terça-feira

Numa dança que segura o corpo

Os dias são longos para Lúcia. Acordar diariamente a uma hora madrugadora da qual ela não consegue fugir, reflecte-se no cansaço que invade o seu corpo quando a noite começa a cair. Misturado nas rotinas domésticas e na intensa jornada académica, o dia de Lúcia é devastador. Claro que como qualquer pessoa, ela encontra um ritmo natural. Chega habitualmente a casa para jantar, com companhia ou não, por volta das sete horas. Se a ausência de estudos ou trabalhos permitem, ela ocupa as últimas horas do dia para relxar no seu quarto. Internet, leitura, alguma escrita, divagações de prazer pessoal e uma entrada no mundo dos sonhos só dela. Alcançar as onze horas da noite lúcida é para a jovem um limite dificil de ultrapassar num dia útil normal.
A semana avança. As aulas extenuantes terminaram há duas horas. A turma de Lúcia aproveitou para jantar no bar da faculdade e trocar impressões entre os elementos mais próximos. A saída do próximo fim-de-semana, o tema do próximo trabalho de grupo, as trivialidades sobre futebol, compras e futilidades que preenchem as conversas mistas numa mesa longa do bar universitário. A conversa entre Lúcia e Francisco separou-se ligeiramente do cruzamento de diálogos confusos entre colegas. Uma conversa que se iniciou na reunião para o trabalho a entregar daqui a duas semanas. Desenrolou-se na falta de apoio dos professores e do constante distanciamento do outro grupo da turma que pura e simplesmente se recusava a acompanhá-los naquele inicio de noite. Estendeu-se para a união que surge entre este grupo, para o relacionamento entre todos, às vezes até intimo. A conversa foi concluida com um olhar breve mas intenso entre os dois. O grupo manteve-se no bar. Conversas fúteis, caminhos diferentes, rotinas distintas. Lúcia e Francisco abandonam. Saem juntos e tudo isso é perfeitamente natural para todo o grupo. E naquele instante, Lúcia sente algo em si a evadir-se do seu interior.
A luz vermelha acende-se. O elevador desce até ao primeiro andar do Edificio Magnolia. Quando a porta se abre, ela permite que o colega entre. Em silêncio, Francisco obedece. Até ao segundo andar a viagem é curta, mas o desenvolvimento é longo. A porta encerra-se. Lúcia carrega no botão com o número dois e imediatamente lança-se ao corpo do colega e beija-o. Francisco tem a idade da inquilina do 2º esquerdo. Estuda na mesma turma que ela, ao mesmo tempo que exerce a sua actividade principal. Francisco é jogador de futebol profissional, num clube da cidade sem muito impacto e mediatismo. A sua imagem possante misturada com um ar terno e intimista nunca fugiu à atenção de Lúcia. Mas este beijo abre uma brecha dentro de si. Francisco namora com uma jovem rapariga. Não é um homem fiel, no entanto procura na sede por Lúcia muito mais que uma traição. O beijo é um acordo mútuo sobre o que ambos realmente pretendem. A porta do elevador retorna a abrir, agora junto à porta da casa de Lúcia.
O apartamento está vazio. Tania e o seu namorado sairam para uma noite de copos. Outras rotinas, outros hábitos. Lúcia aproveita essas mesmas rotinas. Ela liga o minimo de luzes possiveis e põe o seu amante à vontade. Francisco não é o primeiro homem na vida da jovem. Não será o último, mas tudo é muito complexo. Lúcia é bissexual. Não implicitamente por opção. Talvez mais por necessidade. Os seus primeiros episódios sexuais que significaram algo mais que a mera masturbação foram partilhados com mulheres. Melhor, com raparigas. A sua primeira experiência sexual com um homem despoletou-se muito tempo depois dela assumir a sua faceta homossexual. Ela vivia a frágil passagem para o mundo adulto. A necessidade de entender os desejos do corpo humano fê-la entregar-se de corpo e alma a um jovem perdidamente apaixonado por ela. Lúcia considera ainda hoje que foi uma óptima experiência. Como momento decisivo no seu crescimento pessoal, essa experiência despedaçou algo dentro de si. Desde então, a relação com o seu pretendente mudou. Tornou-se mais fria, menos próxima, mais completa. Ela usou o elemento masculino dele para preencher uma necessidade que o seu corpo pedia. Em relação a ele. Não se pode dizer que concretizou o seu sonho. No final, sobrou a certeza de que Lúcia perdeu algo.
A televisão está acesa como elemento ambientador. Dispersa o nervosismo inicial de qualquer envolvimento. Na verdade, o tempo foi curto para que algo acontecesse. O beijo longo no sofá antecipa o momento em que as calças dele são desapertadas. Lúcia entrega-se ao colega de faculdade. Salta para o colo dele. Despe a camisola e enfrenta-lhe o seu peito volumoso, seguro pelo soutien preto. Francisco gosta. Sente-se arrebatado por uma jovem singelamente calma em toda a vivência académica. Enche as duas mãos no seios dela e estimula o interior que se quebra em Lúcia. Todos os homens que partilharam sentimentos sexuais com a jovem retiraram algo dela. Nunca guardaram esse pedaço. Mais novos ou mais velhos, maduros ou ingénuos, comprometidos ou não. O parceiro masculino de Lúcia caracteriza-se por perceber que não vão conseguir arrancar muito mais do que aquilo que ela entrega.
Lúcia está quase nua. Os seus suspiros demonstram alguma ansiedade. Para além do soutien, Francisco ainda não despiu a alma da jovem. Ela procura não despedaçar um pedaço de si que se solta. Sentada em cima da cintura dele, de costas para a sua face, Lúcia esfrega o sexo dele, bem próximo do seu ventre. Coloca o preservativo guardado no bolso das calças do colega e vagarosamente arrasta-o até ao fundo. As mãos de Francisco acariciam as costas suaves da amante. Aproximam-se das nádegas largas dela e empurram o seu corpo com delicadeza para a frente. O sexo dele é estimulado de uma forma excitante pela jovem bissexual. E no espaço de tempo entre a caricia terna nas bolas dele e o segundo onde ela é penetrada gentilmente, algo se perdeu dentro de Lúcia. Mas ela quer. Ela sente a picha dele entrar em si. Ele acaricia as ancas dela, ao mesmo tempo que a jovem cavalga suavemente sobre o corpo dele. Lúcia cerra os olhos. Sente o prazer do pedaço de carne a quebrar a sua rata. Francisco desliza as mãos pela barriga das pernas dela até aos tornozelos. Levanta ligeiramente o corpo e beija as costas da amante. Os saltos de todo o corpo dela sobre ele intensificam-se. Carregam em si um descarregar de desejo, de necessidade profunda de sentir o colega. Porque Lúcia entrega-se assim. O homem é atraente, carinhoso e excitantemente teso. Todavia, a alma dela está pesada. A racionalidade confunde-se com o cansaço que se apodera do seu ser. Transporta a tusa e sensualidade do seu corpo para o sexo do parceiro, mas pouco recebe. E tudo o que entra em si é devastador. Estilhaça no seu interior um prazer obscuro, uma sensação que não lhe pertence. Os gemidos que ela solta para Francisco, são os mesmos que outros homens já provaram da boca dela.
O sexo do estudante e jogador de futebol entesa cada vez mais. Incha dentro da rata apertada da amante. Francisco encosta-se no sofá e recebe o corpo dela. Lúcia está exausta. Com algo quebrado dentro de si, ela só pode esperar que toda a veemência da foda não lhe apague a consciência. Deixa-se encostar ao corpo do colega, assim que pressente as mãos dele apalparem-lhe as mamas. Sabe-lhe bem. Entesa-a. Fá-la sonhar com prazeres duradouros. Esvazia em si a sede que se acumulava desde a última penetração masculina. Ela geme, mas não explode. Francisco retira as mamas dela dentro do soutien. Estimula os mamilos, aprecia a suavidade do peito dela, espalha o suor que escorre do vale do busto apertado. Os dedos de Francisco assemelham-se a tanta coisa que põe Lúcia louca. Os dedos dele procuram colar o que já está quebrado dentro dela. E quando ela perde as forças, é ele que controla o momento. É ele que fode a rapariga até não poder mais. Porque Francisco não aguenta muito mais. Puxa pela cintura para cima, qual exercicio fisico nos treinos. Desce as mãos pelo corpo dela e segura-lhe as coxas, de forma a levantar o corpo dela. A picha entra profundamente no sexo de Lúcia. Estimula-a. Mas ela não rebenta. O seu prazer é cortado com algo que se desvanece numa parte incerta do seu âmago. As suas mamas bailam livremente, não tendo nenhuma mão que as segure. As suas costas estão completamente deitadas sobre o corpo dele. A alma de Lúcia é sustentada por ele. Já não tem forças. Já não tem sensibilidade. Francisco vem-se. Obtém o seu prazer, geme junto ao ouvido dela, abraça o colapso corporal da amante. E ainda que as mãos do colega segurem o corpo de Lúcia, ela quebrou.
Ouve-se a respiração da jovem. A foda estilhaçou o seu desejo. Rompeu o seu intimo que ansiava por isto. Não se pode dizer que obteve o seu prazer. Mas isso ela sabe que não iria acontecer. Tem consciência disso no momento em que repousa sobre o corpo dele. Não está menos satisfeita por isso. Uma queca com um homem não se resume a ter um orgasmo. Francisco veio-se, teve o seu prazer imenso e isso também é relevante na sua mente. O colega beija a maçã do rosto rosada. As suas mãos voltam a encher os seios dela que ainda bailam, nus. Quando solta o susprito derradeiro, aquele que a faz regressar ao mundo real, Lúcia liberta um pequeno sorriso. Talvez Francisco não se contente com o facto de a amante não se ter vindo. Talvez tudo isso até possa ter uma explicação lógica. Talvez tudo isso proporcione um novo encontro. Mas no momento em que se ouve a porta de entrada a abrir, Lúcia não está mais fraca, não está mais vulnerável. Tania entra apressadamente dentro de casa. Imediatamente, Lúcia agacha-se no sofá, saindo de cima do colega, retirando o sexo consolado dele de dentro da sua rata. Francisco repete a acção. Tania percebe que algo de estranho está a acontecer na sala. Ao manter o olhar lá, vê a cabeça de Lúcia surgir, vê os ombros despidos da amiga que partilha consigo o 2º direito e entende o que se passa. Larga um sorriso e um entendimento geral surge entre as duas jovens. Tania diz que veio só buscar a carteira e que está já de saida. Lúcia argumenta que se estava a preparar para ir para a cama. A televisão transmite a novela da noite. Francisco percebe que o momento já passou e é melhor dar a noite por terminada. Assim que Tania sai, o jovem levanta-se, veste-se e conclui com um beijo terno na face da amante, aquilo que tinha começado com um simples conversa rotineira entre amigos na faculdade. Lúcia, que certamente estará na cama daqui por quinze minutos, sabe que algo foi quebrado. E não foi só o facto de ter prometido que nunca se envolveria no mesmo sofá onde Tania habitualmente abocanha o namorado dela. Mais uma vez, a entrega de Lúcia ao seu desejo interior de querer sentir um homem dentro de si, não conseguiu sobrepôr-se à fragilidade de libertar toda a sua energia sexual no ouvido do parceiro. Lúcia voltou a quebrar.

8 comentários:

muito querida disse...

afinal sempre consegui cá vir.
Espero que esta carta te seja entregue. Sim, sou eu..:)

fico à tua espera..

beijos quentes.

Anónimo disse...

Os textos coninuam excelentes!
Nem sei como tem tempo para actualizar o Blog de forma tão regular.
Parabéns e fico à espera de mais...
Anónimo do Porto

Adore disse...

Ao ler as histórias do 2º esq, identifico sempre as personagens com pessoas que fazem parte da minha vida. É por isso que este andar é o meu favorito :)

beijinho

If you Brosh it disse...

Isto de ser apanhado pelos colegas.
A Lúcia tem que se lhe diga.

Magnolia disse...

MUITO QUERIDA, volta mais vezes, a carta foi entregue :)o saltinho nas palavras quentes será feito com entusiasmo
ANONIMO DO PORTO, actualizar o blog não é tarefa fácil, mas revela-se um processo prazeirento.
ADORE, é muito bom identificares-te com alguém. É muito bom sinal. Se este é o teu favorito, continua a ler, a criticar, a sugerir, sei lá...participa e espreita. :)
IF YOU BROSH IT, num apartamento assim, é quase normal ser apanhado pelas colegas. É uma espécie de jogo que ainda vai revelar mais surpresas.

Francisco del Mundo disse...

Até que enfim que vejo uma personagem com o meu nome! Leio desde o primeiro post e já publicitei o Edificio no meu canto. Quanto ao palpite da estória verdadeira, deixarei para outra altura. Parece-me é que não é apenas uma mão a descrever o edifício. A personagem do Francisco tem alguns paralelos comigo (troco o futebol pelo volei) mas tenho pena que seja uma personagem temporária... Um Francisco deveria durar mais...:D

luafeiticeira disse...

UIII, tu escreves tanto que eu nem te consigo acompanhar. Já tinha lido e comentado o último quando descobri que me falatava ler este. É diferente, não nos dá tusa, mas deixa-nos a pensar... é bom na mesma, claro.
beijos

Red Light Special disse...

Este teu texto retrata muito bem a bissexualidade, a sensação de vazio mesmo quando se está preenchida.. a tal quebra, os pedacinhos que não se colam.
Continuo a defender o que disse desde o primeiro post da lúcia: és este andar que espelha a realidade.
red kisses to you!!