quinta-feira

Porque...é que tudo isto parece inevitável

10:21 - A ronda diária está quase concluída. Paulo altera quase sempre o trajecto elaborado pelo seu superior. A rua onde está estabelecido o Edificio Magnólia costuma ser trocada com uma avenida três quarteirões acima. Normalmente, o carteiro deixa este arruamento como conclusão do seu trabalho, antes de se dirigir novamente à estação de correios. Depois de entregar a correspondência em todas as caixas de correio do lado esquerdo e do lado direito da estrada, o jovem profissional dirige-se à entrada do seu edificio predilecto. Coloca as cartas nas devidas ranhuras e toca à campainha de um apartamento no terceiro andar, para entregar uma carta registada. Ninguém atende. Notifica a ocorrência e deixa o aviso na caixa de correio. Depois, Paulo respira fundo e pressiona o botão do 1º direito.
10:25 - Maria José abre a porta. Entrega um sorriso ansioso ao seu carteiro. Entrega um olhar que lhe diz o quanto ela o deseja. Entrega a sua casa. Entrega o seu mundo a partir do preciso instante em que ela pega o braço dele com a sua mão húmida.
- Desculpa, estava a lavar a loiça e.....
Paulo sorri. Gosta da forma como a mulher quarentona, madura mas frágil demonstra satisfação por o ver entrar no seu apartamento. Segura a mão terna dela, ainda que humedecida pela água morna. O habitual destes encontros entre Maria José e o seu carteiro é abrir o desejo e procurar a forma mais fácil, mais rápida e mais directa de extravasarem a excitação que percorre as veias dos dois amantes. Mas desta vez, algo os prende. Algo os mantém inertes junto à porta. A mão da professora roça pela face dele, acarinhando a pele jovem dele.
- Posso pedir-te um beijo?....
- ....Podes....
- Tenho saudades de beijar a sério um homem e....
Sem qualquer hesitação, ela aproxima-se dois palmos do seu amante e entrega-lhe um beijo. Não um beijo quente. Pode parecer um beijo ansioso, carregado de desejo e fervor sexual. Não. É tudo isto, misturado com uma paixão intensamente surreal. E um beijo assim, Maria José não se recorda de partilhar. E um beijo assim, Paulo nunca sonhou receber. Após a envolvência dos lábios, após uma repetição de cada gesto, numa clara demonstração de querer aquele beijo eternamente, depois de tudo isto, ela regressa ao mundo. Ao mundo onde tem um amante diante de si que entrou ali porque a quer possuir. Maria José olha novamente para ele e pega no braço do jovem.
- Vem...
10:28 - Sentados na varanda do apartamento que Maria José alugou, os dois adultos olham em silêncio para o exterior. Para a rua do Edificio Magnolia, onde o quotidiano decorre, indiferente à paragem no tempo que ocorre naquele ponto. Paulo desvia o olhar para a sua amante, fixando os pormenores corporais da mulher. A roupa que ela vestiu há poucos minutos. O cabelo quase seco do banho que lhe dá um odor perfumado. A frescura matinal que ele se habitou a ver e a querer. Detalhes românticos à parte, Paulo procura a melhor peça de roupa para começar a despir a amante. E quando a mão dele pousa sobre a coxa dela, mesmo junto ao fecho das calças de ganga, Maria José gira a cabeça e olha para ele. Inspira fundo e difunde um enorme sorriso.
- Quase todos os dias, a esta hora, fico aqui...A ver a rua, quem passa, o que acontece, até quando é que possível ter esta tranquilidade, pergunto-me como é que há pássaros que ainda vêm aqui cantar, para onde é que eles vão.... E depois penso o porquê?
- O porquê do quê? De estares aqui?
- O porquê de estar sempre tão ansiosa que toques à minha campainha.
- ....Isso...Isso é bom....
- Que entres nesta casa e que te sintas bem. De pensar sempre o que podemos fazer hoje e....
- O que vamos fazer hoje?
10:35 - A professora já não tem as calças vestidas. Apesar de só soprar uma ligeira brisa, a camisola vermelha que se ajusta ao corpo dela não é suficiente para a deixar quente. Paulo está ajoelhado no chão da varanda. Acaricia as coxas da amante e levanta a cabeça para lhe sorrir. O sexo dela está descoberto. Ligeiramente húmido e sedento de ser tocado. Maria José quer libertar um sorriso, mas a sua ansiedade prende todo o seu corpo. E até ele encostar a face à rata dela, a professora não vai largar um único som. Porque depois, com a ternura do toque dele, com a língua a deslizar pelos lábios vaginais, com o indicador e o polegar dele a segurarem o clitóris molhado, com toda a envolvência que está diante dela, Maria José é obrigada a soltar um gemido. Ela abre um pouco mais as pernas e deixa que o jovem a lamba. Mas ele faz mais do que isso. Come a rata, contorna cada pedaço, abre os lábios e penetra com a língua bem fundo. O rasgo nervoso que incha na vagina dela estimula-se. Segura a excitação dela enquanto ele liberta toda a fúria em querer lamber o sexo feminino. As mãos dela, agora secas, acariciam os cabelos do rapaz. Os seus pés descolam do chão. Maria José não sabe se sonha e flutua, se aquilo é apenas fruto da sua excitação. Ela puxa a cabeça dele contra si, enterrando a boca de Paulo entre as suas pernas. O nariz dele roça nos pêlos púbicos castanhos claros da mulher. Mais um gemido, mais um testemunho da intensidade do sexo oral que o amante lhe proporciona. Maria José levanta as pernas e coloca as coxas sobre os ombros do carteiro. A excitação apodera-se de todo o corpo da mulher. Os dedos dos pés seguram-se ao muro frontal da varanda. O seu tronco inclina-se para a frente, deixando a cabeça do homem mais aprofundada no âmago dela. A rata dela está molhada e Paulo prova-a. Os lábios dele esfregam nos lábios vaginais inchados. Os dentes trincam ao de leve o clitóris mas trazem uma onda de euforia ao intimo de Maria José. Ela agarra-se com força aos cabelos dele e olha em frente. Há sempre a possibilidade um vizinho perceber o que se está ali a passar. Ela quase que abraça o amante, escondendo a sua rata de olhares indiscretos. Mas não é posta de parte a probabilidade de a acção sexual inusitada de Paulo e a sua amante estarem a ser vigiadas. Mas quanto mais Maria José olha para o exterior da sua varanda, mais aumenta a sua tesão e a abstracção da realidade. As mãos de Paulo rodeiam o corpo dela. Abraçam as coxas dela, acariciam as nádegas, apertam tudo o que é dela contra a sua face. E ela vem-se. Com uma inevitabilidade desmesurada. Tão certo como o carteiro apenas tocar uma vez à sua campainha. Sem conseguir desmentir que era aquilo que esperava. Maria José explode por entre as pernas e espalha o seu prazer na boca do seu amante intenso. E o abraço é mais forte. É uma comunhão entre os dois. É um pacto de prazer. É uma rendição à evidência daquilo que eles queriam e obtiveram. Paulo guarda agora muito mais do que um beijo romântico na sua boca.
10:43
- Com certeza que já te passou pela cabeça que é uma loucura o que fazemos.
- Porquê?
- Não sei....A tua idade...a minha idade....os nossos encontros fortuitos.
- Maria José...talvez pareça ridículo, mas...que importa a idade? Eu gosto de estar contigo...acho que tu sentes o mesmo....és uma mulher descomprometida....eu também....
- Gostas de estar comigo?
- ....Sim....
- Então fica comigo.
- Como assim?
- Passa o dia comigo...deixa-me ficar com este sorriso até adormecer...Fica aqui comigo...Almoças aqui e....
- Tenho que ainda ir trabalhar...
- Mas esta não era a tua última rua?
- Normalmente é, mas hoje não consegui trocar.
- Tens que ir?
- Tecnicamente....
- Janta comigo. Passa a noite comigo....Vais ver que vais gostar. Adormece comigo e amanhã esta será a primeira rua em que trabalhas....
Paulo descola as suas mãos. Abre os braços que envolviam o tronco da sua amante e apalpavam os seios cobertos de Maria José. Afasta as pernas e levanta-se. O carteiro já não está nas costas da professora, abraçado a ela, confortando-a. Ele ainda não respondeu. Mas Maria José está confiante. Tem a certeza do esplendor daquele momento. Deste instante em que Paulo, o seu carteiro, a sua visita dos dias úteis, o seu amante, a agarrou coo se pensasse que nunca mais a fosse largar. E quando tudo parece especial demais, gera-se um silêncio. Gera-se um olhar brilhante na face de Maria José. Gera-se um sorriso ansioso no semblante de Paulo. Gera-se uma empatia anormal entre os dois. Apenas semelhante ao momento em que ambos se viram pela primeira vez. Os mamilos de Maria José ainda estão entesados, como sempre. Cedo ele sai e ela é uma mulher feliz, ansiosa por explodir a sua felicidade.
10:49 - O carteiro ainda tem que prosseguir o seu trabalho. Não é um desejo, não é algo que tenha efectivamente que ser feito. Mas tudo tem o seu tempo. Tudo tem a sua explicação. Paulo abre a porta de entrada do Edificio Magnolia e antes de entrar no passeio, apercebe-se de uns ruídos no altifalante de serviço. Provavelmente Maria José levantou o microfone. Possivelmente está agora a olhar para ele através da câmara. E Paulo olha para o vazio. Tudo parece perfeito. Porque tudo tem que acabar por acontecer.
- Amo-te!... - diz a voz distorcida de Maria José.
Ele fica impávido depois de ouvir aquela palavra com sufixo. Por uns segundos, ele mantém a face virada para a câmara. Depois ajeita a mala onde ainda tem o resto do seu trabalho e verifica que está pronta. Levanta a face e volta a fixar a câmara. Agora, mais do que nunca, Paulo sabe que olha para Maria José. E entrega então um sorriso revelador. Ainda há lugar para o amor no Edificio Magnolia.

4 comentários:

cheiodetesao disse...

Excitante, este post...

Bom fim de semana, Magnolia.

Anónimo disse...

Magnólia,

Maria José começa a brincar demais com o que sente... a envolver-se demasiado para lá das sensações. o amo-te terá sido uma promessa ou a dúvida de querer apenas prazer na segurança de um regresso ainda que... sem comprometer a sua liberdade...
Maria José quer permanência ou sonhar?
Cada vez mais excitante magna Magnólia... Maria José também precisa de recordar em casa aquela fantasia que relaizou em tempos... deixa-me imaginar...permites-me?

Sorrio...

luafeiticeira disse...

E aqui o carteiro toca sempre uma vez, imagina que tocava duas...:-) Essa de Maria José dizer ao carteiro que o ama (com sufixo ehehe) é que é um bocado americanado, pois não nos parece que tenha alguma verdade.
beijos

Magnolia disse...

CHEIO DE TESAO, boa semana.... :)
FANTASMA DO EDIFICIO, com certeza não será uma promessa. Seria uma promessa demasiado forte. Possivelmente procura um conforto constante...Se compromete a liberdade....O tempo o dirá. Podes sempre imaginar o que pretendes, fantasma.
LUA FEITICEIRA, é melhor não imaginar se tocar duas vezes. Imagina apenas quando se ele não precisar de tocar. Americanado??? O tempo dirá quão verdadeiro foi soltar uma palavra tão forte. beijinhos