segunda-feira

Vende-se

Publicado a 14-01-2009
É sintomático. Quanto mais se tem. Quanto mais se dispõe. Quanto mais concretizada a alma se sente. Quanto maior é o pedestal que se consegue alcançar, mais aliciante se torna a perversão que desejamos. Mais intenso parece o pecado que se quer cometer. Mais vibrante parece ser o risco de se entrar no inferno. Quanto mais poder se detém nas mãos, maior parece ser a ambição de o destruir. Como Nero que quis destruir Roma, só para a ver em cinzas. Rodrigo parece desejar o inferno. Ele brinca com o perigo da infidelidade. Ele arrisca os sentimentos que ele mesmo quis construir numa espécie de jogo de roleta russa. Ele compra as emoções alheias com a riqueza da sua sensualidade e depois aparenta querer vender a sua alma ao preço mais cruel. Rodrigo sente que negoceia a paixão proibida, assim que incita a trazer para a sua própria casa um tesouro enfeitiçado.
Sandra não pertence a ninguém. Namora com o filho mais velho do seu amante maduro, mas não pertence a nenhum deles. Gosta de se sentir assim. Manipuladora de desejos, meliante de sentimentos que ela própria sabe não possuir. Aquilo que ela verdadeiramente quer ou sente, tanto Rodrigo como o seu filho, julgam saber. No entanto, só a jovem é que intrinsecamente entende a legítima convicção de possuir dois homens na mesma casa. Mas Sandra é irresistível. É um demónio mascarado de beleza feminina inocente. É um corpo flamejante, volúpio nas suas formas, febril ao toque, gélido no interior da alma. Só as roupas casuais, descontraídas mas vistosas lhe dão alguma semelhança com uma pessoa de bom carácter. Só aquele olhar compenetrante, fascinante e ilusoriamente angélico consegue evidenciar alguma compaixão por quem ela ousa desejar e por quem se atreve a observá-la. Sandra vende tudo o que a sua alma conseguir ludibriar. O retorno será sempre mais corrupto do que o que entregou.
Rodrigo está a ser chupado por Sandra. Esta acção já decorre há alguns minutos no corredor principal do 1º esquerdo. Não importa como começou. É pouco relevante ter em conta as motivações da jovem em entrar na casa do seu namorado, quando no seu interior só se encontra o pai dele. Sandra vendeu mais um pedaço da sua alma e devora o sexo inchado de Rodrigo. Os seus lábios carnudos e meigos são audazes em fazê-lo com devoção e com a ambição de levar o homem cansado a um intenso passeio de prazer. O sexo de Rodrigo entra convictamente na boca dela. É besuntado com a saliva morna que a língua da rapariga deixa desde a ponta do pénis até aos testículos. É excitado com a pressão que os músculos faciais exercem sobre a carne voluptuosa. E as mãos suaves e tenras de Sandra ocupam-se tanto da coxa despida do homem, como em segurar firmemente a haste masculina. Ele está encostado à parede do corredor, próximo à porta da arrecadação, diante da casa de banho. É notória a satisfação do inquilino, entre os gemidos que se soltam da sua garganta e o cerrar dos olhos. É visível o reconhecimento que Rodrigo elege à pessoa que lhe faz sexo oral. Sandra recebe carícias nos seus cabelos finos castanhos, percebendo que ela o incita a ir até ao fim. A jovem está ajoelhada no chão e tem o pescoço ruborizado, fruto dos beijos e chupões que recebeu do seu amante. Ela conhece aquele sexo instintivamente, Já o teve repetidamente na boca. Já o sentiu de diversas formas. Já o saboreou. Seco, molhado, húmido, inchado, satisfeito, amolecido, entesado. Por o conhecer tão bem, ela sabe o que está prestes a acontecer. Pressente a vibração que trespassa por toda aquela carne. Sente o calor que emerge da ponta da picha. Reconhece o ponto exacto com que o labor da sua boca é capaz de despoletar no órgão de Rodrigo. E quando dois dedos da mão de Rodrigo pressionam gentilmente a sua nuca, Sandra aguarda. Enche a sua boca com o pénis dele e envolve-o com a língua. No calor da sua boca, juntamente com a expiração da garganta dele, um jacto escaldante atinge o céu da boca da jovem, provocando um ligeiro pestanejar do olhar dela. Ele vem-se e quer fazê-lo dentro do orifício bocal da amante. É explosivo, assim que ela tenta suportar todo o suco. É intenso, quando ela entende que o homem tão cedo não cessa o seu deleite. É frutuoso, desde que ela repara que não irá suportar toda a ejaculação de Rodrigo dentro da sua boca. Sandra aperta a carne com o polegar e os outros dedos e procura afastar a cabeça, ligeiramente para trás. Os lábios escorregam na pele molhada e trazem o líquido com eles. A jovem abre os olhos e repara no estado do sexo que acaba de se vir. E enquanto parece admirá-lo, recebe um último rasgo de prazer do homem, espalhando-se na maçã rosada do seu rosto. Rodrigo parece ter libertado todo o seu ardor sexual, que resistia dentro de si. Ele sente-se capaz de prosseguir com a aventura, mas é nesse instante que tudo parece precipitar-se no jogo de Rodrigo com a sua própria vida.
Ouve-se um leve ruído vindo da fechadura da porta de entrada do apartamento. Quem quer que esteja no corredor do Edifício Magnólia e que demonstra querer entrar no 1º esquerdo, não aparenta estar apressado. A chave que penetra na ranhura roda e desencadeia o trinco da porta de madeira. A fechadura solta-se e a porta abre-se uns centímetros. A chave é retirada da ranhura e percepciona-se os sons de sacos de plástico a serem colhidos. Depois, um forte empurrão faz escancarar a porta. Helena entra em casa, com as costas viradas para o hall de recepção. Traz nas mãos as compras da mercearia e na face o suor que espelha a exaustão que o seu corpo flui. Ela consegue entrar em casa e encerrar a porta. Gira o corpo e toma percepção do espaço em redor. Ela encontra o seu próprio lar, enfim, vazio de alma. No imediato, Helena não consegue percepcionar que atrás da porta da arrecadação está o seu marido escondido, ainda a apertar as calças. Na dedução da mulher, não existe a ideia de que ao lado dele, está a amante do seu marido e namorada do filho, a tentar limpar dos lábios o sémen expelido por Rodrigo. Naturalmente, se Helena se decidir a usar a arrecadação, o mesmo será dizer que o inferno invadirá a casa deste casal. A mulher confrontará em flagrante o seu marido, confirmará os piores receios que ela detém sobre a sua nora virtual e enfrentará a realidade da confiança do seu casamento ser uma farsa. Sandra não teme. Tudo o que ela terá a perder com a descoberta, nunca será superior ao seu desejo obsessivo. Por Rodrigo e por qualquer aventura. Por isso, ela resguarda-se, mas tranquila. Rodrigo ferve. Segura a porta da arrecadação, esperando que a esposa não tente sequer imaginar entrar ali. Ouvem-se os passos de Helena, com os seus saltos altos. Ela leva os sacos em direcção à cozinha, tendo que passar no corredor. Rodrigo corta a sua própria respiração. Os seus olhos parecem congelar e os seus músculos ficam tensos. A mulher entra na cozinha. Rodrigo procura pensar numa solução. Mas quanto mais os instantes passam, mais ele confirma que tem que ficar escondido. Helena regressa. E aparentemente, ela não desconfia. Não pressupõe o que se passa numa divisão minúscula da sua casa. Ao invés, está entusiasmada em dirigir-se à sala. Rodrigo consegue espreitar por uma grelha colocada na porta da arrecadação. A sua mulher está junto ao sofá da sala. Segura um copo de plástico de café, possivelmente adquirido no Espaço Magnólia, antes de subir. Helena detém alguma vivacidade. Ela está junto à mesinha onde está o candeeiro, o telefone fixo e o livro de contactos. Abre-o e desfolha algumas páginas. Rodrigo sente-se intrigado, mas ao mesmo tempo assustado. Ele aguarda pela primeira oportunidade que a mulher lhe conceda, de forma a sair dali e a evacuar da sua casa a amante que está colada a si. Ouve-se um pequeno gemido de Helena. Ela entra o copo de café para cima a mesinha e salpica o livro. Apesar de alguma atrapalhação, é essa a página que Helena procura. Pega no telefone e marca o número que visualiza. Rodrigo inspira fundo. Alguns segundos de espera e da boca de Helena abre-se um sorriso.
- Estou?!...Sou eu... A Helena.... Sim... só cheguei agora a casa... Não, não...não posso!... Tu sabes que não posso... Porquê?.... O meu filho deve estar a chegar a casa e ainda tenho que ir... Não!... Não posso!.... Sim... claro que vi as tuas chamadas...
Escondido dentro da arrecadação, Rodrigo só pode ficar suspenso nas palavras da sua esposa. Ele indaga sobre quem estará do outro lado da linha. Ele procura perceber o teor da conversa. E subitamente, não é só Rodrigo que fica desarmado, com as calças na mão.
- ...Não te posso dizer isso... e tu sabes... é claro que penso... Mas eu sou uma mulher comprometida... bolas...tens que ter essa consciência!... Mas sim...eu quero-te... és uma perdição e tenho que me render... Oh sim, desejo que me possuas outra vez... Não sei onde... em tua casa... Não sei quando!... Veremos... Sim... Prometo... Eu telefono-te quando puder... Sim! Quero-te!...
Impaciente e encerrado, Rodrigo sente-se a explodir. A sua própria esposa troca conversações sensuais e explosivas com um dos seus amantes. Poderá ser o mesmo cliente. Poderá ser outro cliente. Poderá ser alguém que ele conhece. Em todo o caso, será alguém que consta na lista de contactos da família. Sandra entende o que está a ocorrer porque também ouve as palavras ansiosas de Helena e porque percepciona a raiva e impotência do seu amante. Ele parece querer revoltar-se. Está a uma passo de sair daquela arrecadação, ainda arrebatado pelo broche que recebeu. Ainda assim, ele controla-se.
- ...Quero sugar-te... quero que me toques até me pores louca... quero sentir-te dentro de mim... Meu Deus!... Eu prometi que te resistia... Sim!!... Quero-te!... Pára com isso!... Tenho que ir... Não, não podes vir ter comigo... Tenho que ir!... Tchau... Sim!... Eu ligo... Tchau!...
Helena desliga o telefone. Solta um suspiro, tal foi a intensidade do que acaba de proferir. Ela olha em redor, confirmando que está mesmo sozinha na sua casa. Ela não está. Rodrigo contorce-se nervoso dentro da arrecadação. Helena procura limpar os pingos de café que respingaram na mesa e fecha o livro de contactos. Inspira fundo, volta a pegar na sua mala e acorre a sair novamente de casa. Quando ouve a porta do apartamento bater com estrondo, Rodrigo solta um enorme suspiro. Sandra solta um sorriso malicioso. Ele abre a porta da arrecadação e procura perceber o que pode fazer. Olha para a jovem com um ar de censura. Mas ele próprio sabe que a situação, vista de fora, só pode ter ar de troça. Por um momento, Rodrigo pensa em criticar a sua amante. No entanto, não é a irreverência e ousadia de uma menina que o preocupa. Ele precipita-se para a sala e pega no livro de contactos. Folheia as páginas até encontrar a folha que está manchada. Ele atenta aos nomes que estão inscritos e procura desvendar o que parece mais evidente. Gera-se um silêncio enquanto Sandra se aproxima dele. A jovem ainda tem restos de sémen na sua face meiga. Por provocação, ou meramente por excitação, ela não se dá ao trabalho de limpar. Olha para o seu amante, procurando obter a resposta sobre quem seria o misterioso amante de Helena. Ele já deduziu. Já percepcionou quem é e está abismado com a resposta. Uma tempestade parece invadi-lo. Uma fúria envolve o seu semblante. Sandra percebe que, não obstante a curiosidade, ocupa uma posição delicada ali dentro. Helena pode regressar e ela não quer estar ali caso algo rebente. Aproxima-se de Rodrigo, envolve a mão nas costas dele e entrega-lhe um beijo doce no rosto do amante. Depois, delicadamente, sai do 1º esquerdo. Rodrigo mantém-se em silêncio, agora sozinho. Segura o livro de contactos e dirige-se à janela da sala, por onde se vislumbra a rua do Edifício. Helena volta a entrar no carro que está estacionado quase à porta. Possivelmente irá buscar o filho mais novo. Naqueles instantes intensos e confusos, Rodrigo procura controlar-se. Tenta obter uma solução para o que acaba de ocorrer. Ele não sabe se o que o incomoda é o facto de ter estado a um passo do abismo, ao ser apanhado em flagrante pela esposa, se é a questão da sua esposa ser infiel, algo que ele já sabia de antemão, se é a revelação do amante que ela possui, ganhando um ódio a essa pessoa. Porque naquele instante, Rodrigo tem o orgulho ferido. Reconstitui certos acontecimentos que ocorreram, ali mesmo naquele prédio. Deduz certas acções e reacções, sabendo que nunca ele tinha associado a confrontação. Ele volta a colocar o livro em cima da mesinha e cinge o olhar naquele nome. Mais do que descarregar a sua fúria na própria esposa. Mais do que querer acabar com aquela relação. O sentimento que invade a mente de Rodrigo é a vingança. É sintomático. Quanto mais se tem, mais se deseja. Quanto mais se deseja, maior é a obsessão. Quanto maior é a obsessão, maior é a corrupção da alma e dos seus valores. E enquanto formulava a sua vingança, Rodrigo sabia que estava a vender os seus valores morais a uma cobiça perigosa. Porque ele sabe qual a melhor forma de se vingar daquele homem. Sim, Rodrigo fecha o livro e confirma que se vai vingar do seu vizinho do terceiro andar, Rafael Neves.

7 comentários:

Lize disse...

Tu matas-me! :P Mas de uma óptima maneira!... Amei este post... Começa-se a descobrir cada vez mais... Estou em pulgas para saber o que vai Rodrigo fazer ao Rafael... embora tenha as minhas suspeitas... que se estiverem certas, vai dar outro post cinco estrelas e cheio de adrenalina :P


Beijocas :)

Papinha disse...

O cruzamento destes dois andares do edifício Magnólia, é inesperado...mas com o desejo por carne de todos os seus elementos...tornou este cruzamento possível!!!
A tomada de consciência, de uma realidade já conhecida...por parte de Rodrigo é extraordinária... o misto de raiva, com o comprometimento do momento, onde ele se esconde na própria casa... acredito que a partir daqui a relação deste casal se torne mais agressiva, menos condescendente... É que um homem traído...e com acesso aos pormenores...não se vai deixar ficar!!

Beijinhos para todos os inquilinos!
P@pinh@

João disse...

Excitante...
Brutal...
Carnal...

ADORO!!! a partir do momento em que se descreve a porta a abrir, parece que sustive a respiração e só a larguei quando Helena saiu de casa...
fenomenal...
brilhante...
Intenso...

:-)

Magnolia disse...

LIZE, só podes ter razão. Este post tem sequela. Abriu feridas e vai revelar coisas intensas, surpreendentes, talvez chocantes. Mas não quero antecipar muito, nem criar demasiadas expectativas. Espero pelo menos que tenha essa adrenalina que desejas. Mais uma vez, agradeço-te as palavras.
PAPINHA, uma das premissas deste blogue é tentar surpreender um poucos mais a cada post.
Resta saber como é que Rodrigo vai lamber as feridas deste episódio e tornar-se mais forte, mas ao mesmo tempo mais corrupto da sua alma. Aguarda e verás.
beijinhos.
JOÃO, têm sido extremamente motivantes os teus comentários. E quando alguém confessa que conseguiu sentir algo que foi pretendido transmitir com fervor, torna-se recompensador. O âmago deste post foi esse suspense da porta. Se o sentiste, não podia ser melhor :)

S* disse...

Há edificios bastante interessantes... :P

luafeiticeira disse...

Rafael? E eu a pensar que, apesar de tudo, não tinha perdido nenhum episódio. Julguei que era o amigo do filho, o puto do jacuzzi.
jocas

Magnolia disse...

LUA FEITICEIRA, não me parece que tenhas perdido episódio algum. Podes é não recordar o que se passou há "algum tempo", o que se justifica, tal é o intervalo entre os posts.
Mas se ficaste surpreendida, isso só pode ser positivo.
:)