terça-feira

Céu nublado

A noite convida a ficar em casa. A noite pede para que se olhe para o interior do lar e se aprecie as virtudes de um serão caseiro. A sala aconchegadora. A cozinha onde se prepara um jantar quente. A intimidade que se vive ao percorrer cada corredor. Os segredos que se podem guardar no quarto de porta fechada. No 2º direito, a noite esconde as nuvens escuras que cobrem a lua. A luz acesa do abat-jour colocado na sala próximo da televisão, demonstra que há poucos minutos houve vida no sofá. De resto, todas as luzes estão desligadas. Na brecha que existe por baixo da porta do quarto de Lúcia, escapa-se um rasgo de luz. No seu interior, a luz do candeeiro da mesinha de cabeceira ilumina a presença humana que ainda não adormeceu nesta divisão. Ouvem-se gemidos. Do lado de lá da parede, onde Tania goza a noite com o seu namorado. Do lado de cá da parede, onde Lúcia partilha o prazer com a sua amiga colorida, Joana. É um abraço. Um abraço fraterno, intenso e peculiar. A amiga loira está deitada em cima de Lúcia. Os seus braços envolvem as pernas rechonchudas da morena, que por sua vez enche as mãos na carne do rabo da sua visita. Joana tem a boca dentro do sexo da amante. A morena junta os lábios e chupa o clitóris saido da amiga. Não obstante essa acção, os seus dedos abrem as nádegas formosas da loira e massaja o buraco anal da jovem. Elas envolvem-se numa posição sexual habitual nas suas noites intimas. Em casa de Joana, no quarto de Lúcia. Dá-lhes prazer, dá-lhes gozo saber que ciram uma simbiose de delirio intenso. Para si mesma e para a companheira. Sabem que tudo o que estão a dar, vão receber em troca. Sabem que o mais provável é um orgasmo suceder outro. E tudo ser incontrolável. A posição em que elas se encontram agora proporciona um descontrolo na forma como podem saber o que vai acontecer de seguida. Nunca se sabe quando tudo vai terminar. Nunca se sabe se a parceira vai parar por ali. E se alguém recomeça, a outra vai querer também continuar. Os cabelos pretos de Lúcia espalham-se pelos lençóis lavados e perfumados que ela mesmo colocou nesta mesma tarde. Os cabelos loiros de Joana suam até às pontas. Todo o seu corpo está húmido. Toda a sua pele escorrega no corpo da amante. A intensidade dos chupanços que a amiga faz no seu clitóris, nos seus lábios grandes e no interior da sua rata, obriga a que ela procure controlar tudo o que vai sair dentro de si. A profundidade da lingua da amante, estimula Lúcia a querer mais, a sentir mais, a libertar mais. Ouvem-se gemidos abafados. Os da morena são longos, com uma carga de loucura no seu timbre. Os de Joana são mais timidos. Vão sendo largados da sua garganta de cada vez que sente o seu clitóris palpitar. As enormes mamas de Lúcia esfregam-se no ventre de Lúcia e os seios queridos da loira roçam no umbigo da amante. No momento em que a inquilina empurra a sua convidada e força a virarem os dois corpos, Lúcia não resiste mais. Deita-se sobre o corpo dela e enterra um dedo no rabo dela. Morde com os lábios o clitóris e vem-se. Mas vem-se como se a plenitude daquela noite fosse direccionada apenas para aqueles segundos. A partir dali, Lúcia será uma mulher radiante. Joana acompanha-a. Recebe o prazer encharcado que jorra da rata da amiga e goza todo o sabor. Lambe o intimo da anfitriã e abraça com ainda mais força as pernas dela. Quando tudo rebenta, quando os sexos estão saciados, quando o corpo deixa de ter controlo sobre si mesmo, as duas jovens afastam-se. Lúcia deita-se na sua cama e olha para o tecto. Em posições inversas, as duas jovens seguram as mãos, demonstrando que o prazer foi mútuo, que a entrega foi partilhada, que a noite pertence a um só sentimento. Elas adoram comer-se.
- Uhm...já tinha saudades, miga...
- Lúcia...isto que eu ouço são os teus gemidos ou são os meus? Ainda me estou a vir?!
Efectivamente, ouvem-se uns gemidos, misturados com gritos e palavras de prazer. Mas as duas jovens já completaram a sua libertação. Respiram fundo, estão fegantes, mas já não se estão a vir. Mas os gritos excitantes mantêm-se.
- Não, Joana....é a Tania...
- Meu Deus! Ela é mesmo expressiva!
- É um festival...todas as noites....
- Consegues perceber o que eles estão a fazer?
No quarto ao lado, Tania entrega-se ao amor da sua vida, Filipe. Ela não pára de gemer. Não diz coisa com coisa, mas entende-se que está a adorar e não quer parar.
- Segundo o que percebo...E se não estou em erro já de outras noites....ele está a lambe-la...
- E nota-se que ela está mesmo a gostar....
- Imenso.....
As duas jovens riem-se. Começam a movimentar-se e aproximam-se uma da outra. Sentadas na cama, elas beijam-se. Trocam as linguas e provam os sabores que no fundo, lhes pertencem. As mãos de Joana acariciam as mamas da amante. Lúcia deliza os seus dedos pelas costas da loira e sente uma vibração percorrer toda a espinha dela. Voltam a abraçar-se. Roçam as bochechas uma na outra. Mais um beijo, as mãos a acariciarem os cabelos mutuamente entre a loira e a morena. Quando o olhar se troca, existe um pensamento agradável. Joana gosta de estar ali. Lúcia sente-se bem de ter uma amiga como Joana a aquecer-lhe a cama. A anfitriã levanta-se e pega no robe.
- Vou só à casa de banho....Não adormeces? - diz Lúcia.
- Eu espero por ti. Espero toda a noite por ti, amor.
Aquelas palavras soam-lhe bem. Lúcia sente-se satisfeita por alguém demonstrar um carinho assim por si. Seja num momento mais intenso, seja num beijo, seja num simples olhar. Elas não estão apaixonadas. Não se amam, pelo menos no sentido profundo da palavra. Afeiçoam-se, partilham-se e trocam segredos. Lúcia não se imagina a ter uma relação séria com Joana. Talvez porque tudo seja tão bom assim. Aprofundar a relação, dar-lhe outras bases, pode trazer compromissos dos quais elas não sentem que tenham que ter. A casa de Lúcia está aberta à amiga e vice-versa. De quem Lúcia gosta, já não é segredo. Quem Lúcia quer partilhar um quarto todas as noites, está no quarto ao lado a foder com o namorado. Os gemidos no quarto de Tania já cessaram. Apesar do silêncio, Lúcia cobre o corpo e entra no corredor, directa para a casa de banho.
A porta da pequena divisão abre-se após quatro minutos. A respiração de Lúcia já tranquilizou. Mas a sede apodera-se do seu organismo. A jovem entra na cozinha e apercebe-se que está uma luz ligada. Vem da marquise ao fundo. Ao dirigir-se ao frigorifico, percebe que não está sozinha. Filipe, o namorado de Tania também está ali. Levantou-se há um minuto para também saciar a necessidade do seu corpo após tão exaustiva noite. Quando se apercebe que a colega de Tania está ali, ergue o olhar e sorri. Lúcia procura responder, mas nunca lhe sai um sorriso certo. Parece sempre falso, perante tal jovem. Filipe está de boxers. Segura a garrafa de água e enche o copo. Depois passa a garrafa de água à inquilina. Os segundos de silêncio parecem prolongados. Cortam a respiração de Lúcia, ansiosa para sair dali e voltar ao seu ninho aconchegado. Ele nem chega a beber água. Assiste ao gesto dela, que bebe um trago, procurando desviar o olhar da face dele. Lúcia sente-se vigiada pelos olhos dele. Quando acaba de beber, entrega a garrafa ao jovem e vira-se imediatamente. Mais um segundo e ela podia expirar o ar que tem dentro dos seus pulmões.
- Lúcia.... - sussurra ele.
Ela pára. Congela a sua postura enquanto segura no copo. Ele dá três passos e está de novo diante dela. Ostenta um sorriso sinistro. Lúcia sente-o demasiado próximo. Filipe cola-se ao corpo dela. Põe o seu copo no balcão. A mão esquerda pousa no peito saido da jovem. A sua mão direita desliza pela face suave de Lúcia e ceifa os cabelos oleosos dela, até acariciar a orelha. A morena confirma da forma mais bizarra que tinha razão. A rata de Tania foi lambida pela boca do namorado. Antes mesmo que ela possa esboçar uma reacção, Filipe inclina-se e entrega um beijo forte nos lábios finos de Lúcia.
A jovem entra no seu quarto. Encerra a porta e olha para Joana, ansiosamente à sua espera na cama. O seu passo parece algo soturno. Enquanto caminha até à cama, ouve os risos que passam a parede desde o outro quarto. Lúcia senta-se no colchão, perto da sua amiga colorida. Joana estuda o semblante da amante e agora olha para ela seriamente.
- Lúcia...Lúcia? O que se passa?
A inquilina continua em silêncio. O seu olhar refugia-se no nada. A mão de Joana segura a da amiga. Os risos continuam a ouvir-se no quarto de Tania. A loira coloca a mão na face de Lúcia ao que a morena gira a cabeça, olhando fixamente para a amante, mas com um ar assustado. Quando Joana se prepara para voltar a perguntar o que se passa, a morena inspira fundo.
- Ele beijou-me.
- Quem?! Beijou-te? Quem é que te beijou?! Quando?...Lúcia, onde?...Quem?!!
- O Filipe...
- ...O namorado da Tania?!
- O cabrão beijou-me ali.
- Onde?
- Na cozinha...ele beijou-me...mesmo por debaixo do nariz dela...
- Como?...Como é que isso aconteceu?
- ....Fui beber água...ele estava lá e.....ele beijou-me....
- Porque é que ele foi fazer isso?
Lúcia tem um ar alucinado. Não compreende o que se sucede. Procura encontrar uma explicação e não consegue. Consegue mas não tem lógica. Não tem lógica mas aconteceu. Aconteceu e obriga-a a tomar uma conclusão.
- Ele beijou-me para me provocar....
- Porque é que dizes isso?
- Ele quis provocar-me para ver como eu reagia....
- E porque iria ele fazer isso?
- Ele quer...o cabrão quer....ele...
- Ele quer comer-te, é isso?!
Lúcia acena afirmativamente. Incosolável e estupefacta, ela procura regressar a si e perceber como reagir a momento tão absurdo e surreal.
- Mas...mas a Tania está mesmo ali...eu estou mesmo aqui...bolas, sou eu que te quero comer...
- Não sei, Joana...foi isto que aconteceu...não sei....
- E depois?
- Ele sorriu para mim, consciente de que estava a arriscar...
- E depois?
- Saiu...voltou para o quarto dela....
- E depois?...
- Mais nada...Depois mais nada...fiquei ali...vim para aqui...
- E agora o que vais fazer?
- Não sei...Ah, Joana, apetece-me chorar...apetece-me berrar...apetece-me....
- Vais-lhe contar?
- A quem? À Tania?
- Sim...vai ser um choque para ela saber.
- Não sei....não sei mesmo....que merda!
Apesar de manter um ar assustado, Lúcia silencia. Dentro dela, nem ela própria sabe o que há de pensar, o que há de fazer. O que fazer quando o homem, que é a paixão de uma vida, da pessoa por quem se está apaixonada, decide trair uma relação tão longa, tão concreta, com um mero beijo, mas tão denunciador? Este é um triângulo do qual Lúcia não quer estar envolvida. Por mais que esta seja a prova derradeira de que Filipe não ama assim tanto Tania. O que pode Lúcia fazer? E isto é um triângulo com quatro lados. Joana percebe que uma nuvem escura se abateu sobre este apartamento. Procurando acalmar a amante, que há poucos minutos lhe deu um orgasmo intenso, empurra Lúcia e deitou-se ao lado dela. Em silêncio, as duas jovens amantes procuram adormecer, no que resta desta noite surreal. Joana, cansada, adormece rapidamente em cima do peito da amiga. Lúcia não consegue dormir. Ao mesmo tempo que ouve mais gritos loucos e prazeirentos que Tania liberta no quarto ao lado, a morena passa a noite em branco, com o beijo inusitado no pensamento.

8 comentários:

shiuuuu disse...

Obrigado pelos comentários lá no Shiuuuuu.
Fiquei babado confesso.
Mas queremos mais... queremos que te dispas... no Shiuuuu ta claro!!!

XupaNuPipi disse...

Engenhoso, criativo, interessante and so one... gostei muito e visitarei de novo o prédio, quem sabe ate alugue a penthouse, lol...muito bom! beijos ou abraços :-))

Red Light Special disse...

Desafio respondido lá no RedLightSpecial. volto mais tarde para te ler.
Red kiss to you!

Anónimo disse...

Agora sim. Felipe se redimiu e assumiu o papel que lhe compete, em casa que vivem duas mulheres. Ia caindo para segundo plano. Mas não,agora colocou tempero na história. Depois deste beijo, tudo vai mudar no 2o direito. Esperemos o desfecho
bjs.
Julio135

Anónimo disse...

Adorei a envolvência da história.

Parabéns.

luafeiticeira disse...

Não pediste, mas eu sugiro na mesma: Lúcia deve contar a Tânia o que se passou pra que... o resto é contigo, imaginação não te falta, só te falta ires contactando editoras.
beijos

Magnolia disse...

SHIUUUU, o saltinho já lá foi dado. Quanto aos desabafos, para já não estou a ver muita coisa...lol... Mas aconselho às pessoas a darem lá um saltinho. É uma pequena caixa de surpresas.
XUPANOPIPI, para já não está prevista uma penthouse no Edificio, mas aguarda-se pelas tuas futuras visitas.
RED LIGHT, ainda não houve comentário, mas já vi a resposta ao desafio. Muito profunda e reveladora da tua pessoa, creio eu.
JULIO 135, mais do que o desfecho, espera-se cenas dos próximos capitulos. Não é possivel é confirmar o que vai mudar, mas o papel de Filipe é mais sinistro do que pode parecer.
ULVEILAK, continua a passar por cá. Agradeço a envolvência em que já te inseriste.
LUA FEITICEIRA, o que dizes é passivel de ser cem por cento correcto. A Lúcia deve contar. Mas outros valores, outras perspctivas se levantam para que tal aconteça exactamente dessa forma. Espero que aguardes, pois então por novos desenvolvimentos. Imaginação ainda há. Contactar editoras...uhm...talvez, talvez...

Red Light Special disse...

Hummm... finalmente começa a esboçar-se aquilo que há algum tempo espero neste andar: uma mistura entre estes três.. quem sabe quatro se Joana alinhar. Uma coisa de cada vez... com calma. afinal, este é para mim o andar real.. eheheheh... se o for não é possivel com uma simples sugestão mudar o rumo da história. ou será?...
:P
red kiss to u!!!