quarta-feira

Instrutor

Publicado a 09-06-08
- Eu não preciso de ti, Matilde...
- Achas mesmo?
O Espaço Magnolia prepara-se para encerrar. Há clientes que saem, mas há clientes que teimam em ficar até todas as cadeiras estarem em cima das mesas, até o chão começar a ser limpo pelos funcionários, até a jukebox cessar, até as cortinas dos vidros serem corridas, até restar uma pequena luz ambiente, até muito depois de ser colocada a placa na porta com a inscrição "Encerrado". A pessoa que encerra o estabelecimento poderia até não gostar do incómodo criado por alguns clientes. Mas este espaço de tempo faz parte da rotina dos empregados do Espaço. Afinal, o lugar é mesmo surreal. Modifica as pessoas. E a dedicação dos trabalhadores do café faz com entendam que um dos motivos para alguns clientes resistirem tanto tempo, é para viver a magia que se vai desvanecendo quando o estabelecimento encerra. Porque o Espaço Magnolia transforma-se depois da hora de fecho. Rafael e a sua jovem amante estão neste momento a sentir isso. Num dos sofás, já sem qualquer bebida para tomar ou pedido para fazer, insistem em continuar a conversa que já dura há alguns minutos. Vasco, o empregado de serviço, aceita. Magia. Surrealismo. Dedicação.
- Tu não és homem de não atender chamadas, Neves...Rejeitar, talvez. Atender e mandar-me à merda, é possível. Mas não deixas que o telefone toque incessantemente.
- Onde queres chegar?
- Tu pensas em mim... Tu sonhas comigo. Tu precisas de mim. Eu sei-o.
- E eu é que sou o presunçoso...
- Tu queres arranjar uma forma de me levar para a cama e não te sentires culpado à frente da putazinha.
- Eu vou-me embora...Vou esquecer que estive aqui contigo. Vou tentar rejeitar as tuas chamadas mais vezes...
- Mente-me, Neves... Diz-me que não estás ansioso por comer a minha rata.
- Tu és louca...O Vasco quer ir para casa. Eu também vou. Acho que devias fazer o mesmo.
Não é essa a ideia de Matilde. A jovem sobrinha da outra amante de Rafael está preparada para sair. Depois de jantar, depois de ligar duas vezes para o telemóvel do instrutor de equitação, depois de tocar à campainha do 3º esquerdo, depois de ninguém atender, depois dela encontrar o homem a entrar no Espaço, Matilde estava pronta para o levar a uma discoteca, na baixa da cidade. Rafael recusou. Rafael mandou-a embora. Rafal não conseguiu ceder às palavras escaldantes da rapariga, bem como à mini-saia que ela veste ou ao top com um decote profundo. Matilde prende o homem dos seus desejos a um café que já dura há meia-hora. E na cabeça de Matilde estão duas opções. Ou ele a acompanha em danças quentes num sitio carregado de barulho ou a leva já para a cama. E até Rafael sabe que é difícil resistir à tentação. Ainda assim, despede-se de Vasco, pede desculpa e sai do Espaço Magnolia. Sem qualquer outra solução, a rapariga corre atrás dele. Entre a porta do Espaço e a entrada do Edificio, Matilde agarra no braço do homem. Ele suspira, com um ligeiro sinal de aborrecimento. Inesperadamente, a jovem salta para o colo de Rafael, segurando os braços ao pescoço dele. O homem sente-se desprevenido. O homem não a pode simplesmente largar no chão. O homem leva as mãos ao rabo da jovem e segura o corpo dela. A boca cremosa dela está quase colada aos lábios de Rafael. Os olhares trocam-se.
- Por favor, fode-me....Eu sei que também queres.
- És uma miúda tão mimada, Matilde...
Rafael sente-se preso à vontade da jovem. A tentação de ter o corpo dela nas suas mãos. A intensidade de sentir a suavidade, o calor e a carne das nádegas de Matilde confunde o discernimento masculino. As garras sensuais da sobrinha de Cristina crivam-se no desejo de Rafael.
Está quente. O calor acumulado durante o tempo em que o sol bateu com toda a sua força contra as janelas do topo e as paredes do patamar, tornou o local incómodo. A noite já vai longa mas ainda há um bafo que se faz sentir junto à porta de acesso ao terraço. No último lance de escadas do Edificio Magnolia, a presença de dois corpos faz aumentar a temperatura. Ouvem-se gemidos. É um tom de voz notoriamente excitado, entusiasmado, ansioso. A meio deste lance de escadas, Matilde está encostada à parede. Tem as alças do top pelos cotovelos e o seio esquerdo desnudado. Tem o pescoço suado, tem os cabelos a taparem-lhe parte da face. Tem o rabo suave encostado à parede tépida e os pés não assentam no chão. As mãos dela agarram-se à nuca do seu amante. Aperta a cabeça do homem contra o seu corpo, entre as pernas. Para além da respiração intensa e pesada que ofega da sua boca, para além do entusiasmo que a sua rata trespassa para o resto do seu corpo, Matilde sabe que não precisa de se concentrar em mais nada. Rafael segura todo o peso do corpo da jovem sobre os seus ombros. A sua estatura encorpada permite-lhe carregar a figura da amante e ao mesmo tempo deliciá-la. Ele tem as mãos no rabo macio de Matilde, abrindo um pouco mais as pernas dela. E em tudo isto existe uma dedicação única. Para além de encostá-la à parede e manter os seus pés a metro e meio do chão, Rafael procura dar um prazer controlado à jovem, lambendo o sexo feminino com mestria e ao mesmo tempo saboreá-lo. Os lábios vaginais de Matilde estão inchados e colam-se à boca do homem. Ela sente cada toque da lingua, cada mordidela terna no clitóris, cada sopro na pele ansiosa. Ela voa quando a boca dele penetra na sua rata. Ela sente o peito a explodir quando o seu âmago é resgatado pela sede do amante. Ela acalma o coração quando ele pára vagarosamente de lamber e roça os lábios nas suas virilhas. E o desafio de Rafael é manter a jovem no ponto que ele pretende. A gemer, baixinho. A tremer, sem exageros. A vibrar, em cada canto do corpo dela. A mantê-la calma, sem nenhum imprevisto desconfortável. Apesar da hora já ser tardia. Mesmo que aquele lance de escadas não seja muito frequentado pelos outros moradores. Ainda que fosse dificil alguem pressupor que estaria alguém a ter relações sexuais num patamar de acesso do Edificio. Rafael sabe que todo o cuidado é pouco. Conhece também os orgasmos da jovem Matilde. Intensos, descontrolados, audíveis e extravagantes. E o que está a acontecer no quinto e sexto degrau do último lance de escadas é apenas uma cedência de Rafael. Uma fraqueza de alma, uma inevitável derrota à tentação. O corpo de Matilde é jovem e escaldante. É descomprometido e puro. É um deleite para todos os sentidos e é-lhe entregue de mão beijada. Esta cedência ao desejo descomprometido é momentânea. Rafael não a quer levar para casa, não a quer deitar na sua cama, não quer que ela adormeça ao seu lado, não quer a conversa de circunstância ao pequeno-almoço. Não com a mimada Matilde. Por tudo isto, o minete em local ousado, em posição arrojada, é a forma ideal de ceder às garras dela.
Ele é instrutor. Para Rafael não é uma questão de tempo, mas sim de oportunidade. O sexo oral dura há já alguns minutos e há apenas um sinal de que pode continuar indefinidamente. Matilde sabe o que o homem está a fazer. Entende o porquê. Saboreia a razão. Delicia-se com a atitude. Fantasia com a entrega. De olhos fechados, cabelo a suar, pescoço húmido e seios entesados, ela sente o seu prazer prolongar-se. Ele dispõe de todas as suas capacidades para lamber, acariciar, chupar e beijar a rata da jovem. É um processo. É uma aprendizagem. É uma forma de saber dar aquilo que ela não espera receber de outro homem. Matilde sabe que mais ninguém a lambe como Rafael. Matilde entende que vale a pena procurar Rafael e exigir que ele a foda. Matilde oferece todo o seu desejo, paixão e loucura a um homem que não a quer, apenas a come. É uma crua verdade, mas Matilde aceita-a. É uma atitude fria, mas Rafael submete-se a ela. Porquê? O que leva um homem confiante de si mesmo, descomprometido, detentor de um leque de mulheres que anseiam por um final de tarde com ele, a ajoelhar-se perante o desejo de uma rapariga presunçosa? Ele não precisa dela. Ele sabe a que ponto ela se pode colar a ele. A jovem é excitante, é irresistivel. É hipnotizante. É uma alma alucinante, num corpo diabólico. O minete que ele lhe entrega com tanta dedicação, com uma convicção de que a vai prazentear, com a certeza de que o toque da sua boca vai ficar tatuado nos lábios vaginais, é um feitiço. E apesar de Rafael saber que não deve continuar com tamanha loucura, ele não deixa de colocar os seus dotes à disposição da tesão de Matilde.
É novo para ela. É poderoso. É potente. É um desbravar de uma nova sensação. É um descobrimento pessoal e íntimo. Matilde vê-se. A sua rata lateja. O seu clitóris incha. Ela encharca-se na cara dele. As suas pernas fecham-se e apertam a cabeça do homem. Tudo isto ela sente mas não pode exteriorizar. O seu peito quer brotar. A sua voz quer libertar-se. A sua loucura que extravasar. Mas não pode. Não consegue. Não se sente capaz de tal. Não porque tenha vergonha ou até tenha respieto pelos moradores deste Edificio. Matilde não grita porque tudo em si bloqueou. O seu corpo demonstra o orgasmo em acções consequentes de uma imensa entrega sexual de Rafael. Mas ela sente-se arrebatada por uma sensação que invade o seu interior. E a jovem não consegue reagir. A sua respiração bloqueia, o seu olhar parece sair da órbita. Um formigueiro invade os seus pés e as suas mãos. A rata é um poço que explode. O coração é um balão que rebenta. Até Rafael parar de chupar o clitóris, ela sente-se possuída.
Ela já pousou os pés no chão. Ele ainda lhe segura uma das coxas, apenas para que ela não se deixe cair. O homem procura recuperar o fôlego. As mamas da jovem roçam na t-shirt do homem. O olhar dele está fixado em si. Matilde sente-se fraca, absorvida de qualquer energia, arrebatada por um prazer imenso. Ela nem consegue falar. Levanta os olhos e estuda a face dele.
- Não preciso disto, Matilde...Posso dá-lo a qualquer outra mulher. Não duvides disso. Mas preciso de te confessar que é dificil resistir-te. Por isso é que preciso que te vás embora...Por favor, vai... Nunca vou ser teu e um dia mando-te à merda de vez... Por favor, Matilde... Sai daqui!...
A respiração dela ainda está descontrolada. Porque agora ela já consegue respirar. E mesmo que ainda não tenha recuperado o fôlego, Matilde volta a entregar-se. A sua boca atrevida, algo debochada, fofa e liberta de responsabilidades, cola-se aos lábios de Rafael. Com sede, com fervor, com desejo. O beijo é vazio. De sentimento. De sentido. De compromisso. Entre eles, fluiem apenas os sabores da rata da jovem que se colam aos lábios dele. Entre eles há apenas um gesto falso de paixão, do qual Matilde não consegue evitar. Ela vai sair. Com o sexo inchado, as cuecas na mão e uma brisa de frustração a percorrer o seu peito. Ele vai esconder-se. Dentro do 3º esquerdo, depois de passar pela porta da sua vizinha, que ainda têm uma luz acesa. Eles já não se encontram há alguns dias e isso deixa-o vazio e eles moram lado a lado e o homem não consegue justificar e ele sente-se culpado. A vizinha e amante está com um cliente, certamente. Isso faz-lhe confusão à alma. É assim que ele se desculpa a si mesmo por se entregar à jovem mimada Matilde.

10 comentários:

inv3rs0 disse...

há alguma razão especial para que a palavra "homem" seja usada tantas vezes, quase dando a entender que este "homem" particular se refere ao "homem" no geral?!

"(...)Matilde agarra no braço do homem. ;
O homem sente-se ...
O homem não ...
O homem leva ..."

Um homem ou o homem?!
Ela é sempre ela ou um nome...
:)

Magnolia disse...

.........................., apesar do apontamento ser pertinente, "homem não é usado para definir o Homem em geral. Longe disso. Se te aperceberes, também neste post, ela é referida pelo nome, por ela ou por jovem, algumas vezes por mulher. Tal como nos outros posts, existe uma tentativa de não repetir demasiadas vezes o nome da personagem ou repetir aborrecidamente o pronome Ele ou Ela. Assim, procura-se variar e distribuir de uma forma coerente diversas formas de se referir a uma dada personagem. Se verificares noutros posts, é usado por diversas vezes mulher, jovem, adulto.
Agradeço-te o comentário. Mais uma vez, são pontos de vista pertinentes. Espero que a explicação possa ter sido esclarecedora.

Anónimo disse...

Esta Ana e o Rafael dão comigo em doida! Adoro sempre os posts sobre ambos por tudo o que se pode reflectir neles. Os clientes diferentes, umas vezes ousados outras vezes menos, da Ana; ou as amantes maduras e casadas como Cristina, ou mimadas e de coração aberto como a Matilde, de Rafael. O ambiente destes apartamentos no terceiro andar é sempre tão eroticamente escaldante... Que eu vou subir mais um bocadinho e dar um mergulho na piscina. ;) Até já.

O rapaz das Confissões disse...

mais uma vez rendido aos prazeres carnais vividos neste edificio.

continua

Anónimo disse...

Já era tempo… Finalmente Rafael faz um belíssimo minete e na entrada do prédio… Que adrenalina ;)

Cheira-me que o Rafael já ultrapassou o lado carnal do que sente pela Ana, talvez por isso fuja a 7 pés do amor

Anónimo disse...

Onde posso comprar um homem assim para je?????
Existem aqui neste planeta?
Pelos vistos vou ter que continuar a ler por aqui,enquanto o meu vai ver a bola....
beijinho
DORA

Anónimo disse...

Estes dois são terríveis, eles atraem-se pelo poder que exercem um no outro, pelo desafio que o outro representa, pelo empate técnico, pela sacanice envolvente. Fabulosa descrição, é inevitável perceber o gozo que Rafael sente ao dominar Matilde dessa forma, ela tem prazer, ele tem prazer mas de facto é ele que ganha o jogo de novo ao fazê-la render-se e entregar-se sem defesas. Ele domina-a mas ela ganha-o uma e outra vez, sempre que o procura, ele não lhe resiste. É ele, sem dúvida, quem eu mais gosto de ver como protagonista, é ele, sem dúvida, quem menos gosto de encontrar nos corredores do Edifício porque se o semblante confiante transmite alguém inalcançável, o olhar esconde um profundo vazio de solidão.

Não me parece que Rafael procure em Ana o amor, apenas um adversário á altura... num jogo que ele não ousa perder, o da conquista e sedução...so far so good!

Ainda mais uma palavra sobre o texto: esmagadoramente excitante o cenário escolhido a tentar a ebulição dos sentidos...

Magna Magnólia, relendo...

Magnolia disse...

SPICY ANGEL, podes entrar na piscina, mas ela de facto já começa a ficar concorrida. :) O terceiro andar tem um carismo algo diferente do resto do Edificio. Espero que os apartamentos continuem a dar contigo em doida.
O RAPAZ DAS CONFISSÕES, o Edificio pretende sempre continuar.
O MITO DO PSIQUE, quem sabe se Rafael não consegue é encontrar o amor. Fica para ver os próximos capitulos.
DORA, homens assim existem. Mais do que conseguir encontrá-los, basta desejá-los. Eles têm mais para dar do que à primeira vista parece.
O FANTASMA DO EDIFICIO, há uma tentaiva de dominação mútua, efectivamente. Rafael tenta fugir, porque tem medo de não conseguir resistir. Talvez Rafael não procure o amor em Ana, mas algo os atraia, os une. E não é só o sexo. Ainda bem que gostaste do cenário. Continua por aqui. Surpresas vão continuar a surgir.

luafeiticeira disse...

Pois, Matilde realmente é jovem demais para Rafael que se limita a encher o ego sabendo que tal fêmea o deseja. Este vizinho sente-se vada vez mais atraído por Ana, mas porque a atracção deixa de ser carnal ou pelo orgulho ferido de ver uma mulher a não o perseguir como Matilde?
beijos

Magnolia disse...

LUA FEITICEIRA, talvez a justificação de Rafael se sentir atraido por Ana seja as duas hipóteses que colocaste. Ana puxa por ele, faz senti-lo inferior. E sendo vizinho dela, isso ainda o fere mais. Ao mesmo tempo, há algo que os une. Ou algo que os separa, como os polos que se atraem. Ainda assim, um homem com uma personalidade tão fria, calculista, mas ainda assim atraente, tem que ter alguma justificação mais forte do que mero orgulho infantil.