sábado

Anoitecer de Sábado electrizante

A noite já caiu. O portão da garagem nas traseiras do prédio abre-se. O automóvel preto entra pela rampa de acesso, que termina dois andares abaixo. O Edificio Magnolia tem paredes que se escondem por detrás de outras. Tem portas que se abrem para dar acesso a outras. E o que parece estar à vista, esconde-se por entre segredos. A garagem do empreendimento ocupa toda a área do segundo andar abaixo do rés do chão e ainda se estende uns metros quadrados para fora do perímetro da parte superior do edificio. Como muitas garagens, também esta se caracteriza pelo seu tamanho reduzido a nivel de altura, luz e espaço para cada automóvel estacionar. Ainda assim, contam-se oito lugares de parqueamento, devidamente separados. O automóvel preto é estacionado no lugar reservado ao 3º esquerdo. Rafael vem no lugar do passageiro, à boleia de Cristina. Ela, vizinha próxima do instrutor, ofereceu-se para o trazer, juntamente com a bicicleta que normalmente o transporta.
Encontraram-se à entrada do supermercado onde habitualmente Cristina faz as suas compras. Ao final da tarde, quando a luz natural já escasseava, ela colocava os sacos na enorme bagageira da sua station wagon. Atravessando a cidade rumo a casa, Rafael apercebeu-se da presença solitária da amante.
- Olha quem é ela...
- Neves....
Existia uma procura de se mostrar surpreendida, mas a verdade é que Cristina se sentia arrebatada. O seu amante predilecto parava diante de si, com aquela postura firme, confiante e suada. O instrutor coloca a bicicleta entre o carrinho das compras e o corpo dela.
- Já voltou da lua-de-mel... - atira ele.
- Assim parece...
- As fodas em Cuba? Foram boas?
- É isso que se espera da lua-de mel, não é?...
- Deixa-me adivinhar....O teu marido perdeu o fulgor ao segundo dia de férias...
Cristina silenciou. Tudo em si delirava. Tudo em si acendia e criava um curto-circuito mental. Afastou-se da bicicleta e procurou retirar mais dois sacos do carrinho de compras. O seu olhar fugia do sorriso presunçoso de Rafael.
- O que foi? Disse alguma coisa insensivel?
Ela continuava a não responder. Retirava o último saco quando ele agarrou o seu braço, atirando o corpo dela contra o seu. Cristina não tinha como fugir à atenção que ele pretendia.
- Cristina....O que se passa?
- Tenho saudades das nossas quecas, só isso...
Rafael sorriu. Evadiu por uns momentos o olhar enquanto segurava a mão ténue da mulher. Cristina ainda se sente arrebatada pela presença dele. Como desde sempre o sentiu.
- Arruma a bicicleta...Eu levo-te a casa. - diz ela.
Ela pegou no carrinho e foi arrumá-lo, uns metros abaixo. Ao mesmo tempo, Rafael percebeu as intenções e os desejos da mulher e colocou a bicicleta na bagageira do automóvel preto, rebatendo os bancos traseiros. Cristina regressou e ele já está dentro do carro para seguir viagem até à rua do Edificio Magnolia.
Cristina desliga o motor do carro. Olha para ele e aguarda uma decisão. Ele mantém um sorriso e aproxima-se suavemente da face dela. A mulher não resiste. Coloca a mão na face do amante e beija-o. Os lábios finos dela invadem a boca dele. Pressente-se um beijo ansioso, inevitável e comprometedor.
- Não mereces, cabrão!
- Não?!....
- Uhmm....Não!...Devia esquecer-te...Devia deixar de te querer assim tanto.
- Podemos parar, se quiseres...
- Precisavas mesmo de a ter comido?
As mãos de Rafael abrem-se dentro da blusa dela. Puxam os botões frágeis e fazem descobrir o pescoço húmido da mulher. Ele beija-lhe a face, roçando a sua pele pela derme macia da amante.
- Quem?
- A minha sobrinha!...Meu Deus...ainda por cima na porra do meu casamento!
- ...Não tive culpa...
- Poupa-me Neves, eu vi-te a levá-la para a casa de banho...
- E então? Ela é crescida, sabe o que fez...sabe o que queria...
- Ela tem 21 anos...é uma garota que perdeu a virgindade há tão pouco tempo....
- E isso são tudo ciúmes?!...
Cristina geme. Os dedos dele invadem o seu peito. Os seus olhos cerram. Porque a paixão dele já ataca o seu desejo. E a desistência já se apresenta complexa. Cristina quer o homem. De uma forma ou de outra. É um vicio. É uma sede. É uma inabalável vontade de se entregar ao homem que lhe entrega um prazer verdadeiramente louco. E dez dias de lua-de-mel provocaram um vírus de excitação dentro dela, a guardar-se para um momento assim.
- De que te queixas, Cristina? Fodi-te, não fodi? Como te prometi...
- Sim...mas não chegou...Não chegou, Neves...Preciso de te sentir. Preciso que entres em mim.
A boca dela volta a penetrar nos lábios dele. Todo o corpo da mulher assume um desejo explosivo de se entregar a ele. O mais breve possivel. O beijo pára. Rafael olha para ela, raciocinando em silêncio sobre o próximo passo a tomar. Cristina está dentro da garagem de um prédio que não é o seu. No lugar de estacionamento de um apartamento que não é o seu. Com um homem que não é o seu. Ele abre a porta do carro e sai para a escuridão da garagem. Apenas uma pequena luz procura iluminar aquele espaço. O portão da garagem já foi fechado. A noite já caiu há alguns minutos. As luzes de presença só acendem com a passagem de pessoas. A porta de acesso às escadas e ao elevador estão aparentemente fechadas. Rafael procura fazer poucos movimentos. Abre a bagageira do carro e retira a sua bicicleta. Pousa-a junto à parede e antes de fechar a porta da mala, percebe que Cristina já saltou para a parte traseira do automóvel. Sem calças. Sem botas. Apenas de blusa, tanga e meias calçadas. O inquilino do terceiro andar ainda atenta a todo o espaço da garagem, procurando perceber se alguém poderá ver o que está a acontecer. Porque o que acontece é uma constante busca em encontrar o perigo. O que move estes moradores, sempre no limite da corrupção da harmonia do Edificio? Não se pode considerar normal querer alimentar uma paixão num local tão indiscreto como a garagem, onde os automóveis entram e saem. Mas Rafael arrisca. Entra dentro do veículo e fecha a porta da bagageira. A boca de Cristina invade o sexo do seu amante. Ela volta a ser uma mulher casada. A ousadia de uma aventura durante o noivado passa agora a ser uma proibição. Jamais alguém poderá saber que ela se envolve com um homem mulherengo, atraente, que a possui como o marido alguma vez conseguiu. E as mãos dela envolvem a picha de Rafael. De joelhos, ele sente a lingua dela a estimulá-lo. Segura-se ao manipulo no topo da porta. Com a outra mão acaricia os cabelos da amante. Cristina tem o cabelo apanhado. Sedutora e feroz, ela chupa o homem. Sedenta e escaldante, ela puxa Rafael para junto de si. Ele olha para o exterior. Nenhum movimento se adivinha na garagem. O instrutor acaricia as costas de Cristina e empurra a camisa, descobrindo os ombros. Ela sabe chupar. Ela gosta de chupar. Ela precisa tanto de segurar o homem. Nenhuma lua de mel num sitio paradisiaco a aquece tanto como um pedaço de tempo intimo com Rafael. E o desejo invade o casal de amantes. Ele empurra-a contra o assento rebatido. Não é um sitio propriamente confortável, ainda que o encosto fosse ligeiramente almofadado. Mas a sede absorvia qualquer impacto. O desejo eliminava qualquer desconforto. Se um dia Rafael decidisse comprometer-se, Cristina seria a mulher da sua vida. Se um dia Cristina decidir casar-se por uma terceira vez, será certamente com Rafael. Mas nesse dia, não haverá fodas assim. Nesse dia, o estimulo dele não precipita o seu corpo para cima do de Cristina. Nesse momento, o que ele vai procurar não são as pernas dela, para as levantar e abrir, para entrar nela e a encher, para a penetrar com vigor, entrando e saindo sem dó. Porque o dia em que Rafael foder Cristina com amor, ternura e carinho, eles pura e simplesmente deixarão de ser amantes em segredo. E disso, eles não se conseguem libertar. Cristina precisa daquele homem descomprometido, frio, distante, intensamente poderoso a entrar em si. Rafael precisa da mulher que o deseja por um pedaço de tempo e que logo a seguir procure sair.
- Oh...Neves...enches-me...oohhh....enches-me tanto!!!!
- És uma cabra!....Tu pedes por isto!!...Uhmmm...
Cristina olha para ele, na impunidade da sua posição. Entre os assentos e a picha dele, a mulher tem as pernas abertas, levantadas, ainda com as meias calçadas e a tanga puxada para o lado. Entre a alcatifa do seu próprio automóvel e o corpo de Rafael, Cristina é possuida cadentemente. Porque ele penetra-a. Deita-se sobre o peito dela e chupa os seus mamilos escuros mas quentes. Movimenta as ancas e puxa cada mebro dela para lados opostos. Cristina está incontrolável. Geme e olha para o que lhe é permitido espreitar no exterior. Se alguém aparece muita coisa pode terminar. E é isso que a excita. É isso que a faz gemer e gritar e entusiasmar Rafael. Segura-se ao rabo dele e puxa-o contra si. O sexo vigoroso e excitado dele penetra cada vez mais fundo, com uma força que enche o corpo dela de tesão. A humidade aumenta no interior do automóvel. O suor escorre de ambos os corpos e mistura-se com a troca de fluídos interior. Rafael está a vir-se e ela atenta nessa acção. Rafael altera o movimento do seu corpo. Mais devagar, mais seco, mais intenso. Cristina coloca as mãos na cabeça dele e fixa o seu olhar. Ela quer senti-lo. Ela quer saber se ele ainda delira com ela. Ela procura perceber se aquele ainda é o seu amante. O mesmo que a fodia no seu quarto quando o agora marido não estava. O mesmo que a levou para sua casa, dias antes do casamento. O mesmo que levou a noiva para uma sala vazia do registo civil da cidade e a comeu por trás junto a uma mesa, minutos depois dela ter dito "Sim". O mesmo que ela sonhou, noite após noite, em Cuba. Cristina não ama Rafael. Nem tão pouco está apaixonada por ele. Cristina sabe quem é que a fode neste momento. E quando ela deixa cair para trás a sua cabeça, encostando-a no assento, ao mesmo tempo que se vem, Cristina tem a certeza que apenas está apaixonantemente viciada no sexo com Rafael.
O corpo dele repousa sobre o dela. A detentora do veículo acaricia com uma mão os cabelos de Rafael, com a outra passa ao de leve pelas costas masculinas. Ele segura um dos mamilos da amante entre os dedos. O silêncio dura há alguns segundos. Ambos respiram fundo, procurando recuperar o fôlego da foda complexa.
- Ele está à tua espera? - pergunta Rafael.
- Quem? O meu marido?...Sim...
- Gostas mesmo dele?
- Sim...
- Porquê?
- Porque não me dá só fodas...
Pode-se pensar que Rafael se sente atingido com um ataque tão frio e tão impiedoso quanto o que a sua amante afirmou. Mas ele é um homem convicto. Descola-se do corpo de Cristina e pega na sua camisola, espalhada por entre os sacos das compras.
- Vais voltar a estar com ela? - pergunta Cristina.
A mulher senta-se na traseira do seu veículo e imita o seu amante. Procura a sua roupa e vai-se vestindo. Pressente-se uma retirada de ambos.
- Com a tua sobrinha?...Acho que não...Não sei...
- Ela procurou-te?
Depois de vestida e precipitadamente composta, Cristina volta a sentar-se no lugar de condutor. Olha-se ao espelho e pensa ao mesmo tempo numa desculpa para entregar ao seu novo marido, justificando o atraso.
- Veio ter uma vez ao clube de equitação. Pediu-me se podiamos jantar...
- E o que disseste?
- O que achas?...Como tu disseste, ela ainda é uma miúda...
Rafael abre a porta traseira do carro e sai. Volta a perceber se alguém poderia ter entrado ou visto qualquer coisa dentro do automóvel preto. Cristina respira fundo. Abre o vidro da sua porta e liga o carro. Ele aproxima-se e olhar para ela.
- És um cabrão! Continuas a ser e sempre serás....
- O que foi?
Há um ar de indignação em Cristina. A foda consumou-se. O momento agradou-lhe. A violência do perigo excitou-a literalmente e derreteu a ansiedade que vivia no seu corpo desde que regressou de Cuba. Mas o último olhar que entrega ao amante é mordaz.
- A minha sobrinha está apaixonada por ti, Rafael....
Marcha-atrás. Os olhares distanciam-se. O portão abre-se. Uma ligeira claridade entra na garagem. Mas é noite. Os segredos acumulam-se. As verdades corrompem-se. Cristina está a alguns metros do seu renovado lar. Rafael vai subir o elevador, pressentir as vidas que respiram em todos os andares do Edificio e vai entrar no 3º esquerdo, entendendo que algo lhe falta para abrir o seu coração.

2 comentários:

Red Light Special disse...

Curioso q durante todo este post pensei: o que fará "desempedrenir" o coração deste homem?
E acabas com uma frase que faz alusão a isso mesmo...
Gostei muito.. estou a respirar fundo... lol... mas gostei muito!
bjooooooooooooo!

luafeiticeira disse...

´Realmente, ao contrário do que se espera, o que sobressai não é a infidelidade ou o prazer do proibido mas o sentido de posse,
beijos