sexta-feira

Professora

Publicado a 16-06-08
Na condição de ser professor. Na subtil honra de ensinar outrem. Na progressiva e incessante capacidade de obter conhecimento e difundi-lo. Na postura séria, confiante e de respeito que dai pode advir. Nas infinitas virtudes comunicativas e psicológicas que o podem caracterizar. A dedicação de Maria José pelo seu estatuto de professora universitária faz espelhar a imagem de uma mulher concreta, audaz e decidida. Na teoria, claro. Como ser humano, carregado de racionalidade, sentimentos, paixão, opinião e quantos outros elementos capazes de influenciar a linear utopia da frieza, Maria José está exposta às fraquezas que revelam os seus receios, os seus desejos, os seus segredos e as suas ansiedades. Ninguém é perfeito. Nem mesmo encarnando o perfil de uma das mais nobres e antigas profissões da Humanidade.
A porta do 1º direito. Respira harmonia. Transpira graciosidade. Ganha vida com as mãos de Maria José assim que ela abre a porta ao seu cunhado. Henrique entra com naturalidade pela porta dentro, sorrindo para a mulher.
- Olá, Henrique... Vieste ver se o teu apartamento está em condições?....
- Tenho que zelar pelo bem das minhas preciosidades.
Um elogio. Palavras doces. Gestos únicos e irrepetíveis do homem que mexe com a professora de uma forma original e inexplicável.
- Sabes que estou meio ocupada...não sabes? - diz ela.
- O puto está ai?
Um ataque. Suave, sem malícia. Dirigido à fraqueza da mulher pela sua maturidade conselheira. Uma palavra assim saída da boca de Henrique tem um efeito perturbador na consciência de Maria José. Ainda assim, ela estica os lábios e entrega um olhar de reprovação pelo comentário.
- O Paulo está a trabalhar...Mas eu estou à espera de um aluno...Estou a preparar a hora de explicações.
- Vou incomodar?!...
- O que estás aqui a fazer, Henrique? Eu disse-te ao telefone que podíamos combinar para outra altura.
- Estás linda hoje.
Uma saia. Azul escura. Seda. A blusa florida que cobre o tronco dela com uma moda primaveril encaixa no ar reluzente que o seu cabelo curto loiro espalha. Ao elogio, Maria José despedaça-se.
- É a renda?... O condomínio? Eu já tinha dito à vizinha que o pagava amanhã.
- Cheiras tão bem como da primeira vez que te conheci.
- Henrique...e se combinarmos para amanhã? Na faculdade. Almoçamos. Falamos do que quiseres.
- Gosto de te ver assim com um ar feliz.
- O que é que tu queres, Henrique?...Não vês que estou ocupada?
- Porque é que me andas a evitar?
- Não te estou a evitar...
- Parece que estás com medo de mim...
- Porque haveria de estar?
- Por receio da evidência.
- Que evidência, Henrique?
- Diz que não anseias por estar comigo...
Um gesto. A mão de Henrique invade a anca de Maria José, assim que o corpo dele se encosta à postura ligeira da mulher. Ela sente-se arrebatada. Se as palavras dela acompanhassem a reacção do seu corpo, Maria José já teria demonstrado um sinal de prudência. Talvez tivesse afastado o corpo. Talvez recusasse a mão imponente de Henrique numa curva sumptuosa da sua figura. Talvez lançasse mais um olhar reprovador ao homem que a segura. Talvez dissesse algo evidente e concreto. Maria José inspira fundo e fecha levemente os olhos, ao invés de tudo o que poderia fazer. Balançada nas mãos dele. Embalada no charme inconfundível do homem. Embevecida no carinho do cunhado. Entusiasmada pela procura da simbiose do senhorio. Excitada pela confrontação sexual apresentada por Henrique. Ela quer resistir. Ela sabe que tem que resistir. É imperioso que a tentação não absorva o seu bom senso.
- Henrique...
- Tu não queres...Eu sei que tu não queres.
- Henrique...por favor...
- Eu sei...é o carteiro...não podes...não deves...
- Não, Henrique...não faças isso....
- Eu não quero fazer nada...Eu sei que o amas e que não me queres....tu não queres isto...pois não?
- Henrique!
Mas ele conquista-a. Inevitavelmente. Porque ele é o amante dela. O amante que a resgatou de uma apatia sentimental. O amante que lhe ensinou uma nova perspectiva de ver verdades escondidas. O amante que desencadeou o turbilhão de uma nova vida. O amante improvável. O amante proibido. O amante desejado. O amante irrecusável. Henrique hipnotiza o bom senso de Maria José e ela cede. Era imperioso que a professora não esgotasse a racionalidade dos seus sentimentos. O beijo que a sua boca procura nos lábios do seu cunhado é um salto sem pára-quedas. A dedicação de Maria José baseia-se na previsão, antecipação e moderação da sua capacidade de mudar o conhecimento de outros. Mas neste momento, é ela que está entregue à dedicação de Henrique. A cognição da mulher está nas mãos de um amante que sempre foi seu.
Como uma imagem. Como um pedaço de algo que lhe pode pertencer. Como algo a ser observado. Para reflectir. Para pensar. Até mesmo para se deixar levar e guardar toda a excitação. Como um pensamento. Como uma ideia que vai subsistir por toda a sua consciência. Um atropelo de desejo. Uma inconsciência não delimitada pela serenidade da personalidade e pela maturidade da idade. Como uma aprendizagem em tempo incerto. Como uma ambição intima que se transforma em ímpetos corporais. Pensar. Agir. Reagir. Reformular. O sofá é demasiado apetecível e confortável. Querer. Sentir. Desejar. Respirar. Desfrutar. O tempo escasseia na mente de Maria José e no desejo de Henrique. Entrar. Sair. Penetrar. Gemer. A mulher está deitada nas almofadas da peça de mobiliário da sala. Mesmo defronte da mesa de centro, onde várias papeladas demonstram que ela se estava a preparar para um hora de explicações. As suas pernas estão abertas, levantadas e dobradas. A sua blusa ainda lhe cobre o tronco, mas a saia já não lhe cobre as coxas. Está puxada para cima, vincada, presa à cintura. Pedir. Inspirar. Tocar. Assimilar. O corpo dela assume uma posição fetal, mas em vez de estar deitada de lado, está de barriga para cima. As suas mãos procuram segurar-se. O seu coração necessita de se aguentar. A sua consciência tenta suportar. Morder. Dilatar. Dar. Sonhar. Henrique está deitado em cima da amante. Também ele está praticamente vestido. Tem apenas as calças e os boxers presos aos joelhos. O seu corpo prende-se por entre as pernas da cunhada, ao mesmo tempo que penetra nela. Apaixonar. Guardar. Chamar. Permear. Há um abraço fascinante na envolvência dos dois amantes. Ela está embrulhada nele, envolta nos braços carinhosos de Henrique. O queixo dela sustém-se no ombro dele, ao mesmo tempo que a voz da mulher pede e geme. As mãos dele seguram a cabeça da professora, chamando o desejo dela para si. Os seios apertados da quarentona apertam no peito do proprietário do 1º direito. As pernas de Maria José envolvem-se na cintura dele, esmagando as ancas de Henrique. A rata da mulher dilata-se, as coxas dela levantam-se um pouco mais e ele entra nela, sem movimentos muito bruscos. Terebrar. Consolidar. Falar. Acariciar. O desejo de Henrique transformou-se na concretização da ansiedade de Maria José. Ela sempre soube que isto era inevitável. Ela nunca quis negar que ainda deseja o corpo, a maturidade, a envolvência, o calor que ele carrega e o conhecimento que o seu cunhado detém de si mesma. É uma afronta à graciosidade da professora. Ao seu bom senso. À sua moralidade de perceber o amor, a paixão e a intimidade. Foi assim que Henrique a libertou de uma prisão mental de quase vinte anos. Foi desta forma que Henrique sempre entrou na vida dela. E Maria José nunca recusou. A mulher sempre foi frágil perante a virilidade dos gestos dele, a benevolência das atitudes do homem, a elegância com que ele entra na sua mente e no seu corpo, o desejo, o fervor e a ansiedade que a saída dele provoca em cada pedaço de si. Maria José precisa do homem. Reve-se no que ele já lhe entregou. Abraça-se às penetrações do seu sexo vigoroso. Deleita-se com a forma como ele a prende a si. Aquecer. Falar. Transformar. Suplicar. Em cima do sofá, por entre um ar quente que se respira na sala, junto das folhas que não resistem à brisa que sopra no espaço, os dois amantes fodem com uma entrega indefinida, indescritível, interminável. Porque o tempo existe mas deixou de morar ali. Maria José abre e fecha os olhos conforme a intensidade das penetrações e das caricias de Henrique. Quando tem os olhos abertos, ela entende o alcance da paixão dele. Percebe que aquela sala transformou a sua forma de amar, desejar, exigir de si mesma. O seu corpo vibra. O pescoço humedece, os lábios tremem, as mãos cingem uma força vigorosa nas costas dele. Com os olhos abertos, Helena delira com a foda que aceitou do seu amante. Perceber. Exigir. Vibrar. Alcançar. Quando os seus olhos cerram, algo se dissipa. O seu corpo cede e os gemidos intensificam-se. Ela vem-se e toda a sua percepção se modifica. Uma ideia surreal, que percorre vários pedaços momentâneos da sua vida, enche-lhe a imaginação. Com os olhos cerrados, Maria José pergunta a si mesma o papel do carteiro neste instante da sua vida. Fincar. Abrir. Inserir. Rasgar. Gritar. Intensificar. Suar. Apertar. Retirar. Exprimir. Delirar. Aproximar. Vir. Libertar. Foder.
A campainha toca e o abraço desfaz-se. Henrique continua a segurar a nuca da mulher, encostando a face ao seu peito. O seu sexo entrou por completo na vagina de Maria José. O peso do seu corpo insiste na ideia de que ele a possuiu e que detém algo demasiado importante na vida da professora. Ela sabe quem é. Sabe onde está. Mas não sabe o que pensar. A exigência do momento. A pressão do acontecimento inesperado, bloqueia a sua percepção. Com as mãos, ela exige ao amante que se retire de cima dela. Henrique obedece. Ele está consciente. Desestabilizou a professora. Retirou-a de uma postura confiante e acima de tudo confrontou o respeito que ela pode sentir pela sua personalidade e até pela dedicação que tem às tarefas que faz. À porta do Edificio Magnolia pode estar qualquer pessoa. Nem Maria José sabe. Pode ser o aluno que ela aguarda para mais uma hora de explicações, da qual ela levou a manhã inteira a preparar. Pode ser um vizinho. Pode ser alguém do qual ela nem está a perspectivar. Mas também podem ser cartas. Contas, publicidade, correspondência da faculdade. Pode ser o carteiro que faz a ronda junto à hora de almoço. Pode ser Paulo. Maria José levanta-se e ajeita a saia. Amarrotada. Suja. Carregada de evidências de um momento que ela queria recusar mas não conseguiu. Há um semblante sinistro na face da professora. Certifica-se que a blusa está composta e que Henrique já vestiu as calças. Com as maçãs do rosto rosadas, com o pescoço envolto em suor, com um nó na garganta, Maria José abre a porta. Jovem, caloiro, rapaz de aldeia, educado. O aluno que requisitou os serviços da professora para uma hora de explicação debate-se com uma situação estranha. Assiste ao sorriso imenso e prolongado da mulher e depara-se com o silêncio do homem que ele não conhece. Maria José pede ao aluno para entrar, feliz por saber que não era Paulo que tocava à campainha. Apresenta o homem como senhorio da casa e pede ao jovem aluno para se sentar no sofá. O mesmo onde ainda se deve guardar um leve aroma sexual. Apesar de perceber a desarrumação na mesa de centro, o rapaz não ousa formular pensamentos perversos sobre o que pode ter ocorrido antes dele ter chegado. Henrique começa a despedir-se. Percebe que está a mais nesta situação. Não obstante a ousadia de entrar pelo lar dela adentro, seduzi-la e encantá-la para uma foda intensa, Henrique respeita a carreira da sua cunhada. Nem se atreve a lançar qualquer comentário que seja. Apesar disso, antes de sair, ela segura com delicadeza o braço macio da mulher, dá-lhe um beijo na maçã do rosto e sorri para ela. Ao mesmo tempo, percebe o sentimento que transparece na cara suada dela. Maria José sabe que cedeu. E encontrar uma forma de olhar de novo para Paulo, não sendo impossível, é ansiosamente dificil.

5 comentários:

Anónimo disse...

Ai Maria José....
Estou à porta do seu apartamento, e o aroma Floral que senti da primeira vez que por aqui passei, ainda cá está, mas imiscuiu-se com o aroma fresco e vigoroso da relva acabada de cortar. Força, vigor, sexo e (quanto a mim) de uma paixão negada, escondida...perdida...e finalmente concretizada.

Uma mulher tão quente, tão independente, só poderia atrair para si, homens de carácter forte!
Ele ama-a e aceita que tenha tido outras experiências. Mas vai lutar por si, até ao fim!!
O Jovem carteiro é bom, mas não sinto que o ame!!

Aqui fica um grande beijinho, e o agradecimento por me ter transmitido mais um aroma.

Anónimo disse...

Estava eu a subir a escadaria do edifício, acabadinho de limpar e bem reluzente, quando chego ao primeiro andar e vejo um aluno bem jovem à porta da vizinha Maria José... A Professora abriu a porta logo de seguida mas... wow! Estava bem rosadinha! Não quis dar muito nas vistas e continuei o meu caminho para a piscina... Soube mesmo bem estar por lá. :)
Quando voltei a descer pelo elevador e cheguei ao rés do chão, fui beber um batido ao Espaço. E estava por lá o senhorio do apartamento da Maria José. Parecia feliz por algo consquistado, como se estivesse no caminho certo para o coração dela. Será? ;)

Beijocas

luafeiticeira disse...

"Nem mesmo encarnando o perfil de uma das mais nobres e antigas profissões da Humanidade." - isto devia ser lido pela MInistra da Educação:)
Pois, bem me parecia que Mª José não podia estar assim tão apaixonada pelo carteiro...
Achei piada à referência do odor que estava no sofá e lembrei-me do apartamento descrito no post abaixo - nenhum se apercebe do cheiro a sexo na cama deixado pelo outro e pelo/a amante?
Jocas

Anónimo disse...

Antes de mais grande observação da Lua Feiticeira referente ao aroma, é estranho tb só agora Helena e Rodrigo se terem descoberto mutuamente ou será que algo já se terá passado anteriormente?
Eu não sei se se pode confundir desejo sexual e instinto animal como prova de cedência por não amar outra pessoa. Quantas pessoas simplesmente não nos atraem ao longo da vida (cedendo ou refreando os impulsos pelas mais diversas circunstâncias) por algo que nem sabemos mas apenas sentimos no "ar", é como eu achar que nunca ninguém ama o outro apenas pq o o outro é bonito, tem de haver mais nessa construção do amor-paixão ao amor-afecto, mais que solidifique tudo o que é efémero.

A Maria José tem um dívida emocional de gratidão e n só!) para gerir o que só por si n pode ser posto como fiel da balança no ama n ama o carteiro. Mais... por vezes é necessário deixar o outro por amor, pode ser amor ao outro ou amor próprio. É possível amar uma pessoa e existir uma paixão inexplicável por outra, acaba, muitas vezes, por se evidenciar a escolha entre o essencial e o acessório.

E Paulo? Paulo não achará apenas qeu é fascinante para o ego uma mulher mais velha no currículo? Não querendo tecer uma análise fria, a verdade é que não me parece que para ele este caso passe de muito desejo e conforto. Como os cais que se têm...embora navegando.


Magna Magnólia, um abraço!

Magnolia disse...

Os comentários neste post são sublimes. Um agradecimento especial a todos.
PAPINHA, é difciil descrever os teus comentários, conseguir responder. A carta foi de facto entregue à inquilina do 1º direito. É verdade que é dificil escolher quando se atrai pessoas de carácter forte. Parece tarefa herculian, ingrata e talvez sem retorno. A ver vamos.
SPICY ANGEL, tu és uma verdadeira cusca!!.... Agradeço-te seres assim. :)
Há chegadas, objectivos, metas, concretizações, que para serem alcançadas têm que passar por vários obstáculos.
LUAFEITICEIRA, espero que até tenha sido uma descrição abrangente e assertiva da profissão. Quanto aos odores, é legitimo que possa ser pensado dessa forma. Ainda assim, os acontecimentos são sempre descritos com pontas soltas. Ou seja, o cheiro a sexo na cama de Rodrigo e Helena poderia ter-se mantido desde a noite anterior, ou até desde a manhã. Para todos os efeitos, este casal ainda tem uma vida sexual mútua. Claro que isto é uma suposição. A outra será mesmo a ignorância perante evidências tão claras. Mais uma vez, é deixado ao critério da imaginação de cada um que lê. beijinhos
O FANTASMA DO EDIFICIO, talvez seja como dizes, ser necessário deixar o outro por amor. Creio que seja essa a prova para Maria José. Mulher madura, com uma postura a manter. Paulo pode até querer algo para o ego, mas parece que não será apenas um caso. Acho que o que advir deste apartamento, promete. Espero que seja também essa a sensação que passe.