sábado

Estudante

Publicado a 17-06-08
Um livro de Psicologia Aplicada. Um caderno cheio de apontamentos. Uma pasta com uma resma de fotocópias de matéria dada na aula. Uma sebenta acabada de comprar como auxiliar de estudo. Uma bolsa com esferográficas e marcadores de cores diversas. Uma chávena de café. Um prato cheio de migalhas. Um pacote de lenços. Um pedaço vazio ao canto da mesa que faz parte do sofá encostado à jukebox do Espaço Magnolia. Lúcia envolve-se num estudo compenetrado. Tudo o que acontece ao seu redor, escapa à sua atenção. Até mesmo o facto de as mesas do Espaço já terem as cadeiras em cima e a funcionária estar prestes a encerrar o estabelecimento. Para além de Lúcia, há um cliente que ainda se mantém dentro do Espaço. Mas acaba de sair. Lúcia tem um ar irritado, descontrolado, ainda assim silencioso. Clarisse acaba de arrumar a última cadeira. Durante cinco segundos pára e olha para a sua última cliente. Ela realiza que uma das moradoras do Edifício Magnólia está noutro mundo. Liberta um sorriso e chega junto ao sofá onde Lúcia está sentada. Depois de riscar um pedaço de folha do caderno, ela bate com a ponta da lapiseira no conjunto de folhas, partindo um pedaço de carvão. Só depois de suspirar com força, Lúcia apercebe-se da realidade. Clarisse está diante de si, ainda com o avental encobrindo o seu corpo, com o cabelo apanhado e o pescoço húmido.
- Estás bem? - pergunta a funcionária.
- Não me consigo safar com isto. Nunca me vi tão lixada para passar a uma cadeira.
- Posso ajudar?
- Preciso de ajuda...Definitivamente. Mas nesta não creio que me possas ajudar.
- Então no que é que eu te posso dar uma mãozinha?
- Tenho assim um ar tão expressivo de quem precisa de ajuda?!
- Tens um ar abatido. Disso tenho a certeza...Não é costume ver-te assim, Lúcia.
- Sabes lá a minha vida....
- Vou só desligar a máquina de café e fechar a porta. Depois disso tenho o tempo todo para me contares a tua vida...
Lúcia leva as mãos à cara, assumindo o cansaço que a hora e o esforço pelo estudo esbateu na sua face. Ela bate com a lapiseira em cima do caderno, procurando perceber se ainda tinha paciência para continuar o estudo. Tentando descortinar em poucos segundos se teria coragem de desabafar os seus problemas emocionais com a funcionária de um café. Fecha o caderno e olha para Clarisse. Em tempo reduzido, a empregada passa o pano pelo balcão, desliga a máquina do café, desliga a maioria das luzes que iluminam o Espaço e percorre o estabelecimento até à porta de entrada. Cerra as cortinas, muda a placa do estado de funcionamento do café e encerra a porta. Retorna o passo e depois de confirmar que apenas sobrava uma ligeira luz de presença, aproxima-se da jukebox e introduz uma moeda. Carrega num botão e de seguida volta a sentar-se no sofá, junto a Lúcia. A face de Clarisse é reveladora. Demonstra seriedade. Demonstra dedicação. Revela tacto. Transparece confiança. Em silêncio, ela move a cabeça para a última cliente da noite e prende a respiração. Lúcia suspira e rende-se ao conforto.
- Não me consigo concentrar. Não dá! É impossível. E eu sei que já é tarde. Mas não consigo estudar em casa... Não tenho vontade, não tenho cabeça e sufoco só de estar ali.
- É a Tania?
- Uhm?!...Ah...A Tania?!!
- Sim!...Achas que não é visível que vocês as duas têm qualquer coisa?
- Pois...quer dizer...talvez tenhas razão...mas nós agora...bom.. não temos qualquer coisa... tivemos...
- Queres falar?
Lúcia cinge o olhar na amiga. Na novel amiga. Na amiga de circunstância. Clarisse é uma funcionária exemplar. Conhece os clientes. Aproxima-se com tacto deles. Sabe quando é o momento certo para um sorriso, para uma palavra, para um gesto. Sem pedir nada. E os clientes aproximam-se dela. Sentem-se envolvidos. Pelo seu sorriso, pela sua ternura. Pela sua surreal forma de ser. Clarisse é apenas mais um pedaço sublime deste Espaço. O elemento humano, mas transcendente à realidade. E a jovem morena que mora no 2º esquerdo sempre guardou um carinho especial pela funcionária. Claro que toda a gente que entra no Espaço o sente. Mas esse é o dom de Clarisse. Ser genuinamente especial aos olhos de cada cliente. E agora que ela acaba de entrar na bolha fervilhante de Lúcia, agora que ela conquistou a confiança dela para um desabafo, tudo é possível. Porque isto já é mais do que uma amiga de circunstância.
- Fiz merda....Fiz uma grande merda e a culpa nem sequer é minha...
Com palavras pesadas, com pensamentos que fluem como um barco no meio de uma tempestade, Lúcia desabafa. Conta o que se passou no 2º esquerdo. Desde o inicio. Desde que ela conheceu a Tania e arrebatou uma porção inimaginável do seu coração. Ilusão ou paixão, as palavras dela sobre a vivência no peculiar apartamento prosseguem para tudo o que tem estado preso num nó seco na garganta. Os primeiros beijos, a rendição de Tania, o beijo do namorado dela, a Joana, a paixão no jacuzzi, as noites quentes em ambos os quartos e tudo o que antecedeu o fatalidade da revelação na sala do apartamento. Clarisse ouve. Sem evidenciar o cansaço que naturalmente invade o seu corpo depois de um dia cheio de trabalho, a jovem morena escuta as peças do dilema que afecta a sua cliente e amiga. Encosta-se à almofada vertical do sofá e coloca um cotovelo no topo do mesmo. A mão segura a cabeça e um sorriso discreto caracteriza o seu semblante.
- Nem sequer a Joana quis acreditar.... Ninguém acredita se eu disser que pensava contar-lhe naquela noite sobre o beijo...
- Eu acredito...
Quarenta e dois minutos depois de Lúcia confessar à funcionária que tinha feito asneira, a estudante recebe as primeiras palavras reconfortantes, desde que Tania lhe fechou a porta na cara. Aquela confissão de Clarisse gera impacto. Talvez ela nem o tenha dito com convicção. Mas encheram o peito de Lúcia. E ela pura e simplesmente cessa de falar. Olha para Clarisse e procura uma reacção. Porque ela acaba de congelar. A funcionária do Espaço Magnolia expande o sorriso. Bonito, comovente, sensual. Lúcia sente um arrepio interior. Algo a invade e ela não sabe o quê. Algo mudou aqui dentro e ela tenta perceber onde. A ténue luz ambiente tranquiliza a mente, é um facto. É surreal que uma moeda na jukebox faça rodar tanta música sublime incessantemente. O sofá parece mais mole do que quando Lúcia se sentou ali, depois da hora de jantar. Ainda assim, ela sente um impacto forte a recair sobre si. Clarisse não se move. No entanto, parece que ela se aproxima constantemente. Será o cansaço dos olhos de Lúcia? Será apenas uma confusão de percepções na sua mente? Na verdade, a estudante fixa agora toda a imagem da amiga. Os dedos entrelaçados nos cabelos negros. O corpo tem tendência a pender para diante. Até os enormes seios de Clarisse parecem mais descobertos, mesmo que debaixo do top azul. Ela pressente as pupilas dos olhos da funcionária a dilatarem. As maçãs do rosto ruborizam suavemente, mas é evidente que existe algo químico a transformar-se. Lúcia percebe. Lúcia entende. Lúcia respira fundo. Morde o lábio inferior e cerra as mãos. Os lábios de Clarisse palpitam. E quando Lúcia se prepara para humedecer os olhos cansados, fechando as pálpebras, vê a cabeça de Clarisse aproximar-se.
- Não!...Não consigo fazer isto... - confessa Lúcia.
- Fazer o quê? - pergunta Clarisse com um suposto ar de surpreendida.
- Ias beijar-me...
- Eu ia beijar-te ou tu achas que eu te ia beijar?
Depois de acelerar o ritmo da respiração, Lúcia volta a sentir um nó na garganta. Cansada, confusa e agora envergonhada. Ela de facto não pode confirmar que Clarisse a ia beijar. Foi uma percepção, talvez uma ilusão. Possivelmente uma ideia que a sua própria mente quis criar. Porque Lúcia não consegue negar a si mesma a apetência por uma jovem como Clarisse. Bonita, sensual, carnalmente voluptuosa, serenamente cativante. Estaria a enganar-se a ela própria, se considerasse que a funcionária do Espaço Magnólia não a atrai sexualmente. E não é de agora. Apesar de todas as inerências. Não obstante o facto de a sua cabeça ainda estar a reagir a um desespero sentimental, Lúcia mergulha num desejo com poucas chances de retorno.
- Não sei... Desculpa... estou baralhada... Desculpa... Desculpa se achava que te estavas a atirar a mim...
- Não peças desculpa...
- O que queres que diga?
- Se te decides por beijar-me ou não...
Lúcia está perdida. Noutra ocasião, noutro local, ela já teria arrumado os livros, os cadernos, a mesa inteira, e ter-se-ia entregue ao cansaço, deitando-se na cama. Mas ela está no Espaço Magnólia. Há algo que a move. Que a obriga a manter-se acordada, que a incita a sonhar. Nem tentando ela consegue esquecer a Tania e tudo o que tem envolvido pensar nela. Mas há um aperto no coração. Muito forte. Há casaco de forças que a prende e que impede o regular funcionamento do seu quotidiano. E se não há solução à vista quanto ao perdão da colega de casa, ela sente que de alguma forma tem que gritar. Tem que libertar a ansiedade que se espalha pelo seu corpo. O vazio que se tem acumulado no seu espírito atormenta-se. Na indecisão da jovem estudante, Clarisse invade os lábios da cliente. De imediato, a mão da funcionária segura a face intranquila de Lúcia. A estudante sente-se arrebatada. Na pressão frenética de ideias dentro da sua mente, ela sabe que aquele beijo contraria tudo aquilo com quem tem vindo a batalhar nos últimos dias. Mas enfim, a sua vivência tem sido uma constante contradição de quereres, desejos e concretizações. Clarisse beija divinalmente, cheira a feitiço e carrega em si a certeza de ambicionar uma relação carnal feminina.
- Agora que me beijaste, vais querer ir embora? - pergunta Clarisse.
- Não...
Esta é a resposta mais confiante que Lúcia se recorda de ter dado nos últimos tempos. A entrega da funcionária é confirmada quando o seu peito volumoso se descobre por completo. Clarisse despe o top com um sorriso e percebe o fascínio que toma conta da face da amiga. Surreal. O Espaço remodela-se. Ganha um novo sentido. Modifica o seu ambiente. E não é só a iluminação que altera as tonificações de cada recanto. No sofá, a aura que se intensifica parece que pinta um enorme foco de luz nas duas jovens. Porque toda a energia se concentra ali. Nas mãos de Lúcia que procuram tocar no corpo da funcionária. Na boca fina de Clarisse que faz vibrar a pele macia da cliente. Em cada peça de roupa que se desfaz no chão do café. No empurrão que aperta a moradora do Edifício contra o encosto do sofá, ao mesmo tempo que recebe mais um beijo fogoso. Na ponta dos dedos que tatua a pele húmida de Clarisse. Nos cadernos que caem da mesa, pelos movimentos bruscos das mulheres. Na música que fortalece o ambiente de emoções fortes. No tecido do sofá que aquece os corpos despidos. Na dança que elas roçam entre si mutuamente, na tentativa de conhecer a carne da amante. E tudo deixou de ser o que se entendia como normal. Lúcia entrega-se a alguém no meio de um turbilhão de sentimentos. Clarisse torna o local de trabalho num autêntico recanto erótico, intimo e seu. Por esta noite, o sofá deixou de ser um local de refeições. Após a hora de encerramento, o Espaço Magnolia é a concretização de um desejo transcendente.
É inesperado. A noite já nem sequer consegue acompanhar o decorrer das horas. É tarde. Muito tarde. Não há movimento na rua. É mágico. O interior do Espaço é mais privado do que nunca. Em cima do assento do sofá, Clarisse está deitada de lado, vestida apenas com uma tanga rendada azul. À sua frente, também em cima da almofada do sofá, Lúcia está deitada de lado, envolta no braço direito da nova amante. A área é reduzida, as jovens não são propriamente esguias, mas o desejo torna tudo possível. A mão de Clarisse é aventureira. Meiga, perspicaz, intensa e ousadamente aventureira. Por entre as coxas sobrepostas de Lúcia, ela roça os dedos nos lábios vaginais. Pressente as reacções dela e beija o ombro tépido e macio da estudante. Lúcia suspira. Sente o braço esquerdo da amante preso entre a almofada e o seu corpo, com a mão a segurar o enorme seio. Ela tem os mamilos quentes e os bicos rijos, fruto da ansiedade misturada com a excitação. Ao mesmo tempo, sente as mamas da amiga a roçar nas suas costas. Lúcia quer concentrar-se e ter consciência de quem é na verdade a rapariga que a está a masturbar. Porque o cansaço é evidente em todas as reacções da jovem. A suavidade com que Clarisse acaricia o seu sexo deixa-a ainda mais relaxada, mais absorvida numa emancipação do sono. Mas ela quer. Ela precisa que explorem os seus anseios, os seus medos, as suas explosões intimas de desejo. Não é Tania que está nas suas costas. O corpo que se aperta nas suas costas é semelhante. O toque das mãos é quase idêntico. As mamas que se esborracham contra a coluna fazem lembrar os seios grandes, gelatinosos e redondos da sua colega de casa, outrora amante, agora utopia. Clarisse dedica-se. Tem consciência do cansaço da sua cliente e toma conta dela. Faz questão de entregar gestos e caricias, transportando-a para onde a funcionária entende que é o caminho. E esse trilho é macio. É intenso. Reconhece-se com a palma da mão cheia da funcionária, percorre-se no ventre terno de Lúcia, divaga-se no peito de Clarisse que se move, roçando em toda a extensão das costas da amante. A estudante aceita-se na condição de apoderada. Controla a sua respiração, fecha levemente os olhos e vagueia na surrealidade do momento. A mão esquerda acaricia o seu outro seio. A mão direita segura a mão da amante. Talvez a conhecer o membro que ela não conhece. Talvez a pedir um pouco mais. Clarisse insiste na caricia ao exterior da vagina de Lúcia. Ainda assim, a ponta dos seus dedos quer mais. Procura penetrar, mas é muito apertado. Na persistência dessa apetência, a responsável pelo encerrar da porta deste café movimenta o joelho direito e abre espaço entre as pernas da rapariga. Com as coxas abertas, o sexo mais liberto, Lúcia deixa que os dedos anelar e médio da mão direita da amante consigam perfurar por entre os seus lábios vaginais. Um gemido. Um suspiro. Uma vibração em todo o corpo que altera o batimento do coração de Lúcia. A jovem funcionária entende o nervosismo da amiga. Com o punho sobre a anca dela, a circulação da rapariga masturbada parece fervilhar. Clarisse liberta um sorriso e prossegue a ousadia. Com uma coxa erguida, pousada sobre o joelho da amante, Lúcia continua a entregar-se à paralisia corporal, ainda que excitada intimamente. Coloca o pé na ponta da mesa e abre ainda mais a sua rata. Pressionada com o joelho de Clarisse, bem como os dois dedos que penetram com vigor no seu âmago, Lúcia derrete-se. A sua mão esquerda agarra os dedos da amiga, transportando até à boca o indicador direito de Clarisse. A jovem chupa o dedo à medida que percepciona a excitação que invade a sua mente. As ancas de Lúcia movimentam-se ligeiramente, incitando a parceira a masturbá-la com mais convicção. E Clarisse sabe o que faz. Delira com o que faz. Esfrega a rata alheia com mais intensidade e com mais ritmo, perturbando a serenidade da amante. A imagem é sublime. Num local inusitado, numa hora despropositada, o Espaço Magnólia vive um momento absolutamente excitante, proibido e excêntrico. Em cima do sofá, algo é libertado. Poderá ser o casaco de forças psicológico que Lúcia quer romper. Poderá ser o desejo carnal de Clarisse a atingir o seu ponto mais alto. Poderá ser a posição ousada e indescritivel que este adereço do café experimenta. Amanhã alguém se vai sentar aqui para tomar o pequeno almoço. Amanhã alguém vai escolher esta mesa para partilhar um batido com uma pessoa amiga. Amanhã esta será um dos poucos lugares vagos para conseguir almoçar uma salada. Amanhã, depois de tantos pedidos distintos, Clarisse vem trabalhar com a certeza de que este lugar lhe pertence. Como uma posse que jamais alguém procurará igualar. Amanhã, não importa a hora, este sofá terá ganho uma história, um sentimento, uma magia, um traço único desenhado pelas mãos de Clarisse no sexo de Lúcia. Porque será memorável voltar a imaginar o orgasmo que a inquilina do 2º esquerdo solta neste instante, em que a mão da funcionária parece ser engolida pela rata da amante e que com gemidos profundos, a estudante chupa o dedo da parceira. Amanhã, este sofá deixa de pertencer ao estabelecimento. Por agora, Lúcia sente as mãos da amiga a vaguearem pelo seu corpo. Sente os lábios dela a beijarem-na depois do orgasmo. Sente o peito da funcionária a debruçar-se sobre o seu. Amanhã, Clarisse ainda vai levar o dedo da mão direita à boca. Suavemente, levemente. Irá com certeza conseguir sentir um leve sabor da vagina encharcada de Lúcia. Amanhã, o sofá alcançará um lugar especial na memória da duas jovens e na fantasia de quem alguma vez ousar sonhar que duas mulheres se envolveram sexualmente e espiritualmente ali.
- Tenho que ir... - confessa Lúcia, abrindo os olhos a custo.
- Não precisas...
- Sabes que sim. Não te posso levar para minha casa. Não tenho coragem de adormecer com alguém...Para além do mais, estou morta de cansaço.
- Estás melhor?...
- Amanhã irei percebê-lo...
- Se tomares o pequeno-almoço aqui comigo, talvez mo possas dizer...
- Clarisse...desculpa...não sei se isto foi um erro ou não. Mas mesmo que não seja, eu não quero nenhum envolvimento.
- Nem eu o pedi...Nem to vou pedir. Compreendo o que sentes mais do que possas imaginar...Curtimos. Eu gostei. Tu também pareces ter gostado. Um dia voltaremos a repetir. Quando...não sei... Só quero que tenhas uma boa recordação do que aqui se passou.
- Já tenho...
- Então, pode ser?... Amanhã?...
Hoje, em que os olhos de Lúcia já não se aguentam abertos. Hoje, que algo pareceu diferente na vida de Lúcia, por uns momentos. Hoje, que ela experimentou algo inigualável. Hoje, que um pedaço do que aprisiona a sua mente foi solto. Hoje, que a paixão e o desejo carnal superaram qualquer ilusão amorosa. Hoje, Lúcia é uma mulher tranquila. Quando acordar, tudo voltará ao mesmo. Possivelmente. Mas quando se sentar neste sofá, com dezenas de pessoas à volta, com um sumo de laranja natural e uma torrada, Lúcia irá soltar um sorriso efémero, surreal mas consolador.

7 comentários:

luafeiticeira disse...

Realmente a fantasia ultrapassa a realidade; toda esta história só poderia acontecer na imaginação, não vejo que uma cliente desabafe a sua vida a uma empregada de café que tenha o prémio duma masturbação, mas é mesmo o sonho que nos faz andar, é o irreal que nos dá alento, a criatividade que nos liberta do quotididiano...
òptimo, como sempre.
beijos

Anónimo disse...

Lindo blog, delícia de ver e de sentir.
Parabéns!
Beijos com carinho para ti ;)

Anónimo disse...

Magna Magnólia,

Tenho tido o hábito de me dirigir aos moradores, mas desta vez não consigo.
Lúcia é uma personagem que não me atrai, não consigo encontrar-me com ela. Ao contrário do que acontece com a Tânia, a Lúcia não me cria nenhuma sensação de empatia.. De qualquer das maneiras, um bem haja à qualidade da escrita e à capacidade de escrever e actualizar um blog deste género tão frequentemente!

Beijinhos recheados de Aromas!!!

Sarah disse...

Adorei o texto! Tenho vindo ao edifício com mais assiduidade, mas confesso que ainda não me inteirei de tudo... Ainda tenho que tentar perceber quem é quem, mas perco-me deliciosamente nestas fantasias!
beijo doce

Anónimo disse...

Eu adoro a personagem da Lúcia por ela ter uma personalidade tão magnífica e agora estar numa situação simplesmente injusta. Já disse uma vez que ela cometeu um erro em não dizer à Tânia, mas foi apenas isso... Não gosto de ver a Lúcia cabisbaixa. Nem ela nem a Tânia. Quando é que fazem as pazes? :P

Beijocas

Magnolia disse...

LUA FEITICEIRA, o melhor que te consigo responder é que efectivamente o Espaço Magnolia assume uma faceta surreal e transcendente na vida das pessoas. E se assim o é em horário normal de funcionamento, mais o é quando a porta está encerrada. Um pedaço assim tem mesmo que nos tirar do sério :) Espero que tenha sido conseguido.
NATURLINE, continua a aparecer se gostares do que sentes. Beijinhos
PAPINHA, depois da menção entregue só é possível concordar ainda mais com a atribuição a ti. Acho que até as tuas criticas ou opiniões são bem medidas, escritas de forma concreta e com alma. Tens todo o direito de não te encontrares com Lúcia. Aliás, é sempre bom alguém ser franco e dizer que não gosta dela. E se tens empatia com a Tania, acho que isso só pode gerar boas sensações ao leres as próximas revelações. Julgo eu... Beijinhos.
SARAH, o que for necessário para te inteirar de todos os pormenores do Edifício, é só perguntar. Ou ler 100 posts...lol. Agradeço a tua assiduidade :) beijinhos
SPICY ANGEL, numa semana que promete, com reflexos e ambiguidades, nada como começar com opiniões divergentes. Se gostas da Lúcia pelo que recolhes da personalidade dela e da continuidade da sua vivência só fazes bem em dizê-lo. Quando é que elas fazem as pazes? Acho que será preciso algo poderoso para as reaproximar. Quanto à Lúcia andar cabisbaixa. Cedo ou tarde a cabeça vai erguer. Beijinhos

Anónimo disse...

Ousadamente fascinante. Não posso negar que nessa noite fui voyeur e gradualmente percebi as intenções de Clarisse. A jovem queria uma experiência nova, mais que isso queria sentir o poder de dominar o desejo de alguém que sabe bem ter conhecimentos e vivências que não a deixariam surpreender. Mais, Clarisse queria cuidar de Lúcia e Lúcia está confusa, está abalada por todo o seu passado recente ter sido desmoronado. Sente-se só e além de tudo vive a pressão do estudo que se impõe imperturbável ao seu estado de alma. Lúcia, claramente, gosta de Tânia; Lúcia sabe que predominantemente Tânia é hetero e dificilmente optaria por uma relação assumida com ela. Mas neste momento creio que pelo redemoinho que rodeia o seu dia-a-dia Lúcia apaziguava-se com um perdão.
Talvez Lúcia precise de mais, talvez Lúcia não queira voltar ao Espaço Magnólia por que pode ser viciante em situações de fragilidade um conforto que apenas oferece prazer e bem estar sem nada exigir. Uma quis a outra permitiu, o equílibrio é ténue, mas a vida é um momento e um momento pode marcar uma existência.

A música enfeitiçava o ambiente, e no ar passeava o conhecido aroma a café e um desejo em iminente explosão, a vontade imperou e os sentidos renderam-se.
Nesse dia Lúcia não se envolveu apenas se permitiu uma descompressão unusual.

Até já.