terça-feira

Cede-se

Publicado a 20-01-2009
O que é possível ceder que não seja material? Pode ceder-se um espaço comercial, cobrar um valor por uma posição contratual que se mantenha num negócio, colocar um objecto à disposição para posterior dividendo. Colocam-se anúncios em jornais, na internet ou em locais estratégicos, de forma a dar a conhecer a cedência a um possível interessado. E se quisermos ceder a nossa alma? Não é algo material. Não é algo que possa deter um valor comercial. Não é algo que seja passível de negociação para a sua cedência. Se quisermos ceder a nossa alma e por inerência o corpo acarretado, de que forma o anunciamos? E a quem o queremos anunciar? Porque o amor não se cede. Partilha-se. Assim como a amizade ou até mesmo a fraternidade. Mas quando não conseguimos suportar o peso e a responsabilidade de nós mesmos, não partilhamos. Cedemos. Talvez procuremos dividendos de retorno. No entanto, acima de tudo, é o alivio e a redenção que queremos obter. E aí, cedemos. Por isso, não é de mais insistir numa ideia. Quando queremos ceder a nossa alma, a quem e de que forma o queremos anunciar?
A Tania enfrenta um peso. Que se distribui por entre a sua alma e progressivamente pelo seu corpo. Dentro da casa de banho do 2º direito, a jovem vai despindo as calças, ao mesmo tempo que a água a escaldar corre freneticamente do chuveiro. Enquanto retira a camisola, ela olha-se ao espelho e confronta-se com as formas do seu corpo, coberto apenas pela lingerie branca. Tania vive um dilema. Dentro de si, tudo se transforma e ela simplesmente não quer mudar. Tal não quer dizer que ela afaste a ideia de prosseguir a concepção criada pelo seu próprio íntimo. Tania está grávida de três meses e procura encontrar a melhor forma de aceitar um futuro já quase escrito. Encerrada num espaço que lhe é cedido e não dado, ela aproveita aqueles instantes para confirmar as transformações do seu corpo e idealizar objectivos. Entra dentro da banheira, já depois de ter solto o soutien e as cuecas que lhe parecem apertadas.
Na sala de estar do 2º direito, Laura e Afonso saboreiam o momento após o jantar. Sentados no sofá vermelho, eles olham para as últimas reportagens do bloco noticioso, percebendo que olham sem a mínima atenção para o que é exposto. O jantar terminou em algum silêncio. A filha de Laura saiu apressadamente para mergulhar nas brincadeiras constantes que o seu quarto permite. Tania mantinha um semblante carregado, algo distante, demasiado ansioso. Por um par de vezes, a namorada de Afonso procurou chegar a ela, mas sem sucesso. A encarregada de loja sabia de antemão que nem sempre era possível alcançar a alma da sua funcionária. Por isso, o casal deixou-a sair da mesa, deixando a arrumação do que sobrou do jantar para eles. Laura e Afonso percorreram o corredor entre a sala e a cozinha por um punhado de vezes e aperceberam-se dos movimentos de Tania. Ela entrou na casa de banho, encerrando a porta. A noite ainda agora tinha começado e eles preferiram ficar na expectativa, aguardando pela reacção da jovem. Encostaram-se no sofá, com os braços envoltos, com beijos meigos escondidos.
- Estive a falar com a Sofia... - solta Laura.
- E então?!
- Oh!...É o que nós dizemos. Têm andado distantes, com muito trabalho...
- Com o Gustavo...
- Diz que sim... Que têm saído quase todos os fins-de-semana...
- Era o que nós tínhamos perspectivado.
- O Diogo tem saudades das nossas noites...
- Não me vais dizer que eles vão aparecer cá hoje.
- Afonso...temos que combinar qualquer coisa...eu também tenho saudades deles.
- Deles ou do Gustavo?
- Tu sabes o que é que eu gosto, amor...
- O que é que tu gostas?
- De te ver dentro da boca dela...
- ...Da boca dele na tua rata...
- De me vir ao lado dela.
- Para depois ele te possuir?
- Eu quero, Afonso...
- Eu não disse que não!...Ou disse?! Como é que ficamos?
- Bom...eu não quero trair a Tania... Mas eu vou voltar a falar com a Sofia e...
- ...Laura!...
Ouve-se um pedido vindo do interior da casa de banho do apartamento. Tania já terminou o banho e clama pela presença da sua colega de trabalho. A mulher sorri e olha para o seu namorado com desejo. Afinal, este casal dispõe de uma amiga intensamente íntima a morar debaixo do mesmo tecto. Sim, eles respeitam a novel condição da jovem grávida. Mas acima de tudo, eles percebem que progressivamente conseguem um afecto particular por uma pessoa que até há bem pouco tempo era vizinha deles. Laura entrega um beijo veemente na boca de Afonso, suscitando alguma excitação, mas também curiosidade pelo pedido da rapariga. Ela levanta-se e segue até à casa de banho. Bate à porta levemente e aguarda que Tania a deixe entrar.
- Precisas de alguma coisa, Tania?
- Não... Não, não preciso, mas...
- O que foi?...Fala comigo...
- Não é preciso, Laura... Tu estavas com o Afonso...eu não queria interromper...
- Ele fica bem... Eu estou aqui contigo...
Laura encerra a porta da casa de banho e ao mesmo tempo invade o pescoço da amiga com a sua mão. Tania está nua. Nem sequer uma toalha envolve o seu corpo. A água do banho ainda escorre pela sua pele e o seu cabelo está completamente ensopado. Tania apresenta-se pura e limpa. Trancadas nos lavabos, as duas mulheres sentem-se protegidas. Como se precisassem daquela intimidade.
- Tenho medo, Laura...
- Do quê?!
- Disto!...Tenho medo desta barriga, tenho medo de o trazer ao mundo...Tenho receio de que não esteja preparada para ser mãe...
- Já falámos sobre isso... Nenhuma mulher está pronta quando está grávida... E tu não és diferente. Ainda falta muito tempo e até lá é só uma questão de te habituares à ideia.
- A minha barriga vai crescer. Eu vou ficar uma gorda e ninguém me vai querer.
- Eu quero-te... O Afonso também te quer... E certamente que haverá um homem à tua espera para desejar essa tua barriguinha.
As mãos de Laura são atrevidas. Depois de acariciarem o pescoço de Tania, deslizam pelos ombros molhados dela. A jovem gosta do gesto duplicado. As mãos da inquilina têm o condão de espalharem ternura e ao mesmo tempo sentimentos ocultos. Os olhares entre as duas mulheres querem tocar-se. Querem comunicar e dizer o que pensam naquele instante uma à outra. Ouvem-se as respirações. A de Laura é calma mas impulsiva. A de Tania é nervosa mas expectante. A palma das mãos da namorada de Afonso apertam a carne dos braços de Tania. A jovem deixa descair ligeiramente a cabeça para sua esquerda, demonstrando o arrebatamento pela presença da amiga.
- Nós precisamos que relaxes... Tu precisas de relaxar...
- Agora já me sinto um pouco mais calma...
- Sentes?!
- Sim...
Laura solta um sorriso. Percebe que consegue aproximar-se da amiga. Denota na forma como os ombros dela libertam a tensão que se evidencia no corpo de Tania. A água continua a escorrer pela derme até pingar no mosaico branco do chão. Os braços da jovem encolhem-se, apertando o seu peito volumoso, húmido e rijo. Num único gesto, ela consegue demonstrar a Laura que se sente confortada e ao mesmo tempo desejada. E enquanto aconchega as mamas, a rapariga cerra ligeiramente as pálpebras, procurando manter o olhar em Laura.
- O que vai acontecer amanhã não interessa, Tania.
- Não?!
- Não... Vais ter o bebé, de uma forma ou de outra... Isso eu tenho a certeza e tu também tens que ter... Mas até lá, quero que penses que fazemos parte de ti.
- Como assim?!
- Hoje...e nos próximos dias, estes seios são nossos.
A mulher gira os pulsos e move as suas mãos em direcção aos mamilos redondos de Tania. Enche os dedos com as glândulas mamárias da jovem e acaricia ternamente a zona erógena feminina. Ligeiramente surpreendida, Tania inspira ferozmente e fecha os olhos. Dilate a sua boca, deixando evidente o seu deleite por aquelas mãos apalparem as suas mamas.
- São?!!...
- Sim... Tens que nos confiar estas mamas...
- Porquê?!
- Porque nós gostamos delas... Sentimos que cuidamos delas com toda a devoção. Sentes como eu as aprecio?
- Siiim.....
- Quero que aceites entregar-nos o teu peito.
- Com que intuito?
- Vais sentir-te a mulher mais sensual que alguma vez imaginaste.
E Laura continua a deliciar-se com aquele fantástico peito. É visível a excitação da jovem ao sentir as carícias que percorrem a pele macio dos seus seios. É evidente a forma com os bicos se tornam mais rijos, quando as falanges dos dedos de Laura esfregam os mamilos. E a pressão que as mãos da mulher exerce é simplesmente arrebatadora. A namorada de Afonso aproxima-se um pouco mais da sua amante. Tania, por sua vez, recua ligeiramente, até tocar com as nádegas húmidas na cerâmica fria do lavatório.
- São vossas... Eu confio em vocês, Laura...
- Eu quero mais do que isso...
- Mais?!...
- Sim... quero que não tenhas pudor...
- Eu não tenho pudor...
- Quero que andes nua em frente ao Afonso...
- Não sei se...uhmmm... estou a engordar na barriga...
- A tua barriga está linda... Vai ficar irresistível...dia após dia...
- Laura...
- Tania... Eu quero que nos dês tesão ao mostrares o teu corpo.
Após excitar as mamas de Tania, Laura volta a prosseguir o trajecto com as mãos. Desta vez, toca ao de leve na barriga da jovem, que naturalmente se vai modificando. Nota-se uma pequena saliência, conjugada com umas ancas ligeiramente mais cheias. O contorno que as mãos de Laura desenvolvem nas curvas de Tania pretendem demonstrar exactamente isso.
- És uma grávida excitante... Eu e o Afonso queremos isso...
- Uhmmm...isso o quê?!
- A tua provocação...
- Pára com isso, Laura!.... Estás a deixar-me....
- O quê?...Estou a deixar-te molhada?
A mão direita de Laura é curiosa. Escorrega pelo ventre de Tania e perfura entre as coxas torneadas da jovem. Inicialmente, a rapariga grávida recua a cintura, cerra as pernas e abre os olhos. Mas depois, ao perceber que já não há retorno, que Laura lhe cinge um olhar de tesão e que ela própria se descontrola perante a sucessão de acções, Tania cede. A mão direita de Laura é atrevida. Os dedos penetram por entre as coxas e friccionam os lábios vaginais encharcados da jovem. O corpo de Laura está praticamente colado ao da amiga. O braço direito de Tania envolve-se no tronco da mulher e a mão esquerda segura-se ao lavatório. Os lábios grandes da rata da grávida estão inchados e escondem um clitóris rijo.
- Isto.... Isto, Tania... É tanto teu....como nosso...
- Isso é posse...oohh...
- Não... é uma cedência... Eu sei que tu precisas...eu sei que tu queres...
- Diz-me o que eu quero, Laura!!
- Tu queres que nos te possuímos....
- Ohhh...siiimmm...Quero... Laura... A minha rata é tua... A minha rata é do Afonso... Ohhh...
O polegar de Laura domina o interior da vagina da jovem. O braço de Tania já clama pelo abraço e aperta a amiga contra o seu corpo húmido. A masturbação enfeitiça-a e deixa-a completamente fora de si. Ainda assim, Tania está consciente. Ela deseja tudo aquilo. O seu corpo vibra e ela sabe porquê. A volúpia das suas formas ganha consistência e ela sabe por quem pode suar todo aquela sensualidade. E enquanto Laura segura o seu clitóris, Tania senta-se no lavatório, sabendo que quer mais. Sabendo que precisa de ceder algo mais à sua amiga, ao casal que a toma debaixo do seu tecto e a faz sentir mais completa. Porque dentro de toda a surrealidade daquela ligação, Tania sabe que precisa deles. Não lhes pode pertencer. Não pode considerar-se eternamente deles. Não pode adquirir a devoção de Afonso nem possuir o carinho de Laura. Mas pode emprestar todo o calor e carência da sua alma, pode ceder a libido do seu corpo e gozar de toda esta envolvência até a sua vida ter que seguir o próximo passo.
- És uma menina linda, Tania... E se confiares em nós, conseguirás sentir-te uma verdadeira mulher...capaz de tudo...
- Siiim...Eu acredito em ti.... - sussurra Tania - Ohhh, Laura.... acredito!!.... Estou quase...ohhh...estou quase a vir-me...Eu acredito em ti, Laura....Por favor.... eu quero mais!....
As pernas de Tania abrem-se. Por entre os seus lábios vaginais, corre um misto de líquido intimo e água tépida que insiste em brotar dos seus cabelos. Laura ajoelha-se no chão molhado. Prossegue o seu esforço em demonstrar a Tania que, mesmo grávida, o seu corpo é voluptuoso, sensual e irresistível. Acaricia as coxas, fazendo com que as pernas se dilatem um pouco mais. Acaricia as nádegas, apertadas contra a cerâmica do lavatório. E depois, assim que Tania se segura às torneiras, assim que o seu corpo está completamente volátil, assim que a rata da jovem clama por ser arrebatada, Laura molha os seus lábios e avança.
-//-
A porta da casa de banho abre-se. O vapor que ainda se mantinha dentro da divisão evade-se para o corredor da casa. Cá fora, tudo parece manter-se tranquilo. A menina já se deixou adormecer em cima da cama e na sala a televisão já entrou no horário nobre. Laura sai da casa de banho com as roupas ligeiramente molhadas e com as maçãs do rosto ruborizadas. Atrás de si, Tania tem uma toalha envolta no corpo e corre até ao seu quarto. No sofá, Afonso parecia aguardar por aquele instante. Como se estivesse aborrecido por ter que ficar sozinho a fazer zapping. Laura aproxima-se dele com um sorriso. Por detrás do sofá, ela recosta o seu corpo e cola o seu rosto à cabeça do namorado. Ele pressente o calor da pele dela. Leva a mão aos cabelos femininos e reclama algum carinho. Laura roça a ponta do nariz na bochecha dele. A mulher ostenta um sorriso perverso. Gera-se algum silêncio. A menina já não irá acordar e Tania não ousará sair do quarto. A lição pura e simplesmente que a arrebatou. Laura solta a sua voz baixinho junto ao ouvido de Afonso.
- Não precisas de o esconder....... Eu sei...... Eu sei que estiveste o tempo todo atrás da porta da casa de banho...
E num gesto sublime, carinhoso, mas ao mesmo tempo lascivo, Laura suga os lábios dele, cedendo-lhe um beijo prolongado, misturado com a língua e em que pedia que ele devorasse os lábios meigos dela. E nesse beijo, Afonso prova a delicia pertinente da rata de Tania, antes da sua namorada lhe soltar um sorriso perverso e o chamar para a cama.

8 comentários:

Lize disse...

Já que não pode ter muito mais, Tania fica com o que o casal lhes dá... faz sentido, e não é uma má escolha. Talvez apenas uma escolha arriscada. Mas se formos a ver, todas as opções que Tania tem são de uma maneira ou outra arriscadas.

Beijocas :) Como sempre, óptima cusquice por estes lados :)

Papinha disse...

Esta é uma relação estranha, que me faz questionar em que Mundo é que eu vivo...com esta amostra, sinto-me uma grande freak( aparte) da sociedade!!
Que haja uma química entre eles até percebo...mas este tipo de posturas a roçar o "amor", não compreendo...eu com certeza não seria capaz...
Mas este é o bom de todas as histórias, fazer-nos reflectir e tentar mostrar-nos outras formas de se estar na vida.... e como a Lize disse: É bom cuscar por aqui!!!

beijinhos
P@pinh@

João disse...

Nutro por este andar uma grande admiração... e curiosidade!!!
A descrição deste casal super apaixonado, que se adoram mutuamente, mas que não passam sem o prazer carnal de amigos... e que adoram brincadeiras a 3, a 4 ou mais...
... mas que continuam a sentir necessidade de estarem só os dois...

será esta a verdadeira história? será esta históia real? é este o mundo do swing?

mais uma vez, um post com erotismo, tesão, que envolve o leitor e que nos faz sentir dentro da história...

Magnolia disse...

Parece que se voltou a quebrar um ritmo no Edificio. No entanto, cedo regressarão os posts.
LIZE, apesar de concordar com o que dizes, torna-se dificil perceber até que ponto Tania possa ter feito uma escolha. Mais do que uma escolha, creio que passa por uma solução, uma forma de iluminar o seu interior. De qualquer forma, são efectivamente opções complexas e arriscadas.
beijinhos
PAPINHA, é sempre bom ver opiniões que questionam a salubridade das personagens. Apesar de não teres que te sentir freak da sociedade, a questão que deves fazer é se o mundo não é mutante e não se adapta aos desejo das pessoas que o vivem.
Há de facto um limite que é roçado. Mas para já, para além do respeito dos sentimentos, há um controlo sobre o que é sentido entre os três. Talvez a Tania se sinta confusa, mas não creio que seja o que possa sentir em relação ao casal.
Se te fez reflectir, é muito bom. Naturalmente não tens que achar que deverias viver assim. :)
beijinhos
JOÃO, os palpites têm sempre uma base concreta. A tua avaliação terá certamente algo objectivo, mas ao mesmo tempo intuitivo. Veremos se o tempo ajudará o teu palpite.
Folgo em saber que te inseres na história. Isso torna-te praticamente um vizinho. :)

S* disse...

Hum, há relaçoes muito estranhas por este mundo fora. Duvido que alguem se entregasse assim ñas mãos (e nos corpos) de estranhos. :)

Mas é sempre bom fantasiar.

Magnolia disse...

SANXERI, às vezes o mundo revela fantasias que se misturam com a realidade. E às vezes parece inacreditável que alguém consiga ultrapassar limites que parecem sequer inimagináveis. Respeitando a tua perspectiva, o que acontece no 2º direito não é assim tão improvável. Para além de que entre os três não existe muita estranheza. Pelo contrário.

luafeiticeira disse...

Como é que eu me tinha esquecido que Tânia estava grávida. Incrível como fizeste um texto tão sensual mesmo com uma grávida, que é coisa que me dá alguma confusão.

Magnolia disse...

LUA FEITICEIRA, e agora não sei se hei-de considerar isso um elogio, porque se te faz confusão como podes achar sensual?! lol
Uma grávida consegue despertar a sua sexualidade de uma forma tão viva que consegue ser sensual.
beijinhos