quinta-feira

Espaço de tempo

O Espaço Magnolia é um cenário que permite adaptar-se aos desejos e sonhos de cada cliente. Os sofás, num dos cantos do estabelecimento, podem pintar-se de uma atmosfera envolvente e intima. Esse recanto pode traduzir-se num lugar aberto e amplo, que permite respirar cada pedaço do espaço. Pode até ser uma mistura destes dois. Como se quem estiver ali sentado possa ter a possibilidade de desfrutar de uma conversa intima e saber que o mundo à volta gira. Apressado. Atormentado. Ali não. O mundo pára. Sem pressas, sem limites.
Não há tempo. Vasco apressa-se a atender os poucos clientes que àquela hora da manhã ainda não tomaram o pequeno-almoço, ainda tomam o primeiro café do dia, ainda não sentiram a hora para chegarem a tempo ao trabalho a chegar.
- Vai ser o costume? - pergunta ele.
- Para mim, eu quero uma meia de leite e um croissant folhado com aquele doce de morango... - responde Laura.
- Eu quero um galão e uma torrada. - pede Afonso.
- E vocês? - diz novamente Vasco.
- Não sei.... - responde Sofia - Acho que também vou comer uma torrada e....um sumo de laranja natural.
- Eu quero um café e um pastel de nata... - diz Diogo.
- Muito bem...é só?...Trago já. - finaliza Vasco.
O funcionário dirige-se ao balcão, onde afincadamente procura satisfazer o pedido do sofá encostado à janela. Os dois casais encontram-se, tal como combinado na tarde de ontem. Falta pouco tempo até ao fim de semana e este espaço de tempo é vital para acertar pormenores.
- Se pudesse, viria aqui tomar o café todos os dias.
- Só há duas soluções, Diogo. Ou vens morar para aqui ou compras o sitio e serves o teu próprio café. - interpõe Laura.
Sofia sorri ao comentário da amiga. A loira acordou melancólica, com um certo ar de preguiça, com uma enorme vontade de permanecer na cama por mais uma ou duas horas. Ainda assim, o convite do casal amigo, tira-a efectivamente da cama. Enquanto sorri, ela vagueia o olhar até Afonso, que está sentado à sua frente. O namorado de Laura reserva alguma ansiedade. Ele sabe a importância deste pequeno-almoço. Confronta o olhar da amante e sorri. Depois, desvia a cabeça até alcançar Laura, sentada ao lado de Sofia. A inquilina do Edificio Magnolia está confiante. Bem disposta e viva. As suas mãos estão colocadas sobre a mesa, ainda que com algum nervosismo. De resto, ela transparece o seu olhar a Diogo, que não retira o olhar de si. O namorado de Sofia tem dois panfletos diante de si e aguarda apenas que o seu café seja posto sobre a mesa.
- Aqui está.... Espero que esteja tudo ao vosso gosto...
Vasco traz o pedido dos quatro adultos que se sentam no sofá recatado. E um aroma diferente percorre a mesa onde estão as bebidas e a comida. Durante quase dois minutos, irrompe um silêncio naquele espaço. O açúcar mergulha no café, a colher mistura a composição do galão, pega-se em dois guardanapos para segurar o croissant e tira-se as côdeas mais duras da torrada. Pequenos gestos que antecipam a razão de tudo isto.
- Então, fica marcado? - solta Diogo.
- Não sei...o que é que afinal está marcado? - pergunta Laura.
- Já fiz a reserva no hotel. À partida podemos ficar na Sexta e no Sábado.
- Lá está...Não há muito a decidir.
- Querem ficar no Domingo?
Um novo silêncio volta a ocupar a mesa entre os sofás. Os olhares trocam-se. Entre Laura e Diogo. Entre Laura e Afonso. Afonso evade-se em Sofia. Sofia perde-se com o olhar e refugia-se no seu namorado. Diogo realça a face da sua mulher por um par de segundos, mas volta a olhar com confiança para Laura. Afonso procura intrometer-se. Mas é-lhe mais fácil fixar o olhar de Sofia. A comunicação entre os quatro adultos é confusa. A troca de olhares pede mais que uma confirmação. Entrega mais do que certezas. Recebe mais do que sedução. Os olhares envolvem-se mutuamente. Devoram-se e procuram falar com o destinatário desse mesmo olhar.
- No Domingo fica apertado, Diogo. - diz Afonso.
- Também concordo. - corrobora Laura - Na Segunda já é dia de trabalho, escola, deitar a menina... Essas coisas.
- E temos sempre dois dias. - remata Sofia.
- Portanto, saimos daqui na Sexta, o mais cedo possivel. Damos entrada no hotel e....Voltamos no Domingo...Por volta de que horas? - constata Diogo.
- Sei lá...seis, sete horas...As horas que acharmos mais conveniente. - responde Afonso.
- Muito bem... - finaliza Diogo.
- Acho que é tempo suficiente para aproveitarmos... - diz a loira.
Sofia mantém um sorriso. Mas desta vez é um esticar de lábios mais incisivo. Mais avivado. E enquanto olha para Afonso, parece que na cabeça dela há algo a magicar.
- Uhm...como queres aproveitar, Sofia? - relança Laura - Como queres saborear estes dias?
O olhar da namorada de Diogo escapa-se. Aprisiona-se na atenção que a amiga lhe pede. E ainda assim, ela tem agora três pares de olhos colocados sobre si. Ela dá mais uma trinca na torrada, respira fundo e olha para eles.
- Quero que seja diferente. Quero que seja o nosso fim-de-semana....Quero ter assim momentos como este. Mas num sitio isolado. Onde ninguém nos conheça. Onde ninguém sequer olhe para nós, sabendo que....
- Sabendo que o quê? - pergunta Laura - Que somos amantes?!...Sofia, aqui não temos nada a esconder. O Vasco, aquele rapaz que nos veio atender não deve ter a minima dúvida do que se passa. Os nossos vizinhos já desconfiam há algum tempo do que fazemos e...bem...quem está aqui em redor...O que têm eles a ver com isso?
- Nada! - responde Sofia - Mas é isso mesmo. Quero estar num sitio onde ninguém saiba quem somos. Quero estar nesse sitio e não estar sequer preocupada com o que as pessoas pensam.
- Eu percebo-te... - encaixa Afonso - Seria giro depois de tomarmos o pequeno-almoço, podermos ir dar uma volta. Falarmos, trocarmos...sei lá...carinhos, beijos....sem que ninguém se atreva a fazer sequer um olhar...
- Isso é dificil, amor. - interpõe-se Laura - Há sempre alguém que irá olhar...E isso excita-me... Excita-me saber que podemos chegar ao hotel em dois pares. Eu contigo, a Sofia com o Diogo. Pedir as chaves na recepção, como dois casais apaixonados... E na manhã seguinte, passar pela mesma recepção e verem que tu sais com a Sofia e eu contigo. Se possivel a cheirar a sexo.
O olhar de Laura prende-se em Diogo, que mesmo estando atento à conversa que se desenrola, continua a analisar os folhetos do hotel no qual os dois casais decidiram passar um fim de semana diferente. Muito diferente. É um hotel numa cidade mais a norte. Uma cidade mais pequena, mais pitoresca, mais recatada. Um local sublime para relaxar, para passear, para libertar todas as ansiedades e todos os desejos. Por esta altura, os quatro amigos estão efectivamente excitados. A conversa está a estimulá-los. Mesmo àquela hora da manhã. E a troca de olhares volta a surgir em silêncio. É uma comunicação erótica, estimulante e peculiar. E a intensidade dessa comunicação silenciosa é uma cadência que só é cortada pelos pormenores que têm que ser acordados entre todos. Diogo levanta o olhar e fixa-se em Laura.
- Ainda falta saber se querem os quartos lado a lado ou.... - diz Diogo.
- Claramente um ao lado do outro. São camas de casal, não são? - pergunta Laura.
- Obviamente que sim. São quartos de casal, a casa de banho com um pequeno jacuzzi, com mini-bar, uma varanda fenomenal, cama enorme, acho que até é vibratória...
- Uhm....escolheste mesmo bem o sitio, Diogo...
- Bem, se gostarmos...pode ser o primeiro de muitos...
- Eu gostei do sitio...Pelo menos do que vi. - diz Afonso - Tem um restaurante ali perto. O passeio na marginal deve saber bem. Tomarmos um copo, um pé de dança...Acho que até tem um miradouro próximo, com vista para a cidade, para o mar e....
- Pois...deves querer tirar muitas fotografias, deve ser isso...
Laura larga um riso. Ao mesmo tempo, passa o olhar por entre todos os presentes. Primeiro por Diogo que percebe o que ela está a dizer. Depois pelo seu namorado, que larga um sorriso com o que ela diz. E finalmente por Sofia, que ainda continua a imaginar o fim de semana escaldante que se prevê.
- Não duvido que vais querer comer a Sofia com o olhar...Assim como estás a fazer agora.
- Possivelmente... - diz Afonso.
- É isso que pretendes? - pergunta Sofia.
- Não é por isso que vamos ter estes dias? Para trocarmos olhares? Para nos comermos? Estou enganado? Sou o único que está ansioso por isso?
- Não, não és amor. Eu também estou em pulgas para passar uma noite com o Diogo.
Sofia desvia o olhar e procura perceber o que vai na cabeça do seu namorado. O homem está a olhar para Laura com desejo. Como se a despisse com a sua imaginação. Naqueles sofás, onde toda a gente os vê, mas ninguém os sente. Na cabeça de todos, Laura está de peito desnudado. Se dependesse da mente dela, o seu amante já estaria a seu lado, a tocar-lhe nos seios, ao mesmo tempo que ela lhe despia as calças. O Espaço é um lugar público, onde dezenas de pessoas entram e saem, onde centenas de pessoas passam diante do estabelecimento, mesmo defronte daqueles sofás. Ainda assim, tudo é possivel ali dentro. Porque a imaginação de Afonso já tem a imagem de Sofia despida. A loira continua sentada no sofá, com o olhar a vaguear entre os outros três. Mas acima de tudo, ela constata o desejo do seu amante. Percebe a forma como ele lhe imagina os seios entesados e as pernas cruzadas a tapar o sexo que agora está mais quente do que o habitual. Afonso também está nu. A fantasia de Laura mistura-se com a da sua amiga. Elas percepcionam a visão semelhante, assim que trocam o olhar e sorriem. Na verdade e realmente, a respiração dos quatro adultos está ofegante. Ali mesmo, naquele espaço inusitado. Porque mais intenso que uma fantasia, é a certeza de que os dias que se aproximam serão no minimo escaldantes.
- Bom... - diz Diogo - Agora que todos temos a certeza do que queremos... Já que não há dúvidas do que vai acontecer este fim-de-semana... Resta saber se resistimos até lá...
- Oh...eu por mim, subia já contigo, Diogo.... - responde Laura.
- E deixamos os nossos amores aqui sozinhos?
- Eu não tenho medo. Tenho confiança no Afonso...Sei que ele tomava conta da Sofia...
- Também acho que sim. - acrescenta a loira.
- Não se acanhem só por estarmos aqui. - diz Afonso.
De uma forma surreal, os dois casais estão dispostos a trocarem entre si. Neste exacto momento. A ansiedade mistura-se com uma confiança exacerbada. Antagónico? Não. Os casais efectivamente complementam-se. E as certezas dos seus sentimentos, cobertas de uma paixão imensa, fazem evocar uma necessidade incontrolável. E depois de despirem os seus amantes com a própria mente, o próximo passo será avançar. Laura irá pegar na mão de Diogo e levá-lo até ao 2º direito. Sofia irá aguardar pela desejo de Afonso e esperar que ele diga onde a quer comer.
- Eu não estou acanhado, Afonso. - responde o seu amigo - Seria com todo o gosto que te deixava aqui com a Sofia. Seria com imenso prazer que subiria com a Laura. Com mesmo muito prazer......
Mas não há tempo. A manhã já começa a libertar-se. O sol já aquece. O rodopio de pessoas vai diminuindo. Não há tempo e é um dia útil. O fim-de-semana está próximo, mas até lá, ainda é preciso trabalhar.
- ....De qualquer maneira, já estou atrasado para ir trabalhar.
- Eu também... - complementa Sofia. - Mas adorava ficar contigo, Afonso.
Laura ri-se. Divide o olhar entre o seu namorado e a sua amiga. Mais do que ninguém, ela estava entusiasmada com a indecisão do que poderia acontecer nesta manhã entre Sofia e Afonso. Mas a verdade é que já não há espaço para divagações. Após terem tomado o pequeno-almoço, os quatro amigos levantam-se. Após uma discussão amigável, junto a Vasco, para decidir quem paga a conta, eles dirigem-se para a saída do Espaço Magnolia.
- Como é que ficamos, então? - pergunta Diogo.
- Como assim? Não estamos já combinados? - diz a namorada de Afonso.
- Sim, Laura. Nós passamos por aqui depois de sair do serviço. Vêm no nosso carro e chegamos lá ainda a tempo de jantar. - responde Sofia.
- Se não houver jantar, não haverá qualquer problema...Temos todo o tempo. - conclui Afonso.
Risos, primeiros beijos de despedida, olhares inequívocos, sorrisos cúmplices. Numa reunião à porta do estabelecimento, os quatro adultos envolvem-se. Apesar de já terem vestido os amantes na sua mente, ainda resta um fôlego de desejo. Ainda paira a sensação do toque alheio, mesmo que ainda não exista. Os dedos suaves a percorrerem a face, aliciando a um beijo. A mão firme a percorrer o pescoço até alcançar os seios irresistiveis. A palma da mão gentil a acariciar o sexo inchado. Eles gemem. Sofia, Afonso, Laura e Diogo gemem. A fantasia deles prolonga-se. O espirito surreal do Espaço envolveu-se neles e tudo isto será transportado até ao fim-de-semana diferente. Só deles. Tudo o que houver a contar será a continuação destes gemidos silenciosos. Pequenos risos, últimos beijos de despedida, olhares pretensiosos, sorrisos intimos. Por agora, não há tempo. Mas haverá espaço para a paixão partilhada em fantasias.

9 comentários:

Anónimo disse...

Õs quatro vão levar o narrador neste desejado fds?
Bjs
Julio135

Rosa Vermelha... disse...

Será que é neste fim de semana que os dois homens se envolvem!?
Ou pelo menos um homem pedir que a parceira lhe enfie o dedinho no cu...

Anónimo disse...

estou com a rosa vermelha.....nao, devem ser muito machos, estás a ver? ;) só elas é que podem envolver-se entre si pa...

luafeiticeira disse...

E lá fi~cámos nós todos ansiosos para ver o desenrolar dos acontecimentos. a coisa promete.
beijos

Anónimo disse...

Aos moradores do Magnólia
Hj 8 de março, dia internacional da mulher, deixo aqui a minha homegem a todas voces, inquilinas, visitantes, comentaristas, narradora (se assim o for), enfim a todas mulheres que fazem jús a tão honroso destaque.
Abraços para os homens e beijos molhados para as mulheres
Julio135

Anónimo disse...

Aos moradores do Magnólia
Hj 8 de março, dia internacional da mulher, deixo aqui a minha homegem a todas voces, inquilinas, visitantes, comentaristas, narradora (se assim o for), enfim a todas mulheres que fazem jús a tão honroso destaque.
Abraços para os homens e beijos molhados para as mulheres
Julio135

Anónimo disse...

Aos moradores do Magnólia
Hj 8 de março, dia internacional da mulher, deixo aqui a minha homegem a todas voces, inquilinas, visitantes, comentaristas, narradora (se assim o for), enfim a todas mulheres que fazem jús a tão honroso destaque.
Abraços para os homens e beijos molhados para as mulheres
Julio135

Anónimo disse...

Aos moradores do Magnólia
Hj 8 de março, dia internacional da mulher, deixo aqui a minha homegem a todas voces, inquilinas, visitantes, comentaristas, narradora (se assim o for), enfim a todas mulheres que fazem jús a tão honroso destaque.
Abraços para os homens e beijos molhados para as mulheres
Julio135

carpe vitam! disse...

subscrevo a rosa vermelha