segunda-feira

Danças em chão tépido

É quase hora de almoço. Sente-se o movimento habitual nas escadas do Edificio Magnolia. As pessoas saem. As pessoas entram. Terminam os seus afazeres, adiantam-se para os compromissos vindouros. Tudo tem um principio e um fim. Uma hora de começo, uma hora de término. Faltam dez minutos para Maria José terminar mais duas horas de explicações. A jovem estudante arruma os cadernos e o livro, indispensável para a preparação para a cadeira anual que nunca mais termina. O apoio da professora universitária tem contribuido para uma maior confiança da jovem. De tal forma que a última hora que foi combinada é concluída antes do tempo estabelecido. Maria José está ansiosa. Depois de almoço, aguarda pela presença de Tiago. Ele e o seu desejo guardam-se na memória da mulher. A hora de explicação derretida no seu sofá alcançou um limite decisivo na mente dela. Tiago tornou-se uma espécie de margem na postura profissional e pessoal da mulher. E Maria José transpôs essa margem. Agora tudo é possivel. E a sua ansiedade resume-se nessa possibilidade do mesmo momento voltar a repetir-se.
A professora nem pretende despachar a estudante. Os últimos minutos são reservados para a jovem pagar as últimas horas em que Maria José disponibilizou os seus serviços. A mulher passa o recibo e vai entregá-lo à aluna junto à porta de entrada.
- Obrigado, stôra...Também queria dizer-lhe que o Tiago não pode vir esta tarde.
- O Tiago??!
- Sim...tinha umas horas marcadas com ele....ele disse que não podia vir...
- Mas...o Tiago é....
- O Tiago é meu namorado, stôra e mandou-me agora uma mensagem a dizer que...
- Que não pode vir...
- Sim...
Gera-se um silêncio no hall de entrada do 1º direito. O olhar de Maria José fixa-se na aluna. Precipitadamente, uma sucessão de acontecimentos invade-lhe o raciocinio. Tiago cancelou as horas. Ter-se-à amedrontado desde o último beijo neste exacto sitio? A namorada dele é, afinal de contas, uma das estudantes à qual ela dá explicações. Saberá ela demasiado? Ela entrega-lhe uma mensagem em segunda mão. Quererá ela transmitir alguma coisa? Há duas semanas, Maria José envolveu-se com um aluno. Há quase dois meses, a mulher divorciou-se de um marido de uma vida inteira. Há vinte e dois anos, a professora deixou de ser solteira. Aos vinte anos, ela tinha todos os sonhos da vida, as loucuras da juventude, as insanidades saudáveis. E no entanto, hoje continua a ser a vida presente dela. A sua mente continua em turbilhão. A jovem aluna abre a porta da casa da explicadora mas mantém-se a olhar para ela, esperando uma espécie de resposta. No entanto, Maria José ainda está desorientada.
- ...Desculpa, Alexandra...Esqueci-me de te dar o troco...Dás-me uns segundos?
Alexandra aguarda. Pressente a mulher fixar o olhar na sua face. Pressente os olhos dela a percorrerem vagarosamente o seu corpo. Pressente a confusão da professora. Mas aguarda. Maria José vira as costas e dirige-se à sal, à procura da carteira. Algo dentro do seu pensamento não decorre da forma certa. Algo na sua imaginação bloqueia um pensamento maturo, harmonioso e saudável. Na sua mente, enquanto procura uma nota para entregar de troco, está a imagem de Alexandra. Maria José comeu o namorado da sua aluna. Entregou-lhe um prazer que supostamente a jovem nunca tinha dado a Tiago. Ele não vem. Ele assustou-se. Ela sabe. Ela é linda. Dentro da cabeça de Maria José explode a estupefacção perante a beleza da jovem. A professora tenta concentrar-se. Não consegue. Procura achar uma nota. Não consegue. As suas mãos tremem. Ela vê a face perfeita de Alexandra. Cabelos castanhos lisos aloirados. Uns olhos azuis cristalinos. Um sorriso intenso e misterioso. Um corpo esbelto. Extraordinariamente esbelto. O decote salienta o seu peito firme. Pequeno mas firme. A saia preta até ao joelho realça, mas realça mesmo as ancas delineadas e as pernas tonificadas. Maria José respira fundo. Ela não sabe se está nervosa ou excitada. Não pode estar excitada. Não é mesmo possivel. Mas ela treme. Recorda os seus vinte anos. Recorda as noites no dormitório junto à universidade onde se formou. Maria José não encontra a nota. Morde o lábio inferior, ergue o corpo e inspira o mais profundo que consegue. Olha para o exterior pela janela graciosa da sala. Voltar ao hall de entrada, depois destes segundos vertiginosos, repletos de reminiscências da sua vida, dos seus desejos e dos seus impulsos, é agora torturante.
- Alexandra...não tenho mesmo troco para te dar......
A jovem liberta um sorriso. Como que a aceitar gentilmente o facto de não poder receber o dinheiro devido. Ela percebe que a mulher está nervosa. Segura na porta e prepara-se para sair. Maria José tem o olhar perdido nela. Antes de deixar a aluna sair, a professora volta a transpôr o limite. Dá um passo em frente e despeja os seus lábios na boca fina e macia de Alexandra. Algo é quebrado. Há um sliêncio estilhaçante naquela divisão da casa. O beijo roubado dura cinco segundos. Não mais. Não pode durar mais. Alexandra nem sequer esboçou um gesto, um movimento. Poder-se-ia mostrar surpreendida com o beijo. Talvez atrapalhada. No entanto, nesses cinco segundos cerrou levemente os olhos. No momento em que Maria José liberta a boca, abre os olhos. Abre as pálpebras a ponto de fazer lacrimejar os olhos. Entra em choque. São momentos longos.
- Não... Desculpa, Alexandra...eu não queria...desculpa...eu estou...esquece... por favor esquece que fiz isto... por favor...
Quando tudo parece desabar à volta de Maria José, a margem que ela transpôs aproxima-se dela. Alexandra fecha a porta, larga a mal que tem a tiracolo e retribui o beijo. Desta vez é um beijo quente, profundo, colado. A jovem quer. De alguma forma, com algum intuito oculto, a rapariga de cabelos castanhos gostou do beijo da professora e entregou-se a ela. Tudo o que se precipita na cabeça de Maria José, mistura-se numa enorme confusão. A única saída é render-se àquele prazer insólito. A mulher envolve-se no beijo. Leva as mãos aos ombros dela, puxando o casaco de malha para trás. Empurra a jovem contra a porta, agora fechada, isolada da correria infernal nas escadas. O beijo molha-se. Envolve o vigor das linguas, joga com as mãos desejosas, dança com a trepidação dos corpos. Maria José sente-se enfeitiçada. Jamais ela pôde imaginar no inicio destas duas horas que elas se iriam concluir assim. Não estava pré-definido. Não estava sequer ao alcance das suas fantasias mais ousadas. Beijar o pescoço de uma outra mulher não era concebido nos seus desejos. Saborear a pele fina de uma jovem sensual seria um passo que ela jamais iria dar. Mas está a dá-lo. Entra num jogo perigoso. Cada vez mais perigoso. Aceita uma dança desconhecida. O corpo de Alexandra escorrega pelo carvalho envernizado da porta. A professora acompanha o movimento dela. As duas mulheres sentem agora o chão frio. Alexandra está sentada e procura abrir as pernas para deixar os joelhos da mulher aproximarem-se do seu sexo.
- Não sei como fazer isto...Nunca tinha...Não o sei fazer...
- Achas que eu me lembro da última vez que o fiz?
Vinte anos. Maria José tinha vinte anos quando se deixava levar por loucuras sem medir qualquer tipo de consequência. Nessa altura ela era assim. Uma jovem bonita, sensata mas sonhadora. Atrevida mas reservada. Imatura. Os tempos eram outros. Agora ela tem quarenta e seis anos. Envolver-se com alunos passa para além da sua maturidade. Mas o desejo fala mais alto. Os seios de Alexandra são descobertos assim que ela lhe puxa as alças do top decotado. Pequenos mas firmes. Os mamilos aguçam num calor desperto pelo prazer proibido. A jovem acaricia os cabelos loiros da mulher. Pede mais. Quer mais. Recebe mais. Os lábios da professora chupam as mamas e obrigam um gemido a saltar da boca fresca de Alexandra. O seu rabo arrefece no soalho desconfortável. Ela movimenta as pernas, fazendo-as dançar em pleno ar. O peso das suas botas força-a a pousar as pernas nas costas da mulher. Maria José delicia-se com as mamas suaves e fofinhas da inesperada amante. Não é um caso inédito na sua vida. Mas um enorme ocaso surge na sua mente quando ela procura recordar-se da excitação de saborear um peito feminino. Entre essa e esta experiência existem mais de vinte e cinco anos solitários e vazios. Agora tudo se enche na boca de Maria José. Porque a sua aluna procura mais prazer. As mãos dela empurram a sua cabeça mais para baixo. Algo arde no intimo de Alexandra. A mulher puxa a saia fina dela e descobre as coxas formosas da jovem. Descobre as cuecas que cobre o sexo fresco da rapariga. Descobre o sexo que está húmido. Porque tudo é demasiado rápido. Tudo é demasiado inconsciente. Alexandra fecha os olhos. Sente os dedos da professora a tocarem no pedaço de tecido interior que envolve a sua pele. Sente a cuecas percorrerem a pele das suas coxas. E uma vibração desloca-se por todo o seu corpo, atravessando a espinha, rebentando na sua nuca.
- Eu quero...ohhh...quero tanto!!! Quero mesmo...por favor, não pare!...
As cuecas finas de Alexandra páram próximo dos seus joelhos. Por sua vez, os joelhos dela estão a rodear a cabeça da professora. Maria José beija as coxas dela até chegar às virilhas. A jovem sente-se louca. Geme por todo o lado. O feitiço que invade a alma de Maria José é espalhado pelo corpo da jovem. A lingua da professora toca os lábios vaginais da sua aluna, para depois explorar mais profundamente. Descobre o clitóris, perde-se nele, encanta-o com um toque intenso. As pernas de Alexandra entram em convulsões excitantes. Ela pede mais. Maria José tem agora as mãos no rabo macio mas frio da jovem. São nádegas diferentes para o tacto da mulher. São sensações disperas de todas as suas fantasias. Nunca foi fantasia. Em poucos segundos, algo explodiu nas certezas interiores de Maria José e transformou-se numa realidade excêntrica. Ela come a rata de uma jovem mulher. Ela delicia-se. Prova os sabores que emanam do interior da vagina dela. E quando todo o corpo de Alexandra escorrega pela porta, deitando-se por completo no chão tépido, a professora dança com a lingua dentro da rata da aluna. Alexandra está louca. Dentro da alma imatura da jovem, ela já se veio. Tudo brotou na fantasia delicada que se pinta nos seus sonhos. Agora há uma viagem intensa e precipitada a decorrer no seu intimo. Agora que Maria José abocanha toda a rata, chupando o clitóris encharcado da sua amante, Alexandra espalha a sua energia pelo corpo. Perde o controlo de tudo. Sente-se alucinada por um sentimento novo. Maria José cola-se à rata apetitosa da jovem. E ela sente o prazer de Alexandra eclodir na sua boca. As mãos finas da aluna fincam na nuca da mulher. As pernas apertam nas suas costas. E o suco que a professora suga é a prova de que tudo isto é sentido. É o gosto que vai ficar guardado na sua lingua assim que ela para de dançar na vagina de Alexandra...
A namorada de Tiago não pode saber. Jamais poderá ter ideia das coisas que a professora lhe roubou. Tiago não faz ideia do que a sua explicadora lhe roubou. Maria José não tem noção dos limites que ultrapassou. Mas este segredo é mais profundo que isso. Envolve mais sentimentos que a mera extorsão de experiências sexuais. Este segredo não é uma descoberta de Maria José. É a revelação de tudo o que ela ambicionou e provou. É a revelação que foi encoberta por mais de vinte anos de casamento. E entre o inicio e o fim dessa união guardou-se um desejo cadente, recalcado na mente ousada de uma mulher a caminho dos cinquenta. Maria José tem uma vida pela frente. Sempre teve. Episódios como este são apenas pedaços quebrados da sua líbido. Quando solta um beijo fino na boca de Alexandra, para se despedir dela, a professora sabe que está incontrolável. Assim que abre a porta à jovem, depois dela se ajeitar, a mulher consciencializa-se dos seus pecados. Ao fechar a porta, Maria José tem a certeza que a revelação dos seus desejos irreverentes e imaturos ainda agora começou. Novamente sozinha em casa, ela baixa-se para pegar nas cuecas espalhadas no soalho tépido. Segura-a na mão e até chegar ao chuveiro, já nua, irá decidir o que fazer com aquele tecido surreal.

6 comentários:

O rapaz das Confissões disse...

uma escrita fantastica.
e uma professora fantastica tambem hehehe

luafeiticeira disse...

A tua escrita é um pouco como uma espiral; há um tema, este o minete e depois pormenores e mais pormenores à volta e são eles que nos envolvem, são eles que acabam por tornar o texto erótico, pois nada é apresentado duma forma nua crua, a sensualidade permanece sempre.
Beijos e continuo a dezer que não é este o apartamento real

cheiodetesao disse...

Uf!

Enquanto a professora vai decidir que fazer com o tecido surreal, eu vou decidir que fazer com a tesão que a leitura do post me provocou!

:)

Shelyak disse...

Uma mulher completamente solta, livre, procurando viver o tempo perdido...
Terrivelmente excitante...
uffffffffffffff

Magnolia disse...

O RAPAZ DAS CONFISSÕES, ainda bem que gostas de vir visitar o Edificio. Ainda bem que gostas da professora. Espero que te envolvas em todo o espaço.
LUA FEITICEIRA, na verdade, os pormenores em volta do êxtase é que são reveladores dos desejos das personagens. Um dia saberás se é este o apartamento real ou não.
CHEIO DE TESÃO, já decidiste o que havias de fazer? É bem possivel que a professora tenha guardado o tecido num sitio especial.
SHELYAK, uffff....é bom ver que vivências como a da professora ainda te provocam arrepios.

Red Light Special disse...

Bem.. dos posts mais inesperados que já te li.
A realidade desta professora faz-me confusão, o ultrapassar estes limites choca-me profundamente, talvez por eu ser professora também.
Fico sempre surpreendida com o desenrolar das suas estorias... que na verdade existem em todo o lado, não são mais do que um espelho da realidade, tanto no feminino como no masculino.
Concordo com a lua, não é esta a estoria verdadeira.
:P