quinta-feira

Esqueci-me mesmo daquilo?

Um beijo. Helena e Rodrigo encontram-se à entrada do Edificio Magnolia. Combinaram à hora certa a troca de carro. Ele já estacionou a carrinha da empresa na garagem, mas necessita do carro familiar para uma reunião com um novo cliente numa das cidades satélite. Assim, Rodrigo aguardou pela chegada da sua esposa no 1º esquerdo e assim que recebeu a chamada de Helena, desceu as escadas. Um beijo. Acompanhado de um sorriso, o beijo que o casal troca é uma espécie de passagem de testemunho. Misturado com um cumprimento intimo. Acarretando uma pequena dose de desejo. Espalhando uma estranha ansiedade entre os dois. Helena entra no Edificio. Rodrigo toma posse do automóvel que pertence ao casal.
Parado no meio do transito, Rodrigo ouve as noticias do dia que a rádio emite e transporta a sua mente para o que acabou de acontecer. Dez minutos antes de Helena chegar à rua do Edificio, a namorada do filho mais velho do casal tinha acabado de sair do apartamento deles. O herdeiro de Rodrigo não estava. Ninguém mais estava em casa a não serem eles dois. O filho mais novo estava na escola. O filho mais velho estudava na biblioteca da cidade. Helena ainda não tinha chegado. Os amantes não resistem. Todas as oportunidades que se apresentam aos dois trazem algo de novo para contar. Em segredo. Foi no quarto deles. No quarto de casal. Intimo e revelador de grande parte da vida de Helena e Rodrigo. Foi na cama. Começou na cadeira onde ele costuma pousar as gravatas. Começou com Sandra sentada no colo dele. A jovem rapariga já tinha retirado as calças de ganga apertadas. E deixá-lo penetrar no seu sexo molhado não custou assim tanto. Mesmo com o tecido da tanga roxa desviada do seu sexo. Era assim que ela se entregava ao pai do seu namorado. Sem hesitações. Com atrevimento. Apreciava as mãos dele no seu rabo, ao mesmo tempo que a face dele já roçava pelo seu topo, apertando o seu peito. Começou na cadeira mas foi no colchão. Foi na cama que Rodrigo consumiu o desejo frenético da jovem que pede sempre um pouco mais de si. Um pouco mais de calor. Um pouco mais de vigor. Um pequeno bocado de paixão. Um enorme pedaço de risco e adrenalina. Porque há sempre uma enorme probabilidade de aqueles momentos intensos, surreais e proibidos, serem descobertos. Toda a relação entre Rodrigo e Sandra tem muitas pontas soltas. Foi no topo da cama, junto às almofadas. A colcha da cama era amarrotada enquanto eles procuravam despir o que era possível. Ele deitou-a de barriga para baixo no colchão e colocou a cabeça da jovem sensual entre o seu travesseiro e o da sua esposa. Retirou-lhe a tanga atrevida com agressividade e atirou-a para o chão, junto à mesma cadeira. Sem perder tempo, enquanto acariciava as nádegas macias, Rodrigo sentou-se em cima da amante e voltou a penetrar, desta vez com firmeza, no sexo de Sandra. O trânsito está complicado. Não deixa o veiculo avançar muito depressa. O tempo para chegar à reunião escasseia. E a sua mente não consegue abstrair-se da intensidade do momento sexual com a namorada do seu filho. Rodrigo procura perceber porque é que não consegue resistir a uma rapariga bem mais nova que ele. E a divagação da sua mente recorda a palma das suas mãos no seios rijos e vigorosas dela. Desenha na sua imaginação cada penetração por trás dela, numa rata que se molhava constantemente. Sandra gemia. Saboreava cada momento. Degustava-o, assim que enterrava cada vez mais a cabeça entre as almofadas. Para Rodrigo sempre foi fácil possuir aquela jovem. De uma forma discreta, ela mesma se torna fácil para ele. Entrega-se de uma forma natural, mesmo sabendo que existe tanta coisa a perder. E naquele instante, naquela cama, naquele quarto, no apartamento de Helena, de Rodrigo e dos seus dois filhos, o corpo de Sandra estava à mercê do empresário. As mãos dela seguravam-se às almofadas rechonchudas, fincando os dedos no tecido. As mãos dele seguravam-se às nádegas excitadas da jovem. E o sexo dele transportava-a vagarosamente para um êxtase deleitoso. Ainda que o trânsito não adivinhe melhoras, é o som do telemóvel dentro do porta-luvas, que desperta Rodrigo, no exacto momento em que ele imagina o orgasmo profundo de Sandra na sua cama e as cuecas excitantes dela. E um sobressalto invade-o.
Helena entra no seu apartamento. O seu passo é rápido. Sabendo que o seu marido e os seus filhos já estiveram em casa antes dela chegar, o mais certo é a casa precisar de uma arrumação. E ainda que ela deseje que tais trabalhos não sejam demorados, Helena é uma mulher prevenida. Abre a porta da casa e olha imediatamente para a cozinha. Surpreendentemente, não existe loiça para lavar. O chão não está sujo. Estão apenas duas peças de roupa em cima da mesa da cozinha, mas tal facto coloca-lhe um sorriso na face. Arruma as peças e segue para a sala. O sofá está desarrumado. O tapete tem algumas migalhas. Estão alguns dvd's espalhados no chão. Quase de certeza que o seu filho mais velho passou ali a manhã. Em poucos segundos ela disfarça qualquer tipo de desarrumação. E na sua cabeça, a ansiedade mexe consigo. Alberto, o cliente do seu marido, o seu cliente, o seu amante das tardes vazias no Edificio Magnolia, está prestes a chegar. Helena aguarda apenas um telefonema que o informe da sua chegada. Claro que ela tem que indicar que é possível Alberto entrar. Mesmo que a casa ainda esteja por arrumar ligeiramente, ela anseia que o amante ligue. Imediatamente. Arruma as almofadas do sofá e imagina que ali será um bom sitio para começar. Sentar-se com Alberto, ouvir as suas palavras estimulantes. Apreciar o sorriso dele. Aguardar que as mãos masculinas invadam o seu corpo. De preferência os seus seios, que estão a arder de desejo. Depois, talvez tudo possa acontecer. Uma caricia ao sexo dele. Um toque elegante dos dedos dele na sua rata. Ela no colo do homem. Quando um sorriso se abre no rosto dela, percebe-se que Helena o imagina a deitá-la no sofá e a trazer-lhe um orgasmo. Mas a sala está muito iluminada. Está muito próxima da porta de entrada, onde qualquer entrada inesperada pode deitar tudo a perder. Helena ergue-se e sai da sala. Vai directamente para o seu quarto. O quarto que partilha com o seu marido. A cama que testemunha a união com o homem da sua vida e que separa a intimidade deles da convivência que tem com os filhos no resto da casa. Esta cama está desarrumada. Pelo menos no ponto de vista de Helena. A cama não está feita da forma como ela a deixou de manhã. A mulher não gosta que desarrumem a casa. Pior ainda, não gosta de sentir a cama remexida. Principalmente quando aguarda por um amante. Estranhamente, Alberto, ainda não ligou. Helena senta-se na cama e ainda que indignada por a cama não estar arrumada da mesma forma como ela a deixou antes de sair de casa, ela infiltra-se na sua imaginação. Depois do sofá. Depois de um beijo revelador. Depois dos corpos já despidos, Helena quer consumir o homem naquela cama. Mesmo que seja por pouco tempo. Ela já sente as suas pernas abertas, com as coxas a pressionar o peito dele. Com o sexo dele a entrar várias vezes dentro de si. Helena contorce-se na cama enquanto imagina tal cena. Cerra as pernas, gozando o calor que já fervilha dentro de si. Fecha ligeiramente os olhos. Morde o lábio inferior e respira fundo. Sim, Alberto vai possui-la. Da forma exacta como ela desenha na sua mente. Mas ele está atrasado. Ele não liga. Algo se passa e os seus olhos abrem-se assustados. Fixam-se na cadeira onde o seu marido deixa as gravatas e vê umas cuecas roxas no chão, junto a uma das pernas.
Rodrigo já segue por um caminho diferente. Conhece um atalho que o retira provisoriamente daquele trânsito. Porque ele tem que voltar atrás. Na sua mão tem o telemóvel da sua esposa que não pára de tocar. Dá sinal de chamada. Cessa. E volta a tocar. Para novamente cessar. E repete o processo. Mas na mente dele, está apenas o facto de ele ter a certeza que Sandra se esqueceu das cuecas no seu quarto, bem perto da cama onde ainda há minutos ele lhe estava dar um orgasmo excepcional. As coisas tremem na cabeça de Rodrigo. A sua esposa está em casa e quase de certeza irá ver aquela peça de roupa interior feminina, que efectivamente, não é dela. Rodrigo respira fundo. O telemóvel toca. É de número privado e ele não atende. Está demasiado nervoso. Não desculpa possível. Não há retorno. Tudo está por um fio.
Helena tem as cuecas na mão. Está ajoelhada no chão e tudo se confundo na sua mente. Alberto provavelmente está a ligar-lhe, mas ela tem a certeza que se esqueceu dele no carro. No automóvel que entregou de mão beijada ao marido. E ele irá ver a chamada. O mais provável é perceber. É entender que Alberto, afinal, não é só um cliente da empresa que eles gerem em conjunto. As cuecas que estavam prostradas no chão, também têm uma justificação. Bizarra. Violenta. Estranha. De algo ela sabe. Aquelas cuecas não são suas. Tudo está por um fio.
Carro em segunda fila. Correria até à porta. Nervos para abrir a porta. Escadas a subir de dois em dois degraus. Abrir a porta de casa e procurar suster a respiração. Rodrigo entra no 1º direito e dá de caras com a sua esposa no corredor.
- Tenho uma coisa para te contar.... - diz ela.
- O quê?!! - pergunta ele assustado.
- Já foste à reunião?
- Não....Estava muito trânsito e....
- Porque voltaste atrás?
- O que tens para me contar?
- Perguntei primeiro.... - diz Helena, procurando manter um ar sereno.
- Deixaste o teu telemóvel no carro....Tocou uma data de vezes e....pensei que fosse importante.
- Quem era?....
- Não sei...Era de número anónimo e não atendi.
Helena suspira. Um alivio atravessa a sua espinha. Com a mão direita, ela recebe o telemóvel na mão, satisfeita por saber que afinal, Rodrigo não sabe que Alberto lhe quer dar uma tarde inesquecível. Mas Rodrigo mantém dentro de si um ar ansioso, nervoso, explosivo. Mas ainda espelha uma face tranquila.
- O que tinhas para me contar, afinal?!.....
- O teu filho.....
- O que tem?.....
Ela abre a mão esquerda e apresenta as cuecas roxas. Por uns segundos, Rodrigo pensa na sua mente a desculpa mais plausível. A que possa trazer menos danos.
- Acho que ele anda a levar a Sandra para a nossa cama.... - diz Helena.
- Uhm?!....Como assim? Porque dizes isso?!
- Encontrei isto junto às tuas gravatas. E tenho a certeza que isto é uma tanga dela.
- Como é que sabes?
- Minhas não são, Rodrigo..... E sinceramente, tem o cheiro dela. Todo o quarto tem o cheiro dela! O quarto dele não deve ser suficientemente grande e ele leva-a para o nosso quarto, a tua cadeira, a nossa cama...Meu Deus...sei lá que sítios mais....
Rodrigo suspira fundo. Ele não se iria lembrar de história melhor. A esposa ilibou-o sem sequer haver uma acusação. Sem sequer ela desconfiar que foi ele que atirou as cuecas da jovem namorada do seu filho para a sua cadeira das gravatas. Inusitadamente, Rodrigo abre os lábios e não consegue disfarçar um sorriso.
- Tu ainda te ris?? O nosso filho traz a namorada para casa e ainda acha que tem o direito de comer a rapariga na nossa cama? Na nossa cama, Rodrigo....
- Eu falo com ele...Pode ser?
- Não, não, não, não...Eu tenho que ter uma conversa a sério com esse rapaz. Sei lá eu que mais maluqueiras ele pode fazer.
- Helena...deixa, eu falo com ele....Isto...Isto é uma coisa normal na idade dele e...
- No nosso quarto, Rodrigo!
- Mas nós também já entramos no quarto dele e.....
Ela silencia. A pecadora penitencia-se. Baixa o queixo e rende-se às evidências. Ainda assim, ambos estão tranquilos, aliviados. O fio não foi cortado. A linha não foi quebrada. Após mais uma insistência, Helena aceita que seja o seu marido a ter uma conversa de homem para homem com o filho mais velho do casal. As cuecas foram surpreendentemente entregues à mão de Rodrigo. Como uma troca. Um câmbio de segredos não revelados. E na iminência de serem apanhados, eles entregaram o ouro ao bandido. Tudo esteve por um fio. Para um lado e para o outro. Mas se o destino existe. Se algo está escrito na história deste casal, tudo isto tinha que acontecer. Rodrigo e Helena são um casal perfeito. Trocam olhares de acesa paixão entre eles. Demonstram a união que segura a família que ergueram em conjunto. Partilham uma carreira, uma empresa, um futuro. E num desejo paralelo, ambos se entregam a amantes escaldantes, a relações proibidas, a segredos perigosos. E ainda assim, conseguem manter tudo por detrás de um espelho. Porque o parceiro não quer ver. E nem os sustos, nem a iminência de serem descobertos por detrás do espelho os leva a mudar de atitude. Tudo está bem. Tudo tinha que estar bem.

7 comentários:

Shelyak disse...

Sem dúvida, os meus preferidos...Helena e Rodrigo... bem excitantes estas histórias que nos fazem voar a imaginação...
:)))

Anónimo disse...

Aos moradores do Magnólia
A descoberta de Helena, nos conduz à tragédia. Este Edifício está contaminado. O teatro aqui se desfila por nossos olhos muito mais que nas arenas gregas. A comédia e o tragédia são pratos do dia.O Teatro continua.não pode parar. As máscaras caem seguidamente. Não só a Ana as possue. Todos os moradores são atores.O teatro surreal é o mais usado. Vejamos as consequencias.
beijos molhados para as mulheres e abraços para os homens.
Julio 135

Anónimo disse...

Parabéns ao Narrador!
A forma como "descalçaste a bota" foi de imaginação superior! Quando estava à espera que a Helena confrontasse o marido eis que ela acha que é o filho que anda a comer a namorada na cama dela!... Do mal o menos. Da forma que remataste o assunto vão os 2 poder continuar a dar as suas quecas com terceiros...

Francisco del Mundo disse...

Fantástico.. Um verdadeiro suspense..:D
Beijo e abraço

luafeiticeira disse...

Uffff, tinhas-me deixado sem fôlego, pensei que os vidros do 1º esq se tinham partido, mas afinal só racharam; falta agora saber se Helena não acabará por falar com o filho.
beijos

Magnolia disse...

Bem vindo novamente SHELYAK, as revelações da Helena e do Rodrigo ainda tem muito para contar.
JULIO 135, só tu para descreveres de uma forma tão teatral o que se vai passando no Edificio. Continua por aqui.
MADURO, mais do que descalçar a bota, acho é que a Helena e o Rodrigo estão a fazr cada um a sua própria cama. A ver vamos. Imaginação superior? :) Talvez.
FRANCISCO DEL MUNDO, ainda bem que o Edificio te dá uma envolvencia de suspense.
LUA FEITICEIRA, tens razão. Há sempre essa possibilidade. Uma mãe zela sempre pela educação do filho. Até mesmo no campo sexual. Será?

carpe vitam! disse...

até ao dia em que...