitar assim, neste final de tarde. A mão esquerda da caloira apalpa o rabo teso da amante. A mão direita faz questão de proprcionar uma sensação semelhante na sua rata. Mas nada se pode comprar àquilo que Lúcia pode receber e consegue dar. Estava longe das suas melhores perspectivas, mas os lábios, a lingua, a pele e os soporos leves das narinas de Beatriz fazem a inquilina vir-se por completo de pé.
A porta do Edificio Magnólia abriu-se como um condão que despertava na vida de Beatriz. Lúcia sabia como agir, como trazer a sua caloira, como deixá-la entrar no seu apartamento. Afinal, ela já passou pelo mesmo. Já foi a Beatriz ansiosa. Já temeu não aceitar o primeiro beijo. Dentro das quatro paredes do elevador, Lúcia reflectia mais do que a sua imagem e a da sua amiga. Reflectia as suas certezas no que toca a paixões e momentos sexuais. isso era uma garantia instintiva que ela detinha. Mas enquanto subia pelo elevador do empreendimento, Lúcia não tinha uma certeza. O 2º direito pertencia-lhe. E isso jamais a poderá deixar tranquila.
Os joelhos de Lúcia movimentam-se. Transportam a sua cintura para a frente e para trás, num movimento harmonioso de todo o corpo. Tudo isto, para o que resta do seu prazer roçar no queixo de Beatriz e pingar pelo pescoço. A caloira está extasiada. A sua rata ainda lateja e a sua boca tem um sabor que dificilmente irá desaparecer dos seus lábios. Na sensibilidade das peles a tocarem-se mutuamente. Na infinidade da sensação dos membros a envolverem-se em caricias e abraços. Na plenitude dos sorrisos que transmitem mais do que beijos. Na incerteza do que um momento genuino e espontâneo pode ser fugaz. As duas jovens saboreiam aquele instante. O instante em que Beatriz se volta a sentar no sofá e em que Lúcia se mantém de pé. O instante em que Beatriz sabe que aquela casa não lhe pertence. No instante em que Lúcia deseja que a sua caloira percebe que não vale a pena prolongar o que aconteceu. Foi encantador. Talvez perfeito. Mas esta casa parece vazia demais para deixar derramar mais tinta num lar fragmentado. Tania pode surgir. Beatriz tem conhecimento disso. Lúcia só quer manter a dor a alguma distância. Afastá-la para sempre seria fatal. A caloira veste-se, entrega um beijo na boca de Lúcia, recebendo a confirmação de que nem tudo tem que acabar aqui.

4 comentários:

Lize disse...

Hoje assino com um nome diferente. Porque também eu começei uma certa etapa diferente, e criei um blog no blogspot. Por isso passei de Spicy Angel, a Lize, como muitos que realmente me conhecem me tratam. Mas passando ao Edifício... No outro dia disse que a Maria José me parecia sempre a personagem "verdadeira". E o que tu, Magnólia, me disseste foi que quando pensamos assim, entendemos melhor o morador. E é tão verdade. Porque quando espreito o apartamento da Lúcia... Também me parece tudo extremamente real, e entendo o que ela passa e sente (ou tento entender o melhor possível). Hoje reparei numa coisa interessante no teu post. Devido ao "tema" desta semana serem os espelhos, adoro a maneira como introduziste palavras como "estilhaçar" ou "reflectir", etc. Achei giro :P :)

Beijocas

luafeiticeira disse...

Espelho ou espelhinho, pois até a escolha dos diminutivos para descrever Beatriz faz faz sentido. Porém esta é uma história que foge à teia de acontecimentos do edifício, a menos que venha a ter muita importância, a menos que venha a ser mais uma personagem desta obra que não tem fim.
Gostei pela forma como está narrada e pelo erotismo, mas fiquei atónita pela importância dada à Bia, ou seja, curiosa, pois com certezavai dar que falar.
Dois posts te aguardam.
beijos

Anónimo disse...

Magnólia,

Esta é a minha personagem critica... a qual me diz muito pouco! Parece-me sempre que se aproveita das fraquezas, da inocência dos outros... Mas isto sou só e apenas eu, que lhe ganhei uma relutância inexplicável!
Este espelho mágico, faz Lúcia rever-se em Beatriz, reflectindo-se nas experiências que passou na vida. Mais uma forma de introspecção e tomada de consciência da sua própria realidade.

Beijinhos cheios de Aromas espelhados!!!

Magnolia disse...

LIZE / SPICY, a verdade é que os blogs do Sapo não são os mais estimulantes de visitar. Por isso, considero que a tua mudança só pode ser positiva. Melhor do que isso, estimulante. A Objectiva do Ser está visualmente muito apelativa. :)
Quanto à escolha das palavras, para além de se "refectirem" no que é revelado, também teve esse intuito. Postar no Edifício, para além de servir para fazer revelações, serve também para fazer experiências pessoais a nível de escrita, melhorar formas de contar, criar novos mecanismos de imaginação e entreter quem gosta de ler. É como um desafio. Até agora tem sido extremamente estimulante. As palavras adequadas ao que se conta, é um detalhe :) Agradeço-te por reparares.
LUA FEITICEIRA, tens razão. O titulo deveria ser Espelhinho mágico. Apesar de a Beatriz não ser tão garota como parece, é verdade que o diminutivo de alguma forma se adequa.
De qualquer forma, não te posso garantir que volte a acontecer algo entre as duas. Às vezes, mesmo parecendo que se dá importância a uma personagem ,não quer dizer que ela venha a ter um papel relevante na história. Pelo menos a nivel directo. Ainda assim, mesmo que a Beatriz venha ou não a surgir, é importante perceber quem são as personagens novas que entram no Edificio. Saber porque é que entraram, saber porque é que saem, misturá-las no enredo. Neste caso, era vital perceber quem era Beatriz, para talvez entender porque é que Lúcia comete algo que foge à teia de acontecimentos. Melhor..não foge à teia. Neste momento, Lúcia passa por uma indefinição de sentimentos, de dúvidas sobre dar um passo em frente ou atrás. E isso gera ansiedade. O envolvimento com Beatriz é um escape ao que o 2º esquerdo tem provocado na sua mente. Novas revelações virão. Veremos se a Beatriz fará parte delas.
Os teus dois posts serão lidos com imenso prazer e dedicação. Depois farei as devidas anotações :) beijinhos
PAPINHA, é sempre bom quando uma personagem gera opiniões diferentes, empatias distintas. No meu ponto de vista só posso achar que é positivo. Porque é sinal que são personagens fortes. E a forma como vês a Lúcia só enriquece aquilo que é transmitido.
beijinhos e agradeço as tuas opiniões :)