terça-feira

Explosão de chocolate

O que se festeja, ao certo ninguém sabe. Entrudo, Carnaval, ou apenas uma noite como tantas outras? Folia, diversão, ou só uma outra forma de libertar as energias do mundo real? Máscaras, disfarces, ou a procura em esquecer quem se é?
- Entrem e provem a noite achocolatada do Carnaval no Espaço...Divirtam-se!!...
Clarisse dá as boas vindas às pessoas que vão entrando no estabelecimento do rés do chão do Edificio Magnolia. Entregando um cartão de entrada e um sorriso charmoso, a jovem funcionária esconde-se por detrás de uma máscara dourada que lhe cobre o olhar e as maçãs do rosto. A boca é descoberta, como forma de pretensiosismo em relação à identidade de quem veste a fantasia. Mas não há nada a esconder. Clarisse continua a ser Clarisse. Os convidados são facilmente identificáveis. As pessoas que normalmente frequentam o Espaço ainda vestem a mesma pele de todas os dias. Acrescentadas de uma máscara e de uma indumentária mais ousada para uma noite especial. Hoje é Carnaval no Espaço Magnólia. Mas é uma noite diferente, ou não fosse o espaço especial por si só. Antes de tudo, trata-se de uma festa privada. Apenas convidados intimos dos funcionários e gerência, sejam eles vizinhos próximos, amigos ou familiares. Dentro do estabelecimento não estavam mais que trinta pessoas. E todas elas com a sua máscara veneziana. E todas elas trazem o pedido da casa. Algo com chocolate. Algo que saiba a chocolate. Algo que possa ficar na memória como algo extremamente achocolatado. E numa enorme mesa ao centro do espaço, está efectivamente uma mesa recheada de chocolate. Nem bebidas, nem outros pratos, nem mais nada. Uma toalha bordada a dourado e em cima, dezenas de doces à base do chocolate. Chocolate negro, chocolate branco. Torta de chocolate, bolo de chocolate. Trufas. Bolo recheado. Bolo mármore. De chocolate. Mousse ou creme. Mas sabe a chocolate. Tabeletes e bombons. Tudo é chocolate naquela mesa. Só de olhar, a mente surpreende-se, a boca deleita-se e a gula explode dentro de quem assite àquela surpresa de Carnaval.
- Querem que vos arranje uma mesa?
Clarisse mantém-se ocupada. Olha em redor e vê o Espaço cheio. Encontra uma mesa pequena com duas cadeiras para a Tania, o Filipe. E Lúcia. Vestidos a rigor, ostentam máscaras brancas que envolvem quase toda a face. Os olhares entre Lúcia e Tania são trocados várias vezes. Filipe pouco percebe, até porque tem a namorada ao seu colo na cadeira. Ainda que possa parecer exíguo, o Espaço está feito à medida para todos os convidados. Essencialmente para os inquilinos do Edificio Magnolia. E hoje, estão cá todos.
"Rodrigo! Que bom ter vindo! Pode deixar ali essas...Isso é licor de chocolate?"
"Querem que vos traga mais alguma coisa? Afonso? Laura?"
"Vem tão bonita hoje, Maria José!"
E todos vêm fantásticos. E todos respondem com o sorriso fantasioso para a funcionária. Atrás do balcão, Vasco procura responder a todos os pedidos que a colega lhe traz. E o trabalho é cansativo. Para ambos. Mas Clarisse está exausta.
"O que é que tinhas pedido, Neves?"
Rafael sorri. Não responde imediatamente à jovem sensual. Fixa o olhar dela e puxa uma cadeira, na mesa onde ele se senta sozinho.
- Pareces cansada...Porque é que não te sentas?
- Porque tenho que trabalhar...O que é que tinhas pedido? Uma vodka?
- Não...mas agora não interessa. Senta-te.
O charme de Rafael é lançado. Como uma névoa que quer envolver a presa. Como um perfume que enfeitiça as mulheres que se aproximam do desejo dele. Clarisse senta-se. O cansaço apodera-se por uns momentos dela e sentar-se durante dois minutos não vai deixar ninguém irrequieto. Lança o olhar a Vasco, que parece ter acalmado o trabalho ao balcão. Seguidamente, Clarisse atenta na postura do cliente. Rafael traz uma máscara veneziana. Distinta de tantas outras. Uma máscara com nariz mais longo, caracterizando o homem de uma forma presunçosa, até autoritária. Ela sorri, mas não se ilude. Ao contrário de imensas mulheres que se sentam em diversas cadeiras do espaço, Clarisse não se sente fatalmente seduzida pelo instrutor. Não será pela falta de charme. Não será pelos ombros imponentes. Nem tão pouco o aroma intensamente sexual que exala dele. O que não seduz Clarisse é a confiança desmesurada do homem. É a certeza dele em que irá conseguir convencê-la a terminar o turno mais cedo e levá-la para o seu apartamento, onde lhe irá dar uma noite escaldante e se tudo correr bem, sair pela porta do terceiro esquerdo depois das duas da manhã. Clarisse não está interessa no olhar que a come desde a primeira hora da festa.
- Estás a atender, Clarisse?...Preciso de algo e não está ninguém a atender às mesas...
- Claro que sim!
Ana acaba de entrar no Espaço Magnolia. Não veste a sua máscara diária. Não veste a sua máscara nocturna. A sua face é envolta de uma máscara branca, com adornos violeta. Só a sua boca é visivel. Ana veste uma fantasia de Carnaval. E só quem a conhece verdadeiramente, sabe que ela não está a usar mais nada a não ser essa mesma máscara.
- Trazes-me um chocolate quente?
- Sim...claro.
- Podes levar-mo lá fora?
Clarisse acena positivamente. Levanta-se imediatamente e segue para o balcão. Rafael sente-se roubado. Sente que a sua vizinha a roubou. Sente que ela o provoca. E hoje não é claramente a primeira vez. Os olhares trocam-se por entre as máscaras. Uma fricção violenta irrompe naquela mesa.
- Tens que escolher outra esta noite para aquecer a tua cama.
- Se te pagasse, poderia escolher-te?
Rafael jamais poderia sentir-se usurpado. E neste confronto de olhares, nesta troca de palavras, ninguém fica efectivamente a perder. Ana sai do Espaço, abre a porta de saída e aguarda de pé no passeio. Três minutos depois, Clarisse vem sozinha, juntamente com duas canecas de chocolate quente. A de Ana. E a sua.
- Obrigada! - solta Clarisse.
Porque a funcionária sabe o que aconteceu dentro do café. Sabe que Ana percebeu o que se estava a passar. Sabe que era perceptivel o seu incómodo entre querer recusar o Rafael e não poder recusar um cliente. Ana pega na chávena e partilha a bebida quente junto à entrada do Espaço. As duas jovens estão lado a lado. Lançam um olhar sério uma à outra e depois de perceberem que conseguiram fugir ao ambiente frenético que se vive dentro do estabelecimento. Riem-se uma para a outra e são cúmplices de um momento agradável.
- Ainda fumas, Clarisse?
- De vez em quando...Porquê?
- Posso roubar-te um cigarro? Posso roubar-te a ti por uns momentos no topo da Magnolia?
- ....Sim...


Existe o rés-do-chão. Existe o terceiro andar. E depois existe o topo do Edificio Magnólia. Só acessível por escadas, é possivel sair das paredes do prédio, entrando num enorme terraço superior, que cobre o tecto do empreendimento. Raramente é usado pelos habitantes do Edificio. Ana e Clarisse aproveitam assim o segredo do espaço para estarem juntas e sozinhas. A funcionária já acendeu o cigarro e já o partilhou com a amiga.
- Pergunta-me porque é que lhe disse aquilo... - diz Ana.
- Porque é que lhe disseste aquilo?
- Odeio-o...Odeio-o mesmo.
- Ana, eu era a foda dele desta noite.
- Já não és mais....Hoje és a minha foda.
Os risos espalham-se com o fumo do cigarro e com a brisa da noite, ali tão alto. Bebem o chocolate quente e apreciam o som que vem do Espaço, bem como parte do bairro que ainda se consegue avistar dali. Ambas as mulheres estão com a máscara posta. Sabem quem têm ao lado e sabem com o quem podem contrar. Ter máscara ou não é irrelevante. Clarisse veste uma roupa informal, ganga, top, um casaco de malha preto. Ana veste apenas aquilo que é diferente do seu dia e da sua noite.
- Queres ser a minha foda?
Clarisse silencia mas olha detrás da sua máscara para a amiga. O convite da amiga é efectivo. Ela pousa a chávena e levanta-se. Coloca-se diante de Ana e abre as calças. Convicta de ter conquistado a sua noite, a acompanhante leva as duas mãos ao rabo da amiga e aproxima-a da sua face. Levemente vai puxando a peça de roupa de Clarisse para baixo. Esta não é a primeira vez que as duas jovens se envolvem. Nem tão pouco se revela ser a sua experiência pioneira com uma mulher. Num local ousado, numa noite fria mas numa fantasia quente, os corpos delas explodem. O desejo de se envolverem fervilha na pele de Clarisse quando sente as mãos vibrantes dela no seu rabo. Os dedos de Ana deslizam pelas curvas da jovem e alcançam as virilhas. Ela puxa a tanga da amante para o lado e sente o calor que emana do sexo de Clarisse. Vagueia a mão por todo o papo saliente dela. Clarisse geme. Passa as mãos pelos cabelos encaracolados de Ana e aproxima a cabeça dela contra o seu umbigo descoberto. Sentada num pequeno muro, Ana consegue chegar com a boca ao ventre da sua amiga. A sua lingua atrevida molha a pele de Clarisse e rasteja até aos lábios grandes do sexo dela. Ana é acompanhante. Ana é uma mulher. De noite veste o papel de uma mulher fogosa, calculista e que ostenta o poder de entregar prazer. De dia procura ser uma pessoa tranquila, simples, amante de paixões efémeras. Neste terraço, onde ocorre um momento sublime, Ana está mascarada. Não se disfarça. Apenas mascara. É fiel a si mesma, mas transforma o prazer lésbico numa louca fantasia. Clarisse gosta da entrega. Gosta de se sentir pertença da amiga. Não como cliente. Não como paixão. Apenas como pedaço de amizade. Porque amanhã, tudo o que vai haver para recordar deste momento é a sensação sublime dessa fantasia. Porque amanhã, Clarisse ainda vai sentir a lingua de Ana que entra profundamente dentro do seu sexo. Vai sentir o calor do pedaço de carne a penetrar por entre os seus lábios vaginais. Ana sabe lamber. Sabe lamber tão bem quanto chupar um homem. E ela sabe-o. E goza desse privilégio. Porque a rata de Clarisse arde. Vibra. Echarca-se de um sabor genuino. E quanto mais ela delira com a boca da amiga quase dentro de si, mais as suas pernas tremem. Mais as suas mãos apertam a nuca da amante. Mais o seu coração palpita. Mais o orgasmo é intenso e libertado para o silêncio da noite no terraço do Edificio Magnolia...
Ainda existe o parapeito frontal do terraço. Ainda existe o olhar distante para a rua. Ainda existe toda a envolvência do ambiente que as faz sentir isoladas. Ana debruça-se ligeiramente no parapeito. Já tem as calças dobradas junto aos tornozelos. Já sente a boca de Clarisse a beijar-lhe as nádegas formosas. Já cerra os olhos, consciente da excitação que lhe está aser provocada. Ouvem-se os ruídos do bairro. Os carros a passarem ao fundo, as pessoas a cirandar. Vê-se as luzes dos apartamentos dos prédios em redor a acender e a apagar. Ana entende que alguém pode estar a ver. Os imóveis vizinhos do Edificio Magnolia têm aproximadamente a mesma altura. Três, quatro andares. No entanto, está escuro. Apenas a lua brilhante ilumina o espaço onde elas se envolvem. Clarisse tem dois dedos a acariciar o clitóris húmido da amiga. A sua lingua percorre os lábios grandes. A outra mão apalpa a carne do rabo. A pele de Ana ressente a brisa que passa naquele local. O seu corpo empoleira-se no parapeito, empinando o seu traseiro. Clarisse sorri. Gosta de ter o intimo da acompanhante em seu poder. Sem compromissos. Sem porquês ou recompensações. O minete, pura e simplesmente acontece.
- És linda, Clarisse!...Uhmmm...ohhh...é bom...
A jovem funcionária só pode sentir-se excitada. Ajoelhada no chão sujo, ela segura o rabo da amiga. Ana sente-se a flutuar. E a única coisa que a segura são os dedos que a estimulam cadentemente. E flutuando, tudo é possivel. Esquecer o que a rodeia. Envolver-se num prazer intenso. Despir-se vagarosamente. Abre a blusa que veste e retira os seios por debaixo do top preto. Sente-se louca. Sente-se livre. Sente-se incrivelmente impulsionada pelo prazer que explode na sua rata. E quando o seu clitóris enrijece, quando a sua respiração se descontrola, quando os seus gemidos são libertados para a rua, Clarisse invade-a. Ergue o corpo e abaraça-se à amiga. Beija-lhe o pescoço e enche as mãos com as mamas de Ana. A acompanhante não consegue mascarar-se. Perdeu-se na atitude a demonstar. Não se sente como puta. Não se sente como amante. Clarisse despiu-a. Pôs às claras a sua faceta de menina. Porque Ana entrega-se a Clarisse como uma menina que prova uma experiência lésbica em segredo. E assim que o seu corpo é puxado, ela está predisposta a tudo. Como uma pena fechada na mão de Clarisse. De peito aberto, ela volta-se cara a cara para a funcionária. As jovens olham-se. Tem o olhar coberto pelas máscaras. Violeta e dourado. Olhos castanhos, olhos verdes. Bocas finas. Seios volumosos, rijos e escaldantes. Clarisse levanta a sua camisola e pressiona o peito da amiga contra as suas mamas estonteates. Uma mão segura o rabo de Ana, a outra volta a segurar-lhe o clitóris. Ninguém leva a mal. Ninguém vai ouvir o orgasmo de Ana a explodir na boca suave de Clarisse. Ninguém vai incomodar ou interromper o prazer que o abraço e longo beijo que elas partilham. Ninguém percebe a fantasia que elas vestem. Porque nem estão vestidas. Nem tão pouco despidas. Estão rasgadas de prazer. Coladas num enorme recheio de suor, carne e deleite. Ninguém leva a mal. É Carnaval, mas elas extravazaram a sua fantasia.
As máscaras ainda cobrem o olhar de Ana e Clarisse. A funcionária desce as escadas porque ainda vai trabalhar. A acompanhante está quase a entrar pela porta do 3º direito. A sua noite está a terminar. Nem um cliente, nem um amante. Um sorriso invade a sua face. Ela pega a mão de Clarisse, obrigando-a a travar o seu passo. Dois degraus acima, Ana empurra o corpo da amiga para junto de si. As máscaras tocam-se, o disfarce mantém-se. Mas o beijo fino, suave e elegante que elas trocam é mais oculto do que alguma vez alguém irá perceber. Dois sorrisos. O que festejam, nem elas sabem. Mas nesta noite, por detrás das máscaras, elas sabem o que entregaram uma à outra.
- O que celebraste hoje, Clarisse?

6 comentários:

João disse...

parabéns mais uma vez! não costumo comentar porque leio o teu blog através de RSS...
... mas a escrita é fabulosa, é fantástico ler este blog!

PARABÉNS!!!
muito bom!

Anónimo disse...

Este Blog continua a encantar-me.
Escrita erótica e sedutora!
Faço votos sinceros para que não morra prematuramente, à semelhança de outros que visitava regularmente!
Anónimo do Porto

Sexhaler disse...

Gulp!
Devia ter ido antes de vir ler porque... estes dois posts de seguida são demais! Já não faço nada de jeito hoje!!!

Beijo.

Shelyak disse...

E estamos numa área linda...entre mulheres... terrivelmente excitante...
Pois não me admira nada o Neves; os homens ou mulheres, quando adoptam uma posição de quero posso e mando, não resulta nada bem...
Quanto aos diálogos... não apenas estes mas todos os outros... são hummmmmm.....
ai ai ai

luafeiticeira disse...

Como já escrevi anteriormente- os teus textos são puro prazer, só o preconceito poderá denominá-los de alguma coisa terminada "dade".
beijos quentes

Red Light Special disse...

Adorei saborear este pedacinho de carnaval achocolatado e no feminino... sigo para outros chocolates.
Isto hoje promete!