segunda-feira

Maria José

As mudanças na nova casa de Maria José decorrem com alguma lentidão. Os compromissos na faculdade, a compreensão dos sentimentos em relação ao corte que fez com o seu passado, a falta de apoio dos familiares mais próximos e a gestão do espaço disponivel na casa, tornam a conclusão do processo de todas as arrumações, extremamente complexo. Com o falecimento da antiga arrendatária, todo o recheio do apartamento ficou por retirar. E Maria José incumbe-se de escolher o que era para retirar, mandar para o lixo ou dar para uma casa de mobilias em 2ª mão. Ainda assim, muita coisa tem que ser mantido na casa, até mesmo por questões de inviabilidade momentânea de aquisição de novas mobilias. Enquanto organiza o velho mas útil aparador de sala, com todas as loiças que conseguiu trazer, Maria José ouve a campainha da porta do 1º direito tocar. Exausta, suada e envolta de pó, a professora vai atender. À porta está Henrique, o seu cunhado. Traz o almoço em dois sacos. Ela sorri, agradecendo o gesto. O marido da sua irmã tem sido a única pessoa que se tem efectivamente disponibilizado para ajudar em tudo o que Maria José necessita. Nas mudanças, nos processos burocráticos que ainda são necessários, até mesmo a nível financeiro ele propõe-se a não deixar a mulher quarentona apertada. Mas acima de tudo, Henrique tem sido o suporte psicológico de Maria José. Por mais ousada que a situação pareça, por mais dilemas mentais que atormentem os seus sonhos, ela precisa dele. E ele sente essa necessidade. Ela retribui com as mãos carinhosas que tem, com a força que ganha de cada vez que Henrique entra por aquela porta. E ele é gentil. Conforta a mulher como nunca ela sentiu que foi tocada.
- Bitoques... - diz ele ao pousar os sacos na mesa da sala - Eu sei...a esta hora não é fácil arranjar o que quer que seja nesta rua.
- É suficiente, Henrique. Da próxima vez eu prometo que te faço o almoço.
- E as arrumações? É hoje que terminamos?
Maria José olha em redor e demonstra ao cunhado que ainda há um longo caminho a percorrer, no que toca a ter a casa em condições. Ela põe a mesa e serve os bitoques já algo secos que sobraram no restaurante, à entrada da rua do Edificio Magnólia. Durante toda a refeição, a professora procura recuperar a energia que libertou em toda a manhã. O seu olhar cinge-se ao prato de comida e na verdade, não havia muito tempo para saborear aquele prato. Henrique não tira os olhos da face dela. Denota o cansaço nos contornos dela, nos olhos inchados, nos braços tensos, no corpo intensamente nervoso. A mulher sente-se vigiada. Procura não levantar o olhar mas percebe que o homem concentra a atenção nela. E Henrique já não consegue libertar a ideia. O pescoço suado dela, as mãos nervosas mas delicadas, a roupa molhada do ar húmido e da transpiração do corpo dela. A refeição não pode ser tão saborosa quanto uma simples caricia na pele dela. Maria José vibra com a mão dele a roçar na sua face. Cerra os olhos e por uns segundos procura esquecer que ele está ali para ajudá-la.
- Henrique...
A respiração da mulher descontrola-se. A sua pele branca ganha tons rosados, sendo impossivel disfarçar a sua inquietude.
- Aposto contigo que ainda não experimentaste aquele sofá.
- Não tenho tempo...Tu vês que não tenho sequer tempo para fazer o almoço ou o...
A boca de Henrique invade os lábios secos de Maria José. O que pode ela fazer perante a irresistivel forma de Henrique a prender no seu desejo? Ele brinca com os lábios dela e agarra o calor da lingua da mulher. Jamais os beijos do seu ex-marido conseguiram alguma vez ser tão intensos com os que Henrique lhe oferece. Sem nada em troca. Porque tudo o que Henrique pede, ela deseja mais do que ele. Pega na mão dela e arrasta-a com ternura desde a mesa até ao sofá. Maria José ainda lança um olhar preocupado sobre a desarrumação da mesa de almoço, mas cede perante a inevitabilidade de o sofá ser mais reconfortante que aquele almoço. Dono do desejo dela, senhor da pretensão da mulher, Henrique brinca com as suas mãos no corpo da professora. A camisola de algodão castanha é fácil de despir. Há agora lugar para a inundar de caricias nos seios pálidos dela. A respiração de Maria José está à mercê da vontade dele. Despir as calças já é um processo mais complexo, mas Maria José ajuda. Ela só quer estar nua perante o seu amante. Ela só precisa de sentir livre, para que tudo possa receber. E de Henrique, ela pode esperar tudo. Maria José é uma mulher carente. A forma como ela deixa cair o corpo nu para o sofá e sorri de uma forma aberta, só demonstra o quanto ela precisa de compensar tantos anos em simples momentos como aquele, carregados de paixão.
- Preciso de ti...
Mas Maria José precisa de um homem que a faça sentir especial. Que a faça sentir amada. Que lhe devolva a sensualidade que ela esqueceu num dado momento do seu casamento. Ela precisa de alguém que lhe entregue a chave do prazer. Sem compromissos, sem tabus, sem compensações. Neste momento, esse homem é Henrique. Ele ajoelha-se no chão enquanto segura a carne das pernas dela. Maria José transporta-se a si mesma para uma nuvem, no instante em que as mãos dele enfeitiçam os seus membros inferiores. Suavemente, ele retira as cuecas brancas da mulher, deixando-a pura e simplesmente vestida de nudez. Em segundos mágicos, ela abre as pernas, colocando-as em cima das costas de Henrique que já se aproximou do seu corpo. Maria José deixa-se enterrar no sofá, do qual ela nunca se tinha apercebido do relaxamento que provoca. Afinal, a velha que morreu sempre deixou algo para estimar. A boca dele já desperta o ventre da mulher. No momento em que os beijos dele caminham em direcção ao sexo de Maria José, ela já não se sente sentada no sofá. Agora ela está segura às mãos dele, que a colhem pelas nádegas quentes. Ela já se esqueceu como respira. Prefere sufocar a perceber como é que se controla tamanha sensação. As suas mãos acariciam a pele dos seios. A boca de Henrique já se colou aos lábios vaginais da amante. Onde é que Maria José já sentiu um toque tão carinhoso, tão extremo, tão benévolo com o seu intimo? Apenas nos sonhos! E os sonhos não fazem vibrar a sua pele assim. Os dedos dele deslizam entre as nádegas dela, onde o suor quer libertar-se. Maria José afundava-se no desejo proibido. Mesmo que ela queira achar que aquilo é demasiado forte para entregar ao seu cunhado. Bem, agora é tarde demais.
- Por favor...não pares!
Maria José prende-se a ela mesma naquele sonho. Ele impulsiona a sua lingua por toda a rata da professora. Beija-a como se fossem os lábios da sua boca. Ternurentos, doces e ainda secos. A repulsa intima da mulher, em que a sua relação sentimental a deixou por tantos anos, prendeu-a na forma como pode libertar os seus desejos. Mas mesmo que Maria José não deixe a sua excitação gritar, a paixão e devoção de Henrique faz com a loucura intima da professora exploda. Como um vulcão adormecido. Ele introduz um dedo no interior dela. E a mulher rebenta. Cede àquilo que o corpo quer gritar e num rápido instante, o sexo dela molha-se por completo. Os sucos dela são águas que se libertam pelos lábios vaginais, pelas mãos de Henrique, pela boca dele, que agora segura com os lábios, o clitóris envergonhado dela. Os gemidos da professora sucedem-se. Com uma mão, ela agarra os cabelos dele, incitando-o a entrar mais dentro dela. Com os dedos, com a lingua, com toda a paixão que ele tiver para lhe dar. A outra mão finca-se na almofada do sofá. As suas pernas tremem de tanta excitação. O indicador dele brinca com a tesão da amante. Maria José só percebe que se vem, quando o seu clitóris incha por entre os lábios da boca dele. Porque tudo isso é demais. Porque tudo isso é como um maremoto dentro de si. Porque tudo o que Henrique lhe entrega, enche a mulher de um prazer transcendente.
- Como é que é possivel??!!...Ohh!...
Ela puxa a cabeça para trás, enterrando-a entre as almofadas do sofá. Henrique sente o orgasmo dela a desvanecer e acalma a sua boca. Delicia-se com o sabor dela e finalmente atira o olhar para a cara dela. Maria José volta ao mundo real. Se é que isso ainda existe. Nua. Nua como nunca se sentiu, ela colhe tudo o que é possivel guardar nestes instantes. O calor, a sede, a plenitude daquilo que teve, daquilo que ainda tem. Os sentimentos. Os que aprendeu, os que esqueceu. E ela pensa em voz alta.
- Como é que é isto possivel? Como é que eu nunca senti isto antes?!!
Henrique aproxima-se dela, ainda vestido, ainda confiante que naquela tarde não vai haver mais arrumações. Sorri e dá um beijo na boca saciada de prazer da mulher. E quando eles se olham, sabendo que são detentores da chave do prazer, a campainha volta a tocar. Maria José liberta-se do amante bruscamente e veste rapidamente as calças, sem cuecas. Enquanto se dirige para aporta, veste a camisola, onde o seu peito excitado ainda é perfeitamente visivel. Abre a porta. É o carteiro. Uma carta registada para a antiga residente do 1º direito.
- Lamento. Essa senhora já faleceu...
Maria José ainda procura controlar a respiração. Os mamilos ainda fervem. O seu sexo ainda está completamente molhado de tanto prazer. E a forma desconcertante como ela dá a noticia ao carteiro, deixa o homem algo confuso. Ela sente o desnorteamento dele, mas não sabe se é pelo facto da noticia que ela deu, se pelo ar louco que ela sabe que transparece. E o silêncio impera entre o espaço que os rodeia. Algo não os deixa avançar. Algo cola os dois àquele momento. Só a chegada de Henrique desfaz aquele momento surreal. O proprietário do apartamento volta a referir o motivo pelo qual o carteiro não pode entregar a carta e ele, educadamente sai. Henrique fecha a porta, mas ao voltar para a sua amante, percebe que ela já voltou às arrumações. Num silêncio sinistro e pronta para terminar até à última hora deste dia todas as arrumações.

7 comentários:

Divinius disse...

NÃO ILUDO AS PALAVRAS ELAS É QUE ME ILUDEM APENAS LHES ACRESCENTO LETRAS ELAS ACRESCENTAM-ME VIDA.
:)

... disse...

Blog muito interessante...!

Moçoila* disse...

Esta Maria José é a prova de que nunca é tarde p'ra fazer o que quer que seja!

Beijinho*

Shelyak disse...

Mas que perspectivas que aqui se adivinham em termos de futuro próximo...
Belíssimo!
ABraço

luafeiticeira disse...

Apesar da descrição/narração excelente, há qualquer coisa que me diz que neste apartamento só há teatro, não é aqule que é real.
Beijos

Magnolia disse...

NOIVO, espero que de facto sigas o blogue, da forma como o pretenderes sentir.
SHELYAK, com o olho aberto. As perspectivas são de facto excitantes para o que o 1º dto aguarda.
MADRUGADA...o blogue espera pelas tuas visitas, na esperança de nunca decepcionar as expectativas de quem cá vem.
MOÇOILA, tens razão. Nunca é tarde para sentir um prazer intenso. Para saborear a vida com liberdade, sem limites mas responsabilidade.

Red Light Special disse...

És mestre em humanidade.Tá dito!