quinta-feira

Guardar a distância certa

Publicado a 05-05-08
O toque da campainha soa. Um toque seco, introvertido, curto, reservado. Uma chamada peculiar e notoriamente cauteloso. Dez segundos após o toque, ele abre a porta. Olha para ela, admira-a, entende cada pedaço que a torna presente. Ele aguarda que ela se aproxima, mas algo a prende. Nem mesmo o sorriso dele a aproxima. Nem sequer a tentação do que ela vê a faz dar um passo em diante. Até mesmo a sua confiança exacerbada lhe nega uma forma de diminuir a distância que guarda dele.
- Não vais entrar?
- Estou a pensar...
Rafael está nu. Literalmente nu. Os ombros firmes. O peito inchado. O rabo empinado. O sexo descontraido mas voluptuoso. O instrutor já a esperava. Ligou-lhe para saber da disponibilidade para se dirigir ao seu apartamento e acabou por ter uma resposta convincente. Assim, ele adaptou-se ao momento e decidiu oferecer à sua convidada uma surpresa. O seu corpo está apenas adornado com uma luva de cozinha na mão direita.
- Não queres entrar?
- Neves, temos mesmo que encontrar um sitio neutro para nos encontrarmos...
- Se preferires podemos ir para tua casa...
- Não, hoje a minha casa está indisponível...
Ana acaba por passar pela porta do 3º esquerdo. Se ela saiu do seu apartamento para tocar à campainha do vizinho, é porque queria com toda a certeza entrar. Ainda para mais quando a acompanhante estava a meio da sua preparação para a máscara nocturna. Com uns collants pretos fantásticos, seguros a umas ligas, ela saiu com uma saia castanha convencional. Não é de estranhar o olhar surpreendido de Rafael. Ainda assim, não se pode dizer que os dois amantes e vizinhos estão apropriadamente vestidos. Ana entra e desliza a mão pelo peito do homem. O seu cabelo ainda está húmida, do longo banho tomado há menos de quinze minutos. Ana não quer sentir-se à vontade no apartamento ao lado do seu, mas na verdade, ela procura mostrar-se confiante. E quando ela já seguia o seu passo nas sapatilhas, também elas convencionais para o momento, Rafael segura a sua mão e empurra-a contra o seu corpo nu.
- Preciso de um beijo teu...
- Foi para isso que me chamaste?
- Não chega?
O beijo. Colam-se os lábios, colam-se as mãos da jovem ao peito de Rafael, colam-se as mãos do instrutor de equitação ao rabo de Ana. O homem está excitado e o beijo intenso apenas pretende adiar um desejo enfurecido. Ele procura a lingua dela, mas Ana oferece simplesmente o sabor fresco dos seus lábios. E é inevitável perceber o reconhecimento mútuo do que é pretendido.
É carnal. É tudo demasiado relacionado com carne e todos os seus desejos associados. Pode-se dizer que a paixão se vai moldando. Até se pode sonhar com uma ideia de amor. Mas entre Ana e Rafael, no momento em que eles se instalam no sofá, é tudo carnal. Prazer sexual. Êxtase egoísta. Dádiva palpável. E no fim, tudo se irá resumir ao que sempre foi.
- Chupa, Ana...Chupa-me da forma como te pedi...
E ela chupa. Ela brinca com o sexo masculino. Ela engole a carne do homem que sempre a repudiou por a ver como uma mera vendedora de sexo. Ana quase veste a sua máscara nocturna. Ana quase que chupa com a mesma virtude e paixão com que pratica sexo oral com um cliente estimado. Ana quase que coloca a alma do seu vizinho na palma da sua mão. Rafael aprecia a boca meiga da jovem. Praticamente deitado no sofá com as pernas de fora, abertas, a permitir que a amante se ajoelhe entre si. Os lábios finos de Ana percorrem a ponta do pénis inchado e erguido como uma haste. A mão esquerda dela segura-o com delicadeza, apontando-o para si. A mão direito tranquiliza o corpo de Rafael, com caricias intensas. Ele sente a sua picha penetrar no seio da boca dela. Ele vibra com a lingua feminina a deslizar sobre todo o corpo do pénis. Ele transmite o seu deleite ao acariciar os cabelos da amante que secam. Ele deixa a cabeça enterrar nas almofadas do sofá e aprecia toda a imagem. É dificil ele recordar um momento em que tenha sido chupado assim.
- Uhh... tão bom...fantástico ...Ohhh, Ana... Vais-me fazer vir?
A mão direita de Ana acaricia a virilha dele, para depois segurar os testículos inchados com força. A jovem não se descola do seu papel de acompanhante. Ana não se desmarca da sua faceta nocturna. Porque tal máscara a tranquiliza. Desinibe a sua boca, as suas mãos e a sua mente. Apaixonada pela presunção do seu vizinho, ela não se quer entregar de mão beijada. Chupa e encanta o amante. Enche a sua boca e provoca sensações únicas. Entrega um pedaço do seu prazer e demonstra que é divinal.
- É isso que queres?!... Ohhh...Uhmmm... Ana...Uhmmm... eu sei que queres que eu me venha!!
E ela pede em silêncio. Os movimentos da sua boca. As pressões dos seus lábios. O deslizar da sua língua. Ana pede para ele se vir, no auge da sua gula, na iminência da tesão de Rafael. O liquido branco jorra. O peito de Rafael expande. As mãos dele fincam na cabeça dela. E a boca de Ana não pára de chupar. Ela quer tudo. Ela fica com quase tudo. Ela pouco lhe deixa. Talvez um pedaço de lucidez. Talvez uma réstia de força. Talvez um resto de esperma. Talvez ainda uma grande dose de desejo. Talvez tudo aquilo que ela ainda precisa dele.
- Ana!...Ohhh, Ana... deixa-me respirar...uhmmm.... Fogo!...Uhmmm.... Espera.
A mão dela esfrega o pedaço de carne cremoso. O olhar dela devora a satisfação da face de Rafael. E com a esporra do amante a colar-se à mão de Ana, com o êxtase vincado no semblante dele, com a concretização da especialização profissional da acompanhante, com a adrenalina que já decorre da união sexual, os vizinhos querem seguir para o próximo passo.
Não é amor. Ainda não parece ser paixão. Tudo se confunde com desejo sexual. Tudo acaba por ser, com uma pureza e um toque cru, devoção pelo sexo. Ana está com os joelhos dobrados no sofá. As pernas dela estão abertas. Os seus pés fazem força nas duas almofadas. As mãos delicadas seguram-se ao encosto da peça de mobiliário. E o corpo de Rafael mantém-se afundado no seu próprio sofá. As suas mãos acariciam as nádegas redondas e macias da jovem. As pernas esticam-se até bem perto da mesa de centro. O seu sexo que voltou a inchar e a erguer roça nas cuecas pretas da amante. A sua cabeça não consegue mover-se. Asfixiou no desejo que emana da cara de Ana. Ela já despiu a t-shirt branca convencional que colocou por cima da peça de lingerie a cobrir os seios. As mamas de Ana estão apertadas dentro do soutien. A dedicação da jovem quando coloca a roupa interior é especial. Como se tudo tivesse que ficar perfeito. Os seios empinados, a pele suave e brilhante, a perversidade das formas a quererem brotar, a firmeza e rigidez dos mamilos. Tudo é perceptível num jeito excitante. A beleza do peito da jovem é tal, que o instrutor não se atreve a despi-la. E o olhar dela demonstra que não quer libertar tamanho arranjo.
- Quero-te, Neves...uhmmm... quero-te mesmo...
- És minha...Preciso que sejas minha....
O tecido das cuecas desviado abre caminho para que o pénis estimulado de Rafael penetre na rata húmida de Ana. O broche pôs a rapariga excitada. O sabor dele nos seus lábios ainda faz a jovem suspirar uma tesão visível. Com os joelhos dela colados aos ombros do amante, Ana pressiona o corpo dele. Finca os dedos no encosto do sofá e flecte um pouco mais as pernas. O sexo masculino dilata os lábios vaginais. Os braços de Rafael envolvem a cintura sensual da amante. A cavalgar. É assim que o desejo sexual entre Ana e Rafael volta a libertar-se.
- Neves...oohh... é bom...sente-me.... sentes?
- Sim...Ohh.. sim... és tão poderosa... uhmm... és excitante! Ohhh!... Sim...Mais...
Ela está embalada. As mãos dele coladas às ancas definem o ritmo. A respiração dela marca o passo. Indica quando é que a penetração firme dele pode ser mais vibrante. Os dedos dele seguram-se às ligas e a palma da mão acaricia as pernas por cima dos collants. A cena é sublime. A jovem que quer mostrar a sua faceta apaixonada partilha tudo o que a sua máscara nocturna pode oferecer. Em cima do seu vizinho, Ana é mulher de prazer. Não se vende. Mas entrega-se. Não fode para proveito próprio. Mas goza tudo o que é possivel. E nem ela pode negar que se sente puta no colo dele. Nem Rafael pode esconder que é uma prostituta que ele fode com tanta paixão. Ana salta. Ana geme. Ana balança o seu corpo. Ana sente o inchaço dentro de si. Ana sente o seu intimo em polvorosa. Ana agarra a cabeça dele. Ana cavalga. Ana grita. Ana abre mais as pernas. Ana sente-se molhada. Ana deixa as mamas balançarem voluptuosamente dentro do soutien rendado. Ana tem o cabelo seco e embaraçado aos saltos. Ana mexe-se. Ana não pára. Ana segura-se a ele. Ana não o abraça. Ana cola o corpo do homem ao sofá. Ana é dedicada. Ana geme e grita. Ana pede mais. Ana vem-se. Poderoso! É frenético. Ana é a foda da vida de Rafael.
- Oh..oh... oh ...ohhh... uhmmm.... Ne..ves...Ne..ves... oohh...uhmmm...Sim!... Ooohhh!!! Sente-me a explodir... oohhhh!!
- Ana.... ohhh...Ana...és minha.. uhmm... és minha..oohhh...não pares..oohhh.. vem cá!!
Ana pára de cavalgar. Pára tudo. Pára o seu corpo, a sua mente, a sua lucidez. Nem ela tem a certeza do que lhe é permitido pensar neste instante. Os seus cotovelos que fincavam nos ombros largos do homem exercem força para os braços circundarem o pescoço de Rafael. Ela quer finalmente envolver-se num abraço ao amante. É arriscado. É entregar-se. É segurar tudo o que ele libertou. É uma compaixão tocante. E Rafael, com uma inesperada ternura, corresponde. A cabeça dela pousa sobre o seu próprio braço e a maçã do rosto cola-se ao rosto dele. Para não mais o querer descolar. Ele quer arriscar um aperto ao corpo quente da jovem. Porque agora ela parece sua. Parece rendida a si. Ele parece rendido a ela. Ele quer convidá-la a ficar. A ceder. A jantar. A dormir com ele. A partilhar histórias. A desvendar segredos. A guardar o momento.
- Ficas aqui? - pergunta ele.
- Não posso...
- Desiste...Cancela...Esquece o que tens marcado.
- Estás a apaixonar-te por mim?
- Estou apenas a experimentar algo diferente. Devagar... Quero ser diferente contigo.
- Vou dizer-to novamente, Neves...Não te quero desiludir. Mas eu continuo a ser acompanhante. E esta noite, pretendo ser uma fantástica companhia.
- Não me desiludes.
- Ainda bem.
Parece falso mas não é. Parece redentor mas não é. Assemelha-se a um gesto incoerente, mas assim não é. Ana olha para o seu amante e beija-o. Como se beijasse o homem mais perfeito da sua vida. Como se beijasse o amor da sua vida. Assim não o é. Pelo menos hoje não. Mas o beijo é verdadeiro. Acontece. Vive. É apaixonante. É fervoroso. É intimo. É ele que a segura com os seus braços fortes, que a acolhe no seu peito calorosamente escondido, que pede um pouco mais dos lábios dela. Os lábios tocam-se uma última vez. Pedem desculpa. Pedem compreensão. Ana pede com os seus lábios húmidos e cremosos que ele a deixe ir e voltar brevemente.
- Posso saber quem é o cliente?
- Não achas que queres saber demais?
- Posso tentar ter esse direito?
- Podes abstrair-te de pensar que sou uma acompanhante?
- E se não o conseguir fazer?
- Consegues ser uma pessoa mais feliz assim?
- Não me deixas ao menos convencer-te que podes estar a cometer um erro?
- Achas que és a primeira pessoa que tenta fazê-lo?
- Porque tens de ser tão dificil?
- Vamos tentar manter as coisas assim?
- Eu a tentar apaixonar-me ou tu a seres prostituta?
- Queres experimentar a ver-me só como tua amante?
- Não achas que é demasiado complicado?
- Queres ou não?
Rafael respira fundo. Não é uma cedência. Não é uma desistência. Ana sorri. Não é uma vitória. Não é egoismo. Os vizinhos do terceiro andar têm que se entender. Aprender a viver com o que os outros não vão deixar de ser. Procurar com mais convicção de que a relação deles nunca irá passar disto, enquanto alguém não ceder. Encontrar novas armas para aproximar de uma forma inequívoca o amante que apenas quer ser um pedaço da vida de outrém. Nem Rafael vai desistir de resistir a uma mulher deslumbrante embeiçada por si. Nem Ana vai deixar de vestir a sua máscara nocturna. Só um choque magnânimo. Só um toque delicado mas conciso vai fazer alguém ceder. E alguém tem que ceder. Até lá, é preciso guardar algo demasiado importante nas suas vidas. A distância que os torna felizes com um perto do outro. Até lá, Ana ainda vai repetir o gesto de se preparar para receber no seu apartamento mais um cliente. Até lá, Rafael ainda reformula a forma de esquecer o próximo homem que entrar na porta alheia.

2 comentários:

luafeiticeira disse...

Duas personalidades fortes, duas pessoas quentes... o resultado não pode ser harmonioso. Desculpa, mas continuo a não gostar da forma como o Rafael pratica sexo, nem percebo bem como é que elas ficam loucas por ele.
Beijos

Magnolia disse...

LUA FEITICEIRA, tens todo o direito a não gostar da forma como o Neves se envolve. Aliás, nunca se escondeu que ele é uma pessoa fria e calculista. Se as mulheres que o perseguem gostam dele ou é por algo escondido na personalidade dele, ou pela presunção ou por algo que é inexplicável em palavras. Esperemos que não seja a última opção.
Beijinho