quarta-feira

Chuviscos de Quarta-feira à noite

A agitação percorre os corredores do 2º esquerdo do Edificio Magnólia. Lúcia acaba de lavar a loiça do jantar que decorreu na sala. Tania faz viagens constantes entre a casa de banho e o seu quarto. De cada vez que sai do quarto, larga uma peça de roupa vestida. Na última viagem, veste apenas o robe e segura uma toalha. Filipe sai também do quarto e antes de se dirigir para a porta de entrada despede-se de Lúcia. A melhor resposta possivel da jovem é um sorriso seco. Tania acompanha o namorado à saida. Trocam um beijo de uma despedida breve enquanto as mãos dele invadem as nádegas dela. Depois dele sair para a rua onde uma leve chuva cai, Tania segue imediatamente para a casa de banho.
- Lúcia, já desligaste a água? Vou tomar banho...
- Agora?!
- Sim, agora! Eu disse-te...
- Mas Tania, há pouco gás...Se tomas banho agora, não posso tomar eu.
- Como assim?
- Ninguém foi buscar gás hoje e já não temos muito. Amanhã preciso do banho antes de ir para as aulas.
- E eu preciso do banho agora!....Oh Lúcia, vá lá...
- Pfuu! Que merda...
As duas jovens ficam impávidas entre a porta da cozinha e a porta da casa de banho. O imbróglio apresenta-se de uma forma estranha, para quem mora em conjunto. Lúcia está pronta a ceder e dar o seu lugar para o banho à colega de apartamento.
- Porque é que não vais tomar agora banho? - diz Tania.
- Agora?...Mas tu vais sair. Tu tens que tomar banho...
- Sim!...
- Sim? O quê? Queres que vá tomar banho contigo?
- Porque não? Se a água quente está acabar, se partilharmos o chuveiro talvez sobre para as duas.
- Não me parece boa ideia...
- Porquê? Tens vergonha de tomar banho comigo?
Lúcia silencia-se. Na verdade, o convite parece loucamente irresistivel. Extremamente tentador. Incontornavelmente aliciante. Mas é um passo maior que a sua perna. Afinal, Lúcia ambiciona Tania. Não necessariamente vê-la nua. Muito menos estar nua diante da amiga. Mas a proximidade de dois corpos femininos nus, efectivamente atormenta Lúcia. E a atracção que ela sente revela-se um factor a ter em conta no convite inusitado.
- Não, não tenho vergonha, mas...
- Eu sei que não o costumamos fazer. Nem sei se já alguma vez o fizemos...
- Já, já o fizemos...há algum tempo...mas já aconteceu...
- Melhor ainda...Qual é o teu receio?
- Não sei...dadas as circunstâncias...
- Quais circunstâncias?!... Tens medo que eu me sinta seduzida por ti, é isso? Amiga, descansa...Já tenho uma picha para me entreter...Anda lá para o banho!
Tania entra na casa de banho e liga a água quente. Lúcia ri-se com o comentário da colega, mesmo que não tenha sido a saida que mais a satisfaça. Despe-se e rapidamente entra para debaixo do chuveiro, porque a água quente escassa. Um banho é um banho, mesmo que seja a dois, mesmo que seja a duas. Afinal, Tania tem razão. Duas amigas que partilham a mesma casa podem tomar banho ao mesmo tempo. Ninguém sabe. Mesmo que saiba, não parece haver nada a apontar. Ainda que uma delas tenha atracção pelo mesmo sexo. Ainda que uma delas esteja apaixonada exactamente pela outra e não se sinta correspondida. Continua a ser um banho normal entre amigas. Afinal, Tania tem razão. Até pode ser uma fantástica ideia para reduzir despesas. Um banho é um banho, mesmo que seja partilhado. Lúcia passa por debaixo da água quente que ainda tem alguma pressão. Segue-se Tania, enquanto a amiga lava o cabelo. Lúcia parece ligeiramente incomodada. Há sensação de risco em toda aquela acção. Ela sabe perfeitamente tomar controlo sobre si. Mas a verdade é que estar diante do corpo nu e molhado de Tania se torna algo normal. Quase banal. No entanto, ela não esconde a si mesma a excitação que isso lhe provoca. Procura evadir-se do desejo que a atravessa e toma as rédeas da conversa.
- Vais ter com o Filipe?
- Sim, vamos ao cinema e depois vamos tomar um copo com os amigos dele.
- Não me chegaste a contar?
- O quê?
- Como ficou a tua indecisão....
- Em relação ao quê? A ele querer sexo anal?...
Lúcia acena afirmativamente. Apesar de serem mulheres, ela sente que pode estar a invadir algo demasiado privado. Mas Tania é uma mulher frontal e sabe que Lúcia é das suas melhores ouvintes. Roda o corpo sobre si para ir buscar o champô e coloca o liquido na sua cabeça.
- Deixei de querer ficar confusa...Na noite em que te disse isso....aconteceu....
- Eu sei....
- Pois...Bolas, se eu o amo e se pretendo ficar com ele...Porque não experimentar?
- E? Gostaste?
- Não devia dizer isto à boca cheia, mas....Adorei!!!
A água escorre pelo pescoço de Tania, juntamente com a espuma do champô. Lúcia larga uma gargalhada, mas procura concentrar-se. Por certo Tania não pegou no assunto com mais ninguém, a não ser com o namorado, pensa Lúcia.
- Nem a ele lhe confessei...Entendes porquê. Mas a verdade é que foi uma sensação diferente. Já demos fodas brutais. Já experimentámos coisas loucas...Mas a forma como ele entrou em mim...Ah...Nem queiras saber...
- ....Quero...
Tania sorri. Sente-se próxima dela. Amiga, mulher, colega de apartamento, parceira de duche. Ela pega na sua esponja do banho e ao mesmo tempo que se começa a lavar, conta. Conta tudo o que lhe vai na alma sobre a noite em que Tania experimentou algo que até a própria Lúcia sentiu.
- Menti-te naquela noite....Não estava assim tão confusa...Estava apenas assustada com o momento. Já tinha comprado o gel....Já tinha arranjado aqueles preservativos especiais...aqueles...tu sabes...
- Sei...Estavas só à espera do momento certo.
- Sim! E naquela noite...algo mexeu comigo. Não te sei explicar...E chamei o Filipe. Estava louca...mas mesmo louca...Fomos para o quarto...beijos, apalpões, enfim...aquilo que tu também sabes...
Lúcia volta a confirmar. A estranha sensação de estar tão próxima de Tania volta a incomodar a jovem. Tania limpa todo o corpo. Esfrega os seios volumosos, acaricia os mamilos e percorre a esponja pela pele, até chegar ao ventre. Lúcia sente-se quente. Mas consegue controlar-se e tomar atenção ao que a amiga diz.
- ...Ele entra em mim...e por mais que estivesse preparada, naquela posição...era dificil não me passar...
E Tania passou-se. Lúcia percebe isso na descrição pormenorizada mas atabalhoada da colega. Porque Tania tem apenas pequenos relances daquilo que aconteceu verdadeiramente. Filipe foi querido com a namorada, mas ao mesmo tempo impulsivo. Sentado na cama e entesado, o jovem esperou que Tania lubrificasse tudo o que havia para lubrificar. O sexo dele, as bolas dele, o seu buraco anal, as suas nádegas. Como se algo inconcebivel a fosse invadir. E levemente, foi sentando o seu corpo sobre o namorado. De costas para ele, Tania tinha espaço para ter o seu gozo, a sua forma de lidar com as novas sensações. E isso não foi propriamente partilhado, como ela percebeu. Mas soube-lhe bem. Soube muito bem ser movida pelas mãos dele nas suas nádegas. Foi ele quem puxou convictamente o corpo dela contra o seu. Foi ele que conduziu a penetração. E Tania sentiu-se louca. E Tania perdia o controlo.
- Juro-te! Achava que ia morrer. Achava que tudo de horrivel ia acontecer ao meu corpo...
- Mas a tusa que te deu anestesiou a dor... - complementa Lúcia.
- Sim! Não estava cá. Era eu que saltava sobre ele. Era eu que gemia. Era eu que pedia mais, Lúcia! Achas normal?
Acha um pouco insólito. Nada mais. Lúcia ouve atentamente, mas torna-se dificil retirar os olhos do ventre de Tania, onde a amiga esfrega o seu sexo de uma forma vigorosa. Tania tem um corpo bonito. Não é perfeito. Tens as suas formas delineadas, como Lúcia. Mas algo nela exibe uma sensualidade que altera o estado natural das coisas. Altera o controlo intimo de Lúcia. E ela só pensa no desejo de ser ela a brincar com a rata da amiga. Mas Tania continua...
- Vim-me...completamente. Vim-me toda, Lúcia. Ele não parava de entrar. Sim, doeu...mas eu só conseguia pensar como é que...Oh..vim-me toda.
As mamas dela saltavam. Todo o seu corpo saltava e ebulia num prazer diferente, inédito. Sentado em cima do namorado, de costas para ele, Tania apenas pode arrepender-se de não ter entregue uma maior cuimplicidade ao momento. Talvez por vergonha do que pudesse acontecer, talvez por um súbito descontrolo que a invadiu.
- Mas sem dúvida, Lúcia!...Preciso de repetir. Hoje não sei. Mas sei que o posso amar loucamente só de fazer aquilo...
Lúcia escuta-a. Absorvida na descrição intensa, o relato excitante mistura-se com a anestesia que o corpo que ela tem diante de si provoca. Tania vira-se. As suas costas brancas apresentam-se ao olhar de Lúcia, juntamente com as nádegas húmidas. Tania entrega a esponja para as mãos da amiga.
- Posso pedir-te que me laves as costas? Adoro quando o Filipe faz isso.
Alguns segundos de hesitação antes de Lúcia aceitar. O convite é sublime, o momento parece eterno, mas o simples movimento da sua mão a atravessar a espinha da amiga torna-se memorável para Lúcia. Tania gosta do gesto. Poder-se-á dizer que não excita, mas claramente ela sente-se estimulada pela acção da amiga bissexual.
- Sabe bem...uhm...E então, continuas a ver a Joana? - pergunta Tania.
- Sim...Temos tomado café...Tenho ido a casa dela...
- Ela oferece-te a casa dela?
- Não oferece!!...
- Sim, eu sei...
- Sabes? - pergunta Lúcia ironicamente.
- Sei!... Ou achas que uma gaja como eu não imagina como são as tuas noites com mulheres.
- Não sei...Acho que não...
- Grande lata!...Posso-te dizer que imagino e...
Tania vira-se. Olha directamente para Lúcia, com um sorriso. Sente-se desafiada. Lúcia questiona o conhecimento de Tania sobre os prazeres intimamente femininos.
- Acho pouco provável que uma mulher me consiga dar um orgasmo.
Lúcia responde com uma gargalhada. Quando percebe que Tania está a tentar falar a sério e comprovar algo, silencia-se. Olha para o corpo dela e entende que todo aquele momento se está a prolongar. O seu desejo está ao rubro. Mas ela mantém o controlo. Percepciona a mão direita da amiga a erguer-se em direcção ao seu corpo nu. Tania afronta Lúcia. Afronta a paixão que desconhece da amiga. Afronta a escolha dela. Afronta a reacção da sua parceira de duche. Porque Lúcia pode explodir ali mesmo de tesão. Lúcia pode ceder ao seu controlo no momento em que Tania passa carinhosamente os dedos nos seus seios descaídos, cheios e fofinhos.
- Vês? Não sinto nada. Nem um pingo de tusa. As tuas mamas são bonitas, já to tinha dito. Mas não me provocam uma excitação tão grande que me ponha louca de te ter.
A mão de Tania descai. O indicador desliza pelo mamilo e um silêncio é gerado neste chuveiro. Tania sorri, convicta de que um mero apalpão a um seio feminino não altera o seu calor corporal, não acende o rastilho da excitação. Lúcia está algo impávida. O seu seio ainda lateja interiormente. A sensação da mão de Tania jamais será esquecida pela pele do seu peito. Mais alguns segundos e ela procura ter uma reacção. O ar presunçoso da sua amiga traz-lhe alguma raiva, alguma sensação de ter sido desvalorizada. A água bate nas costas de Tania. Lúcia dá um passo em frente, aproximando-se da colega de apartamento. Ergue a mão, prolongando o gesto até chegar junto das mamas da amiga. Tania baixa o olhar e mantém o sorriso. Volta a olhar para Lúcia e insiste no sorriso. Os dedos de Lúcia tocam a pele do seio da parceira de duche. Os dedos de Lúcia deslizam pelo seio. Vagarosamente. Tão vagarosamente. Tania inspira. Suavemente a mão escorrega até ao mamilo. Tania perde o sorriso. O indicador de Lúcia roça o mamilo da outra mulher. Tania fecha os olhos por dois segundos. A mão de Lúcia descai. Tania respira fundo e fixa o olhar na amiga. Um silêncio volta a ecoar na casa de banho num sustenido sinistro. Até a água se cala. Lúcia quer sorrir mas não consegue. Lúcia quer gritar de euforia mas não consegue. Lúcia guarda para si a doce sensação de triunfo. Tania foi tocada.
- ...A água está a ficar fria.... - diz Tania.
Como nunca o foi. O toque perturba-a. De uma forma com que ela jamais sonhou. Tania sai do chuveiro, embrulhando uma toalha ao seu corpo. Tania vai para o quarto e veste-se à pressa. A noite ainda é longa. Existirá tempo para reflectir naquele instante supremo, surreal, insólito. Nada mais. Dentro da casa de banho, a água é a única coisa que conseguiu arrefecer.

7 comentários:

luafeiticeira disse...

Este teve uma paragem tão bruta que até deu para sentir a água fria sobre a pele que já estava quente. Divino, como todos.
Já viste o Averell?
Beijos

JB disse...

Excitante, tanto! Um suspense que tem vindo a aumentar num crescendo que nos vai deixando cada vez mais aprisionados a esta relação Lúcia-Tania...
Muito bom mesmo!!!!
Uffffffffffffff :)

Red Light Special disse...

Pois aqui nem a água nem nada arrefeceu...
Ai ai ai...
Simplesmente sublime este duche. Sublime.

GAGGINGyou disse...

Tens excelentes dotes de narrativa. Muitos tentam...poucos conseguem.

Um beijo e parabéns...senti-me um testemunha da situação mas, para elas ñão terem dado por mim....devo ter encarnado em cortina de banho lolo

Shelyak disse...

Esta foi demais... passa a ser daquelas histórias que nos vai deixando mais em suspense e aprisionados... para não falar na excitação que provoca...
ufffffffffffffff
:)

Anónimo disse...

Simplesmente viciante....

Magnolia disse...

LUA FEITICEIRA, deu para sentir como algo ficou no ar húmido? :)
Sim, ojá vi o Averell...Se o Goscinny e o Morris soubessem....
RAINBOW, ainda bem que gostas. Ainda bem que te prendes a um história.A Lúcia e a Tania ainda têm muitas surpresas reservadas.
RED LIGHT SPECIAL, a tua adjectivação é que é sublime :)
GAGGINGYOU, há quem sonhe ser cortina de banho...Poderás ser testemunha de outras tantas situações. Só tens que escolher no que queres encarnar.
SHELYAK, só pode ser positivo haver uma empatia entre os leitores e a Lúcia e a Tania. É mesmo uma questão de tempo...
ANÓNIMO, ainda é viciante? :)