terça-feira

Oito e meia

Publicado a 14-07-2008
Quantas questões é intrinsecamente possível colocar à mente num espaço tão reduzido de tempo? Porque é que não controlamos a confusão que se instaura dentro de nós? Porque é que essa anarquia interior nos leva a cometer actos que sabemos não serem adequados às necessidades? Porque é que essas necessidades têm que significar desejos? Porque é que os desejos não acalmam o espírito em vez de atormentá-lo? Porque é que a transcendência do espírito se intromete na racionalidade das certezas? Porque é que não existe a certeza de que o semáforo passará a verde?...
Lúcia abre a porta do 2º esquerdo. A casa está vazia. Mais vazia ainda. Com uma certeza inequívoca de que esta noite ficará vazia de tanto e de tudo. Ela já não traz companhia. Já não tem um convite para fazer a alguém que por uns momentos a iluda da realidade que vive na sua mente. Ela deixou a casa sozinha. E isso magoa. E isso pesa. E nada preenche o nada que se instaurou desde que Tania abandonou a casa. Fechar a porta da casa ecoa um som estrondoso demasiado rude. Caminhar pelo corredor até à sala, onde ela deixa a mala em cima do sofá, é um arrasto longínquo. Respirar ali dentro é pura e simplesmente sufocante. E aceitar esta situação é um passo que Lúcia não quer aceitar. Dirige-se à cozinha. Acende a luz e um brilho latejante invade a sua mente. Ela recorda. Se talvez ela tivesse ido à casa de banho no momento certo, aquele cruzar de olhares não tinha acontecido. Lúcia abre o frigorífico e uma brisa gelada invade o seu corpo, arrepiando a pele mal coberta por uma camisola preta. Ela recorda. Nunca lhe custou dizer um não. Mas tornou-se difícil contrariar um pedido porque simplesmente havia um feitiço naquele olhar. E enquanto dá um gole no copo de água fresco, Lúcia sabe que se está a tentar justificar. O seu corpo está suado. A jovem sai da cozinha, encerra a luz e um vazio obscuro implode na sua mente. Ela recorda. Os passos até à saída da faculdade carregavam ansiedade. E ela sabia disso. Os minutos contavam-se com precisão. A dúvida pairava na sua mente. Chegar um minuto antecipada implicava uma espera crucial. Atrasar um minuto significava aceitar que não queria aquilo. Assim, o trajecto até ao portão era uma espécie de jogo do destino. Lúcia entra no quarto e despe as calças, que se colam às coxas. Carrega no botão para ligar o computador e a luz verde, que indica o funcionamento do monitor, aviva-lhe a memória. Ela recorda. Se o semáforo para peões da larga avenida mudasse para verde, ela decidia ir embora. O vermelho manteve-se indefinidamente e ela não atravessou a estrada. O seu corpo liberta agora um odor desagradável. Jamais ela se vai deitar na cama com o corpo naquele estado. O computador pode esperar. Lúcia vai para a casa de banho, onde agora a água quente que sobrar é só para si. Gira a torneira e retira toda a roupa que se agarra à sua pele. Daqui em diante, toda a água que se soltar não retorna.
20:30 - À hora certa, o semáforo destinado aos peões mantinha-se vermelho. No momento exacto, Lúcia permanecia à espera diante do portão da sua faculdade. Da forma combinada, a jovem estudante entrou no carro que parou em cima da passadeira, conduzido por Luís. Ele é um professor que acabou de entrar na casa dos trinta. Acabou de se divorciar. Acabou de mudar de casa. Acabou por refazer a sua vida de uma forma abrupta. Mulherengo mas charmoso. Introspectivo mas cativante. Irresistível mas traiçoeiro. Ele leccionou uma cadeira do 1º semestre à jovem. Só no dia do exame é que ele fixou o olhar dela, o encanto genuíno da sua postura, a atitude assimétrica das restantes colegas de turma. E desde então, ela percebeu que o professor a assediava subliminarmente. A nota da cadeira semestral deixou-a satisfeita. Apreensiva mas conformada. Luís jamais fazia ideia das escolhas sexuais da jovem, da sua apatia perante os homens, da sua vida sentimental que decorria com sobressaltos. Se ela tivesse entrado na casa de banho depois da última aula do dia, nada disto teria ocorrido. Se ela não tivesse respondido ao olhar deslumbrante, ele não teria entregue a proposta. Em dez minutos, ele iria encostar o carro junto à entrada da faculdade. Às oito e meia em ponto. Se ela não estivesse às oito e trinta e um, Luís depreenderia que ela não o queria e seguiria caminho solitariamente. Mas ironicamente, ela sempre foi pontual. Lúcia entrou no carro dele sem ter a certeza absoluta do que estava a fazer. Desejava-o, mas talvez isso não fosse a melhor solução para esta noite.
A água está quente. Assim se manterá. O seu corpo está sujo. Assim não se manterá. A esponja que percorre a pele húmida espalha a espuma do gel de banho por cada recanto do corpo. O seu pescoço está flácido. Os seus seios ruborizam ainda uma enorme excitação. A sua barriga é acarinhada de uma forma especial. Como se a esponja a transportasse subtilmente para uma sensação mais tranquila, mais pura, mais límpida. E após repetir várias vezes um gesto circular com alguma intensidade, Lúcia desliza a esponja com os seus dedos ansiosos, até perto do ventre. O toque do material esponjoso nos lábios vaginais com o jorrar de um fio de água quente sobressalta o seu intimo. O gemido que se liberta pela sua boca é um estilhaço. A mente de Lúcia eleva-se e algo já não a segura ao corpo.
Foi quando ele sacudiu a mão dos seus seios, cobertos da camisola que procura ocultar o peito, que Lúcia tranquilizou. Luís levou-a para uma aldeia nos arredores da cidade. A viagem decorreu pacificamente. Muita ansiedade por parte da jovem, muita tranquilidade por parte do professor. Metros antes da placa de trânsito, que informava a chegada à aldeia, existia um trilho particular. Mal iluminado mas despretensioso. Escondido mas não perdido. Lúcia detinha confiança no professor. Apesar de mostrar uma postura defensiva, ela carregava uma ideia do que Luís pretendia e seria capaz de fazer. Afinal, Lúcia sabe que não era a primeira aluna a cometer uma aventura sexual com o docente da sua faculdade. De qualquer forma, com o carro colocado num ângulo acentuado, num sitio pouco conhecido, num plano pouco concebido, os primeiros gestos dele foram apreensivos. As carícias ousadas no peito dela deixadas pelas sumptuosas mãos de Luís seguraram um nervosismo evidente libertado pela jovem.
O clitóris dela ainda lateja. Há uma palpitação que ela não consegue esconder de corpo nu. A esponja roça levemente sobre o apêndice erógeno. Há um sabor indefinido que se mantém entre a língua e o céu da boca. A água que escorre dos seus cabelos cobre o seu peito de um manto transparente que lhe lava o corpo. Há uma excitação premente que não se desvanece do seu interior. A temperatura que assola por entre as pernas de Lúcia estimulam-na a completar um prazer. Há uma vibração que não se quer soltar da sua rata, não obstante as contínuas carícias que ela desenvolve nesta região. Ela assim recorda.
Luís invadiu o pescoço da jovem com a boca, sugando o aroma que se desvendava por debaixo do queixo. Os lábios dele, a suavidade do toque carnal, o encanto da ponta da língua dele que assome à pele tímida de Lúcia, fez desvanecer o nervosismo inicial dela. A estudante não se queria mostrar intranquila. Nem tão pouco pretendia ser hipócrita, escondendo a sua intenção. Ela queria que o professor a possuísse. De uma forma distinta, de um jeito que a transportasse para um recanto oculto da sua alma. E a mão esquerda de Luís, que irrompeu por dentro das calças negras de Lúcia eram um sinal evidente de que ela se permitia ser descoberta. O seu corpo acomodou-se no assento, o botão das calças soltou-se e a parte superior da peça como que se rasgou para revelar atempadamente as suas cuecas beges. Bastou puxar ligeiramente o tecido de algodão suave para baixo. O traço erógeno de Lúcia estava ao alcance do ar que se respirava e dos dedos decididos do professor. Naquele instante, a masturbação doce que o homem lhe entregava tinha que se assemelhar a algo de hipnotizante na mente de Lúcia.
O chuveiro ameaça com bruscas mudanças de pressão cortar o fornecimento de água quente ao corpo despido de Lúcia. Ainda assim, a inquilina do 2º esquerdo acomodou-se à temperatura que o seu corpo equilibra. Porque a sua vagina está vulnerável. Porque a sua mão está frenética. E porque a esponja é um pequeno auxiliar na busca de um prazer pessoal. A unha do indicador roça pelo clitóris, criando um pequeno vulcão dentro da sua rata. Ela então recorda.
As pernas dela dilatavam conforme os dedos aguerridos de Luís a penetravam. Os seus pulmões precipitavam-se num entusiasmo desconcertante. O homem que a masturbava era diferente. Conduzia-a por um caminho sinuoso, complexo e confuso. Transportava-a para uma sensação ilusória, da qual as certezas que ela julgava ter eram abaladas. Confiante das intenções do homem, ciente de que tudo isto não passava de um mero envolvimento casual, Lúcia procurava descobrir o rumo a um orgasmo genuíno e original. Jamais ela conseguiu fazer com que os dedos de um homem a elevassem a um estado de loucura sexual. Tal também não estava a suceder.
O chão da banheira cobre-se por um ligeiro manto de água e espuma. Ao fundo, a esponja navega, depois de solta pela mão de Lúcia. Ela já não usa o produto de higiene como objecto de prazer. Ao invés, coloca nos seus dedos a responsabilidade de a encaminhar para uma fantasia só sua, uma estimulação espontânea e frutífera. Com dois dedos inseridos dentro da sua vagina, ela roça também com o polegar nas virilhas. O seu corpo está limpo, a sua mente exalta-se. Ela, pois então, recorda.
Os dedos dele procuravam continuamente, com algum esforço, obter uma reacção explosiva da sua amante. A boca de Luís beijava toda a face da jovem, mas não ousava beijá-la nos lábios. Os olhos dela cerravam, a sua boca abria-se pra libertar gemidos sem ritmo. Havia uma sensação de prazer que Luís descobria aqui e ali em Lúcia. Mas os seus dedos eram atípicos ao desejo da jovem. Apesar dele estar a gostar da forma como a masturbava, ela sentia que o momento se desfazia inutilmente. Fingir o orgasmo era uma hipótese. Forçar um espasmo vaginal era falso. Simular gemidos incontroláveis era um risco. O professor já estava excitado. Era visível no movimento que as ancas dele desenvolviam. Para além disso, a mão direita dela explorou. A legitimidade em encenar um prazer intenso só traria desgosto em si mesma. Ainda assim, ela fingiu.
O mosaico da casa de banho faz ecoar até a respiração leve de Lúcia. Ela consegue ouvir repetidamente os seus gemidos e a sua constância de prazer pessoal. Porque Lúcia confia nos seus dedos, nas suas fantasias, nas suas necessidades. E encontrar a raiz do seu êxtase é um passeio pelo parque. Pelo parque que a convence de que tinha que haver mais razões para ela procurar um prazer masculino. Foi bom, libertou-a dos seus pesadelos, das suas ansiedades. Mas ainda assim, a noite passada com o seu professor carregou-a com uma necessidade ainda mais urgente de prazer. O duche intimo, o corpo lavado e acarinhado, a sensação de leveza e a masturbação veemente pintam-lhe uma nova tranquilidade na face. Agora que o seu corpo já foi seco por uma toalha limpa e já foi hidratado por um creme suavizante, Lúcia desperta uma sensação pura de desejo. Aquele que lhe recorda as suas satisfações. Aquele que desenha a perfeição do seu prazer. Aquele que a encaminha para o seu quarto, para a sua cama, para a sua gaveta da mesinha de cabeceira, para a panóplia dos seus brinquedos privados. Intensos, voluptuosos e fantasiosos. Ela aqui recorda.
Sentar no colo dele é uma consequência do seu orgasmo simulado. É uma reacção da demonstração do desejo de Lúcia pelo pénis do professor. Porque ele gostou que ela o tocasse. É um seguimento daquilo que parecia ser lógico acontecer naquele espaço tão confinado, num lugar algo distante da realidade. Sentar no colo de Luís foi a melhor forma que a jovem encontrou de prosseguir um momento que ela também desejou. No lugar do condutor, a área de movimentação era reduzida e dificultava o processo de acção. Quer na forma como ela despia a camisola, quer no jeito com que era possível à jovem desapertar as calças dele. As coxas dele suportavam o peso dela, ao mesmo tempo que as suas mãos envolviam agora o rabo dela. Lúcia gostou das carícias e voltou a carregar em si uma idealização de desejo e volúpia. Com o peito dela defronte da sua face, Luís cingia a atenção no soutien rendado que a jovem ostentava. Os cotovelos dela apoiavam-se nos ombros do homem e o calor do pescoço feminino exalava a paixão que ela aceitou desvendar. O sexo do professor roçava nas coxas dela, para depois tocar ao de leve nas virilhas. Quando Lúcia sentiu a ponta do pénis deslizar nos lábios vaginais, ela fez força nos joelhos - fincados no assento do condutor - e deixou as ancas movimentarem o seu corpo para baixo. O objecto de desejo masculino penetrava assim na rata ansiosa da estudante.
É um brinquedo simpático, no seu design, naquilo que aparenta poder fazer. Tem uma cor peculiar, formas carnudas e pretensiosas, rugosidade despretensiosamente saliente e um manípulo sólido. O vibrador roxo ostenta a forma de um pénis volumoso, excitado quanto baste e uma textura parecida com a sensação provocada por um preservativo normal. A sua base serve para colocar a fonte de energia e regular a dinâmica de vibração através de uma roda preta. Um botão que se pressiona com a força de dois dedos coloca um extra no objecto. Liberta um gel lubrificante que sugere à vagina onde foi introduzida a aguerrida ideia de estar completamente encharcada. E assim que Lúcia - deitada na cama com a toalha a cobrir ainda o seu corpo - introduz um dos seus vibradores preferidos por entre as pernas, ela redescobre o prazer que procura. Ela ainda recorda.
O volante roçava no cimo das suas nádegas despidas. Era impossível ampliar a área livre. Era difícil encontrar forma de aproveitar o espaço disponível. Era complexo encontrar uma posição confortável. A nuca dela ia batendo no topo do carro. Obrigava-a a inclinar a cabeça para a frente, dobrando o pescoço e fixando o olhar no desejo de Luís. As suas pernas procuravam descobrir o lugar certo para se colocar. De cada vez que ela cavalgava sobre o colo do amante, Lúcia perdia o jeito que achava adequado. Os joelhos enterravam-se entre o encosto e o assento do condutor. Os pés prendiam-se no volante e a tensão que os músculos exerciam nas coxas era deveras desconfortável. Ainda assim, o pénis de Luís penetrava-a com vigor. As mãos dele procuravam ser carinhosas e a boca dele desvendava trajectos no peito suave da jovem. A cópula que professor e estudante praticavam num local inusitado prazenteava a jovem dentro do que lhe era possível aproveitar e fascinava o homem, de acordo com o que ele pressentia. Para Luís, a amante continuava deliciada e envolvida num enorme fascínio. As mãos dela acariciavam os seus cabelos e por vezes o olhar transparecia uma sensação inolvidável de desejo apaixonante. O orgasmo que ele julgou proporcionar-lhe, dava-lhe a convicção de que a jovem estava enfeitiçada. Possivelmente, Lúcia até se poderia sentir arrebatada pela penetração exercida pelo homem. De um certo modo, ela deixava-se levar numa fantasia, num desafio às capacidades do seu corpo, uma brincadeira aos anseios legítimos do seu corpo e da sua alma. A jovem cerrou os olhos e mergulhou na procura de alcançar prazer. E enquanto saltava, deliciando-se com aquele enorme pedaço de carne dentro de si, Lúcia retirava o soutien.
Uma das mãos controla o objecto erótico. A outra mão recorda a vibração que ainda lateja no seu peito. Lúcia acaricia as mamas, procurando repetir a sensação que os lábios do amante lhe provocaram, ainda nesta noite. Com o corpo estendido na cama, a jovem já afastou a toalha. Abriu as pernas e criou espaço para o vibrador a penetrar com intensidade. Agora, o seu sexo é uma via aberta à descoberta de si mesma. Física e mentalmente. Absorve-lhe a imaginação a excitação que um envolvimento sexual com um homem lhe provocou. Longe da sensação divina que ela consegue partilhar com uma mulher. Ainda assim, o despretensiosismo e casualidade do encontro libertou-a das barreiras que ela própria construiu. Não foi perfeito, não a viciou. Abriu-lhe novos horizontes que ela julgava distantes. E não obstante o facto de o objecto que a penetra se assemelhar à carne que ela comeu, a utopia idílica reina dentro de si quando o vibrador alcança o auge do seu poder. As paredes vaginais da jovem sofrem uma estimulação perfeita, adequada às necessidades intimas de Lúcia. As suas mamas estão rijas, ardentes de volúpia. Ainda que seja uma edificação fantasiosa. Ela recorda.
Havia uma luz ao fundo, visível a partir da janela traseira do carro. Um lampião que iluminava a estrada principal acendia e desligava. Os olhos de Lúcia focaram-se nessa intermitência, tentando justificar o que ocorria dentro de si. Mais do que um vibrador, mais do que qualquer objecto erótico, mais do que dedos ou línguas femininas. A carne do sexo de Luís provocava-lhe um tremor interno. Algo semelhante a um prazer extremo. Algo que se aproximava de um orgasmo concreto. Naquela posição, com o seu corpo apertado, com cada um dos seios entre a face do homem e o braço, Lúcia experimentava sensações inéditas. Não estava nos seus planos, mas era possível que o seu até há bem pouco tempo professor lhe estivesse a proporcionar uma explosão de sensações. Algo que dificilmente ela recordasse vindo de um homem. As suas mãos fincavam no encosto da cabeça do condutor. Saltava com mais imponência, mais garra, mais fervor. Sentia o sexo dele como que a rasgar o seu âmago. Deliciava-se com a boca do homem a saborear o vale do seu peito. Luís gemia. Libertava os impulsos da sua respiração e abraçava o corpo da sua amante. Ela queria acreditar que a luz que cintilava no seu lampião era o resplandecer do seu orgasmo.
O objecto ficou preso. As suas pernas fecham-se. Comprimem o vibrador que ainda trabalha dentro da sua rata. A mão mantém-se apertada entre as duas coxas. Lúcia levanta as pernas e respira fundo. Abre os olhos, cinge a atenção no tecto e pressente os seus fluídos que se misturam com o gel que esguicha da ponta do brinquedo. Há um toque de delírio nos segundos que sustêm todo o corpo, toda a alma de Lúcia numa sensação translúcida. Ela solta o indicador que pressiona o botão, no fundo do vibrador. O motor do aparelho continua a funcionar e a pele das coxas treme ligeiramente. Um suspiro liberta a carga de energia que se acumulou numa parte surreal de si. Mas fica suspenso o som ligeiro que brota da sua rata. O seu corpo congela perante o choque entre os músculos e os nervos. Um calor ardejante flui pela pele da sua barriga. Ainda que cheia do volume do vibrador, ela sente a rata vazia. O seu coração bate. Bate com força, ao mesmo tempo que quer manter-se fiel à ideia de que algo lhe escapou entre os dedos. Ela sabe que recorda.
Luís mantinha a face colada aos grandes seios dela. Agarrava as nádegas femininas, procurando segurar o corpo dela. Não aconteceu. O lampião continuava a piscar, mas era uma simples anomalia do serviço de iluminação. O largo som que percorreu os ouvidos dela acordaram-na para a realidade. Do sitio onde estava, da altura que acontecia, do que acabava de ocorrer. Na posição incómoda que ambos se encontravam, algo de constrangedor tatuou-se numa realidade crua. Luís tinha pegado nas nádegas da jovem. Puxou o corpo dela com veemência de forma a que ela saltasse ainda com mais destreza. Mas num movimento brusco, o pénis dele saiu da rata latejante da estudante. A prova inequivoca de que o homem se tinha vindo foi disparada para o corpo de Lúcia. Espalhou-se na barriga dela. Não aconteceu. O orgasmo ansiado da jovem voltou a dissipar-se. Não em dedos que desconhecem um genuíno prazer feminino. Perdeu-se algures entre a última penetração de Luís e o momento em que ele encosta o sexo teso e molhado junto ao umbigo dela. Frustração. Desgosto. Despespero. Ela apenas conseguiu sentir o calor do esperma do professor a escorrer por entre as suas virilhas e libertar um bizarro gemido. Não era um orgasmo. Não era nada. Não aconteceu. Apesar de Luís despejar parte do seu gozo para cima de si, chupar-lhe o mamilo numa sede interminável e fincar os dedos nas suas nádegas, ela procura disfarçar a surpreendente mudança de rumo. Ela não se veio. Ela não alcançou a luz que procrava. A luz que ofuscava os fantasmas da sua mente. A luz que por uns segundos a poderia enfeitiçar dos seus temores e ansiedades. E Lúcia fingiu. Saiu do colo dele e pegou na sua camisa. Tentou limpar o fluído que colava à sua pele e tomou consciência de tudo o que a rodeava. Luís procurou obter uma reacção dela. Lúcia respondeu com um sorriso desgostoso.
Ela está deitada. O vibrador já cessou a sua função. Mantém-se dentro da rata da jovem mas silenciosamente. Lúcia procura sentir a pureza dos lençóis que cobrem o colchão. Coloca-se numa posição fetal, com as mãos pressionadas. Uma pelas coxas, outra pelo peito quente. Cedo ela adormecerá. Os dias continuam os mesmos, as ilusões continuam distantes, os medos continuam vivos. A confusão ainda se instala. Ela pediu ao professor que a levasse a casa. O acto já foi consumado. O homem perguntou se ela tinha gostado. A necessidade não alcançou o desejo. A jovem fingiu que sim. Esse desejo não acalmou o espirito. O seu ar apático não transmitia sinceridade. A tormenta não tomou conta dela. Luís ligou a ignição e fez o carro regressar à cidade. Ela foi derrotada pela transcendência do espirito. Ao chegar à rua do Edifício Magnolia, não houve um beijo. Ela subjugou-se à evidência da racionalidade. Uma despedida, um ocasional até breve, um estapafúrdio obrigado. Se o semáforo tivesse passado para verde. Ela abriu a porta de entrada sem olhar para trás... Tanta questão colocada pela mente de Lúcia, desde o momento que ela entrou em casa nesta noite. Tanta resposta que se diluíu na sua mente, por entre carícias erógenas e penetrações artificiais. Tanta clareza que se abriu na sua mente. Tão pouca objectividade que se consertou no vazio da sua consciência. Lúcia envolveu-se com um homem, na vaga esperança de alcnaçar um prazer distinto. Falhou. Equivocou-se. Luís é um amante ilusório. Seduz mas não prende. Excita mas não alcança. E a culpa até pode ser dela. Mas o prazer que o vibrador lhe proporcionou, o turbilhão de ideias que invadiu a sua mente num momento de prazer, os dilemas que atravessaram o seu espírito no instante que o seu sexo cedia a todos os delírios, convenceu-a inequivocamente de que a sua felicidade ainda mora ao lado.

7 comentários:

Magnolia disse...

Apesar de ser longo e talvez estendido no tempo, gostava que lessem este post com calma. Se possível, gostava de saber o que acham que vai na mente de Lúcia. De resto, desfrutem da narração conforme a vossa imaginação vos leve.

Lize disse...

O post era longo, mas não difícil de ler e entender. Tal como a mente de Lúcia também não é difícil de todo de compreender. Talvez seja... difícil, a situação onde ela se encontra. Mas o que vai na mente dela é claro como água. Primeiro, parece-me que está (ou estava, no início do post) a tentar esquecer Tânia "à força". Pois, cara Lúcia, a estratégia tem de ser mudada, porque assim, ela não vai lá. Isto, é a minha opinião claro.
Depois também me parece que ao aceitar uma proposta de um homem, quando Lúcia é assumidamente mais virada para as formas femininas, ela está a tentar mostrar a si própria que não é só Tânia que lhe pode dar um prazer extremo. Que não é só uma mulher que lhe pode dar um prazer físico e emocional. Ela tentou que isso acontecesse com homens. Que a luz intermitente na lâmpada lá bem ao fundo fosse o orgasmo dela... mas não surtiu efeitos. Ficou isso também provado. No final do post, e no final do dia, Lúcia percebeu e convenceu-se do óbvio, e do inevitável... "a sua felicidade, ainda mora ao lado".
Beijocas!
P.S.: Aqui a vizinha amanhã vai de férias ao final do dia ;) Por isso o número reduzido de comentários não se vai dever a falta de interesse. Sempre que puder, cá estarei a cuscar. :)

luafeiticeira disse...

Bem, eu escolhi o campo e tu o carro, agora já percebo o comentário... mas pergunto porquê o banco do condutor e não o do pendura?
O turbilhão que vai na cabeça de Lúcia tem a ver com o facto de ela procurar esquecer o que se passou com Tâni, talvez a aescolha dum homem, dessa vez, fosse uma boa opção, visto que com mulheres não tem tido sucesso, terá ela pensado. Mas não foi porque o par não foi bem escolhido, nem o professor (outro/a a comer alunos/alunas?), nem outra pessoa qualquer. Lúcia precisa de fazer as pazes com o passado, precisa de esquecê-lo, de esquecer Tânia e, neste momento, isso tem de ser um trabalho interior, com ajudas externas ou não, não pode é ser através de quecas fortuitas com pessoas que não lhe dizem nada a nível emocional/psicológico.
Beijos

Anónimo disse...

Lúcia Lúcia... ( a minha personagem crítica)...
Toda a discrição me pareceu uma busca por respostas, certezas dos seus gostos, desejos e prazeres.

O prazer não alcançado num momento, saciado depois... por si...

Foi o encontrar a resposta da dúvida que por momentos ( tempo de vida) assolou a sua mente...

Agora tem a certeza do rumo que a sua vida deve tomar...!!!

Beijinhos aromatizados!!!

Magnolia disse...

LIZE, às vezes não tentamos esquecer. Tenta-se é pôr de lado,deixá-lo morar ao lado, guardar numa caixa, guardar num sitio que se sabe onde está mas não se quer pensar onde está. Agora será que é como tu dizes, que ela ainda quer procurar?
A questão de ter aceite envolver-se com um homem, talvez não se prenda tanto com o surtir efeito. Talvez não sejam os homens que não lhe tragam o prazer que ela pretende. Às vezes o prazer não se recebe, partilha-se.
Desculpa se não respondi ao comentário antes das tuas férias. Que corram bem e que sejam de facto a tua liberdade.
beijinhos
LUA FEITICEIRA, o banco do condutor é mais apertado e para todos os efetios, ela estava ao colo do condutor. Mas de facto, não estou a imaginar a Lúcia e o professor com uma manta no meio da terra batida :) Mas foi curioso, as duas histórias no meio do nada :) Os professores têm sido audazes ou irreverentes ou ousados.
Volto a dizer, mais do que esquecer o passado, creio que será mais fazer de facto as pazes com ele. Mas a verdade é que às vezes as quecas fortuitas são um escape quase inevitável. Se são com pessoas que não a atingem a nivel emocional há uma maior probabilidade de sentir um vazio maior.
beijinhos
PAPINHA, muito critica pelos vistos :)
Um prazer saciado por si soa bem.
Certezas ainda há poucas na vida de Lúcia. Mas existem caminhos. Aguarda e talvez também tenhas respostas :)
beijinhos

Rafeiro Perfumado disse...

Eu só gostava de saber se a Lúcia se preocupa com a senhora da limpeza, que vai ter de lavar a casa de banho...

Magnolia disse...

RAFEIRO PERFUMADO, segundo consta, é a Lúcia a própria senhora da limpeaz do 2º esquerdo.