quinta-feira

Mousse de chocolate sem creme de leite em dez minutos

A noite ultrapassa a hora estipulada. A casa não fecha tão cedo, mas os clientes começam a sair. O serão pode continuar numa discoteca próxima ou num quarto acolhedor ou num local excitante. Ainda assim, é possível encontrar no Espaço Magnolia almas que procuram um desfecho diferente e corpos que exalem um desejo transcendente.
- Vasco, trazes-me dois Martinis?
O cansaço já se vai apoderando dos empregados do Espaço. Mas Vasco ainda tem energia para servir duas bebidas sobre o balcão a Rafael. O instrutor de equitação, homem com uma postura presunçosa, confiante mas aliciante, enche a sua noite com vários copos. O calor do chocolate ainda invade a sala. A música libertada pela jukebox espalha-se por toda a área e contagia alguns presentes. Rafael fixa desde há alguns minutos o olhar numa mulher trintona que dança junto ao aparelho de som. É uma convidada diferente, desconhecida à maioria dos habituais clientes do estabelecimento. É desconhecida dos habitantes do Edificio. É demasiado desconhecida à panóplia de contactos femininos de Rafael. Ela dança. Baila por entre os resistentes da noite do Espaço. Expõe as suas curvas aliciantes em movimentos sensuais. Esbanja o seu júbilo com traços extrovertidos na face. Ela dança.
- Se a conhecesse, iria dizer que se exibe perante tanto homem sedento...
Rafael cola-se ao corpo da mulher. Tem um copo em cada mão e oferece-lhe um deles. Ela sustém os pés, mas o seu corpo ainda continua a bailar. Lança o olhar ao homem e larga um sorriso presunçoso.
- Se o conhecesse, diria que está cheio de sede.
Ele franze o olhar. Ele vibra com o calor que a mulher solta. Ele fica atordoado com a sensualidade provocatória da mulher. Ele rodeia os seus braços na cintura da mulher, enquanto ela prova o Martini. Um silêncio intenso rodeia o espaço deles.
- Sou o teu engate? - pergunta ela.
- Talvez...Neste momento apenas te estou a oferecer uma bebida...
- E a oferecer-me o teu corpo....
- Não...Eu não o ofereço. Se o quiseres, tens que pedir.
Ela refugia o olhar. Pressente todos os passos que Rafael pretende tomar. Sabe exactamente a cantiga que ele lhe canta ao ouvido. Não nega. Não aceita. Gira o corpo sobre si mesma e encosta um pouco mais o seu traseiro ao corpo do instrutor. Ele sente-lhe o cheiro. Vibra com os movimentos dela, com as nádegas envoltas numa ganga azul apertada a roçarem bem perto da sua cintura. Os braços dele sobem. Estão agora bem por baixo do peito da mulher. A música que agora invade o espaço deles obriga-os a colarem-se. E eles dançam juntos.
- Vais ser o meu engate? - pergunta ele.
- Depende...Não sou mulher de ninguém...
- Não te quero prender....É pegar ou largar...
- Achas?...Devo ser a única mulher aqui que estaria disposta a ser comida por ti.
- Julgas-me assim tão desesperado?
- ....Sim!...
Rafael sente-se invadido. A mulher provoca-o. E não obstante o homem gostar de uma mulher atrevida, intensamente mordaz e capaz de dar luta, a mulher desconhecida revela-se misteriosa. Quer, mas não cede. Está nas suas mãos, mas não lhe pertence. Provoca-o mas derrete-se com a sua ousadia. Ele aperta o corpo dela. Coloca o queixo no ombro dela e solta a sua respiração para os cabelos castanhos volumosos da mulher. É uma brincadeira. Um desafio. Está muito quente ali. A bebida não arrefece, incendeia. E o abraço é uma fogueira. Pela primeira vez, ela sente-se aprisionada pelo charme do homem. Ela dança. Mexe o corpo com convicção e consegue liberta-se dele, virando de novo o corpo. A música pára. Os olhares comem-se. Mas comem-se mesmo.
A porta do 3º esquerdo abre-se. Para Rafael permitir a entrada de uma desconhecida no seu lar, transportá-la ao colo pelo corredor nos seus braços e manifestar uma louca paixão com beijos por toda a face da mulher, algo de muito emotivo surge. Junto à entrada da cozinha, já ela não tem camisola. As mãos dele abrem com algum custo o soutien, enquanto ela segura a face dele com as suas mãos finas.
- Podes tratar-me por Neves....moro neste sitio...e quero-te!
A sua força imponente arrastam a mulher pelas paredes até chegarem ao balcão da cozinha. Apesar do mármore estar cheio de objectos e ingredientes culinários, o rabo da mulher consegue arranjar um espaço para assentar.
- Podes tratar-me por Filomena...mas quero ser a tua cabra!
Rafel excita-se. A mulher entrega-se a si de uma forma mais inquietante do que ele poderia imaginar no bar. Ele desliza os lábios pelo queixo dela, refugia-se no pescoço e depois alcança os seios fofinhos dela. Filomena é uma mulher quente. Sensual quanto baste, adiciona uma elegância ousada na forma como se apresenta. Ainda assim, é complexo despi-la. Botas pretas altas e umas calças de ganga apertadas tornam o processo demasiado moroso. Enquanto isso, ela percepciona o que a rodeia naquele balcão. Tigelas com farinha, pacotes de manteiga e uma tigela com chocolate que já foi vertido. A mulher solta um riso, percebendo que o homem também dispõe de dotes culinários. Assim que o homem lhe despe as cuecas azuis, Filomena usa uma mão para raspar a tigela de chocolate e leva a outra até às calças dele. A tusa apodera-se violentamente do casal de amantes desconhecidos. Ela está sentada no mármore frio da cozinha e não deixa o sorriso que lhe enche a face. Ele vicia-se no olhar misterioso dela. É um olhar ardente, possessivo, louco. Passa as mãos pelas coxas dela. Encosta o seu corpo por entre as pernas da mulher e com convicção penetra no sexo dela. A mão achocolatada de Filomena segura-se afincadamente ao pescoço dele, espalhando o liquido castanho pela derme dele. Quente! Está muito quente ali. Rafael sente-o, quando entra profundamente na mulher. Filomena só pode sentir. O homem é verdadeiramente possante. E todo o seu corpo ebule com cada penetração. Um movimento dele arrasta o rabo dela para trás. Para trás e depois para a frente e o seu coração ferve. Transporta um ar morno pelos pulmões até se libertar um gemido ofegante da sua boca. O chocolate tépido fervilha agora nas costas de Rafael. Porque as mãos dela estão irrequietas. Chamam o corpo dele a si. Imploram por mais. E a excitação alcança uma temperatura inconcebivel. Tudo é demasiado rápido. Quando ele entra há um abraço frenético misturado no sabor a chocolate. Quando ele sai tudo vibra. E um arrepio atravessa a espinha do instrutor. O sexo dele incha. E ela sente. E ele delira com a rata quente da mulher. E ela sente-o tão bem!
- Ohhh...Sai...uhmm... Pára..ohhh tão bom...Saí....
Rafael levanta a cara fixando-se no olhar dela. A mulher está em êxtase. Delira com o sexo dentro dela, mas Filomena não o conhece. Tudo isto é uma aventura inconsequente. Ela encosta-se para trás. A mão deleitada de chocolate apoia-se no balcão, onde a farinha já se espalhou.
- Vou-me vir...ooohh....és sem dúvida...oohh...uma cabra...oh, vou-me vir!
- Não!....Não vais não...
Filomena desconhece o homem que entra dentro de si. A sua outra mão afasta o corpo dele, deslizando ao mesmo tempo pelo tronco de Rafael. Cinco segundos antes dele libertar o seu prazer, a mulher fecha as pernas, leva a mão suja ao cabelo dele e beija-o. Beija-o intensamente enquanto o sexo dele se esporra nas coxas da mulher. É um prazer incompleto. É uma sede que transborda para o exterior do corpo da amante. É toda a preparação de um momento escaldante que derramou no sitio errado. Filomena não se veio. Rafael veio-se no sitio onde não esperava. O beijo ainda continua, mas Filomena continua a afastá-lo. Salta do balcão e de pé, encosta o amante à parede em frente. Apalpa-lhe o rabo e suga a lingua dele. Como uma menina mimada que raspa o dedo no que resta da tigela de mousse. Mas tudo é precipitado. Rafael procura um abraço. Um gesto que possa prolongar aquele momento. Para uma outra divisão, para a cama, para outra posição que o volte a excitar. Mas Filomena recusa. Cancela o beijo, guardando o sabor intenso da boca dele. Volta a abrir os olhos e fixa-o misteriosamente. Um sorriso de troça chega a esboçar-se na face dela. Ela encosta o rabo à ponta do balcão e pega na camisola dele que pousa em cima do mármore. Limpa-se. Mantém a distância corporal, usando apenas o olhar. Filomena procurou a sua satisfação. Tudo foi precipitado. Bom, muito bom. Mas o tempo de preparação foi intensamente rápido. Soube-lhe bem. Muito bem. Mas Rafael gosta de ser usado. Usa para ser comido. Nada mais. Somente prazer. Lentamente, em silência, ela veste-se. Come o homem com o olhar. Aguenta o cheiro dele no seu corpo, a saliva dele na sua boca, o liquido dele na sua pele, a repentina sensação de poder ser fodida pelo homem que um dia Clarisse lhe disse que poderia ser seu. Bastava um pouco de charme. Um pouco de sedução e mais uns gramas de cacau. Sem nada dentro de si. Porque são desconhecidos. Vestida, aprontada. Coloca a mão suja sobre a face do homem que se mantém incólume junto à parede e sai. Foi tudo demasiado rápido. Ainda assim, saboroso. Muito saboroso!

8 comentários:

Anónimo disse...

Magnólia
Saboroso, muito saboroso, delicioso mesmo este, como tb os demais contos que escreve. O chocolate tem sido uma constante em suas histórias... Acho que seu personagem preferido é mesmo o Rafael. Presenteia-o constantemente com cada rabo de saia esplendorosa.
PARABENS
Julio135

Peach disse...

Gostei dela! poderosa... será que o instrutor vai ficar a pensar???

luafeiticeira disse...

Acho que era isto que Neves precisava, uma mulher que o provocasse não se oferecendo demasiadamente, pois ele está habituado e talvez farto de ter sempre as mulheres que quer. Parece-me que é Filomena que o vai fazer vergar.
beijos e olha que os Dalton terminaram

Anónimo disse...

Estou de acordo com a lua feiticeira..Boa lição para o Rafael....;)

Anónimo disse...

No entanto acho que ele no máximo vai ficar a pensar nisso um dia ou talvez dois...mas já é um feito..

Red Light Special disse...

Fiquei a pensar.. que bolo terá feito o Neves?... ihihih
Bem... ele meteu no forno, pôs-lhe fermento, aquilo cresceu, ele comeu... Bolo Filomena talvez.
:P
Que vontade me deu de ir agora para a cozinha "cozinhar".
ihihihi
Bjs chocolatados para ti Magnolia.

Shelyak disse...

um conto bem à altura dos desenvolvimentos neste edífício, cada vez mais exigentes e sofisticados...
Excitante, deveras...
Será que, para variar, o Neve sentiu-se usado ? Mas mesmo tal situação é bem excitante, quando as coisas são clarinhas....
Digo eu, claro :)))

carpe vitam! disse...

eu continuo a achar que o neves precisa é de um homem. quem sabe se não será a filomena a apresentá-lo?